NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sábado, 30 de agosto de 2008

Hermanos, Jô e Caê

* À frente da tela que pouco me encanta, passei uma noite-madrugada musical muito da meia-boca. Até certo ponto curioso, me pus a observar o lançamento do novo DVD do Los Hermanos. Transmitido ontem, em primeira mão pelo Multishow, o aguardado trabalho póstumo dos hermanos não acrescenta muito a memorabilia dos fãs do quarteto. Se comparado ao primeiro registro oficial da banda, em DVD, “Los Hermanos no Cine Iris”, é notável o quanto o primeiro, em múltiplos aspectos, supera este último corte.

Filmado em duas noites de uma Fundição Progresso abarrotada, o
novo trabalho dos barbas apresenta direção de câmeras pra lá de burocrática, preguiçosa e pouco criativa. A monotonia dos planos e dos cortes entra em conflito com a energia que os músicos despejam nas canções mais atiradas do repertório, assim como com a entrega voluptuosa dos fãs, que estrebucham gogós e laringes a pleno vapor na platéia – também, muito pouco explorada.

Se a parte que compete às emoções visuais naufraga expectativas, as canções, o que de melhor os músicos oferecem, soam como versões inescrupulosamente tacanhas. Fruto de uma qualidade de áudio sofrível, em que a voz de Camelo soa como se captada em um corredor opaco e seco, sem brilho. Sopros também explodem como se vazados, por microfones que nãos os direcionais apontados para cada peça do trio que acompanha a banda.

Enfim, o registro é para fiel evangelizador botar defeito. Salva-se, aos olhos e ouvidos destes, a energia emotiva da relação Camelo-Amarante. Efusivos, encontrando a sua gente, seu "restrito" universo de pessoas, que os entendem como ninguém e como só eles sabem.

Conversa de botas batidas:




* Troco de canal e me deparo com Caetano Veloso assentado no sofá quadrado e desconfortável de Jô Soares. Não, nunca estive lá. Mas sei que o desconforto impera naquele estofado endurecido e cafona, em tom bege. Cravei meus olhos, já cansados, na tela, e pude observar, com estranheza, Caetano, com as mãos trêmulas, “impávido que nem Muhamed Ali”, petelecar as cordas de seu violão de nylon, enquanto sua boca, de maxilares cada vez mais frouxos, balbuciava versos perdidos, que sua memória, por desconforto ou nervosismo, esquecera.

Durante o emperrado bate-papo, que Jô e Caê esforçaram-se em traçar, sobrou mais desacerto que afinidade entre os interlocutores. Jô parecia emburrecido, em seu mais alto grau, enquanto Caetano, que de burro nada tem, parecia, no mínimo, abobado, talvez entediado pelas colocações fora de contexto do gordo.

Entre uma canja mal-ajambrada e outra, a pedido de Jô, Caetano, visivelmente incomodado com o ar-condicionado do estúdio, ou com o sofá, atacava de falsetes canhestros mas corajosos. Jô, então, resolveu que gostaria de ouvir as histórias sobre a polêmica entrevista, publicada pelo Jornal do Brasil e produzida pelo vizinho ao lado R. Schott, em que Lobão dispara sua língua mole contra o Rio, a bossa nova e etc. E Caetano, mais uma vez, tratou de alimentar a troca de afetos:

– Lobão já falou mal de mim tantas vezes, através das décadas, que depois resolveu fazer uma música para mim. Chama-se "Para o mano Caetano". Uma canção muito emocionante e que me toca profundamente. Aí, então, decidi retribuir e fazer uma canção para ele. Enfim, acho graça no Lobão e todas as vezes que ele falou mal de mim eu gostei – disse Caetano, antes de emendar a tal faixa-tributo ao lobo, "Lobão tem razão". Diga-se de passagem, bem abaixo do petardo talhado por Lobão, em 2001.





Drogas, armas, corrupção na polícia, Rio de Janeiro e São Paulo se estenderam entre os pontos destacados ao longo do papo de gagás proporcionado pelos dois. Uma "rebimboca da parafuseta", como disse Lobão, em referência as elocubrações do ex-ministro Gil, que me fez procurar o vídeo abaixo, em que mestre Chico Anysio dá show:



A cor amarela:

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

CEP 18.000

Celebrados ontem no Espaço Cultural Sérgio Porto, os 18 anos de existência do CEP 20.000, centro de experimentação poética concebido e liderado pelos bravos Chacal e Guilherme Zarvos, foi embalado por boa música e poesia. No entanto, a chegada da maioridade parece ter emprestado melancolia pós-adolescente à festa. A impressão é que falta ânimo aos realizadores, ou fôlego ao evento, ainda hoje um dos principais propulsores de talentos artísticos da cidade.

Não que recaia sobre os ombros de ambos a culpa pela fragilidade ou pelo atrofiar de tal musculatura. De modo algum. Afinal, lutar com uma prefeitura culturalmente acéfala, comandada por um onirólogo que aposta ultrajantes R$ 500 milhões na Cidade da Música, enquanto que o orçamento da pasta não atinge minguados 1%, é tarefa das mais frustrantes, broxantes. Sem contar com as dificuldades atravessadas pelo evento que, por conta das reformas do Sérgio Porto, zarpou para o calabouço, em soturnas mas, mesmo assim, vibrantes noites no Teatro do Jockey.

De fato, o CEP 20.000 precisa de reforço, principalmente dos seus freqüentadores, para que retome o fôlego. Se tomada a noite de ontem como exemplo, a premissa parece palpável, apesar de algumas ressalvas. Composto por cerca de 300 pessoas, o bom público, em sua maioria, preferiu o conforto do foyer regado a cigarros, cerveja e troca de afagos às cadeiras de plástico dedicadas à platéia e a sacação dos versos, poetas e músicos postados no palco. Vale dizer, que a intenção do CEP, desde o início de sua história, não urge o rigor de pestanas paralisadas e íris secas pelos holofotes a iluminar experimentadores. Até porque liberdade é palavra sacra ali. Mas vale o registro de que os papos igualmente saudáveis e frutíferos do lado de fora do teatro despertavam mais excitação do que o que ocorria do lado de dentro.

