NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Theophilus London - A charmosa arte das mixtapes

O sujeito acima mastigando um biscoito e usando óculos de grau não pode ser considerado um rapper comum. De fato, Theophilus London foge ao comportamento, à tradição e à estética visual e sonora associada aos guetos mais populosos e pobres de Nova York. Longe da persona gangsta e machista que corrompe o rap americano, London é um dos pioneiros de uma nova cena de eletro pop e rap urbano. Assim como Kid Cudi, faz parte de uma geração de jovens negros criada, apesar do preconceito, com melhores condições, longe dos becos e mais integrada ao centro; no caso de London, pelo menos, ao epicentro criativo do cenário musical americano, o Brooklyn.

Incensado pelo universo da moda, London não ostenta cordões, brincos, piercings entre outros adereços de prata, ouro e diamante. Quando não está sob jaquetas de couro, surge em combinações coloridas, de blazer, camisa pólo, calças sociais e seu indefectível boné de aba reta. Veste-se como um integrante de banda indie da Inglaterra. E talvez por isso seja natural que entre um beat e outro surjam ecos melancólicos do pós-punk britânico nos arranjos de suas canções. A contextualização social e estética acima, no entanto, serve apenas como tentativa de entender um pouco do universo por trás do cara que arremessou nas esquinas virtuais as mixtapes mais criativas e comentadas – por gente como Mark Ronson e Marc Ecko – dos últimos tempos, Jam! (2008) e This charming mixtape (2009). Sim, London ganhou respeito, ou credibilidade de rua, justamente pela expertise em fazer daquela coleção casual de músicas prediletas um trabalho autoral. E é sob a expectativa do lançamento de sua nova fornada, I want you, que ele fala ao RP.

– Acredito que as mixtapes são muito mais do que um amontoado com as minhas canções preferidas. Acho que elas podem contar ou narrar histórias pessoais, e foi isso que me estimulou quando comecei a gravá-las.

Desde que Jam! e This charming mixtape ganharam a web, London coleciona admiradores na mesma proporção em que embaralha as referências e associações musicais dos ouvintes e críticos. Ao mesmo tempo em que metralha versos inteligentes, e não apenas espertinhos, conta com mais um diferencial, entoa alguns de seus melodiosos refrãos. Guiadas por dançantes linhas de baixo, as faixas de suas mixtapes destilam poesia urbana e contemporânea por entre batidas cruas, camadas de sintetizadores e samplers de ícones do soul, do r&b, jazz e do pós-punk – não é à toa que The Smiths, Ian Curtis e David Byrne são listadas como influências ao lado de medalhões como Michael Jackson, Marvin Gaye e Quincy Jones.

– Eu me enxergo como uma mistura. É claro que faço rap, mas tenho trabalhado bastante a minha voz, a minha forma de cantar e fazer melodias – explica London. – Acho que tenho que estar preparado para dar conta. Na frente do microfone tenho que ser o cara que pode dominar a situação. Sinto que preciso ter o controle do palco e da plateia, e quero exercitar cada vez mais esse poder de liberdade.

Se nos dois últimos trabalhos o rapper se aproveitou de trechos de peças de nomes como Kraftwerk, Amadou & Mariam, Whitney Houston, entre outros, em I want you (2010), mixtape que ele lança no dia 28, London conta com colaboradores de peso, como o produtor Mark Ronson e o cantor Sam Sparro, com quem forma o grupo Chauffeur, além do inglês Dev Hynes (Lightspeed Champion), para canções próprias, alguns covers e remix de gente como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Missy Elliott, Vampire Weekend e a nova sensação indie The XX.

– Acho que neste trabalho estou fazendo mais rap e cantando mais também. Trabalhei bastante nisso – diz. – Dentro do estúdio foi realmente uma experiência marcante poder conhecer e criar com o Mark Ronson. Ele é o cara, trabalhou com o Gorillaz e fez uma porção de coisas interessantes. Queria ver como ele atuava, o que ele fazia no estúdio, e acho que o resultado ficou especial.

Apesar da vasta gama de referências, as primeiras faixas que vazam na rede apontam um caminho menos acelerado. London está mais cool e relaxado, sua música mais soul que rap e seu espírito com mais alma que pompa.

– Falo sobre as minhas emoções... Sobre os acontecimentos bons e ruins que me levam a responder. Passei por alguns momentos difíceis, onde estive mais fraco, alguns relacionamentos frustrados... Mas eu sei que posso criar a partir desse terreno.

A influência que a obra de Gaye tem lhe causado nos últimos tempos dá o tom.

– Passei muito tempo trabalhando nessas faixas e só agora começo a observar quais são as influências mais marcantes. Marvin Gaye está muito presente no que eu faço. Acho que criei um conjunto mais melancólico e reflexivo do que os trabalhos anteriores – constata London. – Eu tenho assuntos rodando na minha cabeça o tempo todo, e acho que posso realmente fazer as pessoas pensarem sobre certos temas. Então continuo produzindo, inventando, conhecendo pessoas e realizando parcerias.

Se 2009 foi um ano de turnês ininterruptas, 2010 insurge com mais intensidade e expectativa. Incensado por publicações como The Fader, NME e até pelo New York Times, London tem agenda cheia até o fim de maio e um futuro mais que promissor.

– O que me deixa excitado é poder deixar as pessoas elétricas, soltas, fazer todo mundo delirar. Desde o começo, meu único objetivo é o de atingir as pessoas. E é isso que me estimula a continuar a fazer essas mixtapes. Apesar de as pessoas já gostarem, eu sei que ainda posso fazer melhor.

Ouça essa: http://www.myspace.com/theophiluslondon



Baixe a incrível I want you mixtape here: http://theophiluslondon.net/

Nenhum comentário: