NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Nouvelle Vague - O disfarce bossa nova do punk

A fórmula é infalível: “Meninas bonitas cantando sensualmente um repertório em que não dá para colocar defeito, ainda mais com uma roupagem delicada, com arranjos doces e melódicos”, define Karina Zeviani. Aos 34 anos, ela não é nenhuma menina, mas é uma dessas mulheres bonitas que interpreta, em clima de bossa nova, os maiores clássicos do punk e do pós-punk com voz lasciva e sussurrante. Sobre o palco do Circo Voador, nesta sexta-feira, à frente do Nouvelle Vague, esta paulista de Jaboticabal não é bem a garota de Ipanema que o músico, produtor e idealizador do grupo francês Marc Collin imaginava: “Sou a primeira brasileira... E a ideia inicial era justamente ter brasileiras nos vocais”, explica a moça, que teve seu primeiro contato com Collin “há uns quatro anos, no camarim de um show que dividimos em Nova York”.

Anos após o primeiro contato e a promessa de colaboração oferecida por Collin, Karina aporta no terceiro álbum do grupo, NV3, e desde o ano passado assume um dos concorridos postos de vocalista de turnê – enquanto os álbuns são recheados com oito vozes femininas, o formato ao vivo conta com duas intérpretes. Antes de Karina, uma penca de meninas já desfilou à frente de Collin e seu fiel escudeiro Olivier Libaux; entre elas Camille e Melanie Pain, que fizeram de sua passagem uma plataforma de lançamento para álbuns solo. A ideia não é nada distante do que Karina planeja. Radicada em Nova York desde 2002, a ex-modelo vive dividida entre múltiplas conexões aéreas para dar conta de conciliar as agendas do Nouvelle e do Thievery Corporation, em que roda o mundo há cinco anos. Entre Paris, Nova York e São Francisco, “realmente não sei onde eu moro, tenho algumas bases...”, ela usa o ínfimo tempo livre para burilar os detalhes finais de seu primeiro voo solo, produzido por Collin.

– Outro dia me perguntaram se eu me incomodava em ser uma cantora de aluguel... Achei engraçado, porque para quem começou tocando para 100 pessoas no Nublu em Nova York poder cantar para 80 mil pessoas, como já aconteceu com o Thievery, e viajar o mundo todo com o Nouvelle é uma oportunidade gigante – conta Karina. – Antes eu engatinhava, tentava segurar o bambolê. Depois, fui jogada no mercado profissional, cresci como performer, ganhei confiança... São coisas que só acontecem depois que você encara grandes festivais. E é por isso que vou continuar com essas bandas até a hora em que for preciso. Quero conhecer pessoas, aumentar meu público e atrair atenção para o meu disco solo. Até porque daqui a pouco o repertório da Nouvelle acaba...

Produtor do álbum de Karina, Collin concorda que é preciso renovação na abordagem musical que serve como marca registrada do combo. Passados alguns anos desde a explosão mundial que catapultou o grupo como a banda “cover” mais interessante do globo, a bordo de hits como Love will tear us apart (Joy Division), God save the queen (Sex Pistols), Guns of Brixton (The Clash), The killing moon (Echo and the Bunnymen), Dancing with myself (Billy Idol), Heart of glass (Blondie), Too drunk to fuck (Dead Kennedys), entre outros, ele garante já ter formulado novos conceitos.

– É claro que quase tudo já foi dito ao longo desses três álbuns, então chega a hora da cobrança… Tenho que pensar numa ideia nova e forte o bastante. Mas isso às vezes pode levar um pouco de tempo – admite Collin. – Então, para evitar de lançar qualquer novo disco antes de essa ideia surgir, estamos preparando uma edição especial, em francês.

O novo trabalho segue formato similar, mas, em vez de mirar em pérolas punks inglesas e americanas, Collin se debruça sobre os ícones da new wave e do pop francês.

– Serão versões interpretadas por uma nova geração, como o Mika, Vanessa Paradis, Coralie Clement e uma porção de cantores muito interessantes – conta o produtor. – Mas são mudanças que sentimos desde que os dois álbuns foram lançados. Nesse último, por exemplo, evitamos a bossa nova e o reggae, que marcaram os anteriores. Tentamos algo mais intimista, folk, country, algo a ver com trilhas sonoras...

E foi baseado nas principais trilhas sonoras dos anos 80 que Collin arremessou no mercado, em 2008, a coletânea Hollywood mon amour, que recriava ícones do imaginário popular, como as faixas-tema de trilhas de longas como Rocky, Top Gun, Flashdance, entre outras. Como se vê, Collin não é apenas um profícuo arranjador, mas uma usina de ideias inusitadas. E é justamente a sua capacidade de se envolver em inúmeros projetos simultâneos que vem deixando Karina mais do que ansiosa.

– Estamos terminando o disco, não vejo a hora. Ele faz 15 coisas ao mesmo tempo. Começamos a trabalhar há três anos – diz a moça referindo-se ao debute, cantado em português, inglês e francês.

Inspirada em Tom Waits, Karina traz uma pegada creepy e cartoonish acompanhada por uma linguagem onírica e psicodélica (“Eu escrevo a partir dos meus sonhos”). Já Collin garante mais um sucesso na praça.

– Ela abriu um show nosso em 2005, e fiquei encantado com o seu talento e beleza. Mantivemos contato ao longo dos anos. Agora, o disco está quase pronto, e ficamos muito contentes com o resultado.

E mais aqui:
http://www.myspace.com/nouvellevague

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