Escalada para abrir a noite, a banda dos Caetanos, Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), Do amor, soou bacana, mas descompensada. Com canções/versões escrachos, eles deixaram apenas uma sensação embaraçada por rimas e versos baratos, além de melodias esquecíveis. A apresentação é uma jam session de ótimos músicos que poderiam deixar de insistir nas tais músicas que tentam elaborar e partir para a “experimentação poética” livre e nonsense no palco. Afinal, seus emaranhados rítmicos-melódicos, sem eira nem beira, soam como improvisos, e repetí-los ao vivo, em shows, torna-os pra lá de vazios.

Infelizmente, as linhas de guitarras e timbres bem costurados por Benjão e Bubu dão roupagem a faixas que não aderem a memória nem causam cefaléia, não entretém e nem torram os pelos escrotais, não te fazem zunir em disparada sala afora e muito menos visitar o myspace no dia seguinte ao show. Enfim, o quarteto legal mas chato aprontou uma breve masturbação grupal. Bacana(l), mas só para os chegados, o que, perdão, não chega a ser uma despudorada casa de suingue, algo que talvez so(u)aria mais honesto. O show de ontem serviu ao menos para que eu pusesse a desfalecer os parcos sentidos que ainda depositava na banda.

Despudor e honestidade, com seu corpo e versos, no entanto, foram os trunfos apresentados pelo poeta Éber Inácio. Seu número, experimental, repleto de afetação vocal partiu ainda para um streaptease parcial, que ganhou, no mínimo, a atenção do público. Já Pedro Rocha, que dividia o palco com Éber, esforçava-se, sem muito sucesso, para chamar a atenção da mesma platéia para seus bem traçados versos. Chacal também subiu ao palco para lançar os seus beats ao público, e melhor que Pedro na entonação, dividiu com clareza e eficiência - dramaticidade em boa medida - seus poemas.

Aqui vale parênteses: Poema falado é experimento e exposição arriscada, em que a tênue linha que separa o ridículo vazio da própria poesia, abrigada em linhas, se perde com facilidade. O poeta, autor e escrevinhador de versos, geralmente passa apertos e, na maioria das vezes, insucesso ao tentar oralizar seus escritos. O poema, assim, se perde, pois procura as cegas, ou as falas, o único elemento que o sustenta: a poesia propriamente não dita, mas, sim, escrita, lida e sentida.

Enquanto a segunda banda da noite, Vulgo Qinho & os Cara, ladeava o palco, a postos com instrumentos a tiracolo, Chacal pedia para que aguardassem a fala da novata Alice Sant’ Anna e, ao que parece, de Ismar Tirelli Neto. Com versos singelos, a poetisa e blogueira de a dobradura apresentou com firmeza suas linhas. Com respiração e divisão de palavras bem cortadas e emissão bastante clara, Alice emoldurou seus poemas enquanto que seu acompanhante, aparentemente nervoso, desorientava os seus.

Era novamente a hora da música. Qinho e os caras representavam literalmente o CEP, que ali estava para celebrar a união da música com a poesia. Antropofágicos ao inverso arremessaram solos distorcidos pela guitarra de Caio Barreto na bela versão de Juízo Final (Nelson Cavaquinho). Entoaram versos em homenagem ao morro do Galo, pedalaram de bicicleta na mente hipnótica de Guilherme Zarvos, que bengaleava pelo espaço, e navegaram em negras melodias traçadas por Jards Macalé e Wally Salomão, enquanto que o filho deste último, Omar, lascava seu palavrório enlaçado em um microfone pouco afeito a reverberação.

* Sobe ao palco o poeta Chacal. Com uma pequena faixa adesiva e brilhante grudada na testa. Põe-se em frente ao microfone. É interrompido por um insatisfeito. O personagem pede, com secura e razão: “Mais música, Chacal. Agora, não!”

Parti depois do bis de Qinho - que a cada apresentação canta melhor -, já que o também muito bom grupo, Os Outros, liderado por Botika e Vitor Paiva, frutos do CEP, não puderam se apresentar porque um dos guitarristas estava doente. Em papo curto no interessante foyer, Botika falava sobre a sinuca de bico que muitas bandas da cidade se encontram:

– É difícil conseguir espaço para apresentações fora da cidade que valem a pena financeiramente. O mesmo acontece na cidade. Até conseguimos tocar em diversas casas mas parece que é pecado ganhar por isso. Acho que em 2000 a situação estava pior, tanto em relação ao número de boas bandas na cena carioca como em relação a espaços disponíveis para tocar.

Michael Jackson grava poemas de Robert Burns

Enquanto não vem a tona seu novo disco, produzido por Will.i.am, o rei do pop Michael Jackson conta ainda com mais um álbum sob o guarda sol. De acordo com o produtor de TV americano David Guest, Michael finalizou em seu estúdio, na Califórnia, versões musicadas para os poemas do escritor escocês Robert Burns.

Entre os muitos convidados especiais de Jackson para o projeto, Guest disse ao Daily Record que o cantor organizou as sessões depois que os planos de fazer um musical sobre o poeta, que ambos alimentavam, foi por água abaixo.

– A princípio, iríamos filmar um musical sobre a vida de Burns. O filme seria dirigido por Gene Kelly e teria direção executiva de Anthony Perkins, mas os dois morreram. Então, Michael e eu começamos a fazer destes poemas canções contemporâneas.

Poemas como "Ae fond kiss", "Tam O`Shanter", entre outros foram musicados.

– O trabalho ficou muito bonito e tenho estas gravações comigo. Tenho pensado bastante em dar vida a "Red, red, rose". A última vez que estive na Escócia me senti como uma criança, observadno tudo que Burns escreveu. Pude deitar que ele dormia na casa em que morou e foi criado. Foi realmente surreal, porque eu e Michael achamos Burns uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos.

Em maio de 2007, Jackson declarou a imprensa que sentia-se muito ansioso com o futuro. Sobre o novo disco, produzido em parceria com Will.i.am, ele revelou estar surpreso com a qualidade das novas canções:

– Estamos trabalhando em temas maravilhosos. Estou com vários projetos musicais e cinematográficos diferentes. Muitas coisas virão em breve e estou ansioso com isso.

