Ele havia deixado o estúdio na Pompeia, em São Paulo, mais do que satisfeito. Naquela noite, tinha finalizado duas novas canções, as primeiras de um total de 14 inéditas que serão embaladas no emblemático 11 de setembro sob o título de “Babylon by Gus — A lenda do santo beberrão”, seu segundo álbum de carreira. Até ali, 26 de março de 2010, tudo parecia correr bem — como há tempos não rolava. Afinal, eram seis anos desde que o début “Babylon by Gus volume 1 — O ano do macaco” havia assaltado a atenção de quem já curtia seus versos ao lado de Marcelo D2, no Planet Hemp. Desde 2004, Gustavo Ribeiro, vulgo Black Alien, não tinha nada a dizer...
— Falta de inspiração, cara. Como não tinha nada para falar, não falei nada. Briguei com a gravadora, rescindi meu contrato, saí sem barulho. Depois entrei em um monte de furada... Comecei tudo do zero.
E, de repente, duas faixas prontas. Mas uma ligação às 3h30m mudou o clima. O técnico de som havia acordado assustado (“Disse que sentia alguém puxando os pés dele”, conta). Na manhã seguinte, o choque: o rapper Speed havia sido assassinado. No momento em que a carreira parecia renascer, morria o parceiro que o enxergou como artista e que o fez acreditar que não era “só um maluquinho que escreve umas letras”, como dizia, mas um dos rappers mais inventivos e originais — na abordagem de temas e no flow — do país.
— Depois daquela noite aconteceu um monte de coisas estranhas naquela casa. O estúdio nem existe mais... Perdi as bases que tinha gravado. E só há uns meses consegui fazer a coisa andar — diz Black, que vai se mudar para a capital paulista no fim do mês.
No começo de tudo, Speed era o amigo e primeiro parceiro musical. Foi ele que sacou o talento para a rima de um moleque que rodava Niterói em cima de um skate sonhando competir profissionalmente. Entre as ruas e os sons, a fricção das rodas no asfalto fazia mais a cabeça que a agulha no toca-discos.
— Meu sonho era ser skatista profissional, esse negócio de música não existe.
E até hoje, surpreendentemente, é assim:
— Cara, gosto mais de cinema do que de música. Vejo muito mais filmes. Fiz uma participação em “Feliz Natal” e fiquei amarradão — diz, referindo-se ao longa de Selton Mello.
Se a música não era sonho, ao menos era realidade em casa. E ele não deixava de pirar com os vinis que o pai trazia de Nova York, e os que um amigo DJ mostrava. Foram as batidas de Afrika Bambaataa em “Planet Rock”, Run-D.M.C. em “Raising hell” e os Beastie Boys em “Licensed to ill” que o fizeram sacar. O ano era 1986, Gustavo foi fisgado e logo começou a mandar seus versos em cima de bases extraídas pelo DJ Rodrigues (Planet Hemp, Seletores de Frequência). Foi a brincadeira que fez do skate um hobby, e do rap, profissão.
— Um dia, um cara me interpelou dizendo que tinha ouvido a minha fita. Se apresentou como Speed. Disse que era sinistro, que eu tinha que seguir aquilo, para eu tocar na banda dele. Na real, me deu uma vontade de bater nele. Mas eu disse: “Não, eu não sou artista. Sou só um maluquinho que escreve letra”. Aí ele mandou: “Vai tomar...” Eu não acreditei, e falei: “O quê?”. Ele mandou de novo! Não acreditei. Eu tava com o skate na mão, uma arma branca, né? Aí ele mandou: “Beleza, Tom Jobim é só um maluquinho que toca piano.” Porra, Tom Jobim e eu na mesma frase, já achei maneiro.
Tanto que arremessou o emprego de comissário de bordo na Varig para o alto e duas semanas depois já lançava suas rimas no palco com o grupo Speedfreaks. Dois anos depois, com a morte de Skank, um dos criadores do Planet Hemp, Black Alien assumiu um dos microfones ao lado de Marcelo D2. Desde a estrondosa estreia com “Usuário” (1995), passando pelos hits de “Os cães ladram mas a caravana não para” (1997), como “Queimando tudo”, e até “A invasão do sagaz homem fumaça” (2000), foram muitas parcerias e percalços. Alguns que ele ainda não esquece.
— A gente escrevia junto, mas eu era contratado, não era da banda. Então não devia ter sido preso (o Planet foi detido em 1997 por apologia às drogas). Inclusive vou processar a União. Quero ressarcimento, dinheiro e desculpas — diz. — Eu não escrevia sobre maconha. Nem em “Queimando tudo” me refiro à erva. Esse não é e nunca será o meu jeito de abordar o assunto. E, cá para nós, eu achava meio tosco aquilo. E aí fui mandado embora porque pedi aumento. Não queria ser contratado como um músico normal. Não fui preso, não escrevo, não falo no Jô Soares?
E foi livre de amarras que ele desenvolveu um estilo único, que segue uma pegada própria e chega em forma de música, com o disco novo, e nos cinemas, com o lançamento do documentário “Mr. Niterói — A lírica bereta”, que vai contar sua trajetória. Dirigido por Ton Gadioli, o filme deve estrear no segundo semestre deste ano.
— Sempre me incomodou o jeito como os rappers falavam das mulheres e tantos palavrões. Meu disco não tem isso, falo de outra forma. Tem amor e política. Sarney, como sempre. Uma das paradas que mais me incomodam é o Sarney. Os Sarneys que o Brasil criou, um tipo de comportamento, e o povo brasileiro que, às vezes, é cuzão... Na Argentina, sobe o preço do pãozinho e já tem nego batendo panela na Casa Rosada. Aqui nego agradece ao patrão que tá te quebrando. Carnaval, cachaça e bunda... Tudo ótimo. Faz sentido, mas não é desculpa. E aí fico chateado com o povo. Porque no fundo você sempre sabe quem tá te fodendo. Sempre sabe.
*Publicada no Segundo Caderno do Jornal O Globo (23/6/2011)
RADAR / RADAR / RADAR
NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS
sexta-feira, 24 de junho de 2011
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Guizado - Sopro novo e ancestral em 'Calavera'
Vozes e sons enfumaçados ecoam das profundezas de uma floresta tropical, urros entrecruzados decolam no espaço e remetem a antigos rituais latinos, enquanto embalos percussivos se misturam a beats eletrônicos e levadas afro. São algumas dessas particularidades – e muitos outros molhos – que compõem a sonoridade ao mesmo tempo ancestral e moderna salpicada pelo trompete do paulistano Guilherme Mendonça, vulgo Guizado. Para os mais atentos ao que acontece na nova música brasileira, sua alcunha é carimbo fácil de ser encontrado, impresso nos créditos de dezenas dos mais interessantes títulos lançados atualmente. Após emprestar seus dotes a nomes como Céu, Nação Zumbi, Cidadão Instigado e Karina Buhr, entre muitos outros, Guizado decidiu dar sopro criativo em benefício próprio. Em 2008, arremessou na praça o experimental e urbano Punx, e agora, dois anos depois, dispara na rede o tropical e onírico Calavera – disponível para audição e download gratuito através do portal Trama Álbum Virtual.
