NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nação Zumbi - Festival Indie Rock

A segunda noite do Festival Indie Rock já nascia com clima de dúvida no ar. Afinal superar a catarse promovida pelos Magic Numbers, no dia anterior, era, no mínimo, tarefa ingrata. No entanto, coube a uma banda literalmente de peso iniciar os trabalhos no Circo. Em substituição ao Mombojó, o Nação Zumbi, por exigência de sua empresária, fez o primeiro show da noite para uma platéia quase-ninguém composta por cerca de 200 pessoas, que apressadas e surpresas correram para assistir o começo do show da Nação. Na real muita gente ainda pensava que os zumbis seriam a segunda banda da noite, justamente pela sua posição há muito tempo pós-indie, artistas sacramentados há mais de anos no cenário nacional.

Mas como não teve jeito, quem pode assistir saiu extasiado com a já conhecida e inesgotável simbiose do maracatu atômico. Resgatando clássicos de sua trajetória como “Mangue Town”, “Macô”, “Maractu Atômico”, entre outras pérolas dos mais recentes trabalhos como “Meu maracatu pesa uma tonelada”, “Blunt of Judah” e "Vai Buscar", os cabras liderados pelo registro grave e mesclado por efeitos e reverbs de Jorge du Peixe foram como sempre inspiradíssimos até o final da apresentação, com “Quando a maré encher”.

Destaque, como não poderia deixar de ser, para o guitar-hero Lúcio Maia, mentor de sonoridades altamente voláteis e climáticas. O guitarrista que lançou recentemente o ótimo "Homem Binário" agia como uma elétrica centopéia em meio as suas dezenas de pedais de efeito. Empunhando e revezando suas clássicas armas, SG e Stratocaster de cor creme, Lúcio roubou a cena e fez o show, que começou com um climão esquisito, pegar fogo.

No entanto, por causa do fiasco em termos de público, o que se viu foi um show aquém do que o Nação Zumbi costuma proporcionar às suas platéias. Curto, com duração de apenas uma hora e com muito espaço vazio na tenda era notável a diferença em relação ao recente show da banda, no mesmo Circo Voador, cerca de um mês e meio atrás, onde com preço acessível, os pernambucanos sozinhos puxaram mais de três mil pagantes. Jorge Du Peixe agradeceu a platéia e anunciou sem qualquer embaraço ter esquecido o nome das bandas que viriam em seqüência. Normal, o Nação anda trancafiado em estúdio para produzir seu sétimo álbum de carreira, que sai pela Deckdisc em setembro. A seguir resenhas de Móveis Coloniais de Acajú e os londrinos do The Rakes.

Foto: L. Felipe Reis

quinta-feira, 26 de julho de 2007

The Magic Numbers - Festival Indie Rock

Sinal de tempestade, vento forte e nuvens carregadas ameaçavam estragar a festa do primeiro dia do Festival Indie Rock. Graças ao sorriso de quatro números mágicos a sorte dos cariocas estava traçada e não precisava de estrela alguma no céu para entender que nada disso iria atrapalhar a festa. Depois da apresentação do sexteto paulista Hurtmold, foi a vez dos ingleses mais simpáticos do mundo subirem ao palco.

Romeo Stodart não precisou entoar sequer uma frase melódica de suas cordas vocais ou de sua guitarra para ganhar a platéia.Bastou o músico entrar em cena que o circo definitivamente já estava armado, o picadeiro mais que arregimentado à espera de seus artistas e o espetáculo definitivamente ganho. “This is a Song” deveria ser o título padrão de toda e qualquer música produzida pelos Magic Numbers. Mais do que apropriadamente, a pérola de doces nuances fez o trabalho de enfeitiçar de vez o público presente no Circo.