Will.i.am, à época, disse estar honrado em produzir e participar do trabalho que marcará o retorno de Jackson ao mercado da música.

– Esta é uma experiência histórica. O cara ainda canta como um pássaro. Acredito que nós temos uma oportunidade real de fazer algo. Ou retorna para ser realmente grande ou o mundo vai passar por ele. Não haverá meio termo desta vez.

Muse volta ao estúdio

Após um mês das apresentações realizadas no Brasil, o trio inglês Muse anuncia que está em estúdio trabalhando em uma série de novas canções para o quinto álbum da carreira. Em entrevista a BBC, o baterista Dominic Howard disse que as novas músicas começaram a ser escritas antes de julho e que planejam voltar, em breve, ao estúdio em Lake Cuomo, na Itália.

– Já estamos concentrados e pensando nas novas faixas. Teremos algumas semanas de folga e depois em cerca de 15 dias voltaremos a Itália para começar a gravar novamente – contou o músico. – Posso afirmar apenas que o trabalho está soando muito bem. Vamos continuar em direção ao futuro.

Na oportunidade da apresentação carioca, no palco do Vivo Rio, o vocalista e guitarrista Mathew Bellamy revelou que as novas faixas ainda não apontavam qual direção tomaria o sucessor de "Black Holes and Revelations" (2006). Ele se disse impressionado com o público que lotou a casa de espetáculos e cantou do início ao fim todo o repertório.

– Não poderia imaginar que as pessoas cantariam nossa músicas. Sabíamos que existiam fãs da banda no país, mas o calor da receptovidade nos surpreendeu.

Além da resposta dos fãs, o músico também se impressionou com as belezas naturais da cidade e aproveirou ao máximo sua estadia no Copacabana Palace:

– Fizemos todos estes programas que os turistas desejam, como conhecer o Pão de Açúcar, mas não deixou de ser encantador. Percorremos todas as praias da ciddae de helicópetro e posso afirmar que esta é uma das mais belas cidades que conheço. Em Copacabana, me animei com a quantidade de gente praticando esportes na orla e aproveitei para dar minhas corridas e mergulhar no mar – contou o franzino líder do Muse.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Carnaval para inglês ver

Ao invés de disco-house, new-rave ou simplesmente rock, os incensados ingleses do Friendly Fires trouxeram mulatas, confete e serpentina para o show de ontem na tenda Republic do Reading Festival. O clima esquentou e a platéia composta de branquelos caiu literalmente no samba.

Apresentando seu ainda enxuto repertório para uma platéia repleta de curiosos, os donos de um dos singles mais comentados do ano, Paris, esbanjaram confiança ao levar para o palco da festa indie morenas de biquinis de lantejoula, além de seis ritmistas de escola de samba, que emprestaram euforia acima da média à última canção da noite, a nova faixa de trabalho "Jump in the pool".

Antes do início do show, a equipe de apoio do Friendly Fires distribuiu tubos de confete que foram arremessados durante todo o show pelo público. Deixada de lado a atmosfera carnavalesca, as canções foram muito bem recebidas pelo público, e o vocalista Ed Macfarlane não refutou a idéia de se tacar no meio da platéia para cantar, junto aos fãs, os futuros hits do primeiro álbum do FF, a ser lançado até o final do ano pela XL Recordings (Radiohead, White Stripes, entr outros).

Paris:




Jump in the pool:

Whitekeys

Líder dos White Stripes e do The Raconteurs, Jack White arrumou tempo para mais uma parceria musical, desta vez com a cantora de neosoul Alicia Keys. Escolhido para produzir, compor e cantar a faixa-tema do novo filme de James Bond, batizada "Another way to die", o guitarhero fez questão de esclarecer que há tempos sonhava em trabalhar com a cantora de neosoul americana.

– Após alguns anos tentando tocar e gravar alguma coisa com Alicia , tive que apelar ao próprio James Bond para fazer isso finalmente ocorrer – brinca Jack. – Ela coloca uma energia elétrica na sua respiração, o que se concretizou na fita de rolo. Muito inspirador de assistir.

Ele garantiu que a colaboração lhe rendeu uma nova voz e que ao final do processo se sentiu uma outra pessoa:

– Arcava o ritmo para acompanhar sua voz enquanto que ela imitava as notas da minha guitarra. Depois juntamos nossas vozes e gritamos e interpretamos os personagens do filme, sobre a solidão de quem não pode confiar em ninguém e nem em si próprio. Talvez tenhamos nos tornado um pouco personagens por alguns minutos – lembra.

A parceria - o primeiro dueto a ser registrado em uma trilha da série - foi gravada, em estúdio, com o suporte da banda Memphis Horns.

– São alguns dos melhores músicos de Nashville. Acho que este é o primeiro registro analógico feito em mais de 20 anos para uma canção de James Bond. Queríamos imprimir alma nessa fitas – disse o músico.

Antes de Jack e Alicia finalizarem o trabalho, a música-tema de "Quantum of solace" estava a cargo de Amy Winehouse e do produtor britânico Mark Ronson, mas os problemas da cantora com drogas afastaram a dupla do projeto. A trilha sonora do filme será lançada em 28 de outubro, já o longa chegará em novembro às telas de cinema. Enquanto isso, Jack White e seus parceiros do The Raconteurs seguem, a partir de sábado, mais uma turnê pela Europa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

MOMO lança "Buscador" pela Internet












Com roupagem musical que navega entre o folk e a psicodelia das décadas de 60 e 70, o segundo disco de Marcelo Frota, vulgo MOMO, "Buscador", soa como uma viagem, apesar de melancólica, até certo ponto ensolarada por seus tortuosos mas frutíferos conflitos e questionamentos. Uma lavagem de roupa suja interna que ressoa entre a atmosfera zen/rural e o descarrego visceral/urbano. Por meio de sussuros e berros atormentados, o músico extirpa sua tristeza e dela faz brotar versos simples e melodias cruas mas tocantes.

"Buscador" dá continuidade aos tons invernais de "A Estética do Rabisco", CD de estréia de MOMO – ex-integrante do Fino Coletivo. Gravado da mesma forma, em poucos e intensos dias no seu estúdio caseiro Umbilical, localizado no Jardim Botânico, os músicos convidados chegavam sem conhecer ou ensaiar o que iriam gravar e tinham direito a um só take.

