NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ed Motta - Chapter 9


* Previsto para sair daqui a um mês pela gravadora Trama, o novo disco de Ed Motta, Chapter 9, vazou na internet no final da semana passada. O link, descoberto pelo JB, possibilitou uma série de críticas estampadas na capa do Caderno B desta segunda-feira. Resultado: desesperada por ter sua estratégia de marketing furada – a gravadora planejava que a revista Rolling Stone "Brasil" produzisse a primeira resenha sobre Chapter 9 – a gravadora desativou o link para audição do álbum do Trama Virtual. Abaixo, crítica na íntegra:

Em seu nono álbum de estúdio, Chapter 9, Ed Motta se distancia do Rio antigo de gafieira interpretado em formato samba-jazz em Aystelum (2005) – registrado entre o instrumental jazzístico e o pop. Agora, de seu rico acervo discográfico, Ed pinça da prateleira vinis que marcam as principais referências de sua formação musical, regada a soul music setentista, disco-funk e blues-rock.

Produtor, compositor e responsável por cada instrumento incluído nos arranjos que compõem estas onze novas faixas, Ed Motta se atém com intensidade à faceta de cantor. Dessa vez, no entanto, seus graves cavernosos, assim como agudos límpidos ecoam fundo pelo idioma de Shakeaspeare em material assinado pelo inglês Rob Gallagher e por Cláudio Botelho.

É Botelho o responsável pelo lirismo incutido em blues soturnos, como The man from the oldest building – faixa que abre o disco –, enquanto o primeiro se mostra em Twisted Blue, ambas lapidadas pelo estilo à Broadway das frases melódicas criadas por Ed. Guitarras distorcidas e com efeito tremolo desconcertam o blues-rock envenenado Tommy`s boy big mistake, que, precedida por St. Cristopher`s last stand, emaranha-se a hits mais dançantes e de levada disco, como You`re supposed to...

A soul music à Stevie Wonder também dá as cartas e se descortina na faixa Runaways, em levada pra frente guiada por bateria e linhas de baixo e piano pulsantes. O ápice, no entanto, chega em Sky is falling. É quando a cozinha manejada por Ed traça a conexão entre os grooves do reggae-dub jamaicano e a sonoridade Stax/Motown. Ao refrão, Ed presta tributo a alma do soulman americano Donny Hathaway em uivos melódicos lancinantes, dos melhores já registrados em sua carreira.

Ao podar as invencionices de seus improvisos vocais egóicos, que mais afastam que instigam seus ouvintes, Ed Motta reencontra-se com o formato canção e, diga-se de passagem, em ótima forma. A esperança é que uma bolacha competente como esta nos seja apresentada sorvendo o que há de melhor da música brasileira. O capítulo 10 está na manga.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Príncipe dos clubs


Assumindo-se um artista prestigiado pelo universo gay, o cantor e compositor Sam Sparro une soul 70 com experimentações eletrônicas e abre uma nova janela para o pop: “Sabia que seria algo grande”

Desde que a psicodelia pop e a soul music setentista explodiram unidas pela voz potente do cantor Cee-lo Green, a bordo do hit Crazy – talhado há dois anos pela outra metade do Gnarls Barkley, o produtor Danger Mouse – FMs mundo afora definham sedentas à procura de uma canção que a pudesse substituir à altura e com impacto semelhante.

Ao apostar em estética musical similar, coube à imprensa inglesa destacar o poderio vocal do cantor australiano Sam Sparro e lhe determinar a incumbência de trazer de volta às pistas de dança e às paradas de sucesso boas referências musicais em formato pop.
– Ouço de tudo, de jazz à new wave, passando por disco, electro, R&B, além de bandas punk. Aliás, cheguei a tocar em algumas antes de me tornar um adepto dos clubes – revela Sam.

Sorvendo influências de fontes musicais variadas mas consistentes, que unem as levadas funk e disco da década de 70 às vertentes eletrônicas house e electro, Sam Sparro, sem falsa modéstia, toma para si o posto de intérprete oficial de um dos maiores hits do ano, Black and gold. Descartando, portanto, fórmulas vazias e requentadas, o cantor caiu nas graças de produtores renomados como Mark Ronson (Amy Winehouse), do radialista Zane Lowe (Radio 1) e da imprensa especializada que, generosamente, lhe reserva a alcunha de Prince século 21.

– Assim que comecei a escrever a canção sabia que seria algo grande e que representaria muita coisa para mim. Talvez isso soe arrogante, mas meu instinto sempre foi dos melhores. Sou um cara teimoso e obstinado, então normalmente uso minhas armas muito bem – garante.

Carro-chefe de seu álbum de estréia, batizado com seu nome e lançado em abril (sai no Brasil 19 de agosto), a faixa chegou ao topo dos charts oficiais da BBC e impulsionou, também no Brasil, o então fenômeno do Myspace.

Branquelo de traços firmes e ornamentado, invariavelmente, por roupas coloridas oitentistas ou modelitos de corte refinado, Sam Sparro sustenta o ar blasé indie-fashion que o transformou em ícone do universo gay, ao qual assumidamente se insere. Comparado ao escalafobético cantor franco-argelino Mika, ícone do mundinho em 2007, Sam felizmente mais se assemelha, física e musicalmente, ao cantor inglês Jamie Lidell.

– Sempre acreditei que muita coisa iria acontecer na minha vida, mas obviamente passei por um período de incertezas. Quando compus Black and gold, por exemplo, não cheguei a estar deprimido, mas, sim, confuso, pois servia cappuccinos ao invés de cantar sobre palcos. Parecia que minha vida não iria dar em lugar algum – lembra.

Fruto da quinta geração de músicos de sua família, Sam é neto de um trompetista de jazz – que, entre outros, acompanhou Frank Sinatra – enquanto seu pai, o compositor e guitarrista de blues Chris Falson, prestou-lhe o favor de encharcá-lo, desde os 10 anos, na tradição gospel dos corais americanos. Foi em uma dessas reuniões que seu talento vocal de graves arredondados e agudos precisos foi descoberto pela diva soul Chaka Khan, que, surpreendida, disparou: "Damn, that white boy can sing!"

– Sempre estive rodeado de boa música. Fui moldado pelos caminhos do jazz e da soul music, já que em Los Angeles meu pai me levava para as igrejas. Mais tarde fiz a conexão destas linhagens com o hip hop e o dance – conta.

Hype, rádio e web
Produto de uma era em que a velocidade da informação ignora e descarta artistas com a mesma rapidez em que cria mitos de última hora, Sam afirma não se incomodar com a deglutição voraz da geração Web 2.0. e muito menos com todo o hype dispensado à sua meteórica carreira.

– Como artista, penso que é importante para a minha música estar disponível para todos, então é importante que isso seja possível nos dias de hoje.

No entanto, perguntado sobre as perspectivas de um mercado fonográfico cada vez mais esvaziado, ele é taxativo e da ponta de sua língua deixa escorregar uma solução palpável:

– Acho que tanto o Myspace quanto o Youtube e sites do gênero deveriam pagar royalties aos artistas. Isso é mais que justo, já que minha música serve como isca para que as pessoas sejam expostas aos produtos anunciados.

Cria da internet, mas, rapidamente, cooptado e catapultado às principais ondas digitais ou não de rádio, Sam não esconde seu desapego em relação às FMs, onde, mesmo assim, bomba internacionalmente.

– Apenas há poucos meses passei a ouvir rádio novamente – diz o músico. – Sinto-me um tanto quanto desprendido e distante da música considerada comercial. Mas, por curiosidade, fui checar e procurar saber o porquê e junto a quem minha música estava acontecendo e dando as cartas nas rádios.