Romeo Sodart e seus sorrisos, a baixista Michele e toda a sua presença mostraram que ao vivo eles são muito mais elétricos do que o simples ouvir de seus discos pode suscitar em nosso imaginário.Michele é de fato uma baixista que entende do riscado, suas linhas são de uma precisão impressionante. A moça, irmã de Stodart, e sua vasta cabeleira negra não pararam por um segundo de se movimentar no palco.

A interação dos integrantes com a platéia e as rasgações de seda ao Rio de Janeiro, onde a banda pode curtir nos três dias em que estiveram por aqui maravilhas como o corcovado e escolas de samba, mostravam que os encantos da cidade maravilhosa ainda estavam intactos e cristalizados no brilho dos olhares até certo ponto ingênuos do afinadíssimo vocalista Romeo. A introspecção dos arranjos e a intimidade que a banda dividia com o público levou seus ardorosos fãs ao delírio. “Take a Chance”, também do segundo álbum de carreira do quarteto, “Those the Brokes”, deixou claro que a noite era de muitas palmas e dancinhas suaves pra direita e esquerda.

O som dos Magic Numbers nunca se atropela e o batera Sean Gannon conduz com o maior nível de seriedade reservada a um magic-number os clássicos indies do repertório, “Forever Lost”, “Love`s Game”, “I see you, You see me”, entre outras. Cada instrumento tem o seu espaço na canção e com enorme clareza é possível notar toda e qualquer ação, seja das guitarras, maravilhosamente dedilhadas por Stodart, os pulsantes e aveludados graves do contra-baixo de Michele ou dos teclados e escaletas da tímida e encantadora Angela Gannon.

Se o início da apresentação teve a dupla de irmãos Stodart como figuras principais, no segundo tempo quem assustou pela competência e beleza vocal foi justamente a outra gordinha da banda, Angela. Não estou falando aqui dos coros e backing vocals impressionantemente afinados e bem modulados, que tanto ela quanto Michele assobiaram durante todo o show, inclusive na supreendente releitura de "Crazy in Love", da musa Beyonce. Coube a representante feminina dos Gannon ir para o centro do palco e mostrar ao público o próximo single da banda, a deliciosa “Undecided”. Aos gritos de gostosa e aplausos mais que calorosos, a platéia literalmente babava enquanto a moça, um tanto quanto encabulada, voltava para o seu refúgio, ambiente seguro e repleto de seus brinquedinhos de teclas.

A sonoridade dos Magic Numbers é repleta da inocência perdida das décadas de 50 e 60. Mamas and the Papas e Beach Boys são referências óbvias às nostálgicas melodias da banda, que estampa na cara do público um espaço-tempo poético que anda pra lá de distante de nossa esquisita e super-dotada modernidade. É curioso notar que a mágica deste quarteto londrino reside em produzir pureza e simplicidade em um mundo difuso, complexo e fragmentado. Aqui não há espaço para multiplicidades egocêntricas, labirintos angustiantes e paranóicas realidades. Sem ataque ou defesa o universo dos Magic Numbers, como não poderia deixar de ser, é extremamente onírico e cada vez mais utópico aos olhos de hoje.

Foto: L. Felipe Reis

Festival Indie Rock - Lucas Santtana e Hurtmold

Com um Circo Voador ainda repleto de moscas o baiano Lucas Santtana abriu em alto estilo a primeira noite do Festival Indie Rock. Com o seu dub cafundido com metais e cavaquinhos reverberisados o show abre-alas de Lucas foi realmente um festival de coloridos paetês e serpentinas musicais. Navegando entre a sonoridade jamaicana e os ritmos característicos dos morros cariocas Lucas passeou com fluência entre suas jam sessions espaciais, canções instrumentais e releituras inusitadas.

O bom clima das faixas instrumentais sempre apoiadas na intensidade percussiva do Trio Onilu (Leo Leobons, João Gabriel e Leo Saad), nos metais à cargo da dupla Leandro Joaquim (trompete e fluguelhorn) e Maurício Zacharias (trombone), junto às guitarras carregadas de reverb, wah wah e delay de Bruno Levi davam ao público uma resposta à altura da atmosfera alive captada e registrada no último Cd de Lucas “3 sessions in a greenhouse”.