Lançado tanto em formato SMD como em digital, numa parceria com a Trama Virtual, as 10 faixas do álbum estarão disponíveis para download gratuito até dia 31 de setembro nos sites www.listentomomo.com e www.tramavirtual.uol.com.br e depois serão comercializadas on line pela Dubas Música.

Em entrevista ao Radar Pop, o músico fala sobre o novo álbum, o segundo volume do que poderia ser chamado de trilogia em carne viva – um terceiro trabalho com o tema ainda está por vir – comenta suas influências musicais, dá seus pitacos sobre os novos rumos para o mercado da música e destaca as diferenças entre as possibilidades profissionais oferecidas pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

RP: Por que "Buscador"? O que esse novo disco busca ou traz entre novidades e diferenças em relação ao "A Estética do rabisco", lançado em 2007?

– O álbum anterior carregava muita tristeza, mas um sentimento mais acomodado. Em nenhuma das canções do "A estética do rabisco" eu luto para reagir. Em "Buscador" apresento um novo momento da minha vida. É reflexo de uma busca espiritual e de paz interna. Uso muitas metáforas e as referências ao nascer do sol justificam isso, pois é um movimento que busca não se acomodar na tristeza.

RP: "Buscador" também traz a palavra dor para perto. O álbum soa melancólico, talvez comntemplativo, mas não tem clima de fossa e não me parece escapista. Quais são os temas que te inspiram ou que norteiam teu universo criativo, seja em melodias ou em letras?

– Soar melancólico faz parte do meu gosto musical, que sempre pendeu para esse lado. Não gosto muito de música cheia de groove ou com levadas muito funkeadas. Sempre gostei mais de baladas e cresci escutando muito country e folk americanos. Era fã de Willie Nelson, amava escutar Charles Aznavour sozinho no meu quarto e sempre adorei os The Carpenters, fruto do gosto familiar difundido, no caso, pelo meu pai que ouvia muito esse tipo de canção. No início da minha formação musical não escutei muita coisa dessa MPB que as pessoas normalmente rotulam. Fui prestar atenção neste tipo de música já mais velho. Aí sim, ouvi muita coisa do Gilberto Gil, todos os discos do Caetano Veloso, Chico Buarque e outros tantos. Coisas que, hoje, eu deixei de ouvir para me agarrar em outras referências, como Clube da Esquina, Belchior, Geraldo Azevedo e Fagner. Gosto muito daquela sonoridade e das texturas captadas entre as décadas de 60 e 70. São discos bastante ousados e que me inspiram demais.

LP: A necessidade de extravasar essas canções fora do Fino Coletivo se dá por quê?

– Queria mais tempo para dedicar à minha carreira solo. A agenda do grupo é bastante agitada e não consegui divulgar o primeiro álbum da maneira que gostaria. Em relação à sonoridade, o Fino Coletivo nasceu com uma pegada de mais groove. Agora estou mais focado e não devo me atropelar.

LP: Compor na alegria ou na tristeza, o que rende mais?

– Não me considero um compositor profissional. Faço minhas canções sem tanta freqüência e ao longo de um ano produzo cerca de 10 canções que, geralmente, formam um álbum. Além disso, não reviso muito os textos ou versos impressos em cada letra. Meu trabalho é meio que um vômito, um escarro das emoções que sinto ou das situações que vivencio. É um processo muito pouco racional, e, por isso, essa músicas não constituem histórias com início, meio e fim. São desabafos e lamentos de uma melancolia que eu não sei exatamente da onde vem. Mas creio que são canções bonitas e sentimentais. Gosto de coisas mais lentas, melodiosas e, até certo ponto, românticas.

LP: Suas melodias são ao mesmo tempo ensolaradas e nubladas, parecem feitas durante manhãs em alguma casa de campo bastante afastada do agito das grandes cidades. Afinal, onde foram feitas estas canções, como foi o processo criativo desse disco, desde composição até chegarmos aos arranjos, sonoridade, gravação?

– Assim como no álbum anterior, gravei "Buscador" na sala de casa, ou melhor, no meu estúdio caseiro que fica no Jardim Botânico. Apesar desse clima, sou um cara urbano. Acredito, portanto, que essas referências ao nascer do sol e das nuvens negras que se dissipam são metáforas que traduzem uma possibilidade de virada. A natureza assume lugar como metáfora ou elemento figurativo. Estou no Rio desde 1990, cresci nesse ambiente agitado. Não sou um cara recolhido ou um heremita deslocado, mas no sentido poético eu cabo não tendo uma ligação forte com o urbano.

LP: Do que se trata a tal trilogia em carne viva?

– Carne viva tem a ver com o sentido de muita exposição. "Buscador" é um álbum muito auto-referente. Essa expressão surgiu a partir da idéia de não tampar muito as feridas. Apesar das tais metáforas usdas ao longo do álbum, as músicas são bastante diretas. São como fraturas expostas, uma prposta bem crua onde os sentimentos são pouco camuflados. Minhas letras soam menos elaboradas e tem a ver com um desabafo que se aproxima da Jovem Guarda. São versos simples, mas, não, simplistas.

LP: O seu disco parte de referências internacionais que vão do folk a psicodelia em certos temas mais viajantes, mas também revela-se um apanhado de referências brasileiras, como Clube da Esquina entre outros. Se detalhar referências é complicado, pergunto a que sonoridade "Buscador" te remete?

– Ouço muitas bandas americanas que apostam nessa sonoridade mais contemplativa e ao mesmo tempo ensolarada, como os americanos do Fleet Foxes, de Seattle, o duo Beach House, assim como o Grizzly Bear. São artistas que têm me inspirado. São universos interessantes e inusitados aos dias de hoje, pois remetem a algo medieval e os sons parecem terem sido extraídos do meio de uma floresta. É uma delícia. Recentemente, um amigo que estava pelos EUA entregou o meu álbum para a banda, mas não mantive contato.

LP: Como e por que escolheu esses formatos para o lançamento de "Buscador"?

– O álbum anterior foi lançado pela Dubas. Desta vez, eu não queria estar vinculado a um selo. Preciso ter mais discos a mão para vendê-los em shows, divulgar e etc. O problema dos artistas independentes sempre foi a questão da distribuição, mas com a Internet você chega em tudo o que é lugar. É esse o meu caminho. A Internet, hoje, representa o meu universo musical.

LP: Mas em relação às vendas, como é que fica?

– No último sábado vendi cerca de 100 discos em um único show. O valor do SMD é tabelado a R$ 5 e não sei se o meu disco vale mais ou menos que esse valor. Mas essa resposta é muito mais direta e gostosa. Além disso, queria lançá-lo na Internet e observar a resposta desse público. A maioria das pessoas que conheço não comprou o meu disco anterior, mas, sim, baixou, copiou e encontrou outras formas de ter acesso ao meu trabalho. Por isso, comecei a pensar que que o meu público é basicamente de Internet. Acho que são essas pessoas que ouvem o meu som, o pessoal que curte Myspace, blogs, Youtube e Internet de uma forma geral. Acho que assim ficou mais fácil atingir essas pessoas e, agora, posso acompanhara mais de perto quantas cópias são vendidas do meu SMD, assim como o número de downloadas registrados no meu site. Não acredito mais no CD como suporte físico de música. Não compro CDs há anos e não sinto a mínima falta daquele ritual de abrir o CD e observar a arte gráfica. Não vou a lojas há anos.

LP: Ser ouvido na web se torna cada vez mais fácil. Além disso, sites como Myspace e Youtube, entre outros, se transformam em ótimos e acessíveis meios de comunicação com fãs. Mas ser ouvido nas rádios e ser ouvido em shows também acompanham esta tendência?

– Essa é uma outra questão, realmente. Mas não corri atrás de nenhuma rádio e nem devo fazer isso, apesar de ter canções com apelo pop, com melodia e refrão bem definidos. Mas nunca dei muita atenção para esse sistema de jabá. Em relação aos shows, acredito que o boca-a-boca faz a história crescer e ganhar corpo. Encaro esse trabalho como um desafio a isso tudo. O meu show é reflexo dessa postura, pois é composto por uma série de baladas, bem lentas. É uma proposta de interação diferente do que as pessoas, principalmente no Rio de Janeiro estão acostumadas a curtir ou procurar. Agora, tudo aqui é evento, festa. Fiz show em um teatro em São Paulo e foi uma maravilha. Não tinha garçom, gente querendo pular, esses tipos de coisa.

LP: Iniciar e construir uma carreira artística sólida no Rio é quantas vezes mais difícil que em São Paulo?

– Realmente tenho muito mais resposta do público paulista. Seja em shows, comentários no Myspace, e-mails. Em relação ao profisional, as possibilidades são muito maiores, a vida cultural é mais agitada e a cidade é mais cosmopolita. A Zona Sul do Rio resguarda ares de província, mas traz com isso uma série de aspectos negativos. O carioca acha que está fazendo um enorme favor indo a um show seu. É um mundinho onde as coisas são restritas e você esbarra sempre com as mesmas pessoas. Moro no Rio pois foi aqui que me criei.

domingo, 17 de agosto de 2008

qinhO + Canduras

Para quem perdeu o ótimo show de estréia do cantor e compositor Qinho, em versão solo, no Cinematèque sexta-feira passada, vale lembrar que o músico apresenta as músicas do seu novo trabalho, Canduras, hoje no Clube do Vinil, no Canequinho Café, em Botafogo, a partir das 18h.

O projeto, a princípio experimental, começou de forma despretensiosa, com o músico registrando suas novas composições, talhadas com parceiros diversos, em estado bruto, captadas sob o esquema voz-violão e gravadas em um programa básico de áudio (wavepad).
– A intenção, no início, era de usar a limitação técnica e aceitá-la como linguagem. Gravei as canções com um programa básico de áudio para Windows e queria entender a resposta destas canções no estado delas, respeitando esse limite – explica o músico.

No entanto, mês passado, Qinho entrou em estúdio para registrar em esquema profissional suas composições. Sem deixar de lado o clima instimista e despojado dos seus registros anteriores, as dez novas canções foram disponibilizadas há duas semanas em seus dois perfis no Myspace (http://www.myspace.com/qinhosemu e http://www.myspace.com/canduras) e devem ser lançadas em formato físico em setembro.

– No início, o propósito não era investir em estúdio para gravar, mesmo que um voz-violão que não seria algo dispendioso ou caro. Eram canções que havia feito com alguns parceiros e que gostaria de mostrá-las, mas o negócio acabou ganhando corpo. Para mim, é mais um instrumento de ação e a oportunidade de surgir novas parcerias e shows. No Cinematèque a resposta foi incrível – avalia Qinho.

Quem também dá canja no evento é o tecladista, compositor e fundador do Barão Vermelho, Maurício Barros. O projeto Clube do Vinil reune admiradores, colecionadores, artistas e Dj's para tocar e apreciar o som das melhores músicas gravadas em Long-plays.
Para os que deletaram ou não a Lei Seca, segue um toque pra lá de indecente: rodada dupla de Boêmia a noite toda!

Bom dia (qinhO/Ericson Pires)




Canequinho Café (Anexo ao Canecão)
www.canequinhocafe.com.br
Av. Venceslau Brás, nº215/ Botafogo.
Informações: (21) 2105-2000 (21) 8519-0720 (21) 8131-9387
Entrada Franca

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

"Aconteceu e eu estou muito feliz em anunciar que o vídeo para a música "Anormal" já está disponível para ser assistido!!"

Responsável por boas doses de renovação no cenário pop-rock nacional, com letras e melodias originais e bem acima da triste média, Jonas Sá, o mito, estréia seu primeiro clipe da carreira no Myspace. Para quem ainda acredita que a TV também traz boas novas, vale lembrar que a novidade também rola no programa "Território MTV", ao vivo, na próxima quarta-feira, às 20h.

Em entrevista concedida ao Laboratório Pop no início desse ano, Jonas, que antes de virar músico pensava em ser cineasta, já havia revelado que dirigiria os seus próprios clipes como forma de extravasar seus impulsos fílmicos.

