NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

segunda-feira, 30 de março de 2009

Caetano Veloso - zii zie

# Sim, você já viu essa linda capa do novo álbum do Caetano Veloso, Zii Zie, publicada em algum webespaço por aí. Mas talvez ainda não tenha escutado a canção Sem cais, o primeiro single em versão final (abaixo). O fato é que desde que Hermano Vianna tacou a foto acima no Flickr e no blog de Velô, a ansiedade toma conta. Animado com os comentários, Caetano Veloso disse:

"Bem, choveu muito no de setembro a dezembro Rio e havia chuva em “Falso Leblon”, “Lobão tem razão” e que mais sei eu. Pedro Sá, que, como eu contei aqui durante as gravações, tinha aparecido com essa câmera soviética (imitação de um modelo soviético), tirou fotos da gente no estúdio. Além de ser essa falsa Lomo, ele comprou um filme vencido e as imagens saíam bem estranhas e interessantes. Pedi a ele que tirasse fotos do Rio, especialmente do Leblon, num dia de chuva. Ele avisou que dali a dois dias o tempo seria fechadíssimo. Nnao deu outra. E ele voltou com essa série de fotos do litoral carioca numa tarde muito escura de chuva. Escolhi a que seria a capa imediatamente. Essa com a onda quebrando no Pontão do Leblon (”chuva num canto de praia no fim da manhã”…). Fiz um layout no computador, com as letras nessas posições e nessas cores. Chamei Pedro Einloft para artifinalizar. E terminamos usando apenas fotos de Pedro Sá tiradas com essa “Lomo”. Na contracapa que Hermano conseguiu postar aí tem uma lista de canções: está fora da ordem (tem até uma repetida, eu acho). A versão mais nova que tenho recebeu sempre do blog o diagnóstico “too big”. É que vem com capa, contracapa e seus versos: são 4 imagens coladas formando um quadrado maior. Ah: tem chuva na Bahia de “Lapa” também. Lá chove muito. Mas quando cheguei em Salvador o céu estava azul e o sol intenso. O mar estava límpido e turquesa. Ficou assim desde 22 de dezembro até o carnaval (quando veio uma nuvem, alguma chuva e a brisa sumiu, deixando um calor que incomodou visitantes louros de olhos azuis e locais castanhos)".




Pedro Sá comenta:

Notas soltas













# Numa boa, qual a validade, a utilitaridade, ou, vamos lá, as benesses de uma ferramenta de notas online com o Twitter? Serve para quê? Fofocar em real time? Contar que você ouve Rolling Stones enquanto segue para o trabalho? Ou que sua namorada não lhe dá atenção porque você...? Ou até que a economia... Não manjo nada de economia... Graça eu até vejo em alguns perfis estúpidos, superficiais, banais... Ou até em algumas pancadarias digitais como as mais recentes detonadas do líder do NIN Trent Reznor em relação ao vergonhoso trabalho da VOZ do grunge Chris Cornell. E só... O que já é muito. E não significa que eu não possa fazer um...

# SMASHING PUMPKINS - Não só eu, nem você e muito menos os milhares de maníacos pelas melodias venenosas e os solos de guitarra de Billy Corgan sacaram que a volta dos Smashing Pumpkins foi deveras meia-boca. O baterista de ótimas referências Jimmy Chamberlain pediu o chapéu e se mandou. Billy-ego-narciso-Corgan não tardou a bradar que a banda continua de qualquer forma: sem Iha, D’arcy e, agora, Chamberlain. Ele é o cara e todo mundo sempre soube. Como quem tira uma casquinha de machucado já seca – não dói nada – ele moveu seus dedinhos e em poucas tecladas formulou uma conta no seu, no meu, no vosso gmail para recrutar um novo batera. Pede que os candidatos enviem currículo, fotos e links de vídeos do Youtube. Vai lá, tenta a sorte: pumpkinsdrummer@gmail.com.

# PJ HARVEY - É para ficar atento. Miss PJ Harvey lança novíssimo álbum colaborativo com John Parish. Abaixo, Black Hearted Love. Detalhe para a boquinha vermelha e tortinha de Harvey...







# GREEN DAY - Alô Charles Möeller e Claudio Botelho! Boa hora para distorcer a sonoridade dos soberbos e megalômanos musicais que invadiram e agora povoam sem tréguas as grandes casas do Rio. Enquanto preparam o lançamento de 21st Century Breakdown, a ser lançado em 15 de maio, os californianos do Green Day anunciaram que o álbum-conceito American Idiot (2004) vai mesmo ser transformado num musical à Broadway. O trio de pop punk rock que já vendeu mais de 13 milhões de cópias da bolacha mundo afora confirmaram ontem que a produção fica em cartaz a partir do próximo dia 4 de setembro e segue até 11 de outubro, no Berkley Repertory Theatre, na Califórnia. O musical será uma colaboração entre os músicos e o diretor Michael Mayer, responsável por comandar o sucesso Spring Awakening, recém-lançado em Londres.

– Não faz muito sentido para mim, mas é justamente esse sentimento que eu amo nessa ideia. Quando as pessoas assistirem será o meu sonho mais louco – disse o líder Billie Joe Armstrong, em entrevista ao NYT.

O projeto foi aceito pelo Green Day após uma série de workshops realizados em 2008, enquanto Mayer lidava com Spring Awakening, história sobre problemas enfrentados pela juventude alemã no século 19:

– Durante a realização de Spring awakening essa idéia não saiu da minha cabeça. Pensava coisas do tipo, “Por que isso aqui não pode ter um groove como o de Boulevard Of Broken Dreams?”

# STROKES - Desde que deixou Rodrigo Amarante comprometido com a volta dos Hermanos, Fab Moretti voou par NY para se juntar aos Strokes. Juntos, ensaiam as canções do quarto álbum de carreira, sucessor ao ótimo First impressions of earth. Em entrevista à Rollin Stone, o vocalista Casablancas anunciou que o grupo já conta com três novas canções prontas e definiu o trabalho como uma mistura de Thin Lizzy e Elvis Costello.