Os músicos, no início do show, de fato, pareciam se divertir mais do que a platéia, e a instrumental "Awô Dub" foi o cartão de visitas da banda que acompanha o artista, Seleção Natural. Só depois o músico resolveu aparecer na linha de frente empunhando seu cavaquinho. Negro cavaquinho que, diga-se de passagem, soou baixo e foi engolido grande parte do tempo pelos outros instrumentos. Aos poucos Lucas assumiu seu posto de reverberador de ambiências, através de suas originais divisões métricas e melódicas. Acanhado, o músico foi tirando de seu chapéu as particularidades de seu rico universo verde e arrancando de seu franzino e contido gestual canções que definitivamente quebraram o gelo da pequena platéia, que pouco a pouco ganhava corpo no Circo.

“Lycra-Limão” segurou bem o baile recheado de groove proposto por Lucas. Aliás, balanço, groove e movimento eram as palavras de ordem. As tortuosas e bem conduzidas linhas de baixo de Ricardo Dias foram até o final do show os fios condutores que não deixaram em momento algum a platéia parada. Santtana apresentou ao público do Circo Voador uma banda muito bem entrosada, que atacou em diversas frentes musicais, passando pela interessante releitura do partido-alto “Faixa Amarela”, de Zeca Pagodinho, por “Ogodô ano 2000”, de Tom Zé e pelo pancadão funk, cada vez mais na moda entre os indies, da faixa “Pela Orla dos Velhos Tempos”, Nação Zumbi – que toca hoje em substituição ao Mombojó, junto com Móveis Coloniais de Acaju e os pós-Libertines, The Rakes.

Empatia com o público garantida, Lucas tratou de fechar o show com uma das canções mais interessantes de seu repertório “Tijolo a Tijolo, Dinheiro a Dinheiro”, e certamente deixou a platéia com gostinho de quero mais. Aliás o único senão da primeira noite do Festival Indie Rock, foi justamente a escalação do show de Lucas antes do puramente instrumental e quadrado grupo paulista Hurtmold.

Os paulistanos de Pinheiros apresentaram um emaranhado musical até certo ponto inventivo e bem trabalhado, com os músicos se revezando em instrumentos diversos e em total sinergia no palco. O problema é que a falta de traquejo ou balanço de suas execuções foi o que mais chamou atenção. Tal qual uma narcísica masturbação musical o sexteto paulista ao menos atingiu o gozo ao final da festa, achando o groove, a maldade ou malemolência nos últimos instantes de sua fria, mas bem recebida, apresentação.

Escalar uma banda instrumental para segurar a platéia antes dos Magic Numbers foi uma atitude arriscada da produção, mas o público, que a essa altura já enchia boa parte da casa, parecia tão inebriado com a possibilidade de assistir os gordinhos ingleses que nem chiou ao ter que esperar pelo fim do Hurtmold. Saldo positivo do primeiro dia, a seguir resenha do espetacular show dos Magic Numbers.

Para baixar "3 sessions in a greenhouse" acesse:
http://www.diginois.com.br/

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Radar Pop #01






Alô, alô! Esse é o primeiro e experimental programa do blog, agora rádio, Radar Pop. A idéia é fazer um balanço semanal do que de melhor rola na cena rock, indie, pop, soul e etc. O programa foi gravado dia 14 de julho, mas só agora foi possível colocá-lo no ar. Alguns detalhes ainda por serem acertados, como o buffer do nosso player, que rola no esquema pause and play. É só pausar no ínicio da execução e deixar o radinho amarelo ficar pilhado! Como o que importa é começar, a gente segue à risca o lema com o pé na porta conduzido em grande estilo. Sobe o som, comente e espalhe o quanto quiser!