Perguntado sobre jabá, ele desvia o foco sem fugir do assunto e prefere decretar a irrelevância dos programadores de rádio que, hoje, o põem no topo das paradas.

– Hoje em dia, os verdadeiros fãs de música procuram outras e melhores fontes para conhecer novos artistas e canções – afirma.

Debut

Gravado em Los Angeles entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008 pelos produtores Paul Epworth, Richard X e Jess Rogg, seu álbum de estréia é ponto culminante de mais de cinco anos de experimentações e muito material pré-gravado e testado.

– Comecei compondo e pré produzindo no estúdio que tenho em meu quarto. Depois levei o material para o estúdio do Jesse Rogg e aí cerca de quatro ou cinco canções acabaram sendo formatadas em parcerias com alguns dos melhores produtores ingleses. Acabou que no final tivemos que nos arrastar para terminar o álbum. Gostaria de passar muito mais tempo em estúdio para produzir meu próximo álbum. Gosto de trabalhar devagar.

Explorando climas até certo ponto soturnos em meio à sonoridade dançante guiada por camadas de sintetizadores cheios de groove, Sam não perde tempo em definir a atmosfera sonora impressa em seu debute e muito menos em listar possíveis intenções.

– Minha cabeça não funciona como a de um executivo de gravadora. Não é o tipo de coisa que tive que pensar muito antes de começar a fazer ou cantar. Apenas canto da maneira que sinto que a música é para ser interpretada. Apenas fiz o que estava sentido no momento da criação.

Inspirado por artes visuais, o que inclui cinema, design gráfico e moda, ele faz questão, sim, de enumerar os estilistas que determinam seu estilo cool, entre eles fashionistas pop como Jeremy Scott, Ksubi e Henrik Vibskov.

– Amo a conexão que podemos estabelecer entre música e cinema. Acho que, por isso, me envolvo tanto no aspecto visual da minha arte, seja quando eu resolvo me vestir, fazer o design de algo, ou quando contrato alguém para fazer um trabalho. Tive algumas pequenas batalhas para garantir que minhas idéias fossem postas em prática no aspecto visual da coisa, mas ao final do processo tudo se acertou.

Mais interessado em falar sobre design, moda e artes visuais do que sobre os temas e as questões que influenciam sua produção musical, o cantor deixa para os fãs e a crírica especializada a tarefa de lidar e interpretar as circunstâncias do existencialismo pop contido em suas letras.

– Escrevo apenas quando sinto que tenho algo a dizer. Pode ser qualquer coisa, algo que esteja nos comentários da sociedade de forma geral, questões internas que tocam minha alma e essência, até sobre coisas ridículas e triviais, como ficar doidão.

Black and gold:

21st Century life:

terça-feira, 22 de julho de 2008

Alma fresca


Cantora franco-israelita de 29 anos Yael Naim é dona de uma das canções mais delicadas do ano. 'New soul', que serve como single ao segundo álbum de carreira, 'Yael Naim', é conduzida por arranjos simples que privilegiam linhas de baixo e metais em clima até certo ponto lúdico. De canto suave e despojado, Yael é delícia de ouvir. Inspirada por Beatles e Aretha Franklin, mas soando folky, ela canta em francês, hebraico e inglês neste disco que, apesar de mediano, está entre o top 10 das principais paradas musicais européias. Lançado em outubro de 2007, o álbum caiu nas redes do atento todo-poderoso da Apple, Steve Jobs, que elegeu a canção 'New soul' como trilha para o comercial de lançamento do laptop MacBook Air. A escolha impulsionou o lançamento do álbum em solo americano, em março de 2008. Vale a pena destacar alguns minutos para uma audição, assim como retiro da cartola 60 segundos para escrever essa nota.
Abaixo, New soul:

Cover da moça para 'Toxic', de B. Spears:

domingo, 20 de julho de 2008

Solo de verdade

"Estamos em Chicago e tudo está completamente tomado pela neve. Lá fora o frio é cortante e, por sorte, nosso aquecedor está bombando, assim como Sgt. Pepper's e o álbum branco dos Beatles explodindo pelas caixas de som! O clima está excitante e os espíritos super elevados!"

Se transportadas há exatamente 50 anos, as primeiras linhas do e-mail escrito pelo músico neozelandês Liam Finn, 24 anos, poderiam revelar mais que o estado maravilhado de um jovem artista cruzando as estradas americanas para o lançamento de seu primeiro trabalho solo. Afinal, a excitação dos espíritos e as caixas de som reverberando as experimentações dos 'fab four' pelas estradas compõem e nos conectam ao cenário que serviria, em 1968, às inspirações literárias capturadas por Tom Wolfe para descrever a psicodelia e as experimentações lisérgicas dos personagens eternizados em seu célebre livro, o 'Teste do ácido do refresco elétrico' (1968).

No entanto, estamos em 2008, e as palavras escritas pelo nosso personagem navegam sem fios ou escalas, de Chicago ao Rio, a partir de um laptop. E assim, sentado a bordo de uma van, um dia após sua estréia no talkshow de David Letterman, que Liam nos escreve sobre o lançamento do seu álbum, I`ll be lightning, a turnê pelos Estados Unidos em que dividirá palcos com Eddie Vedder, sobre a pressão de ter sido apontado como um dos nomes da música pop de 2008, por publicações de prestígio, como a Rolling Stone internacional, além do entusiasmo das resenhas publicadas em jornais como o Guardian e o New York Times.

– Fico super entusiasmado em ganhar um pouco de atenção no momento. Estive em bandas por mais de 10 anos e trabalhei muito duro, então é maravilhoso quando algo excitante e maior acontece – diz Liam. – Não sinto muita pressão, talvez porque eu tenha confiança de que as experiências pelas quais passei me prepararam para esse tipo de coisa. Estou satisfeito por levar a minha vida fazendo música, e parece que a cada ano a coisa está ficando mais e mais excitante e divertida.

Menino prodígio do rock, o multi-instrumentista Liam Finn carrega no sobrenome a herança genética que o conecta a música. Filho do líder da banda Crowded House, Neil Finn, Liam desde criança fez do estúdio do pai seu quintal e dos instrumentos musicais seus brinquedos preferidos.

– Acredito que minhas primeiras memórias musicais são provavelmente de assistir ao meu pai no palco tocando para milhares de ardorosos fãs em qualquer canto do mundo – conta. – Hoje, tudo isso se transforma em uma única memória, mas eu me lembro de pensar que esta vida parecia ser realmente muito divertida e todo mundo parecia estar sempre super feliz e eufórico!

Liam se prepara para cruzar de ponta a ponta o solo americano, a partir de agosto, como atração de abertura da turnê do líder do Pearl Jam, Eddie Vedder, que também lança seu primeiro vôo solo, Into the wild, registrado como trilha sonora do filme homônimo, de Sean Penn.

– Sempre fui um grande fã do Pearl Jam e esta oportunidade é inacreditável. Ele é um grande amigo da minha família e sempre deu muito apoio a minha música, então é natural que faríamos alguma coisa juntos algum dia. Ele me telefonou do Hawai perguntando se eu gostaria de excursionar. Falei: "hum, talvez. Vou pensar no seu caso" – brinca Liam. – Estou super excitado com essa turnê, pois tenho pessoas maravilhosas a minha volta e acho que será tudo muito divertido. Amo tocar, então é um sonho que definitivamente se torna real.

Compositor, engenheiro de som e produtor de seu primeiro trabalho, Liam escreveu também os arranjos nada simplórios das 14 canções que compõem o disco, além de ter tocado praticamente todos os instrumentos, o que lhe dá aval para retificar a definição e o significado da expressão "artista solo".