– Ao mesmo tempo elas soam bizarramente como algo do futuro... Estamos tentando fazer com que sejam mais pegajosas. Então, nos sentimos presos entre o futuro e os anos 70.

O líder disse ainda que a banda está mais aberta a opinião de cada um dos integrantes, diferentemente do que ocorria durante as gravações dos últimos três discos.

– Nós não éramos muito honestos – tínhamos sempre pequenas intrigas por conta de questões estúpidas. Agora, Nick [Valensi] e ab [Moretti], ou qualquer um de nós disser que a canção precisa ser mais rápida ou devagar, todos nós conversamos sobre. O que é bem diferente, de dizer algo como "É, eu nunca gostei da sua irmã, mesmo...".

Eis que o empresário (pentelho) Ryan Gentles surge e faz o favor de cortar o barato:

– Eles ainda estão ensaiando. Não agendamos ainda as sessões de gravação. Eles ainda estão testando os arranjos, os timbres de cada uma das novas músicas. Mas sem dúvidas, todas serão devidamente traçadas e talhadas em pedra num futuro não muito distante. Eu adoraria poder dizer a vocês que esperamos lançá-lo antes do fim do ano. Mas é muito cedo para quaisquer especulações. O importante é que o trabalho já começou.

sábado, 28 de março de 2009

Rio-Curitiba-Rio

# Curitiba–Rio acompanhando o mar de nuvens brancas e densas que circundam o avião, enquanto lá embaixo o litoral é recortado perfeitamente num satélite real e o sol fulminante devassa a janela com seu calor: amarelo, laranja e VERMELHO, quando é chegada a hora da aterrissagem. Cai a noite, vento frio que corta o descampado que é o aeroporto. Uma hora e pouco de voo. O bastante para ler o depoimento completo concedido por Vinicius de Moraes ao Museu da Imagem e do Som, em 1967. Na mesa, Otto Lara Resende, Lúcio Rangel e Alex Viany provocam e adulam o mestre numa conversa deliciosa. Aliás, como são prazerosas as leituras das entrevistas da série Encontros, publicada pela Azougue desde o ano passado. De Milton Santos, passando por Maio de 1968 e aportando em Vinicius, Gilberto Gil, Tropicália, Jorge Mautner, entre muitos outros. Todos captados ao longo dos anos enquanto acompanhamos a evolução do pensamento de cada um. Na volta, passei de Vinicius a Gil. Poucos cinco anos depois, 1972, Gil voltando da Inglaterra em entrevista (para a revista Bondinho) daquelas super extensas, tiradas do gravador e reproduzidas sílaba por sílaba, reticências, modos, manias, jeitos, cê tá entendendo? - repetia Gil ao fim de suas muitas viagens internas, externas, cósmicas e metafísicas. Era ano de Expresso 2222 e tempo de reavaliar todo o ciclo da Tropicália. Aliás, o livro Bondinho, também lançado pela Azougue ano passado, contém entrevistas lindíssimas na íntegra. Valioso trabalho de resgate e memória.

# Mas enfim, tudo isso foi o caminho até Curitiba, de onde cheguei agora pouco após cobrir os últimos dias do Festival. Confesso que fora com um pé atrás. Meia-hora antes de partir da redação, matéria colada na página para a edição de sábado, e chega um aviso da assessoria que Rock'n'roll havia sido cancelada do festival. Era justamente essa adaptação para o texto do tcheco, mas naturalizado inglês, Tom Stoppard, dirigida por Felipe Vidal e Tato Consorti, que chamara minha atenção. Descaso da produção de um lado, intrasigência dos produtores da peça do outro, e o público, jornalistas, amantes do teatro e afins a ver navios.

# Saí do avião e me meti numa sala escura de cara. Em cartaz no Sesc da esquina uma interessante produção de Fortaleza, Os lesados. De início belíssimo: homens-máquinas, figurinos, movimentos perfeitamente angulados e harmônicos, luz idem. Em pauta: solidão e, principalmente, comodismo, acomodação, acomoda a ação... sono a partir da metade. Boas interpretações para o texto inteligente mas demasiado repetitivo de Rafael... Pouca criatividade cênica para lidar ou tratar da solidão, da angústia, da inércia, do vazio... Quatro atores sentados no alto de um aparato de madeira ficam amarados uns aos outros, sentam, pulam, levantam, gritam, sentam, pulam, levantam, gritam, sentam, pulam, levantam, grit...

# Fui para o hotel. Dia seguinte (sexta) era fechamento do B. Tarde inteira lidando com as palavras de Lázaro Ramos, para a quarta temporada de Espelhos, seu belo programa/doc que circula pelo Canal Brasil. Além desta, restava pauta sobre a única atração internacional do Festival de Curitiba: a badalada e tecnológica Sin sangre. Produção chilena altamente deslumbrada por seus recursos modernos que pretendem, e realmente o fazem, mesclar teatro e cinema. Projeções em 3D, bang bang noir, atuações exageradas, texto intrigante, mas longo, longo... 1h50. Quase um filme. E como espetáculo não chega a ser bom filme, muito menos ótima peça. Leia matéria na íntegra.

# Sábado de mostra paralela: a gigantesca e louca Fringe com suas mais de 290 peças em horários e teatros/espaços diversos. Mas até dei sorte. Às 12h, work in progress para Cartas ao jovem poeta, inspirado no texto de Rilke. Uma maravilha de ideias. Uma viagem às capacidades de cada um de nós. Mergulho em si, desprezo à crítica, a arte como forma, como experimento, como expressão, como devoção e lançamento de nosso íntimo à exposição, ao risco, à criação, à vida. Fim de tarde com Ópera atômica. Espetáculo curitibano que, ao que parece, é sucesso por lá. Clima meio esquisito do teatro Regina Voegel, localizado no Shopping Estação. Uma aura de Shopping da Gávea curitibano, algo decadente, algo superficial e banal desde a fachada do teatro, com banners de peças horrendas e com os mais bizarros títulos: Caquinhas, Só risos, Ri maior e afins. Dezenas daquelas "comédias" profundamente deprimentes, tristes, desagradáveis só de imaginar, quanto mais de assistir. Mas Ópera é divertida, apesar de um texto que diz nada e fala sobre o nada. Atores carismáticos, bom tempo de humor, vozes bem treinadinhas...