Set List:
01 - Interpol - "The Heinrich Maneuver"
02 - Kings of Leon - "On Call"
03 - Smashing Pumpkins - "Tarantula"
04 - Black Rebel Motorcycle Club - "Weapon of Choice"
05 - The Polyphonic Spree - "[Section 23] Get up and Go"
06 - The Bravery - "Believe"

B.G:
LCD Soundsystem - "Get Innocuous"
Datarock - "I used to Dance with my Daddy"
CSS - "Let`s Make Love and Listen to Death from Above"

Edição:
H.S. Raposo

terça-feira, 17 de julho de 2007

Radar

* Os Yeah, Yeah, Yeahs, liderados pela exótica Karen O., lançam a crua “Down Boy” como single do novo EP “Is Is”. As cinco canções que formam o EP foram gravadas em 2004, durante as turnês para a promoção do álbum “Fever to Tell”. Um dos momentos mais turbulentos e emocionalmente instáveis pelo qual a banda já passou, acabou sendo responsável por estas canções que exalam energia sexual e erótica impressionante. O trio nova-iorquino fez questão de registrar em vídeo uma apresentação ao vivo das cinco composições, no último dia 07 de maio no Glasslands Gallery, no Brooklyn. Co-dirigido por KK Barrett e Lance Bangs (diretor de vídeos de Sonic Youth e Nirvana), e filmado em efeito night-vision – conhecido por sua utilização em guerras –, a faixa “Down Boy” foi a escolhida como primeiro vídeo a ser lançado deste Ep, que contou com a produção do cada vez mais requisitado Nick Launey. "Is Is" - EP TRACKLIST: 1.Rockers to Swallow 2.Down Boy 3.Kiss Kiss 4.Isis 5.10x10


* Ao falar em Nick Launay chegamos aos, agora indie, australianos do Silverchair, que tiveram seu último e impressionante álbum “Young Modern” produzido por Launey, em seu Underbelly Studios. Daniel Johns e cia. estão nos EUA depois de um longo período afastados da mídia local, para fazer programas de televisão e para uma mini turnê, que conta com a presença do trio no festival Lollapalooza. Infelizmente os cangurus chegaram dando zebra. Acometido por uma terrível laringite Daniel quase explodiu sua garganta em recente apresentação do single “Straight Lines” no programa de Jay Leno. A infecção atrapalha as pretensões da banda em retomar espaço de destaque no universo do rock alternativo norte-americano, tanto devido a má apresentação em um programa do alcance de Leno, quanto pelo cancelamento de quatro importantes datas na Califórnia. Pra quem ainda não ouviu “Young Modern” vale o conselho: não perca tempo e baixe quando puder, já que não há sinal algum do discaço por aqui. Abaixo o vídeo da trágica e angustiante performance de Daniel. Vale ao menos para mostrar o quanto o cara da alma pela música que produz.



* O blog/site Stereogum, um dos mais influentes do mundo, prepara uma coletânea para celebrar os dez anos de lançamento do seminal “OK Computer”, do Radiohead. Uma das bandas escaladas para o projeto são os indies californianos do Cold War Kids. Os caras gravaram a faixa “Electioneering”, que segundo o vocalista Nathan Willet, não é a melhor do álbum, mas sim a mais badass de todas. Você pode fazer o download da faixa e dos outros covers que compõem o projeto através do site Stereogum ou pelo link direto: http://www.stereogum.com/okx/

* Seguindo de Radiohead. Thom Yorke e seus comparsas estão masterizando, em Nova Iorque, o super aguardado sétimo álbum de carreira da banda. A data de lançamento para o sucessor de “Hail to the Thief” (2003) ainda não está definida, mas cogita-se a possibilidade de que até o fim do ano o CD seja lançado.