– Acho que este é um álbum solo no sentido mais verdadeiro que essa expressão pode ter. Mas não foi uma decisão consciente, apenas acabou funcionando desta forma, pois eu tinha uma idéia muito clara na cabeça de como eu gostaria que o álbum soasse – explica o músico.

Ostentando uma barba desgrenhada e ruiva cultivada há cerca de dois anos, Liam assemelha-se a uma mistura de homem das cavernas, cientista louco, bicho-grilo e garoto do campo. Apostando em uma estética mais retrô que futurista, ele parte de uma filosofia que prima pela música em seu estado natural, e para a gravação do seus disco descartou a intervenção de computadores e seus milhares de traquitanas digitais.

– Gravar de forma analógica me dá a possibilidade de conseguir tirar sons inatingíveis. Além disso, é um processo de gravação muito mais romântico e todos os meus discos favoritos foram concebidos desta forma. Creio piamente na filosofia do primeiro take e quis justamente recriar uma estética demo – revela Liam. – A maneira como os disco de Neil Young foram feitos me inspiram demais. Ele adora registrar takes ao vivo, não se importa muito com a perfeição, mas, sim, em capturar a essência e a energia do momento. Bandas mais recentes, como Wilco e TV on the Radio também me influenciaram bastante neste disco.

Fiel a tal "filosofia de Neil Young" e inspirado por artistas como Elliot Smith, ele garante não ter se perdido nas mil e uma possibilidades que, sozinho, poderia experimentar em estúdio.

– Não agonizei muito. Na verdade, o processo foi tão rápido que me perdi no momento e esqueci de comer durante dias a fio – recorda Lia. – Assim que sentia que as coisas estavam certas não ficava trabalhando em cima das canções até que ficassem perfeitas. Realmente não tinha outra coisa em mente a não ser capturar os sons que eu ouvia na minha cabeça. E gravar sozinho surgiu do sentimento de que eu poderia tirar ainda mais de mim estando apenas comigo mesmo.

A responsabilidade de estar sozinho ele não deixa de carregar nas costas quando sobe ao palco. Ladeado apenas por uma backing vocal, o one man band tem feito de suas apresentações verdadeiras experiências de ilusionismo sonoro. Usando pedais de efeito, ele cria, samplea e grava, em loop, vocais, linhas de baixo, bateria, riffs e solos de guitarras produzindo uma cascata gradativa de sons onde todas as composições harmônicas que dão colorido às canções do álbum não são descartadas, mas, sim, preservadas e reproduzidas.

– Há alguns anos vi um show de um cara chamado Jon Brion. Ele fazia algo similar ao que estou fazendo. Aquilo me deixou pirado. Acho que por ser um multi-instrumentista pensei: "posso fazer isso!" E, agora, aqui estou conversando com você sobre...

Ao final de suas apresentações, postado sozinho ao palco e longe de qualquer instrumento, o músico brinca com as possibilidades sonoras de um teremin, enquanto que a massa sonora de loops envolve e reproduz o som de uma banda fantasma. Ele conta que as platéias se surpreendem em ver a apresentação solo se transmutar em banda e concerto de rock.

– É tempo de testarmos coisas novas e as pessoas estão doentes e enjoadas dos mesmos velhos cantores e compositores viajando sobre como se sentem tristes. As pessoas estão respondendo de forma fantástica a tudo isso. Acho isso extremamente estimulante, adoro todo o perigo que há nisso. Sempre que subo ao palco apenas com minha guitarra, penso: "Lá vamos nós!"

Inspiradas por um período turbulento de desilusões e tristeza pelo término de sua ex banda, Betchadupa, e de um namoro de longa duração, as letras de Liam são extraídas da fossa. É o fundo do poço que arredonda a beleza de seus versos.

– Meu primeiro ano em Londres foi um período muito sombrio e intenso. Minha banda de oito anos acabou ao mesmo tempo em que terminei um relacionamento de muitos anos com uma namorada. Então acho que extrai muita coisa daquela experiência e pude agregar como inspiração para esse disco. Escrever canções é algo super terapêutico! Experiências ruins geralmente servem como combustível para criatividade. Só espero que mão tenha que me ferrar tanto emocionalmente quando for gravar meu próximo álbum! –

Guiado pelo melhor das melodias ensolaradas dos Beatles e dos Beach Boys, além de música gospel, folk da década de 60 e, por que não, Nirvana, as canções de Liam, assim como suas letras, são doces, emocionais e atmosféricas. Verdadeiro alquimista da música pop contemporânea, ele não deixa de revelar, porém, um amor incondicional a forma como a música era produzida e veiculada na década de 60. Perguntado sobre como se sente um artista surgido em uma época onde a velocidade das informações e das transformações do mercado da música acelera além da capacidade de absorção dos ouvidos humanos, Liam conduz sua resposta em frases sustentadas por resquícios de um saudosismo não experimentado.

– É claro que há uma porção de coisas que não são tão legais como nos anos 60, por exemplo. Parece que a maioria das bandas que ganharam destaque e projeção naquele período eram realmente maravilhosas e tinham força para sustentar todo aquele sucesso. Mas agora com uma quantidade enorme de informação livre, dinheiro gasto em música comercial e tantas opções, acabamos subjugados a um monte de lixo – dispara.

Apesar da afirmação, ele mostra que a nostalgia fica apenas por conta do lirismo de suas lembranças. Na prática, o músico abraça o presente e não deixa de ver com bons olhos o alcance que apenas alguns cliques em seu Myspace podem garantir à sua música.

– É maravilhoso que pessoas do mundo todo possam ouvir a minha música, mesmo que eu não tenha lançamentos nestes países. Além disso, é importante porque descobrimos música através de um novo tipo de boca-a-boca e não apenas pelo que o pessoal de marketing e as gravadoras tentam nos enfiar, a base de muito dinheiro, pela nossa garganta, ou ouvidos.

Better to be:


Second chance:


Gather to the chapel:

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Adele - A voz da Inglaterra

Cria do maior celeiro de estrelas da música pop atual, o site Myspace, Adele Adkins, 20 anos, pode ser considerada a detentora de uma das vozes mais interessantes do ano, ou como confere o veredito dos maiores jornais ingleses, entre eles o Times e o Observer, a voz da Inglaterra de 2008. A moça, influenciada por divas do jazz e do soul como Etta James e Ella Fitzgerald, no entanto, ainda tenta se acostumar com o peso do sucesso. Afinal, Adele foi premiada, em dezembro de 2007, como a Escolha da Crítica na maior festa da música inglesa, o Brit Awards, assim como alcançou o topo da lista anual realizada pela rede britânica BBC, em parceria com mais de 150 especialistas da música pop, que a indicaram como a maior promessa do ano.

– É muito estranho partir de uma posição em que ninguém conhece você e de repente ser reconhecida por milhares de pessoas. Então, realmente isto não é natural para mim – afirma Adele.

De aposta a realidade da música pop, seu disco de estréia, 19, lançado mês passado, nos Estados Unidos – e que sai no Brasil até o fim deste mês pelo selo paulista Flammil, responsável também pelo lançamento nacional de In rainbows, do Radiohead –, entrou no top 100 da Billboard, o que rendeu a moça apresentação no talkshow de David Letterman, resenhas favoráveis em prestigiosas publicações, além de um generoso impulso às vendas do disco, que já atingiram mais de meio milhão de cópias vendidas.