# Parto para a próxima com passos de quase arrependimento. Ávores abatidas ou para Luís Melo, versão de Marcos Damasceno para texto de Thomas Bernhard é um espetáculo de pequenas proporções. Explica-se: a montagem se passa na sala de estar de uma pequena casa, onde Damasceno montou um espaço cênico que abriga cerca de 30 pessoas. Como o boca-a-boca já comia solto há alguns dias, a sessão mais parecia uma privê para jornalistas. Todos alinhados e solicitando mais e mais cadeiras. O monólogo protagonizado por Rosana Stavis é um acerto. Um crítica ácida ao isolacionismo, egocentrismo, narcismo e os limites que perpassam as discussões entre artistas de certa forma decadentes durante um jantar em homenagem a um grande ator do Teatro Nacional de Viena – referência ao curitibano Luís Melo. Corelacionando a Viena do texto original à cena artística e teatral curitibana, Rosana insere espetadas em alguns locais, como Mario Bortolotto e Felipe Hirsch – sobra até para Gerald Thomas. De voz potente, que salta aos ouvidos já em sua primeira fala, Rosana é atriz que merecia ser vista e revista Brasil afora. Elucubrações mais sobre Árvores abatidas aqui.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Rumo a Curitiba

Amanhã arrumo malas para cobrir os últimos dias do Festival de Curitiba. Animado para conferir a versão de Felipe Vidal para o texto de Tom Sttopard, Rock'n'roll, assim como para sacar a única montagem internacional do evento, a chilena Sin sangre. Aproveito para tirar o atraso e conferir Maria Stuart, que está atualmente em cartaz no CCBB, e Medida por medida, texto de Shakespeare montado por Gilberto Gawronski, mas que já saiu de cartaz por aqui. Abaixo, capa do Caderno B do último dia 17, a peça Por um fio, dirigida por Moacir Chaves, que estreiou nessa segunda em Curitiba e, infelizmente, perdi.














Lágrimas maduras

Assim que grudou seus olhos no livro Por um fio, lançado em 2002 pelo médico e escritor Drauzio Varella, lágrimas de amadurecimento brotaram dos olhos do diretor Moacir Chaves. Encantado com o que lia, não tardou a comprar os direitos para a encenação da história, que narra a convivência diária de um oncologista com seus pacientes acometidos de câncer e tem o tempo como protagonista. Com estreia no Festival de Curitiba, que celebra sua 18ª edição, ele espera que a apresentação sirva como teste para o objetivo de estabelecer com o público uma reflexão instantânea sobre o tema.

– É um espetáculo comunicativo e emocionante – define Chaves, que planeja trazer a peça ao Rio no segundo semestre. – Mas os sentimentos transbordados são instrumentos de prazer, não de sofrimento. As pessoas riem e choram muito. E posso assegurar que não são lágrimas de tristeza, mas, sim, de amadurecimento.

Construída a partir de depoimentos colhidos durante cerca de 20 anos, a montagem de Chaves incumbe ao tempo a tarefa de fio condutor entre o texto e o seu tema central: a discussão da mortalidade.

– Assim que terminei o livro, fiquei remoendo a questão do tempo – diz. – Fiquei tocado porque o Drauzio relata com sensibilidade e rigor literário trajetórias de vida que se transformaram radicalmente a partir dessa reavaliação temporal frente à morte. O aspecto central do texto, e o que proponho para minha montagem, é discutir a relação do tempo com o nosso viver.

Como aproveitamos o tempo e a nossa vida? Como viver e desfrutá-la durante esse prazo, incógnito, que nos é concedido? Com esses questionamentos, autor e diretor tencionam despertar, no leitor ou espectador, um olhar diferenciado acerca da temporalidade.

– Nosso olhar se modifica quando tomamos ciência de que somos mortais, que iremos todos morrer e pode ser que seja cedo, ou que estejamos à beira da morte – acredita Chaves. – Estimulamos a percepção e a reflexão sobre como estamos lidando com a nossa existência. Como as pessoas escamoteiam e se enganam para não pensar sobre esse ponto. Afinal, vivemos como se fôssemos imortais, como se nossa passagem não fosse transitória. Acumulamos riquezas e não aproveitamos o tempo da melhor maneira possível, justamente porque não levamos em consideração que o tempo passa. A vida continua, somos nós que não prosseguimos. Só passamos uma única vez. E quando somos vitimados por uma doença grave é que percebemos isso com mais nitidez.

Chaves conta que Drauzio Varella teve participação fundamental para a elaboração da trama baseada em 11 histórias de pessoas surpreendidas pela notícia de que suas vidas podem chegar ao fim.

– Ele não participou da construção. Seu papel foi de total apoio, confiança, liberdade e autonomia – conta o diretor. – Quando apresentamos o espetáculo praticamente pronto ele ficou muito contente e deu alguns bons palpites. Estruturamos a peça ao longo dos ensaios. O livro não apresenta uma história com início, meio e fim. Organizamos, usando a narrativa original, a melhor formatação possível.

Corte de custos

Driblando a crise econômica, a perda de patrocinadores e a redução do orçamento para garantir uma programação recheada com 30 espetáculos (no ano passado foram 24 montagens), o diretor do festival, Leandro Knopfholz, destaca como ponto alto da mostra a reafirmação do evento como referência para a produção teatral brasileira, além, é claro, a qualidade das cinco montagens inéditas que farão a cabeça dos amantes das artes cênicas até o dia 29 de março. Entre elas, a adaptação do texto do dramaturgo inglês Tom Stoppard, Rock n' roll, dirigida por Felipe Vidal e Tato Consorti (28 e 29); além da única montagem internacional, Sin sangre, do chileno Alessandro Baricco (27, 28 e 29).