– No primeiro disco eu estava muito envolvido em descobertas eletrônicas. Escutava muito Kraftwerk, o pessoal do hip hop de vanguarda, underground, ligado ao instrumental, como os caras do Prefuse 73... – enumera Guizado, em entrevista por telefone, de sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Guizado elegeu o trompete por acaso. Aos 16 anos, já dedilhava sua guitarra, mas sensibilizou-se pela engenhoca de metal que viu largada no canto da casa do avô de um amigo. Sócio de um pequeno sebo, começou a riscar as bolachas de Miles Davies, Dizzy Gillespie na vitrola de casa. Perseguia as notas como num rito, mesclando disciplina e intuição. De lá até o primeiro álbum, criou novos fetiches. Vasculhou sintetizadores e máquinas antigas, aprendeu a usar o Game Boy para programações e tratou de processar e manipular eletronicamente o som do seu trompete. Apelo que marca sua carga autoral e criativa.
– Punx é o resultado do que eu vinha tocando ao vivo. As músicas eram mais desconectadas, com muitas colagens, enquanto Calavera é um passo à frente. Decidi criar um fio condutor para o disco.
O tal fio a que se refere o músico ganha liga não apenas através dos arranjos instrumentais que trafegam por rock, jazz, eletrônica, dub e muitas outras praias. A eles, Guizado adiciona letras e linhas vocais, cantando pela primeira vez em um de seus trabalhos. Para a empreitada, recrutou o amparo de vozes femininas: Céu e Karina Buhr.
– A ideia é tentar ser o mais direto possível, estabelecer um equilíbrio maior entre a comunicação direta e o abstrato – explica. – Acho que a letra tem esse papel, entre outros. Escutava Pink Floyd e me ligava sempre no instrumental. Até que me caiu a ficha de que o vocal poderia também soar como um instrumento, servir como um respiro. Céu e Karina me ajudam a construir essa ideia, e têm funções bem distintas no álbum.
Em seus versos, Guizado passa longe de um contador de histórias, de um narrador de experiências próprias ou alheias. Sua lírica carrega uma gênese visual, lisérgica. Serve como adorno, sempre revestida por efeitos diversos.
– Ao mesmo tempo em que compõem sentidos e passam mensagens, as vozes criam um clima. Procurei palavras que fortalecessem essa intenção, por isso privilegiei as vogais, os sons abertos. Busquei o som das palavras, mas sem perder o significado poético.
Além dos vocais e de seu trompete guiando cada uma das faixas, o músico pilota traquitanas diversas no disco. Teclas vintage como Minimoog, Júpiter 6, SH3A e Wurlitzer garantem colorido especial a Calavera, constituído sob inspirações orquestrais traçadas por nomes como Henry Mancini, Herb Albert e Tijuana Brass, assim como pelo trompete malicioso do mexicano Rafael Méndez (1906-1981). O elo entre a sonoridade erudita e as melodias popular, folclórica e carnavalesca conduz a uma viagem sem fronteiras bem definidas. Guizado explora conexões entre tradições musicais aparentemente descoladas, e, depois, as atrela ao porto seguro da música brasileira.
– O disco é o resultado de muitas viagens, comecei a conhecer melhor a música feita em outros lugares.
Canções como O marisco nasceram em algumas dessas escapadas da capital paulista.
– Ela tem um clima de praia, mais leve... Foi feita numa viagem – conta. – Entendi que as culturas mexicana, hispânica e latina traçam um elo com a música do Carnaval de Olinda, por exemplo; aquelas melodias tristes, em tom menor. Achei essa influência na música dos Balcãs e dos mouros também. Foi importante encontrar traços dessas culturas no Brasil. O trompete é muito rico nesses países.
Calavera – caveira em espanhol – não exibe o batismo hispânico em vão. Fascinado pelos cultos populares, em especial a Festa do Dia dos Mortos, celebrada no México, Guizado mergulhou em terrenos desconhecidos para imergir transfigurado, de corpo intacto e alma renovada.
– Buscava uma autenticidade maior. Existe uma razão espiritual para o título do álbum. Os mexicanos celebram o mistério e o desconhecido de forma festiva. Quis mergulhar ainda mais para dentro de mim, mas também me conectar ao cotidiano. É uma espécie de paradoxo. Uma vontade de entrar no mundano, viver essa festa, mas manter a espiritualidade. Sem negar qualquer um desses lados.
Ouça e baixe 'Calavera' aqui: http://albumvirtual.trama.uol.com.br/
E mais aqui: http://www.myspace.com/guizado
– No primeiro disco eu estava muito envolvido em descobertas eletrônicas. Escutava muito Kraftwerk, o pessoal do hip hop de vanguarda, underground, ligado ao instrumental, como os caras do Prefuse 73... – enumera Guizado, em entrevista por telefone, de sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Guizado elegeu o trompete por acaso. Aos 16 anos, já dedilhava sua guitarra, mas sensibilizou-se pela engenhoca de metal que viu largada no canto da casa do avô de um amigo. Sócio de um pequeno sebo, começou a riscar as bolachas de Miles Davies, Dizzy Gillespie na vitrola de casa. Perseguia as notas como num rito, mesclando disciplina e intuição. De lá até o primeiro álbum, criou novos fetiches. Vasculhou sintetizadores e máquinas antigas, aprendeu a usar o Game Boy para programações e tratou de processar e manipular eletronicamente o som do seu trompete. Apelo que marca sua carga autoral e criativa.
– Punx é o resultado do que eu vinha tocando ao vivo. As músicas eram mais desconectadas, com muitas colagens, enquanto Calavera é um passo à frente. Decidi criar um fio condutor para o disco.
O tal fio a que se refere o músico ganha liga não apenas através dos arranjos instrumentais que trafegam por rock, jazz, eletrônica, dub e muitas outras praias. A eles, Guizado adiciona letras e linhas vocais, cantando pela primeira vez em um de seus trabalhos. Para a empreitada, recrutou o amparo de vozes femininas: Céu e Karina Buhr.