– Tudo ainda é muito esquisito. No entanto, desde a primeira vez em que pus as mãos em um microfone, aos 14 anos, soube de imediato o que gostaria de fazer da vida. – A maioria das pessoas não gosta de ouvir sua própria voz em gravações. Já eu fiquei extremamente excitada com todo o processo que não me importei sobre como minha voz soava. Eu sempre quis ser o centro das atenções – revela.

Sentada à mesa de um restaurante em Sheperds Bush, lado oeste de Londres, enquanto esperava seu empresário para um jantar de negócios, a cantora dedicou seus poucos minutos de descanso para esta conversa virtual. Dividindo sua atenção entre olhadelas no cardápio e as teclas de seu laptop, nesta entrevista a moça ainda demonstra desconforto com a fama e a exposição de uma estrela ascendente da música pop.

LFR: Na sua opinião qual seria a razão para essa resposta positiva e tão rápida em relação a sua música?

A: Talvez seja porque eu escreva canções que todo mundo possa fazer relações, ou porque sou muito falante em entrevistas e porque eu sou realmente uma artista de palco!

LFR: '19' foi lançado no início do ano com algumas canções disponíveis em seu Myspace. Até que ponto estas novas ferramentas virtuais auxiliam seu trabalho e contribuem para alterar os rumos do mercado fonográfico?

A: Acho que sites como Myspace, Youtube e a internet como um todo mudaram completamente a indústria da música, já que a música e os artistas são muito mais acessíveis hoje em dia. Como ferramenta, os artistas podem manter contato com seus fãs em um nível de intimidade diária! Amo a idéia de ser uma artista fruto de todas estas mudanças.

LFR: Mesmo antes de lançar um único single você já havia se apresentado em famosos programas da TV inglesa, caso do musical Jools Holland e do talkshow de Jonathan Ross. Além disso, parcerias com Mark Ronson já haviam sido tecidas, contrato assinado com a XL Recordings assinado, além de ter se apresentado ao lado de artistas como Devendra Banhart, Amos Lee e Raul Midon. Sua música se tornou conhecida antes mesmo de qualquer lançamento oficial. Como vê isso?

A: Acho que na época em que tudo isso aconteceu havia muita falação sobre mim e eu era a única nova garota no momento que estava realmente lutando para fazer as coisas antes de o álbum estar terminado.

LFR: Escrevo do Brasil, onde posso escutar as suas músicas sem pagar um único centavo. Fato que me deu a oportunidade de conhecer um artista novo e escrever sobre ele. Há algum tempo não teríamos essa velocidade e quantidade de informações disponíveis. Como lida com isso?

A: Acho que isto é encorajador. Se você não pudesse me ouvir pelo Myspace, ou se ninguém tivesse acesso à minha música tudo isso iria levar um tempo muito maior para acontecer. Acho que isso mostra o quanto você pode atingir e conquistar em um curto espaço de tempo.

LFR: Os arranjos do seu disco são até certo ponto minimalistas. Violões acústicos e suas linhas vocais estão a todo o tempo na linha de frente. De onde veio a idéia ou conceito de fazer um disco baseado quase que exclusivamente em sua voz?

A: Pois na verdade sou melhor cantora do que musicista. Eu escrevo todas as minhas canções, mas eu ainda tenho muito o que desenvolver e até que eu esteja pronta o meu trabalho será sempre guiado pela minha voz. Ainda não estou pronta para escrever o meu Dark side of the moon. Ainda!

LFR: Quem são os artistas que, por admiração e influência acabaram contribuindo para a construção da sua sonoridade e o seu jeito de cantar? Etta James, Ella Fitzgerald, música folk, soul...

A: Realmente não gosto de música folk. Gosto de soul e pop. Meu artista predileto é Etta James porque simplesmente amo sua voz, seu fraseado e suas canções. Aprendi a cantar sozinha, auto-didata, ouvindo Etta e outras grandes cantoras, como Ella Fitzgerald. Então minha voz vem de representar elas por muitos anos e, eventualmente, fazendo isso da minha maneira. Acho que há pegadas marcantes dessas influências na minha voz.

LFR: Qual foi o ponto de partida para que a música tomasse posição central em sua vida?

A: Cantar é algo que sempre fiz. Não importa se durante o banho ou em cima de um palco, no carro ou num disco. Eu amo cantar, além disso, não tenho paixão por nada. O momento de transição foi quando pude perceber que cantar realmente poderia ser minha carreira e que eu poderia me dar bem foi quando meu álbum foi lançado e entrou em primeiro lugar nas paradas inglesas. Aí é quando tudo fica em casa!

LFR: Você conta com uma voz limpa e um estilo de canto repleto de influências dos antigos cantores de soul e blues. Como aprendeu a separar o que era influência daquilo que mais tarde estabeleceria como a sua maneira de interpretar?

A: Cresci interpretando outras cantoras, isso foi até os meus 16 anos, quando comecei a compor minhas próprias canções que minha voz passou a ter i meu registro. Foi aí que me encontrei! O estilo blues e melodioso sempre esteve comigo.

LFR: Vamos falar um pouco sobre suas composições. De que maneira seu estado de humor afeta seu processo de escrita? O que lhe inspira a compor?

A: Meu humor realmente afeta o modo e quando faço minhas canções. Se estou de bom humor não consigo escrever nada, porque estou na noitada me divertindo! Haha Tenho que estar triste para compor, algo que realmente me afete e me abele. Tentei inventar situações para escrever ou escrever sobre algo que aconteceu a alguém. Mas o problema é que nunca dei significado sincero ou consegui passar as histórias com convicção. Então minhas músicas são sempre pessoais e sempre sobre amor ou ódio!

LFR: Quando começou a escrever esse álbum? Onde ele foi gravado?

A: Eu tinha apenas três canções quando assinei meu contrato. Não escrevia mais canções até maio de 2007. Escrevi o álbum a partir destas três canções durante o mês de maio. Gravamos tudo em Londres, nos estúdios Rak, Konk e Metropolis.

LFR: Fale um pouco sobre sua experiência em estúdio. Como foi o processo de gravação do disco? Suas músicas soa intimistas... era este o clima predominante durante as sessões?

A: Adoro estar em estúdio. Amo tocar ao vivo, mas prefiro ficar no estúdio. É mais relaxante e minhas idéias fluem muito bem quando estou gravando! Gravamos o disco rapidamente, só posso dizer que foi o período mais divertido da minha vida!

LFR: Você trabalhou com três produtores musicais. O que cada um deles trouxe para o álbum em relação aos arranjos e instrumentos usados? Qual a diferença no trabalho de cada um?

A: Eles são muito diferentes. Jim gravou as canções mais simples e acústicas. Ele me deu coragem para fazer tudo aquilo que eu achava que iria funcionar. Eu e Eg escrevemos nossas canções em parceria, apenas colocamos nossas idéias para fora e depois as juntamos. Ele é muito rápido e sai derramando idéias a todo momento. Mark Ronson fez minhas canções serem como elas são. Escrevi 'Cold shoulder' com um teclado Whirlitzer, mas queria adicionar algumas batidas e sabia que ele seria a pessoa certa!

LFR: O que a inspirou para escrever as canções 'Daydreamer', 'Chasing pavements' e 'Cold shoulder'?

A: 'Daydreamer' é sobre meu ex-namorado que era bissexual. Uma experiência assustadora, pois de qualquer maneira sentia ciúmes. Eu não teria energia suficiente para lutar e competir contra homens e mulheres. Então a música é sobre minha fantasia do que eu queria que ele fosse. 'Chasing pavements' é sobre uma discussão que tive com meu ex-namorado. Eu fugi e ele não me perseguiu e eu não estava perseguindo ninguém, apenas um espaço vazio. Já 'Cold shoulder' é sobre o final do relacionamento com o ex-namorado detalhado em 'Chasing pavements', sobre quando ele decidiu ficar com uma outra garota!

