NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ed Motta - Chapter 9


* Previsto para sair daqui a um mês pela gravadora Trama, o novo disco de Ed Motta, Chapter 9, vazou na internet no final da semana passada. O link, descoberto pelo JB, possibilitou uma série de críticas estampadas na capa do Caderno B desta segunda-feira. Resultado: desesperada por ter sua estratégia de marketing furada – a gravadora planejava que a revista Rolling Stone "Brasil" produzisse a primeira resenha sobre Chapter 9 – a gravadora desativou o link para audição do álbum do Trama Virtual. Abaixo, crítica na íntegra:

Em seu nono álbum de estúdio, Chapter 9, Ed Motta se distancia do Rio antigo de gafieira interpretado em formato samba-jazz em Aystelum (2005) – registrado entre o instrumental jazzístico e o pop. Agora, de seu rico acervo discográfico, Ed pinça da prateleira vinis que marcam as principais referências de sua formação musical, regada a soul music setentista, disco-funk e blues-rock.

Produtor, compositor e responsável por cada instrumento incluído nos arranjos que compõem estas onze novas faixas, Ed Motta se atém com intensidade à faceta de cantor. Dessa vez, no entanto, seus graves cavernosos, assim como agudos límpidos ecoam fundo pelo idioma de Shakeaspeare em material assinado pelo inglês Rob Gallagher e por Cláudio Botelho.

É Botelho o responsável pelo lirismo incutido em blues soturnos, como The man from the oldest building – faixa que abre o disco –, enquanto o primeiro se mostra em Twisted Blue, ambas lapidadas pelo estilo à Broadway das frases melódicas criadas por Ed. Guitarras distorcidas e com efeito tremolo desconcertam o blues-rock envenenado Tommy`s boy big mistake, que, precedida por St. Cristopher`s last stand, emaranha-se a hits mais dançantes e de levada disco, como You`re supposed to...

A soul music à Stevie Wonder também dá as cartas e se descortina na faixa Runaways, em levada pra frente guiada por bateria e linhas de baixo e piano pulsantes. O ápice, no entanto, chega em Sky is falling. É quando a cozinha manejada por Ed traça a conexão entre os grooves do reggae-dub jamaicano e a sonoridade Stax/Motown. Ao refrão, Ed presta tributo a alma do soulman americano Donny Hathaway em uivos melódicos lancinantes, dos melhores já registrados em sua carreira.

Ao podar as invencionices de seus improvisos vocais egóicos, que mais afastam que instigam seus ouvintes, Ed Motta reencontra-se com o formato canção e, diga-se de passagem, em ótima forma. A esperança é que uma bolacha competente como esta nos seja apresentada sorvendo o que há de melhor da música brasileira. O capítulo 10 está na manga.

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