– A ideia é tentar ser o mais direto possível, estabelecer um equilíbrio maior entre a comunicação direta e o abstrato – explica. – Acho que a letra tem esse papel, entre outros. Escutava Pink Floyd e me ligava sempre no instrumental. Até que me caiu a ficha de que o vocal poderia também soar como um instrumento, servir como um respiro. Céu e Karina me ajudam a construir essa ideia, e têm funções bem distintas no álbum.
Em seus versos, Guizado passa longe de um contador de histórias, de um narrador de experiências próprias ou alheias. Sua lírica carrega uma gênese visual, lisérgica. Serve como adorno, sempre revestida por efeitos diversos.
– Ao mesmo tempo em que compõem sentidos e passam mensagens, as vozes criam um clima. Procurei palavras que fortalecessem essa intenção, por isso privilegiei as vogais, os sons abertos. Busquei o som das palavras, mas sem perder o significado poético.
Além dos vocais e de seu trompete guiando cada uma das faixas, o músico pilota traquitanas diversas no disco. Teclas vintage como Minimoog, Júpiter 6, SH3A e Wurlitzer garantem colorido especial a Calavera, constituído sob inspirações orquestrais traçadas por nomes como Henry Mancini, Herb Albert e Tijuana Brass, assim como pelo trompete malicioso do mexicano Rafael Méndez (1906-1981). O elo entre a sonoridade erudita e as melodias popular, folclórica e carnavalesca conduz a uma viagem sem fronteiras bem definidas. Guizado explora conexões entre tradições musicais aparentemente descoladas, e, depois, as atrela ao porto seguro da música brasileira.
– O disco é o resultado de muitas viagens, comecei a conhecer melhor a música feita em outros lugares.
Canções como O marisco nasceram em algumas dessas escapadas da capital paulista.
– Ela tem um clima de praia, mais leve... Foi feita numa viagem – conta. – Entendi que as culturas mexicana, hispânica e latina traçam um elo com a música do Carnaval de Olinda, por exemplo; aquelas melodias tristes, em tom menor. Achei essa influência na música dos Balcãs e dos mouros também. Foi importante encontrar traços dessas culturas no Brasil. O trompete é muito rico nesses países.
Calavera – caveira em espanhol – não exibe o batismo hispânico em vão. Fascinado pelos cultos populares, em especial a Festa do Dia dos Mortos, celebrada no México, Guizado mergulhou em terrenos desconhecidos para imergir transfigurado, de corpo intacto e alma renovada.
– Buscava uma autenticidade maior. Existe uma razão espiritual para o título do álbum. Os mexicanos celebram o mistério e o desconhecido de forma festiva. Quis mergulhar ainda mais para dentro de mim, mas também me conectar ao cotidiano. É uma espécie de paradoxo. Uma vontade de entrar no mundano, viver essa festa, mas manter a espiritualidade. Sem negar qualquer um desses lados.
Ouça e baixe 'Calavera' aqui: http://albumvirtual.trama.uol.com.br/
E mais aqui: http://www.myspace.com/guizado
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Vincent Moon, The Take Away Shows - Música para os olhos
Em abril de 2006, o estudante de fotografia Vincent Moon sentava-se num bar ao lado da estação de metrô Porte de Clignancourt, em Paris, para tomar uma cerveja com os músicos da The Spinto Band. Além da sua inseparável mochila, carregava uma câmera na mão e não muita coisa ventilando a mente. Naquela tarde, fundava, sem saber, o primeiro Take Away Show, espécie de videocast produzido artesanalmente para ser postado num site de música criado por um amigo, o La Blogothèque. Além de servir como diferencial ao portal, criado no momento em que o YouTube começava a engatinhar, a ideia se baseava em um interesse simples e particular, o de “dividir um momento íntimo e musical com meus artistas preferidos, fingindo estar fazendo algo profissional e importante" – como resume o próprio Moon. Quatro anos depois, o videomaker conseguiu fazer com que todos levassem sua aventura a sério. E o site já ultrapassa a marca dos 100 pequenos “documentos musicais vivos”.
– Eu trabalhava em algumas ideias bem lo-fi, procurando filmar de um jeito que eu não via por aí, buscando transmitir uma intimidade autêntica com os músicos – conta Moon, durante uma rápida parada em Paris, recém chegado de uma viagem à África. – Assisti ao primeiro show que o Arcade Fire fez na França. Eles terminaram a apresentação tocando no meio da rua, e aí tive a ideia de filmar música ao vivo, mas fora do palco.
Numa época em que supreproduções à Lady Gaga não param de estender sua dominação em massa, valendo-se do poder interativo proporcionado pela internet – primordialmente do YouTube, ferramenta concebida, originalmente, para estimular a produção de vídeos independentes, caseiros e particulares – Moon atira para um caminho oposto. Aposta num retorno da experiência musical à essência. Desnuda os artistas aos quais mira sua câmera, retirando-os de seu contexto habitual, ou seja, os palcos das casas de shows.
Alterando o formato de suas canções, Moon registra takes acústicos ao ar livre. Pode ser em meio ao trânsito caótico de uma grande cidade, ou num vagão lotado de metrô. Pode ser na sala de estar da casa de um amigo, numa praça pública, num parque ou outro descampado qualquer. Tanto faz: o que interessa é encontrar um ambiente inusitado, inexplorado e sujeito a oferecer surpresas e riscos que seriam vetados por qualquer grande produção ou equipe de marketing de uma grande gravadora. Valendo-se da portabilidade da tecnologia digital, resgata o que há de essencial e mais cru no ato de se entoar uma canção: a vontade de encantar o outro.
– Uso minha câmera para expandir os limites criativos desses artistas – enfatiza. – Voltar ao básico. Alguém que pega uma guitarra para tentar tocar uma música. Tentar! Acho que a minha experiência como fotógrafo, de sair pelas ruas sozinho, à noite, tirando fotos sem permissão, influenciou bastante a forma como direciono a câmera.
Pesquisador insaciável
De lá para cá, tanto o La Blogothèque como Vincent Moon tornaram-se referência instantânea entre os caçadores de música alternativa, indie ou experimental. Apaixonados em descobrir novos e desconhecidos nomes, Moon é um pesquisador insaciável, que se deixa levar pelo fascínio do desconhecido, o que está escondido no underground e nos subterrâneos. Isso pode parecer estranho a quem acesse o seu site e veja circular vídeos de nomes já estabelecidos, como Wilco, Mogwai, Grizzly Bear, Animal Collective, Phoenix, Yeasayer e Arcade Fire – para quem produziu um documentário, cujo corte final lhe desagradou e o afastou da banda. Mas um olhar atento às datas mostra que Moon captou as imagens antes ou no começo da explosão desses artistas. O documentário dirigido para o Arcade Fire, Miroir noir, é, ao mesmo tempo, um dos melhores momentos de suas peregrinações e uma de suas maiores frustrações.