LFR: Certa vez você disse à imprensa que suas letras são como poemas. Muitas de suas linhas são resultados de fragmentos literários e de suas leituras, ou apenas resultado de experiências pessoais?

A: Não leio livros ou poesias. É tudo sobre experiências pessoais!

LFR: Como vê o papel da imprensa musical britânica, em especial o semanário New Musical Express, que impulsiona novos artistas toda semana como sendo novos Beatles? Além disso, todo mês um novo gênero musical é inventado e uma nova classificação surge como a nova moda. Como vê tudo isso? Acha que perderam completamente o bom senso com esta noção de hype?

A: Não, apenas acho que eles não podem segurar a onda! Acho que eles estão querendo o controle de algo que é completamente fora do alcance deles. E eles tentam dar conta categorizando todo mundo! Acho que eles estão tão excitados que querem ter o controle de tudo.

LFR: Vivemos uma era de multiplicidades, também na música, onde mash-ups e misturas de ritmos e gêneros formam os tais novos termos inventados pela imprensa. Sua música, até certo ponto intimista e repleta de silêncios, é uma reação consciente a essa sonoridade moderna, complexa e dançante em voga atualmente na Inglaterra?

A: Escrevo canções que gosto. Apenas isso. Gosto de baladas mais lentas. Não estou antenada a tudo que está a minha volta e obviamente nem penso nas cenas ou em outros artistas quando escrevo minhas canções. Então, com certeza é um processo totalmente inconsciente!

LFR: O que acha dessa busca incessante para descobrir a nova cantora e compositora inglesa a ser comparada com Amy Winehouse? Isso lhe incomoda?

A: Isto não me chateia. Acho que nós somos todas boas o bastante e acho que realmente somos as novas cantoras e é por isso que estamos indo tão bem!

LFR: Se tivesse que ser comparada a Amy Winehouse, Duffy, Laura Marling e Dawn Kinnard a quem gostaria de ter sua música relacionada? Qual delas não gostaria de ser comparada?

A: Escolheria ser comparada a Amy Winehouse porque a amo e acho ela incrível! E é óbvio que gostaria de ter uma carreira musical como a dela. Acho que Amy tem longevidade e é isso que quero. Eu não gostaria de ser comparada com Laura Marling. Acho ela incrível, mas somos completamente diferentes. Ela é muito folk e eu soul/pop! E acho que nós duas queremos coisas diferentes em relação a idéia de ser cantora e performer!

LFR: Suas experiências adolescentes determinam todo o conceito de 19?

A: O escopo do álbum era escrever sobre relacionamentos que tive aos 19 anos.

LFR: Alvo de apostas e listas ao longo do ano agora é sua vez de apontar os novos artistas que rolam no seu playlist...

A: De novas bandas tenho escutado artistas como Vampire Weekend, Soko, Late Of The Pier, Metros e MGMT. De coisas mais antigas, ouço Kings Of Leon, Klaxons, Yeah Yeah Yeahs, Etta James, Amy Winehouse e Lily Allen.

LFR: Recentemente li um artigo em que você afirmava ter enorme prazer em ler sobre escândalos sobre celebridades. Esta preparada para figurar em capas de tablóides e a ser tratada como uma celebridade da música pop?

A: Realmente adoro ler revistas de fofoca, sim. Quem é que não gosta? Da mesma forma que adoro lê-las, odeio estar estampada em suas páginas. Não estou preparada e nunca estarei!

'Daydreamer' - Jools Holland


'Cold shoulder'

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O filho do violão


Filho do mestre do violão, Baden Powell, Marcel Powell, 25 anos, não se esconde atrás de um dos sobrenomes mais imponentes da MPB. Dedicado ao mesmo instrumento que seu pai, ao lado de João Gilberto, redimensionou a forma de tocar, ele planeja para esse ano o lançamento do seu segundo álbum solo, 'Cobra viva', definido pelo próprio como um álbum de música instrumental braisleira.

Ao beber de fontes diversas e não apenas da bossa nova, que Baden e João talharam em conjunto com Vinícius de Moraes e Tom Jobim, ele lança mão de um repertório de choro, frevo, baião, entre outros ritmos, e se nega a incumbência de renovar ou modernizar o gênero musical que consagrou sua linhagem familiar.

Indicado ao prêmio TIM de música e ganhador do prêmio Rival Petrobrás na categoria melhor instrumental solo, em 2006, pelo disco 'Aperto de mão', Marcel conta que já tem gravada a metade do novo álbum, que traz releituras de Lenine, Gilberto Gil, João Bosco, além de inéditas de seu pai e composições próprias.
Ciente de que a bossa nova é parte fundamental de sua história, justamente pela importância de seu pai para o gênero, Marcel lembra que Baden era um artista que flertava com diversos outros gêneros, e, que, como professor, sempre o incentivou a experimentar os ritmos que hoje afirmam sua posição de músico contemporâneo, com o radar ligado para novas idéias.
Nesta entrevista, ele faz questão de pôr em xeque o mito que credita à música instrumental uma complexidade que impede, ou dificulta, sua absorção por um grande número de ouvintes. Defensor do lema: "música boa é música boa", independentemente de gêneros, o violonista espera que mais veículos de comunicação possam apresentar a música instrumental como fruto do mesmo universo da MPB e, não, como um estilo segmentado e que necessita de tratamento especial.

LFR: Até que ponto a bossa nova é a base de sua formação musical e de suas experimentações artísticas atuais?
MP: Não posso dizer que a bossa nova é minha principal influência, já que diversos outros gêneros e ritmos que compõem a música brasileira fizeram parte da minha formação, caso do choro, frevo, baião. O choro, sim, talvez possa dizer que é a base da música brasileira. Me considero um artista de música instrumental brasileira e nos meus shows nunca faltam choros.

LFR: Essa mistura com outros ritmos brasileiros, no entanto, que formam o cerne de sua musicalidade?
MP: É lógico que a bossa nova é parte fundamental da minha história, justamente pelo o que meu pai representa para a nossa música. Mas ao mesmo tempo ele era um artista independente da bossa nova e flertava com diversos outros gêneros. Como foi ele quem me ensinou música, essa noção e interesse por outros ritmos foi repassada naturalmente. Não tenho como destacar apenas a bossa nova, mesmo sendo óbvio afirmar que ela tem uma importância significativa na formação de cada músico brasileiro.

LFR: Se comparados a outros gêneros, não são muitos os artistas contemporâneos que apostam na bossa nova. Acredita que o gênero carece de renovação?

MP: Também toco bossa nova, mas não creio que seja uma renovação do estilo, mas, sim, outra coisa, algo novo e diferente. Deixo a bossa nova para os artistas do gênero que ainda estão aí, como o Carlos Lyra. Existem muitos artistas influenciados pela bossa nova, esta é a forma que ela vive, hoje. Grupos como Bossa Cuca Nova, o trio Jobim, que gravou CD com Milton Nascimento, assim como Kay Lyra, filha do Carlos, que tem um trabalho voltado para a bossa nova. Já o meu trabalho não é somente isso. Estou sempre a procura de novas referências. Além disso, o meu trabalho é totalmente instrumental, gênero que, brevemente analisado, valoriza o talento da pessoa que toca, o instrumentista. Enquanto a bossa nova valoriza mais a canção, a letra e a melodia, uma música cantada.

LFR: Como vê a construção do mito de que a música instrumental é complexa demais para a absorção ou apreciação de um número grande de pessoas?