– Perdemos o apoio da Petrobras e reduzimos o orçamento de R$ 2,9 mi para R$ 2,4 mi. Mas não mexemos no essencial, que é a qualidade da programação. Nos orgulhamos de sermos o principal pólo irradiador de espetáculos do país.

terça-feira, 24 de março de 2009

Um horror!

Os esquisitíssimos e hypados góticos do The Horrors voltam com novo álbum, Primary colours, a ser lançado em 4 de maio, e com novo single: "Sea Within A Sea". Faris Hotter, o vocalista magricela e gigante que há alguns anos foi esmurrado no meio da rua por um louco qualquer, apresentou ontem, em Londres, o novo repertório. Após a presentação, o guitarrista Joshua Third disse à NME que o segundo disco abre um novo capítulo para a história da banda (OH!).

– Estamos excitados há tempos para apresentar esse material. Nós evoluímos completamente como banda. Acho que essa é uma boa maneira de descrever o que sinto.

Os músicos aposentaram o antigo visual e apostaram em modleitos mais simples: calças de couro e camisetas de malha, é claro, negras.

– Não queremos mais o visual do passado. É questão de deixar para trás e olhar para frente agora. Sempre tentamos fazer algo novo, e agora parece um pouco bobo tocar as antigas canções".

Aquele velho papo. Assista (ou não!) o bom clipe e a longa e cansativa música (8m23!) que tem tudo para afundar o disco:

Cadê o Jack?!

Enquanto escrevo essa notinha, ouço desatentamente às novas duas canções da terceira banda de carreira do mais interessante guitarrista do pop/rock dos últimos anos (alguém duvida?), Jack White e sua Dead Weather. Nos vocais Allison Mosshart, conhecida como a VV do duo The Kills; o parceiro Jack Lawrence, do Raconteurs, assume o baixo e Dean Fertita, do Queens of the Stone Age, adiciona distorções stoner nas guitarras. E Jack (não pode ser!) faz malabares nada animadores com as baquetas. O fato é que as duas canções disponíveis no Youtube e para compra via Itunes e no site oficial são bem mais ou menos. Abaixo, os "clipes" de "Hang You From the Heavens" e "Are Friends Electric?", essa última com um climinha de abertura bem Raconteurs!



segunda-feira, 23 de março de 2009

Radiohead, NIN e Jane's Addiction

Sim, um post com três das bandas mais importantes e inventivas dos últimos anos:

# Sem tempo para elucubrações detalhadas que pudessem conferir maior ou menor impacto à impressionante apresentação do Radiohead, viro a página. Mas, sim, tenho que dizer: Thom Yorke e companhia fizeram valer a espera, com um espetáculo nos mais amplos sentidos. Som muito bem tirado, telões de altíssima definição, imagens bem enquadradas, iluminação climática e de acordo com o que cada um das 25 canções sugeria. E que canções. Creep, que poderia soar descolada, foi a verdadeira redenção – uma catarse sensorial que tirou o ar de quem já estava cansado, esbaforido e afônico depois de tantos berros, gritos e cantos escandalosos. No surprises, Nude, Karma police entre muitas outras pérolas soaram como pluma na voz flutuante de York, que envolveu do início ao fim todos os compenetradíssimos 20 mil e poucos fãs.

# Não perca tempo! As fotos que sugeriam que o Jane's Addiction estava aprontando todas no estúdio do alucinado Trent Reznor não eram ilusão de fã entorpecido. Juntos, JA e Nine Inch Nails, preparam uma mega turnê a ser iniciada dia 5 de maio. Para esquentar os ouvidos dos fãs, as bandas lançam virtualmente um EP com seis canções. Acesse: http://ninja2009.com/ Como sempre nos mais diversos formatos. Ah, o projeto conta ainda com a nova banda do incansável Tom Morello (Rage Agains the Machine, Audioslave e The Nightwatchman), que se une a Boots Riley para montar o Street sweeper. Ao todo são 6 canções. Abrindo com a tribal e percussiva Chip away (JA), seguem-se Not so pretty now (NIN), Clap for the Killers (SS), Whores (JA), Non-entity (NIN) e The oath (SS).

sábado, 21 de março de 2009

Celebração da dessintonia














Não foi à toa que o Los Hermanos abriu sua apresentação de retorno, mesmo que indefinido, com a canção Todo carnaval tem seu fim. O título da faixa, cunhada para o álbum Bloco do eu sozinho, parecia um sinal, ou mensagem subliminar que indica, principalmente, que a reciprocidade musical e intelectual inconsciente que serviu durante tantos anos (mesmo os de hiato) como elo indissociável entre os comparsas se desfez, ou talvez, tenha se perdido, pelo menos na noite de ontem. Inseguros, desinteressados ou desconfortáveis com a volta aos palcos após dois anos de recesso? Não se sabe a resposta, talvez nem eles.

Felizes, ao menos, eles pareciam estar, mas a frieza com que se comunicaram com o público desde o instante em que pisaram o palco e a falta de pujança na interpretação das canções, assim como na formatação do repertório (irregular) de 18 canções, fizeram do show dos Hermanos uma espécie de quarta-feira de cinzas para os fãs, em que as músicas soaram arrastadas e melancólicas, onde as cores dos confetes e serpentinas, tão inerentes às antigas apresentações do grupo, se transmutaram em um negro palco de atores pálidos vestidos de costumes escuros entoando uma marcha hermânica fúnebre. Selaram, assim, a celebração da dessintonia musical. Uma pena, apesar de grande canções como a supracitada, O vencedor, Cara estranho, A flor, Sentimental, entre poucas outras terem levado os fãs a romperem gogós em abraços emocionados.

terça-feira, 17 de março de 2009

Baladas de pista

Mesmo passados alguns bons dias, é preciso ressaltar que o show do Keane, no Citibank Hall, foi uma ótima experiência. Baladas de melodias pungentes, que sempre foram o forte do grupo, ganharam aliados de peso com os sintetizadores, guitarras e levadas mais dançantes das novas oito canções extraídas do último álbum dos ingleses, Perffect Symmetry. Entre elas, a faixa-título – "Iremos apresentar agora a melhor música que escrevemos em toda a nossa carreira. Ela resume todos os nossos questionamentos", disse Chaplin – e a saculejante Spiralling. Tom Chaplin mostrou que dá conta do recado. Mais magro que nunca, abusou do gestual, das corridinhas pelo palco, da sua guitarra Fender Telecaster, da sua afinação e voz límpida para cantar refrões inspirados, como os das canções Somewhere only we know, Crystal ball e Is it any wonder?