– O filme saiu, mas não a minha versão, porque houve um problema terrível no meio do processo. O empresário deles me ameaçou uma porção de vezes. Quis me demitir sem pagar por nada do que eu havia feito. Acabou saindo um filme muito estúpido, e eu me neguei a ser creditado por aquilo. Eu tenho aprendido muito trabalhando com essas grandes bandas, e vendo como eles colocam suas decisões mais importantes na mão de pessoas inescrupulosas.
A qualidade da fotografia e da direção do Moon, porém, não deixou de despertar a atenção de nomes fortes do mainstream – caso do R.E.M., que cresceu com os dois pés fincados na música alternativa, e requisitou o jovem diretor para captar as imagens de clipes e documentários.
– Eu não me interesso por filmes sobre música 99% do meu tempo, assim como também não me interesso por filmes em geral, com a exceção de uma coisa ou outra. Acredito que o sucesso desse projeto aconteceu porque o fizemos num momento em que as pessoas precisam se reconectar com a ideia de intimidade, com o intimismo. Precisamos de uma mudança radical.
“Como permanecer pequeno?”
Assim como para muitas das bandas alternativas retratadas no La Blogothèque, o maior desafio encarado por Vincent Moon é evoluir, ampliar seu poder de influência, mas sem perder a integridade. No seu caso, isso significa o caráter artesanal de seus takes, o frescor e a intimidade de suas abordagens. Uma carga autoral que se apoia na quebra de dois preceitos: o distanciamento e o jogo de poder e dominação travado entre quem filma e quem é enquadrado.
– O grande desafio para muita gente hoje em dia é justamente esse: “Como permanecer pequeno? Como eu posso refutar a ideia de ficar maior?” – acredita o diretor. – Eu não falo aqui em me negar a crescer. Eu quero que o meu trabalho cresça, mas que ele mantenha o processo tão nu e cru quanto é desde o início. Meus filmes foram feitos sem dinheiro algum. E até hoje eu não ganho grana com a maioria deles... Não me interessa ganhar.
Música e imagem
Defendendo sua tese de entrega à pessoalidade, à ideia de proximidade entre espectador e artista, Moon descarrega sua metralhadora teórico-instintiva contra o modelo de negócios das grandes gravadoras, assim como na qualidade e no formato dos vídeoclipes produzidos atualmente. Confessa que já foi fã dos trabalhos de Gondry, Cunningham e Jonze, mas apenas porque “era fascinado pelos truques de câmera”. Influenciado por fotógrafos como Michael Ackerman e Antoine D'Agata, e filmes como Step across the border, de Werner Penzel e Nicolas Humbert, Moon se aferra à tentativa de construir um diálogo equilibrado entre peças de mesmo peso: música e imagem.
– Hoje em dia não suporto assistir a nada disso. Eu realmente não entendo porque as pessoas ainda fazem vídeos tradicionais – critica. – Sim, eu sei que faz parte de um antigo modelo de venda de música, mas me sinto completamente distante desse mundo. A sociedade não precisa de vídeos como esses, não mesmo. Eu não assisto a esses filmes, como não vejo os meus. Eu não entendo porque ainda queremos fazer mais imagens. Acho que atingimos a saturação. Mas ninguém nota, e à medida que fazemos mais imagens, em primeiro lugar, não criamos imagem alguma, e, em segundo, devastamos nossa cultura espiritual. Penso em parar todos os dias, mas o processo é tão bonito que eu continuo.
Em paralelo às filmagens de bandas alternativas para o Take Away Shows, Moon realiza série musicais retratando cenas e manifestações culturais espalhadas por diversas cidades e países do globo. Recentemente, circulou pela Tanzânia, Nova Zelândia, Japão, Chile e Buenos Aires, mas em seu site oficial (www.vincentmoon.com) e em seu blog pessoal (http://fiumenights.com) constam séries, experimentos e documentários que não são veiculados no Take Away Shows. Andarilho, não fixa o ponto em Paris. De cidade em cidade, joga-se na estrada, em aventuras constantes e vivências que, com o passar dos anos, costumam embotar e restringir suas lembranças.
– Tenho viajado pelo mundo, procurando por novos sons. Interesso-me por coisas que eu nunca escutei antes – explica. – Estou há mais de um ano sem casa, com as mesmas mochilas cheias de computadores, câmeras, microfones e algumas roupas. É uma experiência incrível poder experimentar o mundo dessa forma. Fazer filmes é apenas um pretexto para encontrar pessoas e dividir com elas um momento. Eu aprendo tanto vivendo na estrada! Por mais que isso soe banal, é a verdade. Eu construo a minha personalidade como uma tentativa de escape de quem eu sou. Então, todos os dias eu me forço a explorar novas sensações, filmar em novas situações. O único problema é que desse jeito a minha memória se desenvolve de um jeito muito parcial. Acho que é por isso que eu não paro de filmar... Filmo para recordar. É o principal motivo.
Alguns clássicos do Take Away Shows
Arcade Fire, 2007:
Yeasayer, 2008:
Fleet Foxes:
E muito mais aqui:
http://www.vincentmoon.com
http://vimeo.com/temporaryareas
http://www.blogotheque.net/-Concerts-a-emporter-?lang=en
http://www.temporaryareas.com
http://fiumenights.com
– Eu trabalhava em algumas ideias bem lo-fi, procurando filmar de um jeito que eu não via por aí, buscando transmitir uma intimidade autêntica com os músicos – conta Moon, durante uma rápida parada em Paris, recém chegado de uma viagem à África. – Assisti ao primeiro show que o Arcade Fire fez na França. Eles terminaram a apresentação tocando no meio da rua, e aí tive a ideia de filmar música ao vivo, mas fora do palco.
Numa época em que supreproduções à Lady Gaga não param de estender sua dominação em massa, valendo-se do poder interativo proporcionado pela internet – primordialmente do YouTube, ferramenta concebida, originalmente, para estimular a produção de vídeos independentes, caseiros e particulares – Moon atira para um caminho oposto. Aposta num retorno da experiência musical à essência. Desnuda os artistas aos quais mira sua câmera, retirando-os de seu contexto habitual, ou seja, os palcos das casas de shows.