Produzido e dirigido pelo próprio, estão intactas as verdades de Jonas, como suas elétricas e desconcertantes dancinhas de palco, que navegam entre o trapalhão Didi e os passos "moonwalk" à Michael Jackson, os cabos coloridos de instrumentos percorrendo e emarando-se em seu corpo, além, é claro, das famosas "luzinhas vaga-lumes de Natal". Todo o tipo de coisa que nos faz pensar que ele é aNormal.

Nesta terça, Jonas apresenta seu show no Projeto Oi Novo Som, na Nuth Lounge, na Barra. Abaixo, o que o próprio escreve sobre o rebento:

"É engraçado pensar na minha história com música e lembrar que, lá atrás, quando ainda era criança, pensava que ia fazer cinema. Tanto era importante o cinema na minha vida, que eu nunca brincava de aventuras com meus amigos, se não de filmes. As aventuras eram sempre focadas nos personagens e em suas sensações e sentimentos ao invés da ação desenfreada das brincadeiras dos meus colegas de escola.
Eu começava pelos créditos iniciais e logo buscava um piano velho que tinha em casa ou o violão de afinação especial do meu pai e improvisava a trilha do filme que estava começando no imaginário coletivo meu e dos meus amigos.
Lembro bem de ter ganhado um concurso de redação do jornal Balcão, aos 9 anos de idade, e, ao participar do programa Sem Sensura, da TVE (Atual TV Brasil), escutar na mesa redonda o cineasta e ex-ministro da cultura do governo Collor, Ipojuca Pontes dizer que tinha dúvidas se eu poderia considerar a idéia de fazer cinema quando eu crescesse.
Ironicamente, talvez, eu acabei deixando as aventuras práticas de lado para compor canções. A brincadeira de fazer música foi mais resistente que a de fazer filmes. Mas nunca pude deixar o cinema; Cinema Paradiso, Noites de Cabíria, Desperate Living, Metropolis, ET, O Feitiço de Áquila, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, Sonhos, Macunaíma... de todos os cantos do planeta as tramas e imagens remontam minha vida tão comum e me fazem compor canções que são um pouco meus filmes.
Agora, a mesma música que o cinema me apresentou, a mesma que roubou-me do cinema, me leva a dirigir o meu primeiro vídeo-clipe".

"Anormal":

ANORMAL!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A guerra

Eu que sou do tempo do velocípede não deixo nunca de me surpreender com a velocidade da ?-modernidade. A última bomba que abala meu fugaz universo Web 2.0 acaba de cair. Afinal, achava que o Myspace era rei e não tinha para ninguém, mas não é bem assim.

Concorrente direto do portal (Myspace) que une blog, fotolog, videolog e webespaço de 10 entre 10 (novos) artistas, o Facebook começa a levar abaixo mais um ícone da geração internética – assim como ocorreu com o pioneiro Napster entre outros. Anunciado hoje, o número de acessos e de inscrições recebidas pelo Facebook já supera os índices registrados pelo Myspace, o que o torna o maior portal de relacionamentos da Internet.

Hoje, cerca de 132 milhões de pessoas contam com um perfil no portal, um crescimento de 153% entre junho de 2007 e o mesmo mês de 2008. Enquanto que no Brasil o Facebook não ganha fama e cresce poucos traços, no Estados Unidos o crescimento registrado no período da pesquisa bateu a casa dos 40%. Já o Myspace obteve crescimento de míseros 3%, mesmo oferecendo mais conteúdo musical e serviços relacionados. O Facebook, no entanto, não perde tempo e já planeja injetar novas funções musicais em seu sistema.

É a guerra das redes sociais de comunicação representada abaixo:


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Qinho lança primeiro vôo solo: 'Canduras'

Líder da banda Vulgo Qinho & os Cara, modelo da badalada grife Totem e apontado como uma das novas caras do Rio pela revista Domingo, do Jornal do Brasil, Marcus Coutinho, vulgo Qinho, apresenta as canções do seu primeiro vôo solo, Canduras, nesta sexta-feira a partir das 22h, no Cinematèque Jam Club, em Botafogo.

– Passei cerca de três anos e meio me dedicando exclusivamente à banda. Desde produção, gravação, além de tudo que envolvia o nosso trabalho. No entanto, queria compor mais, explorar minha criatividade em novos temas e caminhos sonoros. Quero que este projeto seja mais um instrumento de ação, que abra oportunidades para mais shows. Esse trabalho depende só de mim – explica o cantor.

Recém disponibilizadas em seus dois perfis no Myspace (www.myspace.com/qinhosemu e www.myspace.com/canduras) – que juntos já registram cerca de seis mil acessos –, as dez canções que compõem Canduras são resultado das parcerias tecidas em conjunto com uma nova safra de escritores, poetas e letristas, como Vitor Paiva (filho do cartunista Miguel Paiva), Botika, Miguel Jost, Rodrigo Gameiro, além de Omar Salomão (seu companheiro de banda no Vulgo Qinho & os Cara).

– Dessas dez canções, oito foram escritas em parceria com amigos. Somente uma é apenas de minha autoria e outra é uma regravação de Norte da saudade, do (Gilberto) Gil – conta Qinho, que a partir das próximas semanas comercializa o download das novas canções.

Criadas e captadas a partir do esquema voz e violão, no estúdio, Qinho contou com o acompanhamento de outros músicos, em arranjos intimistas que privilegiam instrumentos de sopro como clarinete e trompete, além de baixo acústico e elementos percussivos. No palco do Cinematèque, porém, somente com um violão acústico a tiracolo, Qinho deita sua voz sob a influência de álbuns como Gil Luminoso (de Gilberto Gil) e outros tantos da bossa nova à Tropicália.

– Gil Luminoso anda nessa mesma freqüência de voz e violão, mas não é exatamente a influência que eu mais ouvi do próprio Gil. Refavela é muito mais presente nesse sentido. Além de Marvin Gaye, João Gilberto e Dorival Caymmi, que ouço sempre, Gil e Gal estão entre as minhas maiores inspirações, mais até do que Caetano – revela Qinho.