* Quem também prepara um novo e aguardado CD é o Ganrls Barkley, duo capitaneado pelo cantor Cee-lo Green e pelo produtor Danger Mouse. De acordo com recentes declarações, Mouse anda cauteloso e afirma que não tem interesse em produzir um novo “Crazy” – hit-single que acabou por obscurecer o restante do álbum “St.Elsewhere”, lançado pela dupla em 2006.

* NME Hype Chart Show da semana
1. Yeah Yeah Yeahs - 'Down Boy'
2. Biffy Clyro - 'Folding Stars' (Clipe abaixo)
3. The White Stripes - 'Icky Thump'
4. Interpol - 'The Heirich Maneuver'
5. The Cribs - 'Moving Pictures'
6. Bloc Party - 'Hunting For Witches'
7. Smashing Pumpkins - 'Tarantula'
8. Dizzee Rascal - 'Old Skool'
9. Queens Of The Stone Age - 'Sick, Sick, Sick'
10. Tokyo Police Club - 'Your English Is Good'


* Saiu lista dos indicados a melhor álbum do Mercury Prize inglês. Os ganhadores do ano passado, Arctic Monkeys, com o álbum “Whatever People Say What I Am, That's What I'm Not”, estão novamente no páreo, desta vez com o segundo álbum de carreira “Favourite Worst Nightmare”. O quarteto de Sheffield pode ser o primeiro artista a faturar dois Mercurys seguidos. O rapper Dizzie Rascal, ganhador do Mercury em 2003 com o album “Boy in da Corner”, também está na jogada com o novo trabalho “Maths & English”. Álbuns de estréia de bandas como Klaxons, Maps, Jamie T e The View, também concorrem ao premio, que será realizado em setembro. Abaixo, os indicados:

Arctic Monkeys - 'Favourite Worst Nightmare'
Klaxons - 'Myths Of The Near Future'
Amy Winehouse - 'Back To Black'
Maps - 'We Can Create'
The View - 'Hats Off To The Buskers'
Jamie T - 'Panic Prevention'
Dizzee Rascal - 'Maths & English'
Bat For Lashes - 'Fur And Gold'
Young Knives - 'Voices of Animals And Men'
Fionn Regan - 'The End Of History'
New Young Pony Club - 'Fantastic Playroom'
Basquiat Strings - 'Basquiat Strings'

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Interpol - "Our Love to Admire"

How`re the tings on the west coast ?













O verso mais comentado do momento é a indagação ou deixa para o início de mais uma jornada ao sombrio universo do Interpol. A frase é o que Paul Banks, líder do quarteto nova-iorquino, vocifera na abertura do mais novo single da banda, The Heinrich Maneuver. Nova Iorque anda mesmo precisando de um grito de alerta. Junto aos Strokes, Yeah, Yeah, Yeahs e The Rapture, o Interpol fecha o “quarteto fantástico” de boas bandas surgidas a partir de 2000, numa cena que anda um tanto quanto parada ou como comentam por aí, infestada de hipsters!

Por enquanto a pergunta de Paul Banks serve de alento, pra dizer que a banda ainda está na área. Sofrendo na costa-leste por frustrações amorosas ancoradas no lado do Pacífico, o cantor flerta com o trágico, seja através de suas letras romântico-niilistas, quanto pelas guitarras e vocais cortantes e cada vez mais elétricos. O vozeirão monotônico e encorpado de Banks ainda é responsável por cerca de 70 por cento da aura soturna que envolve a banda, que, analisando friamente, fez até hoje um rock simples, cru em boa parte das canções, mas sempre desenvolvido sob uma atmosfera climática e de grandes ambiências.