Alterando o formato de suas canções, Moon registra takes acústicos ao ar livre. Pode ser em meio ao trânsito caótico de uma grande cidade, ou num vagão lotado de metrô. Pode ser na sala de estar da casa de um amigo, numa praça pública, num parque ou outro descampado qualquer. Tanto faz: o que interessa é encontrar um ambiente inusitado, inexplorado e sujeito a oferecer surpresas e riscos que seriam vetados por qualquer grande produção ou equipe de marketing de uma grande gravadora. Valendo-se da portabilidade da tecnologia digital, resgata o que há de essencial e mais cru no ato de se entoar uma canção: a vontade de encantar o outro.
– Uso minha câmera para expandir os limites criativos desses artistas – enfatiza. – Voltar ao básico. Alguém que pega uma guitarra para tentar tocar uma música. Tentar! Acho que a minha experiência como fotógrafo, de sair pelas ruas sozinho, à noite, tirando fotos sem permissão, influenciou bastante a forma como direciono a câmera.
Pesquisador insaciável
De lá para cá, tanto o La Blogothèque como Vincent Moon tornaram-se referência instantânea entre os caçadores de música alternativa, indie ou experimental. Apaixonados em descobrir novos e desconhecidos nomes, Moon é um pesquisador insaciável, que se deixa levar pelo fascínio do desconhecido, o que está escondido no underground e nos subterrâneos. Isso pode parecer estranho a quem acesse o seu site e veja circular vídeos de nomes já estabelecidos, como Wilco, Mogwai, Grizzly Bear, Animal Collective, Phoenix, Yeasayer e Arcade Fire – para quem produziu um documentário, cujo corte final lhe desagradou e o afastou da banda. Mas um olhar atento às datas mostra que Moon captou as imagens antes ou no começo da explosão desses artistas. O documentário dirigido para o Arcade Fire, Miroir noir, é, ao mesmo tempo, um dos melhores momentos de suas peregrinações e uma de suas maiores frustrações.
– O filme saiu, mas não a minha versão, porque houve um problema terrível no meio do processo. O empresário deles me ameaçou uma porção de vezes. Quis me demitir sem pagar por nada do que eu havia feito. Acabou saindo um filme muito estúpido, e eu me neguei a ser creditado por aquilo. Eu tenho aprendido muito trabalhando com essas grandes bandas, e vendo como eles colocam suas decisões mais importantes na mão de pessoas inescrupulosas.
A qualidade da fotografia e da direção do Moon, porém, não deixou de despertar a atenção de nomes fortes do mainstream – caso do R.E.M., que cresceu com os dois pés fincados na música alternativa, e requisitou o jovem diretor para captar as imagens de clipes e documentários.
– Eu não me interesso por filmes sobre música 99% do meu tempo, assim como também não me interesso por filmes em geral, com a exceção de uma coisa ou outra. Acredito que o sucesso desse projeto aconteceu porque o fizemos num momento em que as pessoas precisam se reconectar com a ideia de intimidade, com o intimismo. Precisamos de uma mudança radical.
“Como permanecer pequeno?”
Assim como para muitas das bandas alternativas retratadas no La Blogothèque, o maior desafio encarado por Vincent Moon é evoluir, ampliar seu poder de influência, mas sem perder a integridade. No seu caso, isso significa o caráter artesanal de seus takes, o frescor e a intimidade de suas abordagens. Uma carga autoral que se apoia na quebra de dois preceitos: o distanciamento e o jogo de poder e dominação travado entre quem filma e quem é enquadrado.
– O grande desafio para muita gente hoje em dia é justamente esse: “Como permanecer pequeno? Como eu posso refutar a ideia de ficar maior?” – acredita o diretor. – Eu não falo aqui em me negar a crescer. Eu quero que o meu trabalho cresça, mas que ele mantenha o processo tão nu e cru quanto é desde o início. Meus filmes foram feitos sem dinheiro algum. E até hoje eu não ganho grana com a maioria deles... Não me interessa ganhar.
Música e imagem
Defendendo sua tese de entrega à pessoalidade, à ideia de proximidade entre espectador e artista, Moon descarrega sua metralhadora teórico-instintiva contra o modelo de negócios das grandes gravadoras, assim como na qualidade e no formato dos vídeoclipes produzidos atualmente. Confessa que já foi fã dos trabalhos de Gondry, Cunningham e Jonze, mas apenas porque “era fascinado pelos truques de câmera”. Influenciado por fotógrafos como Michael Ackerman e Antoine D'Agata, e filmes como Step across the border, de Werner Penzel e Nicolas Humbert, Moon se aferra à tentativa de construir um diálogo equilibrado entre peças de mesmo peso: música e imagem.
– Hoje em dia não suporto assistir a nada disso. Eu realmente não entendo porque as pessoas ainda fazem vídeos tradicionais – critica. – Sim, eu sei que faz parte de um antigo modelo de venda de música, mas me sinto completamente distante desse mundo. A sociedade não precisa de vídeos como esses, não mesmo. Eu não assisto a esses filmes, como não vejo os meus. Eu não entendo porque ainda queremos fazer mais imagens. Acho que atingimos a saturação. Mas ninguém nota, e à medida que fazemos mais imagens, em primeiro lugar, não criamos imagem alguma, e, em segundo, devastamos nossa cultura espiritual. Penso em parar todos os dias, mas o processo é tão bonito que eu continuo.
Em paralelo às filmagens de bandas alternativas para o Take Away Shows, Moon realiza série musicais retratando cenas e manifestações culturais espalhadas por diversas cidades e países do globo. Recentemente, circulou pela Tanzânia, Nova Zelândia, Japão, Chile e Buenos Aires, mas em seu site oficial (www.vincentmoon.com) e em seu blog pessoal (http://fiumenights.com) constam séries, experimentos e documentários que não são veiculados no Take Away Shows. Andarilho, não fixa o ponto em Paris. De cidade em cidade, joga-se na estrada, em aventuras constantes e vivências que, com o passar dos anos, costumam embotar e restringir suas lembranças.
– Tenho viajado pelo mundo, procurando por novos sons. Interesso-me por coisas que eu nunca escutei antes – explica. – Estou há mais de um ano sem casa, com as mesmas mochilas cheias de computadores, câmeras, microfones e algumas roupas. É uma experiência incrível poder experimentar o mundo dessa forma. Fazer filmes é apenas um pretexto para encontrar pessoas e dividir com elas um momento. Eu aprendo tanto vivendo na estrada! Por mais que isso soe banal, é a verdade. Eu construo a minha personalidade como uma tentativa de escape de quem eu sou. Então, todos os dias eu me forço a explorar novas sensações, filmar em novas situações. O único problema é que desse jeito a minha memória se desenvolve de um jeito muito parcial. Acho que é por isso que eu não paro de filmar... Filmo para recordar. É o principal motivo.