À frente da sua banda, Qinho versa sobre temas que passeiam pelo ambiente e comportamento nos grandes centros urbanos. Apesar de a rua continuar sendo o cenário principal para as suas peregrinações e experiências, o universo concreto dos ônibus, prédios, balas perdidas e afins desta vez foi substituído pela subjetividade das relações humanas, agora apresentadas como mote do seu novo trabalho.

– Percebi que a proposta da banda, apesar de também ser muito afetiva, causa estranheza. Temos um poeta e isso já é um elemento diferente, além das próprias letras, onde você percebe pontos de tensão – diz. – Quando comecei a pensar este projeto, entendi que precisava mexer na afetividade. Acho que falta afeto e diálogo entre as pessoas; o ambiente urbano nos torna estranhos uns aos outros. Isso porque a paranóia em volta da violência é ainda maior do que a própria (violência), e, assim, nos afastamos e nos isolamos. A minha proposta é responder a isso com afeto e amor incondicional. É disso que parte toda essa história. Ao invés de tiros e pedras, prefiro jogar flores e atirar afeto!

Com a sua banda, no entanto, Qinho ainda conta com projetos sob a cartola. Entre eles, o lançamento, ainda este ano, de um novo EP com versões para clássicos da MPB, da soul music e do samba. Entre elas, Qualquer coisa (Caetano Veloso), Pusherman (Curtis Mayfield) e Juízo Final (Nelson Cavaquinho).

– Queremos fazer esse EP e lançá-lo exclusivamente na Internet. Faremos versões para quatro canções, mas não queremos lançar algo físico e, sim, ver como funciona a questão da comercialização de música pela rede. Será mais um trabalho, complementar ao disco de estréia da banda, são canções que tocamos há algum tempo em nossos shows .

Representante de uma nova geração de artistas cariocas que busca expandir os limites da música e promover intercâmbios com a literatura e as artes plásticas, Qinho e os integrantes da sua banda caíram nas graças do povo, ou melhor, dos populares que acompanham desde o ano passado suas performances nas calçadas da Zona Sul. A atitude gerou, no início do ano, o evento Dia da Rua, em que as esquinas dos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon serviram de palco para a apresentação de 15 novos grupos. A experiência deverá ser reeditada ainda este ano:

– Ainda não temos data, mas com certeza vai rolar. A rua continua sendo parte central da minha vida. É onde encontro as pessoas, ganho vivência e onde experimento – afirma.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sexo, drogas e Rolling Stones

Com 30 anos dedicados ao jornalismo cultural, escrevendo sobre rock, cinema e cultura pop, o jornalista, roteirista e diretor José Emílio Rondeau é autor, em conjunto com o pesquisador musical Nélio Rodrigues, da primeira biografia sobre os Rolling Stones escrita por brasileiros: Sexo, drogas e Rolling Stones.

Partindo de extensa pesquisa, além de entrevistas exclusivas com Jagger, Richards e cia., os autores emprestam novo olhar ao legado histórico da "maior banda de rock de todos os tempos". Afinal, com 46 anos de carreira e em plena atividade na primeira década do século 21, os Rolling Stones continuam a escrever sua história, iniciada na década de 60.

Nesta entrevista, José Emílio – que hoje acumula função de assessor de imprensa do candidato à prefeitura do Rio Fernando Gabeira – destaca a velha rixa que colocava em lados opostos os Beatles e os Rolling Stones, e, que, segundo ele, foi uma das mais eficazes estratégias já fomentadas pelo interesse da indústria fonográfica. Ele apresenta ainda detalhes sobre a relação dos Stones com o Brasil; as diversas fases e turbulências entre os músicos da banda; além de seus encontros como fã e jornalista e os shows aos quais presenciou.

LFR: Por que fazer um livro sobre os Rolling Stones, além, é óbvio, da questão pessoal e sua posição como fã da banda?

– Sabia que o filme do Scorcese estava para sair e percebi que era uma boa hora para escrever um livro que, no país, jamais havia sido feito. Registramos a história da banda pelo olhar de dois brasileiros. A história ainda não havia sido escrita desta forma, além de não haver um lançamento do gênero, sobre a banda, disponível nas prateleiras das livrarias.

LFR: Como e quando teve inicio sua relação com os Stones? Por que é sua banda predileta?

– Acompanhei com o mesmo entusiasmo os Beatles e os Rolling Stones na minha adolescência. Naturalmente, quando os Beatles encerraram a carreira, em 1970, passei a me dedicar e acompanhar os Rolling Stones, pois eles continuavam a escrever sua história. Não é apenas a maior banda de todos os tempos, mas são os únicos remanescentes de uma era tão rica como aquela. Por isso mesmo, compõem um painel dos mais interessantes para se pesquisar e escrever. Eles são a história viva do rock e continuam a construí-la com ótimos discos. Isso é muito bonito.

LFR: Como fã e, mais tarde, jornalista e escritor, você dedicou boa parte de suas audições aos discos dos Beatles e dos Rolling Stones. Como vê a contraposição entre as duas bandas ao longo da década de 60 e, depois, a "disputa" sobre qual das duas seria a maior banda de rock de todos os tempos?

– Na verdade, os Beatles começaram um pouco antes do que os Stones. O sucesso dos Beatles abriu as portas para as experimentações que todas as bandas, até hoje em dia, continuam a fazer. Realmente eram duas bandas bastante diferentes. Os Beatles vinhas do norte da Inglaterra, da cidade de Liverpool, enquanto que os Stones eram londrinos e estavam no centro de tudo o que acontecia no país. Fora a questão cultural, estas diferenças também eram bastante claras em relação à música que faziam. Enquanto os Beatles faziam pop, os Stones bebiam direto da fonte do blues americano.

LFR: Era consciente essa intenção de se diferenciar e representar talvez o oposto do que o estilo cool, mas certinho, dos Beatles vendia? Fruto exclusivo das intenções e interesses financeiros da indústria fonográfica ou realmente uma completa polarização dos modos de agir e pensar dos integrantes da banda?