Ao unir os solos espaciais da guitarra de Daniel Kessler às levadas e ritmos dançantes criados pelo baterista Sam Fogarino e pelo baixista Carlos D, o Interpol se conecta a um universo caótico, ainda mais urgente e apocalíptico em seu terceiro álbum, “Our Love to Admire”. Diferente dos trabalhos anteriores, as novas composições foram desenvolvidas a partir de bases de teclado, como se o Interpol tivesse incorporado um quinto membro oficial a seu line-up. A utilização expressiva das teclas pode ser notada desde a primeira e ótima faixa, Pioneer to the Falls, e pluraliza a sonoridade de uma banda, que sempre vislumbrou em seus obscuros arranjos uma grandiosidade paradoxal às sensações de clausura e introspecção geradas por suas canções.

Produzido por Rich Costey – mentor dos dois últimos álbuns do Muse, “Absolution” e “Black Holes and Revelations”, e também do último do Franz Ferdinand –, “Our Love to Admire” é repleto de novas e orquestrais texturas, que garantem, através dos sintetizadores, ainda mais peso e sofisticação ao som da banda. Não que o resultado supere em definitivo o clássico álbum de estréia “Turn on the Bright Lights” (2002) ou hits como Evil, do também aclamado “Antics” (2004), segundo álbum de carreira. Suas novas e densas onze canções, atravessam o ouvinte com a rapidez e o impacto de um raio, que ilumina o caminho nebuloso em que perpassam com cada vez mais freqüência superficiais bandas do cenário rock-camisa- pólo inglês ou dos emos norte americanos.

Como um pregador sinistro e altamente convincente Paul Banks rege com segurança o som de sua banda, influenciada pelo pós-punk inglês de The Cure, Echo and the Bunnyman e Joy Division, mas sem emular seus lideres, Robert Smith, Ian McCulloch e Ian Curtis respectivamente. O que os diferencia de sua imediata linhagem musical é a América, mas precisamente o caos nova-iorquino proferido pelas notas tortuosas, distorcidas e pesadas dos riffs desenvolvidos por Banks e principalmente por Kessler. A melancolia inglesa é transformada em catárticas intervenções de Paul Banks e cia, que têm nas faixas No I In Threesome, Mammoth e Rest My Chemistry grandes momentos de “Our Love to Admire”.


O novo trabalho marca muito bem a diferença entre o Interpol e aquilo que seria a resposta inglesa ao sucesso da banda, os ingleses do Editors, que acabam de lançar seu segundo álbum, o irregular “An End has a Start”. O quarteto de Birminghan ainda não conseguiu exorcizar os perturbadores fantasmas de Ian Curtis, e seu líder, Tom Smith, parece viver no limite entre esquizofrenia, dupla personalidade e idolatria desmesurada. “Our Love to Admire” posiciona o Interpol como uma das forças mais intensas do cenário atual. Passionais do início ao fim, eles são a prova de que carga emocional sincera, longe do melodrama emo, ainda é possível e extremamente necessária ao rock moderno.

Confira:
www.myspace.com/interpol

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Radar

* Sean Penn + Eddie Vedder = Coisa boa! O líder do Pearl Jam assina novíssimas canções para o filme "Into the Wild", dirigido por Sean Penn e com estréia prevista para o final do ano nos EUA. Além de Vedder, que escreveu praticamente um álbum inteiro para o filme, o premiado compositor Gustavo Santaolla (Brokeback Mountain, Babel) também está na jogada. Acho que esse filme vai ser duca!

* Conversa mole. Quinto e novo álbum dos White Stripes, “Icky Thump”, sai semana que vem via Warner. Depois de afirmar que os disquinhos haviam sido quebrados, devido a uma normativa da WMG(sede)... Surpresa! (rs) Os álbuns estão intactos e vão pra rua. A Warner confirma também data de lançamento para “Zeitgeist”, novo álbum dos Smashing Pumpkins, dia 22 de julho. Abaixo o clipe do single “Tarantula”:


* Macacos muito conscientes! Os rapazolas de Sheffield, Arctic Monkeys, decidiram não participar do Live Earth 2007, projeto musical do ecologicamente esperto e chato Al Gore. Em entrevista a agência francesa AFP o baterista Matt Helders disse que só em iluminação para o show gastariam a energia necessária para o funcionamento de dez casas(?!?!) e que seria hipocrisia participar de um festival deste porte(?!?!). Hummm

* A juíza pé-no-saco carioca liberou, enfim, a realização do Live Earth no Rio. Será o único evento do projeto que será de graça. Mas aturar Xuxa, O Rappa e alguns mais para assistir Leny Kravitz não vale a pena. Se Pharrel viesse com sua banda N.E.R.D talvez seria mais interessante, já que seu disco solo é um tanto quanto decepcionante. E aí, você vai?!