Alguns clássicos do Take Away Shows
Arcade Fire, 2007:
Yeasayer, 2008:
Fleet Foxes:
E muito mais aqui:
http://www.vincentmoon.com
http://vimeo.com/temporaryareas
http://www.blogotheque.net/-Concerts-a-emporter-?lang=en
http://www.temporaryareas.com
http://fiumenights.com
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Hole, Placebo, Goldfrapp, N*Grandjean e Julieta Venegas
Hole - Skinny little bitch:
Hole - Nobody’s daughter:
Ao anunciar Nobody’s daughter como o seu melhor trabalho, Courtney Love não só esquece a melhor parte de sua não muito extensa e significativa obra como compositora, como mente de forma deslavada – bem do seu feitio. O novo disco espelha uma caricatura canhestra da sonoridade cunhada nos anos 90. Os vocais gritados rangem fortes como antes, mas ventilam banalidades por melodias pouco inspiradas, algumas delas criadas em parceria com Billy Corgan, que também não atravessa a melhor de suas fases. Aí em cima ela ainda dá conta do recado, mesmo cercada por uma banda bem mais ou menos.
Placebo e Pixies - Where is my mind:
Placebo - Covers:
Lançado em 2003 como um álbum bônus, Covers joga luz em versões que prestam tributo a clássicos dos Pixies, The Smiths, Serge Gainsbourg, Depeche Mode, entre outras referências musicais do trio. Lançadas como singles ou lados-b, e gravadas em sessões espaçadas por anos, as peças aparentemente desconexas revelam os apelos melódicos que guiam a carga autoral da banda. Destaque para Where is my mind, gravada ao vivo – e uma das maiores canções dos anos 90.
Goldfrapp - Alive:
Goldfrapp - Head first:
Catapultado após o lançamento de Supernature (2005), o Goldfrapp conduz um revival da sonoridade pop oitentista neste quinto álbum. Orientado para as pistas de danças, apoia-se na diversidade de texturas conduzidas pelos sintetizadores de Will Gregory para criar faixas de apelo instantâneo, que bebem de referências como Roxy Music e ABBA. Mais urgentes que nunca, navegam por letras e arranjos que beiram a fantasia.
N*Grandjean - Heroes and saints:
N*Grandjean - Carrying stars:
Alinhado entre o folk, o pop e o indie rock, o dinamarquês Nikolaj Grandjean passeia pelo terreno cruzado por nomes como Damien Rice, tanto musicalmente como por sua figuração em trilhas globais. Adornadas por arranjos minimalistas, que valorizam sua voz suave, as melodias arredondadas do autor se encadeiam em bom fluxo, fazendo de Carrying stars uma surpresa agradável, apesar de certa previsibilidade.
Julieta Venegas - Otra cosa:
Guiada por arranjos de feições eminentemente acústicas, tratados com piano, cordas e violões, assim como outras em que guitarras e beats eletrônicos dialogam, a mexicana Julieta Venegas assina um trabalho bem amarrado conceitualmente, mas que patina em algumas melodias insossas. Salvo exceções, como Revolución, carece de uma carga autoral mais pungente. Dona de boa voz, é pena que passeie por terrenos sonoros tão seguros. Ouça Revolución aqui: http://www.youtube.com/watch?v=y3S9HryMlAI
Hole - Nobody’s daughter:
Ao anunciar Nobody’s daughter como o seu melhor trabalho, Courtney Love não só esquece a melhor parte de sua não muito extensa e significativa obra como compositora, como mente de forma deslavada – bem do seu feitio. O novo disco espelha uma caricatura canhestra da sonoridade cunhada nos anos 90. Os vocais gritados rangem fortes como antes, mas ventilam banalidades por melodias pouco inspiradas, algumas delas criadas em parceria com Billy Corgan, que também não atravessa a melhor de suas fases. Aí em cima ela ainda dá conta do recado, mesmo cercada por uma banda bem mais ou menos.
Placebo e Pixies - Where is my mind:
Placebo - Covers:
Lançado em 2003 como um álbum bônus, Covers joga luz em versões que prestam tributo a clássicos dos Pixies, The Smiths, Serge Gainsbourg, Depeche Mode, entre outras referências musicais do trio. Lançadas como singles ou lados-b, e gravadas em sessões espaçadas por anos, as peças aparentemente desconexas revelam os apelos melódicos que guiam a carga autoral da banda. Destaque para Where is my mind, gravada ao vivo – e uma das maiores canções dos anos 90.
Goldfrapp - Alive:
Goldfrapp - Head first:
Catapultado após o lançamento de Supernature (2005), o Goldfrapp conduz um revival da sonoridade pop oitentista neste quinto álbum. Orientado para as pistas de danças, apoia-se na diversidade de texturas conduzidas pelos sintetizadores de Will Gregory para criar faixas de apelo instantâneo, que bebem de referências como Roxy Music e ABBA. Mais urgentes que nunca, navegam por letras e arranjos que beiram a fantasia.
N*Grandjean - Heroes and saints:
N*Grandjean - Carrying stars:
Alinhado entre o folk, o pop e o indie rock, o dinamarquês Nikolaj Grandjean passeia pelo terreno cruzado por nomes como Damien Rice, tanto musicalmente como por sua figuração em trilhas globais. Adornadas por arranjos minimalistas, que valorizam sua voz suave, as melodias arredondadas do autor se encadeiam em bom fluxo, fazendo de Carrying stars uma surpresa agradável, apesar de certa previsibilidade.
Julieta Venegas - Otra cosa:
Guiada por arranjos de feições eminentemente acústicas, tratados com piano, cordas e violões, assim como outras em que guitarras e beats eletrônicos dialogam, a mexicana Julieta Venegas assina um trabalho bem amarrado conceitualmente, mas que patina em algumas melodias insossas. Salvo exceções, como Revolución, carece de uma carga autoral mais pungente. Dona de boa voz, é pena que passeie por terrenos sonoros tão seguros. Ouça Revolución aqui: http://www.youtube.com/watch?v=y3S9HryMlAI
Stone Temple Pilots - Dever de casa feito, nada mais...
A mais versátil e camaleônica das bandas surgidas no rastro da explosão grunge – na Seattle dos anos 90 – volta à cena com um trabalho que não supera nenhum de seus cinco álbuns precedentes. Apesar da ressalva, Between the lines não deixa de reservar boas surpresas: os vocais granulados de Scott Weiland soam mais à frente na mixagem – um pouco menos comprimidos e escondidos por trás das guitarras distorcidas de Dean De Leo – enquanto seus versos navegam por esferas mais amplas que as temáticas referentes à luta contra o vício das drogas, suas conturbadas relações amorosas com modelos sanguessugas, sua família desestruturada e à onipresente carga autodestrutiva cravada em todas as suas criações.