– Os Stones tiveram o cuidado e a sabedoria de se distingüir. Não adiantava ser uma cópia,ou um novo Beatles. Queriam representar algo distante daquilo. Esta noção os definiu e criou esta tensão na diferença entre as duas bandas. A postura ameaçadora e agressiva dos Stones vinha em contraposição ao bom mocismo preservado pelos Beatles. Naturalmente, fora dos olhares do público, os Beatles eram tão bandidos quanto os Stones. No entanto, Mick Jagger abraçou a causa e percebeu que a controvérsia poderia gerar um interesse ainda maior nas duas bandas. Isso estimulava os fãs, os críticos e as duas bandas. Com o tempo, os Stones acabaram por viver com todo esplendor este lado sombrio que tanto alimentavam.

LFR: Por incrível que pareça aos olhos de hoje, Mick Jagger demorou um pouco para se afirmar como a figura central e líder da banda. A postura e a figura extravagante de Brian Jones ofuscava os outros integrantes? A partir de que ponto Jagger tomou as rédeas do grupo para si?

– Brian Jones era um camarada que sabia tudo sobre blues. Tinha inúmeros e os melhores contatos no showbiss. Os outros músicos dos Rolling Stones, de certa forma, idolatravam Brian Jones. Depois, com o convívio, perceberam que ele era uma pessoa frágil, extremamente insegura e cheia de turbulências. Aproveitando esses momentos de crise e inconstâncias psicológicas de Brian, Jagger começou a o engolir. A partir disso, a ruptura se naturalizou.

LFR: Qual a fase criativa dos Stones que mais o agrada ou a mais importante musicalmente? Com Brian Jones, Mick Taylor ou com o Ron Wood, que é a mais duradoura?

– As fases com Brian Jones e com Mick Taylor foram as mais valiosas. Com Brian, os Rolling Stones começaram a se descobrir e trataram de construir sua identidade sonora e comportamental. Na época do Brian, ele era o líder, dava as cartas e era o mais querido entre as mulheres. No entanto, ele não era capaz de compor. Jagger e Richards, com o consentimento de Bill Wyman e Charlie Watts assumiram esse papel. Foi a fase mais criativa da banda e que revolucionou e marcou os alicerces da sonoridade dos Stones.

E Mick?

– Com a morte de Brian Jones, entra o Mick Taylor. Ele era um super músico, já famoso e renomado. Mick adicionou um lirismo e uma profundidade musical que os Rolling Stones, até então, não tinham. A partir dessa fase, eles mergulharam em um lado mais sofisticado em termos de arranjos e composições. Mick também compunha e criou muita coisa sem jamais ganhar crédito. Fato, entre outros, que o levou a sair da banda.

LFR: O livro parte de um ponto central, talvez, que é a relação da banda com o Brasil. Até que ponto essa relação resultou em elementos musicais incorporados às suas criações?

– Existem dois exemplos marcantes ligados à vinda deles ao Brasil. Uma substrutura importantíssima que ilustra a relação dos Stones com o Brasil. Eles estiveram aqui pela primeira vez em 1968 e se hospedaram no Copacana Palace, onde conheceram um fotógrafo americano, que os convidou para ir à Bahia. Lá tiveram contato com a música e os ritmos africanos. Ficaram hospedados em uma casa em Itapoã, e no livro usei estas fotos que nunca haviam sido publicadas no mundo todo. Eles ficaram fascinados com o som da Bahia e com a dança que presenciaram no dia da cerimônia da lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim. Esse contato com os sons de batuque originarou os arranjos para Simpathy for the devil. Até hoje, eles garantem que essa faixa é um samba. Neste mesmo ano, em 1968, eles foram convidados a passar a virada do ano na fazenda do Walter Moreira Salles, no interior de São Paulo. Contaram depois que se sentiram no estado americano do Arizona, em um legítimo filme de cowboy. Inspiração que fez nascer Honky Tonk Woman. Em uma entrevista, concedida em 1988, Keith Richards me disse que comprou um violão de um cantador de rua que foi usado em diversas apresentações. Em 1975, Jagger esteve no Brasil e gravou algumas canções em estúdio com músicos brasileiros, como Dadi e o Antônio Adolfo. Mas nunca foram lançadas.

LFR: Vocês lançaram o livro que abarca pontos e temas vivenciados ao longo dos últimos 46 anos de banda... No entanto, eles não param de produzir... Como lidar com a questão da finitude, de fechar um livro e colocar um ponto final na história de uma banda que até agora ainda navega em reticências?

– Complicado. A história da banda ainda está sendo escrita. Eles planejam uma nova turnê para 2009, ainda tem muito chão pela frente. Acho que a banda só acaba quando Mick Jagger ou Keith Richards morrerem. Ou Charlie Watt. Se Ron Wood morrer não acredito que a banda termine. O relacionamento entre Jagger e Richards é muito volátil e especial. É um longo casamento, se conhecem desde os primeiros anos de vida, estudaram juntos na mesma escola. É uma relação complexa e profunda que não se desfaz tão facilmente.

LFR: Quantas vezes já presenciou um show dos Stones? Quais deles foram os mais marcantes e por quê?

– Assisti aos Stones umas 12 vezes. A mais marcante foi em 1975, na Flórida, justamente por ver ao vivo aqueles que eu apenas imaginava como seriam. Conhecia os Stones das fotos e dos artigos impressos em folhas de papel. Vê-los em carne e osso, ali, à minha frente, foi uma experiência inesquecível. Esta última apresentação na Praia de Copacabana também foi das mais marcantes, assim como uma outra, em 1994, em um pequeno clube em Toronto, no Canadá. Era um evento promocional, então pude acompanhar as brincadeiras, os trejeitos, suas feições da primeira fila, algo super intimista. Pude ouvir o som que saía direto dos amplificadores, sem PA nem nada. Era realmente o som dos Stones.

LFR: Algum projeto em pauta para o próximo ano?

– Tenho outro projeto que já começa a se desenvolver. Quero remontar a história do rock brasileiro que, apesar da terminologia criada nos anos 80, BRock, começou muito antes, nos anos 60. Quero resgatar toda a história dos Mutantes, Os Incríveis, entre outros. Uma porção de gente que ajudou a fundar as bases do rock nacional e que muita gente não conhece ou dá valor. Será um trabalho mais demorado, pois demanda mais apuração e cuidado na pesquisa. Quando fizemos o trabalho dos Stones foi mais rápido, pois sabíamos a história quase completa de cor.