* Produtores do álbum de estréia dos new-reavers, Klaxons, "Myths of the Near Future", e do segundo dos Arctic Monkeys, "Favourite Worst Nightmare”, o duo inglês de electro-pop Simian Mobile Disco chega aos EUA com o lançamento do "Simian Móbile Disco EP", que conta com o hit "Tits & Acid", além de mais três faixas, dentre elas a inédita “3 Pin Din”. Ainda na praia eletro-pop... O Hot Chip prepara novo CD e já conta com seis faixas praticamente prontas. As novas canções, para o sucessor do aclamado, mas não tão interessante assim (podem tacar pedras), “The Warning”, devem soar um tanto quanto diferentes, já que foram gravadas ao vivo, como uma banda. Segundo Joe Goddard, o novo som é mais cru, distorcido e mais alto! Esperar pra ouvir...

* Os moleques do The Enemy assinaram contrato com a Warner UK e lançam seu disco de estréia "We`ll leave and die in theses towns". Abaixo o clipe de "Had Enough":



* Paul Weller e Grahan Coxon realizam parceria e lançam Ep com três canções inéditas. Lançado digitalmente dia 02 de julho, o single do pequeno e interessante projeto é a faixa 'This Old Town,' parceria de Coxon/Weller. 'Each New Morning' é composição de Coxon e 'Black River' de Paul Weller. Rasgações de seda a parte, quem sabe um CD não vem em seguida. Isso interessa!

* Um novo Ep do Placebo está para sair este mês. Brina Molko e Cia. Anunciaram novidades de seu “Extended Play 07”, que será lançado nos EUA dia 31 de julho e contará com oito faixas, cinco clássicos mais três canções ao vivo. O novo ep serve como suporte a entrada do Placebo na Projekt Revolution Tour. Turnê idealizada pelo Linkin Park que cruza os EUA neste verão (lá) e que conta com My Chemical Romance e Taking Back Sunday.

'Extended Play '07' tracklist:
'Nancy Boy'
'Every You Every Me'
'Taste In Men''Bitter End'
'Meds'
'Pure Morning' (live from Arras)
'Infra-Red' (live from Nimes)
'Running Up That Hill' (live from Santiago)

* No post abaixo resenha de Regina Spektor e o delicioso "Begin to Hope".

terça-feira, 3 de julho de 2007

Regina Spektor - "Begin to Hope"

Moscovita, radicada no barra-pesada Bronx desde os nove anos, Regina Spektor graduou-se em piano clássico e, hoje, sem o menor embaraço adiciona batidas de hip-hop, instrumentos de sopro e singelos riffs de guitarra às suas composições. Spektor já causa burburinho na cena do Lower East Side nova-iorquino há mais de cinco anos. Seus primeiros e hipnotizantes shows ocorridos em centenas de pequenos clubes locais ganharam proporções inimagináveis para a moça tímida de cabelos castanhos ondulados, olhos azuis e lábios generosamente avermelhados.

Filha de judeus russos que imigraram durante o regime da Perestroika, a cantora, de 27 anos, transmite candura; seu estereotipo alude a um fetichismo recatado. Sapatos bicolores, vestido sobre os joelhos, olhar melancólico, como o de uma boneca – não pela beleza, mas sim pelo desajeitado de seu gestual, vide o clipe "Fidelity". Dona de uma voz cristalina e precisa, Regina Spektor é, hoje, uma das mais inventivas compositoras e intérpretes da música pop norte-americana. Apesar de ser comparada, no início de sua carreira, a outras cantoras e pianistas como Fiona Apple e Tori Amos, Spektor bebe de fontes distintas e mais louváveis, que vão de Beatles a Frédéric Chopin.