Inspirado por Bob Dylan e Leonard Cohen, arrisca-se em contar histórias e não apenas baseadas em suas obsessões, seu narcisismo exacerbado, confessional e autorreferente. Se a intenção é boa, algumas das faixas carecem justamente do apelo visceral, tripas abertas, inconsequente e alucinado que consagrou seu estilo dentro e fora dos palcos. Afastado do STP desde 2003, Weiland passou os últimos anos à frente do Velvet Revolver, por onde gravou dois álbuns – o ótimo Contraband o mediano Libertad. Este último, escrito sob a carga pesada da morte do irmão, por overdose, fez com que Weiland se deixasse levar novamente pela espiral decadente do consumo de drogas. Expulso da banda por Slash e Duff Mckagan, gravou seu segundo disco solo, “Happy” in Galoshes até que uma ação movida pela Warner o lembrou de que devia à gravadora um novo disco com sua banda original.
Novamente ao lado de Eric Kratz (bateria), e os irmãos Robert e Dean De Leo – responsáveis por baixo e guitarra, além de todas as composições – reuniu-se apenas virtualmente com os antigos parceiros para registrar estas 12 novas faixas. Gravadas em estúdios separados – Weiland escreveu letras e criou suas linhas melódicas sozinho – as novas canções navegam por estilos diversos, mas em nenhum momento a variedade de gêneros e dinâmicas responde por criações ousadas, imersões psicodélicas e certeiras no universo mais pop, o que sempre emprestou ao grupo um colorido e um frescor que nenhuma das bandas grunge alcançou.
Between the lines flerta com o country, com o folk, com o rock britânico e, sim, com o pop radiofônico, mas sempre impregnado por riffs distorcidos, baixos pulsantes e baterias secas, sem grandes concessões.Configura-se um STP essencialmente rock, mais linear, menos esquizofrênico e, talvez por isso, mais careta e cansativo.
Musicalmente, propõe um retorno às raízes, mas não apenas àquelas que sintetizaram o grunge como a junção da urgência punk e o peso do metal. Riffs à Led Zeppelin, dinâmicas melódicas e vocais que remetem ao Aerosmith, entre outras referências sugerem um mergulho no hard rock que invadiu os EUA nos anos 70. Apesar da inevitável tintura Beatles em alguns trechos, o quarteto deixa de lado um de seus maiores trunfos: a sensibilidade aguçada de Weiland para criar baladas e refrões açucarados, como os assinalados em clássicos como Sour girl, Lady picture show, Creep e Plush. Do balaio, o destaque fica por conta da faixa-título, a entorpecida e inflamável Between the lines.
Veja Between the lines ao vivo:
E mais aqui: http://www.myspace.com/stonetemplepilots
Inspirado por Bob Dylan e Leonard Cohen, arrisca-se em contar histórias e não apenas baseadas em suas obsessões, seu narcisismo exacerbado, confessional e autorreferente. Se a intenção é boa, algumas das faixas carecem justamente do apelo visceral, tripas abertas, inconsequente e alucinado que consagrou seu estilo dentro e fora dos palcos. Afastado do STP desde 2003, Weiland passou os últimos anos à frente do Velvet Revolver, por onde gravou dois álbuns – o ótimo Contraband o mediano Libertad. Este último, escrito sob a carga pesada da morte do irmão, por overdose, fez com que Weiland se deixasse levar novamente pela espiral decadente do consumo de drogas. Expulso da banda por Slash e Duff Mckagan, gravou seu segundo disco solo, “Happy” in Galoshes até que uma ação movida pela Warner o lembrou de que devia à gravadora um novo disco com sua banda original.
Novamente ao lado de Eric Kratz (bateria), e os irmãos Robert e Dean De Leo – responsáveis por baixo e guitarra, além de todas as composições – reuniu-se apenas virtualmente com os antigos parceiros para registrar estas 12 novas faixas. Gravadas em estúdios separados – Weiland escreveu letras e criou suas linhas melódicas sozinho – as novas canções navegam por estilos diversos, mas em nenhum momento a variedade de gêneros e dinâmicas responde por criações ousadas, imersões psicodélicas e certeiras no universo mais pop, o que sempre emprestou ao grupo um colorido e um frescor que nenhuma das bandas grunge alcançou.
Between the lines flerta com o country, com o folk, com o rock britânico e, sim, com o pop radiofônico, mas sempre impregnado por riffs distorcidos, baixos pulsantes e baterias secas, sem grandes concessões.Configura-se um STP essencialmente rock, mais linear, menos esquizofrênico e, talvez por isso, mais careta e cansativo.
Musicalmente, propõe um retorno às raízes, mas não apenas àquelas que sintetizaram o grunge como a junção da urgência punk e o peso do metal. Riffs à Led Zeppelin, dinâmicas melódicas e vocais que remetem ao Aerosmith, entre outras referências sugerem um mergulho no hard rock que invadiu os EUA nos anos 70. Apesar da inevitável tintura Beatles em alguns trechos, o quarteto deixa de lado um de seus maiores trunfos: a sensibilidade aguçada de Weiland para criar baladas e refrões açucarados, como os assinalados em clássicos como Sour girl, Lady picture show, Creep e Plush. Do balaio, o destaque fica por conta da faixa-título, a entorpecida e inflamável Between the lines.
Veja Between the lines ao vivo:
E mais aqui: http://www.myspace.com/stonetemplepilots
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Ben Harper & Relentless7 - Deslubrado com a potência do rock, deixa de lado a sutileza do soul
Nem sempre as mudanças estéticas concebidas por um artista agradam aos fãs. O que geralmente ocorre quando a ruptura com o padrão sonoro estabelecido passa a navegar em frequências e gêneros tão distantes quanto, por exemplo, o funk carioca está da tradição musical nipônica. O caso de Ben Harper não espelha a hipótese. Guitarrista fincado nas raízes do blues e cantor atrelado aos maneirismos vocais dos soulmen, Harper criou um repertório cuja tinta roqueira esteve sempre ao redor, mas nunca em primeiro plano. Isso até que o músico prestasse atenção à fita demo entregue por um guitarrista texano chamado Jason Mozersky alguns anos atrás. Impressionado, Harper se juntou a Mozersky e seus companheiros de banda, o baixista Jesse Ingalls e o baterista Jordan Richardson para formar o Relentless7, power trio que o acompanhou no álbum White lies for dark times (2009) e que lança as bases musicais deste DVD gravado ao vivo no Montreal International Jazz Festival. A direção afunilada ao rock, porém, não responde pelo melhor momento de sua carreira.