Abaixo, entrevista com o tecladista, baixista e principal compositor da banda, Tim Rice-Oxley:
O piano começa a ficar no passado

Mesmo sob o furor do lançamento do seu disco de estreia, o cortejado Hopes and fears, em 2004, nada impedia à crítica de tachar insistentemente o Keane como um simulacro do Coldplay e de suas baladas melancólicas cunhadas ao piano. Cinco anos mais tarde, um verdadeiro espiral de acontecimentos e mudanças afastou o grupo das incômodas similaridades e o tornou quase tão grande quanto o quarteto liderado por Chris Martin – pelo menos em seu país de origem, a Inglaterra. Mas, ao irromper como uma banda remodelada sonora e visualmente em seu terceiro álbum, o elogiado Perfect symmetry (2008), que serve de base ao show que os ingleses apresentam dia 13 de março, no Rio, o trio se viu envolto em mais uma nuvem de equiparações; dessa vez reservadas ao grupo americano The Killers.

– É até legal porque gostamos deles, mas fazemos sempre o que temos vontade. Ser comparado ao The Killers não muda em nada a nossa forma de fazer música – diz ao Jornal do Brasil o tecladista, baixista e principal compositor da banda Tim Rice-Oxley, por telefone, direto da pequena cidade costeira de Plymouth, a 310 km ao sul de Londres.

Ao ser questionado se as tentativas de balizar o som da banda através de análises comparativas tecidas pela mídia especializada ainda o incomodam, Oxley desdenha do arsenal crítico e defende a opção por trabalhar com os produtores Jon Brion (Kanye West e Dido) e Stuart Price (Madonna, Seal e The Killers) apenas como uma necessidade de evolução e de suprir novos desejos de cada um dos integrantes.

– Procuramos Price porque a banda urgia por mudanças – revela o músico. – Queríamos explorar algo mais dançante e funkeado. Talvez para as pistas de dança, sim. As canções têm a ver com uma proposta de club, um som elétrico que faça as pessoas pular. Os shows estão cada vez mais vibrantes, com muita energia e movimentação.

Canções milionárias

Com mais de 7 milhões de álbuns vendidos em todo o mundo (o último já acumula 584 mil cópias) e tendo os singles à base de piano do disco de estreia – como Somewhere only we know – ainda quentes no imaginário de muitos fãs, Oxley explica que era preciso abandonar fórmulas de sucesso e arranjos mais simples para desbravar um novo caminho, mesmo que não tão experimental assim.

– Amamos testar, descobrir e expandir limites. Sabíamos que era possível fazer música de outra maneira – explica o músico. – Amamos ser desafiados, e encontramos uma ótima oportunidade quando decidimos gravar o novo disco. Sinto que o álbum guarda uma sonoridade renovada, fresca e dançante. Algo variado e muito mais poderoso. É como se estivesse à beira de me lançar numa aventura.

Além de lapidar a construção sonora de sua canções com o uso massivo de camadas de sintetizadores e a infusão de pequenos riffs e notas de guitarra (instrumento inédito nos discos do grupo), e apesar de soar mais expansivo e ensolarado – mesmo com o clima de pista – o novo Keane busca repaginar aspectos ainda mais profundos de seu painel autoral. Oxley afirma que o conteúdo e questionamentos impressos nas letras estampam um novo rumo de temas a serem abordados pelo grupo. Alinhado ao conceito de simetria perfeita, que marca o título da nova obra dos músicos, ele tenta explicar as relações subjetivas que entrelaçam suas ideias e canções.

– Escrevo sobre a capacidade de acreditar e sonhar que a humanidade e a vida podem ser melhores e mais promissoras – acredita. – É um conceito que se assemelha a um sonho, justamente porque no mundo falta simetria e igualdade. Cerco-me de um pouco de ironia, talvez. Então é como uma utopia possível: querer e trabalhar para mudar a realidade não tão favorável na qual vivemos.

Oxley ressalta que são muitas as diferenças entre o grupo que iniciou a carreira em 2004 e se apresentou no Brasil em 2007 e a nova fase. – Em Perfect... apresentamos algo recheado de cores e aspectos visuais. Ao mesmo tempo em que refletimos sobre a humanidade e acreditamos em sonhos como uma espécie de obsessão, nos sentimos mais felizes e mais em paz com nós mesmos. Estamos mais elétricos e roqueiros, animados e descontraídos no palco, com músicas variadas e excitantes.

Desconstrução de um sedutor

Um Don Juan infiel e imortal, que foge do seu perfil original numa completa desconstrução cênica. É o que propõem o produtor Allan Souza Lima e o diretor belga Thierry Trémouroux, que estreiam – e também atuam, ao lado de João Velho – nesta sexta, no Espaço Sesc, uma livre e nada fiel adaptação à célebre obra homônima de Molière. Brincando com a condição imortal do mito, eles fazem de tudo para fugir do texto clássico e de uma representação fidedigna do personagem. Um infiel por essência, que vive em constante fuga para se livrar da existência sedutora, mas vazia e solitária que criou para si desde a infância até a sua morte.

O produtor e ator Allan Souza Lima conta que passou o último ano atuando na novela Caminhos do coração (da Record) para levantar fundos e se dedicar à produção. Explica que a encenação se inicia com um debate sobre a infidelidade da peça para com o texto original; do diretor em relação aos atores; e destes em relação ao papel principal.


– São quatro atos que acompanham a trajetória de Don Juan desde o nascimento até o fim da sua vida, e também o surgimento de seus discípulos. Um deles sou eu – resume o produtor.

Atuando boa parte do tempo como o serviçal Leporello, no meio do espetáculo o ator João Velho encarna Juanito. E se aproveita da ambiguidade insinuada por seu próprio nome.