MP: Acho que música boa é música boa. Isso não tem relação com um ou outro gênero. Acho que por ser uma música de mais qualidade, mais sofisticada, muitas gravadoras acabam tendo medo de apostar. Acaba que o instrumental se torna algo mais seleto, não pela questão do poder aquisitivo de quem a consome, mas muito pela idéia de que o ouvinte de música instrumental é alguém que seleciona e busca o que quer ouvir e, não, como o ouvinte comum que é obrigado, queira ele ou não, a ouvir o que toca nas rádios.

LFR: O estilo sofre, no entanto, com a segmentação, como vê a questão das rádios? Por que não escutamos música instrumental normalmente inserida na programação das FMs dedicadas à canção brasileira?

MP: Muita gente fica impossibilitada de ter acesso à música instrumental. Isso restringe um número grande de pessoas que não têm a oportunidade de saber se aquele som os agrada ou não. Acho que os discos e os shows tem que ser mais baratos, mas as rádios poderiam incluir normalmente e sem medo a música instrumental. Acho que a MPB FM, por exemplo, que eu particularmente adoro, poderia colocar música instrumental ao longo da programação. Egberto Gismonti poderia tocar ao lado de Maria Rita, ou Lenine, e, não só em um programa especializado. Não há porque segmentar, faz parte da nossa cultura. Não é preciso demarcar o território.

LFR: Em 2006, você foi indicado ao prêmio TIM de música e ganhou o prêmio Rival Petrobrás na categoria melhor instrumental solo, pelo disco 'Aperto de mão'. Agora prepara um novo álbum, como será este trabalho?

MP: Algumas canções serão registradas em trio e quarteto. Outras recebem tratamento de violão solo. Serão quatro músicas de minha autoria e duas inéditas do meu pai. 'Chora violão', canção composta em homenagem a Raphael Rabello, e 'Abraço no trio elétrico', em homenagem ao bandolinista Armandinho. De João Bosco, regravo 'Incompatibilidade de gênios' e 'Bala com bala'; de Lenine, 'O dia em que faremos contato'; de Gil e Dominguinhos, 'Lamento sertanejo'; além de uma canção do Sivuca.

LFR: Será lançado apenas no Brasil?
MP: Por enquanto, sim. Mas espero lançá-lo internacionalmente, assim como fiz com meus outros discos. Faço muita coisa lá fora, eles têm muito interesse pela nossa música.
LFR: Você se considera mais um compositor, ou realmente um instrumentista que se dedica à interpretação e releitura de músicas?

MP: Apesar de criar e formar estas parcerias, eu me dedico mais a interpretação e ao instrumento. Não tenho a pretensão de ser um compositor, como foi meu pai. Ele conseguiu conciliar suas duas aptidões. Sei que não há regras, tanto que no meu trabalho solo componho e gravo alguns dos meus temas. Mas por enquanto me vejo como instrumentista.

LFR: Existem parceiros que colocam letras em suas músicas?

MP: Tenho canções em parceria com o Paulo César Pinheiro, com o Diogo Nogueira, entre outros. São sambas com letras, mas ainda não foram gravados. Talvez a Mariana Leporace grave alguma destas canções em um novo trabalho dela.

LFR: Como era Baden Powell como professor? Reza a lenda de que era extremamente rígido. Como lidava com essa pressão nos ensinamentos? Pensou em seguir outra carreira?

MP: De jeito nenhum. Queria ser músico desde pequeno. Ele foi meu único professor, mas foi o professor. Ele realmente era severo, mas não impôs que eu e meu irmão nos dedicássemos à música. Comecei mais ou menos como ele, que roubou seu primeiro violão de uma tia, ao invés de pedir emprestado, por timidez. Eu, no caso, roubei o instrumento do meu irmão e fui pedir aulas ao meu pai. Não houve obrigação, mas, como fui procurá-lo, ele deixou claro, desde o início, que eu teria que aprender a tocá-lo direito. Ele era um cara muito claro e se eu ou meu irmão não levássemos jeito para a coisa ele teria sido o primeiro a impedir uma exposição sem preparo da nossa parte.

LFR: Como lida com a cobrança dos apreciadores, ou críticos, da música do seu pai em relação ao fato de ser o filho de Baden Powell? O que há de bom e de ruim nisso?

MP: Qual é o jogador que não quer se comparado, ou gostaria de ser filho do Pelé? Isso sempre me abriu portas, mas manter essa posição depende exclusivamente da minha performance. Afinal, você pode ter tudo, ser o filho do Baden Powell, ter talento, mas o estudo e a dedicação são fundamentais. Além disso, as pessoas querem te ouvir, saber como você toca, o que tem para mostrar. Comecei aos 9 anos e meu pai marcava em cima. Só deixava uma peça de lado quando ela já poderia ser bem tocada. Ainda estudo muito, no mínimo três horas por dia, as vezes chega a cinco ou seis horas de treino. Mas é lógico que tem dias em que eu descanso, também.

LFR: O que o seu violão e a sua arte tem de Baden Powell, o que você reconhece como herança? O que tem de Marcel, que elementos originais você incorpora nessa história?

MP: Do meu pai tem bastante coisa. É ímpossível não carregar esses traços. Ele foi meu pai e professor. Se os músicos, normalmente, já carregam essa herança dos professores, comigo essa relação era ainda mais forte. Mas tento imprimir minha marca e procuro gravar canções que ele não tenha tocado ou gravado, para que as pessoas não fiquem imaginando ou comparando versões. Da minha parte, trago essa coisa da velocidade, de tocar as escalas de forma rápida, algo que ele não fazia tanto. Como compositor, ele se apegava muito às questões melódicas. Empregava a técnica de forma diferente.

domingo, 6 de julho de 2008

Marcos Valle Conecta


Aos 65 anos de idade e mais de 20 discos lançados, no Brasil e exterior, o instrumentista, compositor, arranjador e cantor, Marcos Valle, não dá muita bola para as homenagens e comemorações aos 50 anos da bossa nova. Ele prefere apontar para o futuro e, de olho na renovação do seu público e repertório, acaba de lançar o CD e DVD 'Marcos Valle Conecta'. Capturado durante a temporada de quatro noites realizada em agosto de 2007 no Cinematéque Jam Club, em Botafogo, o registro apresenta a reunião, no palco, de Marcos e diferentes convidados da nova geração de músicos e compositores da MPB. Entre eles, Marcelo Camelo – em seu primeiro trabalho pós-Los Hermanos –, Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin, – formadores do trio + 2 –, Fino Coletivo, DJ Nado Leal e DJ Plínio Profeta.

Representante da segunda geração da bossa nova, surgida nos anos 60 e lapidada aos moldes da batida do violão e pelo canto de João Gilberto, além das canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Marcos passa longe do purismo bossa novista. Muito pelo contrário. Democrático, ele mostra que sua bem sucedida carreira internacional é fruto das suas experimentações e dos flertes com ritmos e gêneros musicais diversos, como o samba tradicional, baião, jazz, música clássica, pop, entre outros. Com a carreira em alta, tanto aqui como acolá, ele anuncia, ainda, para este ano, o lançamento de um CD de inéditas em parceria com Celso Fonseca, novas composições com Marcelo Camelo, Lulu Santos, Carlos Lyra, participação especial no novo álbum de Marcelo D2, além de um box, com quatro DVDs, sobre sua carreira, a ser lançado em 2009.

LFR: Em meio às homenagens e comemorações em relação aos 50 anos de bossa nova, queria que você falasse um pouco da importância do gênero para a nossa música. Qual o maior legado que João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, entre outros, nos deixam?