Contratada pela Sire, ela distribui via Warner seu quarto disco de carreira “Begin to Hope” – “11:11” e “Songs”, foram os dois primeiros, produzidos e distribuídos de forma independente. “Soviet Kitsch”, de 2003 já trazia o espectro, apesar de menos instrumentação, do que viria a ser este novo e excelente trabalho. O álbum anterior, gravado em apenas dez dias, serviu de passaporte para o contrato com a Sire, além de catapultar Spektor definitivamente para o mainstream, em colaborações e turnês ao lado de artistas como os Strokes.

De quase-vendedora ambulante a objeto cult de apreciação e, porque não, rasgação de seda por parte da mídia especializada, um espaço-tempo de cinco anos foi o bastante para que o encanto de seu acanhado despojamento fosse notado. De mera coadjuvante em festivais ao redor do mundo Regina se estabeleceu, de um ano para o outro, como nome respeitado. Sua música saía, assim, da intimidade de seu quarto e de apresentações para platéias de 200 pessoas para públicos mais generosos. De londres a Nova Iorque, Spektor passou a lotar grandes casas como o Irving Plaza e o Shephard Bush Empire.

Begin to Hope
Begin to Hope” conta com produção sofisticada e altamente detalhista. A enganosa simplicidade que estampa o álbum é reflexo de uma artista que sabe muito bem que o potencial de sua criação não está na profusão indiscriminada de elementos sonoros, mas sim na justa posição de suas diversas influencias, que passam pelo jazz, pela música clássica até chegar em leves beats eletrônicos e melodias pop construídas com excelência.


Seu novo projeto é experimental. No entanto, isto não reflete na estética de sua sonoridade e no resultado final das composições do disco. Coeso do início ao fim, o álbum é o retrato de uma multi-instrumentista de enorme talento, que pôde brincar, durante dois meses, com todos os recursos de estúdio possíveis, além de idéias inimagináveis movidas por seus sinceros devaneios melódicos. É a arte de alguém que tem a exata noção de que grandiosos arranjos não são necessariamente sinônimos de apreciação por parte de ouvinte. O intuito aqui é fazer com que o disco seja tão divertido para quem o fez quanto para quem o ouve.

Objetivo alcançado com êxito através de um incessante desfilar de clássicos, que começa com a faixa Fidelity e passa por tantas outras de igual categoria e beleza como Better, Samson e On the Radio. Lady serve de palco para uma homenagem blues/jazzística a lenda Billie Holiday, uma de suas grandes influências. A faixa, assim, como todas as outras, revela a expertise de uma voz que se destaca frente às novas divas que felizmente não param de aparecer no cenário da música pop.

Spektor alia com propriedade o timbre límpido e agudo de sua voz à sensualidade de sussurros e maliciosas divisões métricas; garantias de certa vantagem sobre suas contemporâneas Feist e Charlotte Gainsbourg, por exemplo. Chega, por vezes, a lembrar uma focada Björk em Apres Moi – canção em que expõe com maestria sua habilidade ao piano, enquanto sua voz inebriante navega entre frases melódicas proferidas em inglês, francês e russo.

Como a própria cantora afirma “você nunca sabe a verdadeira linhagem de suas canções”. Confessionais ou não, suas letras, agora em primeira pessoa, despistam os fãs mais ansiosos, que buscam saber se o registro de suas linhas é reflexo de suas experiências pessoais. Realidade poética é o que Spektor transmite como resposta. Habilmente ela faz prevalecer o lirismo de sua obra frente a opacidade de nossa fugaz existência.