– Juanito representa sua fase infantil, quando começa a testar seus poderes de sedução e a exercitar suas primeiras safadezas. Faço um personagem imaginado, pensando como Don Juan seria na infância – descreve João, que é filho do ator Paulo César Peréio. O veterano participa do espetáculo numa imagem projetada em que dá uma lição de moral no conquistador.

O ator afirma que a infidelidade e as constantes fugas do protagonista aproximam a montagem de uma sociedade de realidades e sentimentos efêmeros como a nossa. Num mundo em pânico, frenético e caótico, Don Juan sentiria-se em casa.

– Essa balbúrdia alucinada pertence ao seu movimento vital. Por isso ele é tão contemporâneo.

Radicado no Rio desde 1992, Thierry Trémouroux volta a apostar, em seu novo espetáculo, em um mito como principal objeto de investigação e trabalho. Em 2001, além da montagem da peça Aqui jaz Marilyn Monroe 92-58-89 (da dramaturga alemã Gerlind Reinshagen), com sua companhia L’Acte, o belga promoveu leituras de Santo Elvis, do francês Serge Valletti.

– A desmitificação me interessa. Atiça minha curiosidade a idéia de descobrir o que se passa por trás desses grandes homens que não morrem nunca. Quando um mito fisga minha atenção, sei que tenho mais uma peça e uma personalidade para dissecar – conta o encenador.

A nova montagem repensa o mais famoso personagem cunhado por Molière. Lançando mão de diversas influências cinematográficas (Ingmar Bergman), literárias (o romancista Peter Handke) e até psicanalíticas (Lacan), os atores João Velho, Allan e o próprio Thierry dão vida ao célebre personagem, mas sem necessariamente encarná-lo. O diretor explica que Don Juan contamina e passa pela vida de cada um dos atores.

– Somos infiéis ao personagem e à peça de Molière, como o próprio protagonista é infiel. A maneira como Don Juan manipula as pessoas serviu de base para a encenação – afirma o diretor. – A peça se inicia com um clima circense, uma espécie de teatro dos horrores, onde o conquistador faz truques mágicos para seduzir as mulheres e a plateia, o que representa a grande encenação que foi toda a sua vida.

O diretor trata sua adaptação como um jogo de metalinguagem sutil em que discute a função do ator em cena. Ele afirma que a encenação estimula um olhar questionador sobre a condição dos atores, que ora atuam como o personagem e ora fora deste.

– Relaciono o nosso ofício ao hipócrita, que é a tradução em grego para o termo – explica Trémouroux. – Não podemos tratar da construção de um personagem sem a desconstrução do ator no palco. O Don Juan desconstruído que propomos é o nosso próprio espelho.

Em suas pesquisas, o ator passou a tratar o tubarão como uma espécie de símbolo para o espetáculo.

– É o maior predador dos mares. Está sempre nadando, porque se parar, ele morre. O Don Juan também está sempre em movimento atrás da sua presa – compara João. – No entanto, não o representamos como um personagem malandro, que se dá bem pegando todas as mulheres. Ele envelhece e cai num vazio existencial, mas sem maniqueísmo ou moralismo. Não passamos a mão na cabeça de ninguém, nem das mulheres que são seduzidas ou enganadas por ele. Ninguém é inocente.

Espaço Sesc – Sala Multiuso – Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana (2547-1088). Cap.: 70 pessoas. 6ª e sáb., às 20h; dom., às 19h. R$ 10. Estudantes e idosos pagam meia. Associados do Sesc pagam R$ 2,50. 14 anos. Até 5 de abril.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Intrépida trupe respira seus sonhos

Os raios de sol que devassam os janelões de vidro e a cobertura de metal que abriga o espaço de criação da Intrépida Trupe, na Fundição Progresso, somam às altas temperaturas deste verão o calor dos preparativos para uma temporada de novidades quentes e inusitadas para o grupo, que desde o lançamento de Metegol, em 2006, não levava suas acrobacias ao público carioca. Após circular pelas maiores capitais do país, além de passar 2008 estudando novos projetos e driblando a crise econômica para captar patrocínio, a companhia formada por Cláudio Baltar, Beth e Valéria Martins e Vanda Jacques anuncia não apenas um, mas quatro trabalhos (três deles inéditos), com conteúdo e temporadas independentes, que recheiam o calendário de março até setembro. Criados e dirigidos por cada um dos diretores, a série de espetáculos se inicia com a remontagem de um dos maiores sucessos do grupo, Sonhos de Einstein (2003), que será dirigido por Baltar a partir do próximo dia 20.

Bendito o fruto entre as mulheres que o cercam, ele acredita que os novos trabalhos individuais da Trupe refletem o amadurecimento de todos, que unidos completam, em 2009, 23 anos de existência – a Intrépida surgiu como parte de uma missão cultural brasileira no México, durante a Copa de 1986. Até então condicionados a trabalhar em conjunto, os realizadores decidiram que era hora de a Trupe absorver os sonhos individuais de cada um. Apesar de acreditar que a troca gerada pelas diferentes personalidades e visões artísticas seja o maior trunfo da equipe, o diretor afirma que era preciso mudar.

– Trabalhamos sempre juntos durante mais de duas décadas, e quando decidia fazer algo apenas meu precisava me afastar – conta o diretor. – As diferenças e somas de ideais sempre foram o nosso barato, mas isso acaba castrando a necessidade de cada um de fazer o seu projeto. Era urgente poder respirar os nossos sonhos um por um. Estaremos sempre juntos, e esta é apenas uma nova forma de trabalho que encontramos.

Ele considera Sonhos... o mais bem-sucedido espetáculo desenvolvido pela Trupe em termos de receptividade do público e repercussão crítica. Baltar lhe garante status de obra especial devido a conexão exata entre os conceitos, que unem a linguagem da dança, circo e teatro com o texto do livro homônimo, escrito por Alan Lightman, que retrata o jovem e inquieto Einstein obcecado pela questão do tempo e em meio a criação de mundos fictícios.

