NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Macy Gray - Redenção de uma diva pop

Natalie Renee McIntyre, 42 anos, está em busca de redenção. Incensada após o estouro do single I try, pinçado de seu multiplatinado álbum de estreia, On how life is (1999), a cantora americana mundialmente conhecida como Macy Gray viu sua carreira passar do ápice ao caos de uma hora para outra. Apontada como a sucessora de divas da disco music, Macy caiu em descrédito a partir do lançamento de seus álbuns seguintes, Id (2003) e o sugestivo The trouble of being myself (2005), recebido com frieza por fãs e crítica. Após a resposta morna para um esperado álbum de “retorno”, Big (2008), coproduzido por Will.I.am (Black Eyed Peas) e Justin Timberlake, Gray aposta todas as suas fichas em The sellout, álbum em que diz retornar ao básico, mesmo que isso seja trafegar por gêneros diversos numa produção em que dá liga a suas diversas facetas.

– Quando comecei a fazer esse disco o que eu mais senti era uma vontade de ter liberdade, não queria saber de escrever sobre um tema determinado, sobre amor ou qualquer coisa do tipo... A ideia toda era apenas me liberar totalmente. Um sentimento parecido ao que tive quando eu fiz o primeiro – revela a cantora, por telefone, ao Jornal do Brasil.

Antes de vender mais de 7 milhões de cópias e colocar na estante um Grammy de Melhor Cantora Pop pelo álbum de estreia, Macy Gray queria apenas ser compositora. E foi carregando algumas demos compostas em parceria com Joe Solo que ela se pôs à frente de um microfone para substituir uma cantora que deu cano no estúdio. Uma década depois, e após ter colaborado com os nomes mais importantes do pop mundial (Justin Timberlake, Common, Outkast, Rick Rubin, Carlos Santana, Erykah Badu, Fergie, Will.I.am, Mos Def, Natalie Cole e John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers), tudo o que Macy Gray queria era se afastar de um batalhão de especialistas em hits a espreitar seus passos dentro do estúdio. Cansada de parcerias estelares, se fechou com músicos de confiança para gravar um álbum mais orgânico, visceral e versátil, apesar de, vez ou outra, soar como algo já experimentado pela artista.

– Nos últimos dois trabalhos eu estava sob a Interscope, envolvida numa máquina gigante, sempre ouvindo muita gente, muitas opiniões chegando de todos os lados... – reconhece Macy. – Agora tenho a certeza de que é um projeto totalmente diferente. Passei mais de um ano fazendo o disco sem qualquer pressão ou influência externas e pude escolher as pessoas que iriam trabalhar comigo.

The sellout é resultado de quase dois anos de trabalho. Ao longo de 12 novas faixas, Gray empresta sua voz rasgada, cheia de nuances e cores para trilhas dançantes guiadas por ondulantes linhas de baixo, sintetizadores e beats verticais sob medida para noites de festa, caso de Lately. Mixado pelo papa-Grammy Manny Marroquin – autor de hits para Lady Gaga, Jay Z, Rihanna, Alicia Keys, Kanye West e John Mayer – o trabalho, apesar de menos inflado por parcerias, não deixa de ser recheado por um punhado de colaboradores, caso do rapper recém-libertado da cadeia T.I., Bobby Brown e Kaz James (The Bodyrockers), além do trio Slash, Duff McKagan e Matt Sorum (ex-Guns N' Roses e Velvet Revolver).

– Conheço Slash há muitos anos e sempre conversamos sobre a possibilidade de trabalharmos juntos. Quando eu estava começando a fazer esse disco, liguei para ele e fiz o convite. Aí os outros caras também se interessaram e gravamos juntos – conta Macy, em referência à faixa Kissed it, um dos destaques do álbum.

Apesar de soar confiante e recuperada dos abismos que a fizeram “perder a essência” em meio aos apelos do showbizz, Gray não soa muito distante do pop de feições radiofônicas, por vezes artificial na composição das linhas vocais e nos backs de apoio, que manteve como linha ao longo da carreira. O que sobressai são os arranjos burilados para algumas faixas, assim como a quantidade de possíveis hits. A contagiante Lately, conduzida por energéticos grooves é seguida pela parceria assinada com os roqueiros, Kissed it, marcada por densas linhas de baixo e bateria, palmas e os solos (em baixo volume) de Slash. É o melhor momento do álbum, que é puxado por um single menos inspirado, Beauty in the world.

– Noto algumas diferenças marcantes entre os discos. Acho que a minha voz está bem diferente. E o que eu realmente busquei foi construir uma sonoridade grandiosa, que pudesse causar impacto. Acho que antes desse disco eu estava muito confusa... – observa. – Fui criada escutando soul music o tempo todo. Stevie Wonder, os discos da Motown... Depois cresci e fui impactada pelo fenômeno da MTV, o hip hop se juntando ao rock. Entrei de cabeça naquilo. Depois aprendi muito de jazz e reggae. Sempre quis ser aberta. E acho que The sellout conta a história de como encontrei minha salvação sendo apenas eu mesma.

Beauty in the world:




* Realmente um erro eleger Beauty in the world como single. Letra banal, melodia previsível e performance vocal abaixo do potencial de Gray. Parece que o clipe acompanha a pobreza. Chama atenção a total falta de ginga e tino da moça em frente à câmara. E olha que ela tem no currículo participação em alguns longas. Desenvoltura lamentável nesse vídeo.

E mais aqui: http://www.myspace.com/macygray

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