MV: A bossa nova tem grande importância não só no Brasil, como para o mundo da música. No fundo era uma maneira nova de tocar o samba tradicional. O samba e a bossa se encaixam perfeitamente. A bossa uniu elementos sonoros da música clássica e do jazz, o que era uma possibilidade de renovação e deu força a música brasileira lá fora. Dentro do país também, pois passou a atingir um público que não tinha tanta ligação com o samba tradicional. Isso ampliou a nossa música e cultura para o próprio Brasil. O encontro de Carlos Lyra e Nara Leão foi transformador neste sentido.

LFR: A que fator explica o reconhecimento e o interesse pela bossa nova, por jazzistas, cantores, compositores americanos e europeus?

MV: A bossa nova apontava o casamento entre elementos da música internacional. Em termos de harmonia, interessava aos jazzistas e aos cantores, que a aceitaram de imediato. A bossa bebia de fontes do jazz, como Chet Baker, nos EUA, além de Mário Reis, no Brasil, uma forma mais coloquial de cantar, que, mais tarde, aponta para João Gilberto. Eram as harmonias de Johnny Alf, da música erudita de Ravel e Debussy. A semelhança com o jazz facilitou e abriu as portas para o mundo. A bossa nova tem a melodia bonita e intuitiva que interessou a Frank Sinatra e Tony Bennet; as harmonias sofisticadas, que interessavam aos jazzistas e seus improvisos; além do ritmo sensual e mais solto do samba, que dava colorido e sabor musical diferenciado. Isso fez com que muitos compositores brasileiros passassem a ser gravados lá fora e que músicos americanos usassem estes novos sabores.

LFR: E o reconhecimento do seu trabalho internacionalmente, como se deu?

MV: Após esse primeiro impacto, houve um declínio e, mais tarde, na década de 80, um revival na Europa. A Minha música e o sucesso daminha carreira internacional se deve a este momento. Nessa época, os jovens e muitos DJs europeus se mostraram bastante interessados pela minha música, em particular, pelos meus discos mais antigos, gravados na década de 60.
LFR: Gostaria que você falasse do seu primeiro contato com estilo... Como surgiu esse encanto pela bossa?

MV: Desde os cinco anos já estava totalmente ligado em música. Desde os cinco anos, por causa do meu pai, ouvia muita música brasileira em casa, baião, samba tradicional, entre outras vertentes. Depois passei a estudar música clássica, ao piano e violão. Mais tarde, estudava para ser advogado, mas nas veias só corria música. Aí, em 1958, com uns 17 anos ouvi o disco do João Gilberto. Foi um impacto total. Fiquei louco e comecei a ouvir direto. Meu contato com essa turma, até então, era como fã.

LFR: Você gravou o seu primeiro disco muito cedo, com 21 anos, nos anos 60... Por ser mais novo houve dificuldade de se integrar aos nomes mais conhecidos e mostrar o seu trabalho? Como é que foi essa sua aproximação ao gênero?

MV: Tinha estudado com o Edu Lobo, no Santo Inácio, com uns 12 anos. Anos mais tarde, em 60, já com 19 anos, encontrei o Edu no ônibus. Ele morava ali na Barão de Ipanema e estava com um violão a tiracolo, batemos olho com olho e nos reconhecemos de imediato. Apesar das mudanças preservávamos os mesmos traços. Lembro da primeira coisa que perguntei: “Você ta ligado em música?”. Ele respondeu que sim, e que seu pai, Fernando Lobo era um compositor conhecido. à época, Edu estava tocando com o Dori Caymmi, filho do Dorival. Perguntou o que eu estava fazendo e respondi que pensava em música 24 horas por dia. Marcamos um encontro e a partir daí montamos um trio, eu, Edu e Dori. Não durou muito tempo, mas foi de extrema importância, pois comecei a freqüentar os encontros musicais na casa do Ary Barroso, pouco antes de ele morrer. Lembro que todo mundo se reunia ali, na ladeira do Leme, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Baden Powell, Ronaldo Bôscoli, entre outros da pesada. A princípio, ficava ali como mero observador daqueles encontros. Depois, fui chamado pelo Lula Freire à casa do Vinícius que tinha virado o centro dessas reuniões. Ele queria que eu tocasse algumas canções minhas. Toquei Sonho de Maria e ele logo pediu a canção, porque estava gravando um disco com o Tamba Trio. Foi minha primeira música gravada e que me levou a circular com mais desenvoltura naquele ambiente. Conheci melhor o Menescal e minhas canções passaram a ser gravadas por muita gente. Depois, fui mostrar minhas canções para a Odeon, hoje EMI, que acabou me contratando como artista da casa. Apenas queria que alguém gravasse minhas canções e saí com um papel assinado. Nada mal...

LFR: Ao longo da carreira, seus discos não refletem somente o gosto pela bossa, mas também por experimentações outras. Conte um pouco de sua formação musical e artística, você se define como um artista de bossa nova ou essa não seria a mais adequada das classificações?

MV: Com o impacto dos primeiros anos da bossa nova essa diversidade ficou um pouco camuflada. Minha formação musical e minhas influências só passaram a aparecer no meu trabalho após os primeiros dois discos, que eram puramente bossa nova. A partir de então comecei a trabalhar com o baião, música pop, jazz e muita música negra americana. A questão do soul estava muito presente, compus Black is beautiful e o disco influenciado por essa onda. Aí, sim, meu público começou a se formar e a perceber essa mistura, comecei a ter a oportunidade e espaço para mostrar. O Menescal diz que eu não revolucionei a bossa nova, mas, sim, que eu já vim revolucionado.

LFR: Por mais que ronde e experimente outros ritmos, gostaria de saber até que ponto ela ainda é a base de sua formação musical e de suas experimentações?

MV: Hoje sou mais maduro, toco melhor e tenho muito mais confiança no que eu me proponho a fazer, em termos de arranjos. É a questão da experiência e a aproximação com muita música de outros gêneros e músicos de outra geração. É por isso que hoje tenho parcerias com o Marcelo Camelo, por exemplo, gosto muito dessa troca. Lembro com muito carinho das coisas que fiz, mas gosto de ter novas idéias, preciso desse tipo de motivação. A bossa nova, a meu ver, é muito democrática. Ela se casa bem com quase todos os estilos musicais. Então essa nova geração chega super carregada de diversas influências e, mesmo assim, admira a bossa nova também. Comemorar os 50 anos da bossa é até legal, mas prefiro olhar para os próximos 50 anos, porque tenho certeza e vejo que tem muita música boa e nova, além de uma nova geração muito interessada. Essa ponte, ou cruzamento de gerações, é muito importante, não só para eles, mas para mim também.

LFR: Você tem uma carreira internacional consolidada, com discos lançados apenas no mercado externo e uma agenda de shows constante por lá. A que fator você credita esse acolhimento, ou sucesso, no mercado internacional?

MV: Eles me descobriram, não esperava e não entendia muito bem o porquê dessa admiração. Hoje percebo e entendo que esse público jovem europeu estava interessado em dançar, mas não queriam a onda disco americana. Eles estavam interessados em Quincy Jones, Stevie Wonder, entre outros. Meus discos traziam essa mistura de ritmos e improvisações. Era diferente da bossa nova original e talvez por isso houve essa resposta. O que ainda me impressiona é que é um público muito jovem, entre 15 e 30 anos, e que se renova. Eles conhecem e são interessados nas improvisações e nos arranjos. No Japão, há uma parte do público que me admira pelas minhas canções mais clássica e uma outra parcela jovem, que admira minhas canções mais ritmadas e ricas em mistura.