– Kaboom e ARN foram importantíssimos, mas Sonhos... foi nosso ponto mais alto – atesta Baltar. – Buscamos para ele uma dramaturgia que é basicamente uma reflexão sobre o que o nosso trabalho tem de essencial, que é o desafio às leis da gravidade. É um espetáculo aberto, que deixa a imaginação fluir e engloba a todos porque o mundo da física está presente na vida de cada um de nós e não apenas na de um acrobata. Somos regidos pelas leis físicas, apesar de não nos darmos conta disso no dia a dia.

Ligação com as artes plásticas

Em 23 de maio será a vez de Beth Martins apresentar Preciosa idade, em que novas criações e clássicos do repertório serão reunidos e recriados por um elenco jovem, formado pela própria escola da Intrépida. Habitué de galerias de arte, exposições e mostras de artistas plásticos contemporâneos, Valéria Martins define sua instalação, ou melhor, seu projeto cênico como uma forma de explicitar a proximidade entre a linguagem teatral-dançante-circense da Trupe e o universo das artes plásticas. Junto aos artistas Raul Mourão, Pedro Bernardes, Hugo Ferraz e Marta Jourdan, ela elaborou o inédito Coleções, que estreia 5 de junho, com quatro intervenções artístico-urbanas ao ar livre, no Museu da República.

– Estava na hora de provocar uma interação mais declarada entre a nossa linguagem corporal abrangente e híbrida com as artes – afirma a diretora. – Talvez seja o início de uma pesquisa de linguagem que poderá se desdobrar.Noites intrépidas, de Vanda Jacques, encerra a temporada 2009 num encontro entre as diversas vertentes do circo contemporâneo. Atuais e ex-integrantes, entre outros convidados, se reunirão para desenvolver novos caminhos a partir de 24 de julho.– Proponho refletir a trajetória de invenções e investigações desse nosso corpo intrépido que não cansa de se arriscar – diz Vanda.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Amarante canta hits dos hermanos em SP















Um mês após fazer seu último show à frente do Little Joy, no Circo Voador, e duas semanas antes de subir ao palco na Praça da Apoteose para a esperada reunião do Los Hermanos – apresentação que abre a noite do dia 20 de março para a apresentação dos alemães do Kraftwerk e dos ingleses do Radiohead – Rodrigo Amarante aproveita sua entressafra musical. Entre as atividades de “férias” está a série Rumos Convida, iniciada na última quinta-feira com a big band brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. No sábado, Amarante se juntou à mulher Karine Carvalho e ao amigo Fernando Catatau e seu Cidadão Instigado para a apresentação mais concorrida do projeto.

Amigos desde a adolescência, época em que surfavam juntos nas praias de Fortaleza na década de 90, Amarante e Catatau promoveram um encontro musical fraterno com canções de melodias nostálgicas, melancólicas e praianas, como a parceria inédita Land of light, cantada metade em inglês e português.

– Conheci esse cara em Fortaleza, a gente era da galera do surfe. Psicodelia, style, uhu! – brincou Amarante, saudando a platéia com um hangloose. – Roubei uma fita VHS do Santana, que era do meu pai, e dei de presente para ele. Comprei a amizade assim, já que ele era mais velho, eu tinha 14 anos e tal. Acho que ele até já tocava guitarra mais ou menos, mas depois disso virou fã do cara.

Por volta das 17h, enquanto do lado de dentro do teatro Amarante aprendia os acordes de Minha imagem roubada na passagem de som, mais de 50 pessoas já ocupavam a calçada em frente à sede do Instituto Itaú Cultural para garantir as disputadíssimas senhas para o show, marcado para as 20h. Como na quinta-feira, quando o Móveis Coloniais e o trombonista Bocato levaram a produção do evento a organizar duas sessões extras, o encontro de Amarante com o Cidadão Instigado rendeu o mesmo para os fãs.

– Como é que vai ser tocar três vezes, cara? Minha energia foi quase toda aí – indagou Catatau, no camarim, logo após a primeira leva de canções.

– Cara, a gente segura a onda – animou o guitarrista Regis Damasceno.
Empunhado diversas guitarras, como uma bela Flying V e uma gatorra negra, Catatau arremessava solos distorcidos com os timbres característicos que os seguidores dos LH aprenderam a admirar. A inédita O nada abriu o espetáculo com a voz anasalada de Catatau, convocando a todos para deixar os ladrões entrarem em suas casas e levarem tudo.

– O nada, assim como Uhu e Recomeçar são canções inéditas que apresentamos e que estarão no nosso próximo álbum. São todas composições minhas e algumas coisas mudaram em relação à estética e aos temas. Começamos a gravar essa semana e devemos lançá-lo em junho, mas ainda estamos discutindo o nome do trabalho – diz o músico, referindo-se ao sucessor do álbum E o método tufo de experiências (2005).

Foi só Amarante subir ao palco, que já contava com Karine, para que a comportada plateia deixasse de lado a compostura a pedido do próprio. Canções dos Hermanos como Do sétimo andar, Evaporar e O vento despertaram os gogós das cerca de 200 pessoas que lotavam o espaço e se juntaram aos temas mais conhecidos do Cidadão Instigado, como O pobre dos dentes de ouro, O pinto de peitos e Os urubus só pensam em te comer.

– Teatro é silêncio demais. Show é para fazer barulho, galera. Muito obrigado – agradeceu Amarante, o último a deixar o palco, após ter sido acompanhado em uníssono nas canções hermânicas de sua lavra que serão novamente apresentadas no próximo dia 20, no Rio, ao lado de Marcelo Camelo, Bruno Medina e Rodrigo Barba.

Euforia na rua, plateia e palco em SP















Meia-hora antes de começar o show da big band brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, que recebeu como convidado especial o trombonista Bocato na noite de estreia da série de shows Rumos Convida, a face do quarteirão que margeia a Avenida Paulista e abriga a sede do Instituto Itaú Cultural comportava uma grande fila com cerca de 300 jovens alinhados na calçada. O público era muito maior do que a mais otimista das expectativas poderia prever, e os organizadores do evento tiveram que desdobrar a única performance em mais duas sessões para acalmar os ânimos daqueles que disputavam ingressos na entrada do prédio.

De camiseta regata estampada, corpo esguio e com um cabelo black power de um palmo de comprimento acima do couro cabeludo, o energético vocalista André Gonzáles dançava de um lado para o outro do palco, conversava e interagia com os fãs a todo momento, assim como os outros nove instrumentistas que compõem o grupo. Ao lançar sua mistura de ska, rock, música latina, jazz, entre outros estilos, o grupo ficou surpreso com a devoção do público paulista, que entre berros escandalosos e requebros espasmódicos entoava em altíssimo som as canções do primeiro disco da banda, Idem (2006).

– Geralmente entramos no palco limpinhos, com roupas secas e arrumados, agora já estou todo molhado. Mas é do caralho poder tocar essas três sessões para a galera que ficou esperando tanto tempo do lado de fora, na fila – diz o vocalista André Gonzáles.

André e sua trupe comemoravam naquela noite o fim das gravações do próximo CD, C_mpl_te, que estará disponível para audição a partir do dia 18 de março através do site www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br. Em abril, o disco poderá ser baixado gratuitamente pelo Álbum Virtual (www.albumvirtual.trama.uol.com.br). Com produção de Miranda, o novo trabalho do Móveis, que começou a ser gravado nos estúdios da Trama no fim do ano passado, contará com 12 canções inéditas, mas muitas já conhecidas do público.

– Levamos um ano compondo e criando o novo disco. Estivemos nos últimos três meses em estúdio e, exatamente há duas horas, terminamos o trabalho. Por isso estamos muito felizes em tocar para o público. Ainda não sabemos o dia exato em que o novo álbum estará disponível. É para ficar atento – aconselha o trombonista Xande Bursztyn.

Expulsos pelas notas expulsas pelo quinteto de sopristas, os hits Copacabana, Perca peso, Menina da Moca, entre outras, receberam tratamento de gala com a performance de Bocato e os diálogos musicais que ele travava com cada integrante do Móveis. O instrumentista, que já rodou os principais palcos do país acompanhando nomes como Roberto Carlos, Elis Regina, Ney Matogrosso e Rita Lee, estava visivelmente emocionado com o calor do público que berrava seu nome a cada solo e intervenção.

– Fico feliz em receber toda essa energia do público e de ouvir da rapaziada do Móveis que eles curtem o meu som há tempos. Esse é o maior objetivo da música: fazer com que uma felicidade com conteúdo invada nossa mente. Não é como uma noite num bordel onde você se acaba e nada resta. Aqui no palco o prazer e a felicidade se eternizam – disparou Bocato.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz


















É como a linda e "apetitosa" capa do álbum "It's Blitz!" indica: a gema sonora estourada em 2003 com o début "Fever to tell" e amadurecida com "Show your bones" (2006) estoura, sai da casca e remodela o arsenal sônico do trio Yeah Yeah Yeahs, que de três em três anos acostumou-se a estalar uma onda de fumaça, levadas dançantes, gritos lascivos e sensuais nas pistas de dança e nas prateleiras físicas e virtuais web afora. O som de inferninho noturno produzido pelo grupo, que sempre soou e funcionou muito bem como trilha sonora para noites de êxtase e entorpecimento, volta à ativa com atmosfera renovada, mas sem deixar completamente de lado o esqueleto musical de garagem que o catapultou na borbulhante Nova York do início dos anos 2000. 
 
Neste terceiro disco de carreira – com lançamento previsto para o dia 13 de abril, mas já disponível na internet – as melodias sensuais proferidas pela boca carnuda, avermelhada e provocativa de Karen O. e as sinuosas linhas de guitarra e baixo arremessadas pelos pedais e amplificadores do guitarrista Nick Zinner continuam intactas. No entanto, uma pulsante e distorcida levada de sintetizador serve para anunciar o novo single, "Zero", assim como para colorir o agora sofisticado e moderno universo pilotado pelo grupo, que conta ainda com o batera Brian Chase. 

A faixa é um amálgama das multifacetadas correntes musicais que atravessaram os dedos de Zinner durante os últimos três anos – ou desde que a banda se apresentou no TIM Festival, em 2006. O multi-instrumentista, assim como em muitas bandas do momento, adiciona sintetizadores para todo o lado, mas dá seu toque ao unir às novas eletronices do grupo distorções potentes, que remetem ao rock industrial de Trent Reznor e seu Nine Inch Nails. E também ao apostar num espectro mais amplo e espacial para os arranjos, que recebem camadas de notas lineares de guitarra buriladas pelas mãos de David Sitek (TV on the Radio). O músico assina a produção do álbum junto com Nick Launey (Arcade Fire, Silverchair e Lou Reed), responsável pelo aclamado EP Is is, lançado em 2007.
 
"Heads will roll" e "Soft shock" seguem a mesma linha de "Zero": combinam introduções lentas, com vocais mastigados sílaba a sílaba, até atingirem o clímax em levadas rítmicas que as aproximam da disco music e da vertente eletro. A aventurosa guinada do grupo, porém, se revela ao mesclar minimalismo e grandiloquência em canções como "Skeletons" e "Runaway". Com arranjos orquestrais, ambas seriam inimagináveis para a banda que em 2003 arrancou os cabelos dos fãs e se tornou febre com os incendiários singles "Maps", "Y control" e "Date with the night". Já "Dull life" faz o trajeto de retorno da viagem sinfônica e atira a banda novamente em seu redemoinho de urgência apocalíptica e agressividade – elementos que impulsionaram a então iniciante banda nova-iorquina, liderada por uma garota, a ser considerada muito mais do que um mero e repaginado estereótipo riot grrrl.

Ao fim de suas 10 faixas, It's Blitz! desvela um curioso painel de contradições: o grupo soa mais ousado e inventivo, porém menos perigoso e direto. É a partir de melodias mais fluidas e ritmos menos angulosos que o YYYs emoldura seu trabalho mais consistente, mesmo que, às vezes, o álbum necessite de uma verdadeira blitz para que suas delicadas nuances não se percam em um emaranhado sonoro dispersivo.