LFR: Conecta é justamente uma intenção de se aproximar, como artista, de um publico mais jovem, aqui no Brasil? Achava que era necessário provocar essa aproximação?

MV: Na Europa toco para um público jovem, em festivais para cerca de 50.000 pessoas. Saio sempre muito energizado, pois os shows são mais para cima. Meus sucessos lá fora são as canções mais ritmadas.

LFR: No Brasil, seus shows não tinham essa pegada mais forte?

MV: No Brasil tinha que misturar e colocar certos clássicos, para que uma parte do meu público não saísse frustrada. Lá fora, algumas músicas de sucesso nunca tiveram a mesma resposta por aqui. Queria fazer esse tipo de show e o pessoal do Cinematéque, coincidentemente, me procurou falando que muitos jovens pediam meu show. Uma coisa casou com a outra e decidimos fazer quatro noites dedicadas a um público jovem.

LFR: Quais foram os critérios para a formatação desse projeto? Como surgiu a idéia de fazer essa série de shows que gera esse CD e DVD?

MV: Decidimos que para fazer essa conexão com o público mais jovem seria importante termos convidados. Seriam músicos da nova geração da música brasileira que tinham certa identificação ou aproximação com a minha música. Aquilo soou perfeito e comecei a pensar em quem chamar.

LFR: Quais foram os critérios usados para escolher os convidados?

MV: Alguns eu já conhecia a música e tinha o interesse de conhecer pessoalmente. Foi o caso do Marcelo Camelo, do Los Hermanos, que já conhecia suas canções com o grupo, além de outras composições gravadas por outros artistas, como a Maria Rita. À época o grupo tinha se separado e o Marcelo estava meio que recluso. Consegui apenas o e-mail dele e resolvi escrever uma mensagem para ver se ele se animava a sair da toca. Ele me respondeu dizendo o quanto admirava o meu trabalho e que ficaria muito feliz em tecer qualquer trabalho ao meu lado. Fiquei super entusiasmado com a resposta dele, que já veio repleta de sugestão de músicas que ele achava interessante tocar, outras ele já via semelhanças e poderiam ser fundidas.

LFR: E como chegou aos outros convidados?

MV: Depois comecei a pensar nos outros nomes. Já havia escutado alguma coisa do Fino Coletivo e do pessoal do trio +2. Passei a escutar os discos que esse pessoal havia feito e percebi uma conexão muito grande. Entrei em contato e a reação foi super boa, assim como a do Marcelo. Me senti revigorado, eles diziam realmente terem sido influenciados pela minha música. Fico feliz com isso e até vejo semelhanças por causa da abertura que sempre trabalhei em minha carreira. Eles também são assim, pois escutam muita bossa nova, MPB, mas trazem elementos novos da cultura deles. O encontro dessas influências é sempre muito rico.

LFR: E o repertório que cantaria ao lado de cada um, como foi escolhido?

MV: A elaboração dos arranjos depois foi super confortável, pois pensamos todos em conjunto. Já havia escutado os discos e marcado algumas canções que julgava ser mais interessantes para o projeto. Nos primeiros ensaios a coisa já estava soando redonda e vi que sairia coisa boa dali. Mais tarde me sugeriram fazer algo relacionado aos DJs, já que na Europa eu tinha estabelecido essa conexão. Foram escolhidos o Nado Leal e o Plínio Profeta para fechar o projeto que, até então, não seria registrado oficialmente.

LFR: Mas acabou virando CD e DVD...

MV: É... acho que o trunfo desse trabalho é que ele não tem um esquemão por trás. É algo bem natural e orgânico, meio underground até. Mesmo assim, com uma casa pequena, o Roberto Oliveira conseguiu extrair imagens impressionantes.

LFR: Quando foi que achou que valeria a pena registrar em DVD?

MV: O primeiro show foi do Fino Coletivo. Ali sacamos que teríamos que gravar aquilo, porque o resultado era ótimo. Montamos uma equipe de áudio e vídeo para a segunda noite, que teria o Marcelo Camelo. O Roberto colocou sete câmeras, chamei o Sabóia para fazer o som e mixar o disco. Aí, já pensamos na possibilidade de lançarmos o trabalho. Ao final, re3fizemos o show com o Fino Coletivo e depois pedi autorização para os meus convidados, que aceitaram prontamente.

LFR: Como foi o encontro com o Camelo e a sintonia gerada por esse encontro? Saiu uma nota dizendo que se sentiram bons amigos já no primeiro contato...

MV: No momento que nos aproximamos rolou uma sintonia. Nos encontramos e ele começou a tocar um monte de coisa nova, umas mais MPB, outras mais pop. Ele é muito talentoso.

LFR: Já há parcerias ou intenção de fazer música juntos?

MV: Depois desse projeto continuamos a parceria. Esse encontro já rendeu duas canções inéditas, mas que apenas uma dela tem nome, Eu vou. Ainda não sabemos quem vai gravá-las, mas esperamos que, futuramente, alguém as interprete. É muito bacana e importante fazer um novo parceiro, até para a minha carreira. O bom é que não temos apenas a música em comum, mas, sim, muitas outras coisas. Aí é normal que dê algo mais.

LFR: Ele esta gravando o primeiro cd solo, já teve a oportunidade de ouvir? Alguma dessas músicas será incluída?

MV: Não, porque o repertório dele já estava definido. Ainda não tive a oportunidade de ouvir. Ele está em São Paulo terminando de gravar e volta e meia me escreve um e-mail. Assim que ele voltar deve me mostrar as novas canções.

LFR: O que acha de sua musicalidade, o que ele tem de especial, o que lhe agrada em suas composições e que faz dele um expoente dessa nova geração de compositores brasileiros?

MV: Suas canções têm uma qualidade, um apuro e uma capacidade de criação muito grande. Ele carrega uma versatilidade, talvez herança do tio, Bebeto Castilho, do Tamba Trio. Meus músicos também ficaram impressionados. Ele é um grande reforço para a nossa música.

LFR: Como está sendo a resposta do teu público e da crítica em relação ao Conecta?

MV: O disco e o DVD estão caminhando bem no Brasil. A gravadora abraçou o projeto e pretende lançá-lo internacionalmente. A crítica tem sido excelente e a distribuição da EMI está sendo muito bem feita. As vendas, também, caminham melhor do que imaginávamos. Devo apresentá-lo na Europa neste segundo semestre.

LFR: Gostaria que jogasse luz no futuro e falasse um pouco dos projetos paralelos que está trabalhando... Há algo a ser lançado ainda este ano?

MV: Tenho um disco pronto de inéditas, feitas em parceria com o Celso Fonseca. É um trabalho bem interessante e diferente, com cinco canções instrumentais e sete cantadas. Os arranjos privilegiam uma atmosfera de grande orquestra, com trompas e trompetes, feitos pelo Jessé Sadoc. Queremos aguardar um pouco para lançá-lo, para não atropelar o Conecta e o disco do Celso, Feriado. No entanto, até outubro ele deve estar na rua. Sou muito fã do Celso, adoro o trabalho dele.
Além disso, tenho um contrato com o selo londrino Far Out Recordings e devo um quinto CD para eles. Devo entregá-lo ainda este ano. Quero apenas encontrar uma brecha, pois, simultaneamente a isto tudo, estou gravando um Box, com quatro DVDs, sobre a minha carreira, a ser lançado ano que vem.
Também tenho feito uma porção de participações especiais. Essa semana me encontrei com o Marcelo D2 para gravar uma participação especial no novo álbum dele. Tenho músicas novas em parceria com o Lulu Santos, Carlos Lyra, Luis Carlos da Vila, entre outros.