O registro peca pela excessiva carga de distorção e agudos arremessados pela guitarra de Mozersky. A estridência, fluidez precária e a pouca criatividade de seus solos fartam os tímpanos em poucos minutos. Harper, que impulsiona sua steel guitar apoiada sobre o colo com maestria, chega a lançar olhares para o parceiro de palco quando este exagera, mas, logo depois, volta a fazer graça, mostrando ao público que o arsenal de notas escandalosas expulsas pelo guitarrista faz parte de sua nova fase. O trio que cerca Harper abusa da força e carece de sutileza, respeito à evolução de dinâmicas, ou, numa palavra, feeling.
O baterista Jordan Richardson espanca seu kit como se não houvesse amanhã. Impressiona pela agilidade, apesar dos quilos a mais ostentados. Mas também a ele falta algo de essencial. O baixista Jesse Ingalls oscila entre lampejos de brilhantismo e outros em que suas linhas de baixo parecem desconectadas da levada rítmica. A análise dos músicos que o rodeiam é inevitável. Desde 1997, Harper era acompanhando por um combo de dar inveja. Formado por Oliver Charles (bateria), Leon Mobley (percussão), Michael Ward (guitarra), Jason Yates (teclado) e o “monstro” Juan Nelson (baixo), sua ex-banda de apoio, The Innocent Criminals era responsável pelo baile ou banho de musicalidade negra oferecido nas apresentações ao vivo do músico.
Harper, que esteve no Brasil por três vezes, fez da sua última apresentação no Citibank Hall uma aula de sensibilidade e um tributo às mais diversas vertentes da música black. Neste registro em Montreal deixa claro o quanto a restrição a um repertório calcado no blues rock reduz o seu potencial criativo e o magnetismo de sua performance. O DVD se concentra no único álbum lançado com o Relentless7 e ignora todos os hits acumulados ao de oito discos lançados, como With my own two hands, Diamonds on the inside e Waiting for you.
Em 2006, Harper havia lançado o surpreendente Both sides of the gun, álbum duplo focado num repertório soul e rock, como num cruzamento entre Otis Redding e Rolling Stones da era Beggars banquet. O álbum seguinte, Lifeline, evidenciava certo desgaste em sua linhagem musical. Era preciso renovar. A tentativa com o Relentless7 originou um álbum de sonoridade genérica. E desemboca agora numa apresentação quente, mas que não se iguala a outros registros ao vivo do músico. Mais do que sua magnificência instrumental ou versatilidade captada dentro do estúdio, a música do americano sempre foi melhor apreendida ao vivo. Não à toa, este é o quarto registro do tipo. A expressividade corporal, as sutilezas da interpretação e seu carisma sempre saltaram aos olhos frente à plateia, mas são justamente estas qualidades que faltam neste lançamento.
Live from Montreal - Why Must You Always Dress in Black / Red House
E mais aqui:
http://www.myspace.com/benharper
http://www.youtube.com/user/benharper
O registro peca pela excessiva carga de distorção e agudos arremessados pela guitarra de Mozersky. A estridência, fluidez precária e a pouca criatividade de seus solos fartam os tímpanos em poucos minutos. Harper, que impulsiona sua steel guitar apoiada sobre o colo com maestria, chega a lançar olhares para o parceiro de palco quando este exagera, mas, logo depois, volta a fazer graça, mostrando ao público que o arsenal de notas escandalosas expulsas pelo guitarrista faz parte de sua nova fase. O trio que cerca Harper abusa da força e carece de sutileza, respeito à evolução de dinâmicas, ou, numa palavra, feeling.
O baterista Jordan Richardson espanca seu kit como se não houvesse amanhã. Impressiona pela agilidade, apesar dos quilos a mais ostentados. Mas também a ele falta algo de essencial. O baixista Jesse Ingalls oscila entre lampejos de brilhantismo e outros em que suas linhas de baixo parecem desconectadas da levada rítmica. A análise dos músicos que o rodeiam é inevitável. Desde 1997, Harper era acompanhando por um combo de dar inveja. Formado por Oliver Charles (bateria), Leon Mobley (percussão), Michael Ward (guitarra), Jason Yates (teclado) e o “monstro” Juan Nelson (baixo), sua ex-banda de apoio, The Innocent Criminals era responsável pelo baile ou banho de musicalidade negra oferecido nas apresentações ao vivo do músico.
Harper, que esteve no Brasil por três vezes, fez da sua última apresentação no Citibank Hall uma aula de sensibilidade e um tributo às mais diversas vertentes da música black. Neste registro em Montreal deixa claro o quanto a restrição a um repertório calcado no blues rock reduz o seu potencial criativo e o magnetismo de sua performance. O DVD se concentra no único álbum lançado com o Relentless7 e ignora todos os hits acumulados ao de oito discos lançados, como With my own two hands, Diamonds on the inside e Waiting for you.
Em 2006, Harper havia lançado o surpreendente Both sides of the gun, álbum duplo focado num repertório soul e rock, como num cruzamento entre Otis Redding e Rolling Stones da era Beggars banquet. O álbum seguinte, Lifeline, evidenciava certo desgaste em sua linhagem musical. Era preciso renovar. A tentativa com o Relentless7 originou um álbum de sonoridade genérica. E desemboca agora numa apresentação quente, mas que não se iguala a outros registros ao vivo do músico. Mais do que sua magnificência instrumental ou versatilidade captada dentro do estúdio, a música do americano sempre foi melhor apreendida ao vivo. Não à toa, este é o quarto registro do tipo. A expressividade corporal, as sutilezas da interpretação e seu carisma sempre saltaram aos olhos frente à plateia, mas são justamente estas qualidades que faltam neste lançamento.
Live from Montreal - Why Must You Always Dress in Black / Red House
E mais aqui:
http://www.myspace.com/benharper
http://www.youtube.com/user/benharper
terça-feira, 18 de maio de 2010
Rodrigo Maranhão - Passageiro entre o mar e a mata
Dizem que é bicho do mato, que se isola na toca para tocar e curtir o silêncio. E nada disso é muito distante da realidade. Longe do caos urbano, Rodrigo Maranhão mora com a mulher e seus dois filhos numa casa isolada, no bairro do Itanhangá, e faz da quietude florestal que cerca o lugar o adorno maior de suas canções. Entre a força do mar e a exuberância das matas, o cantor e compositor passeia com desenvoltura pelo manancial da música popular brasileira. Não à toa, seu novo trabalho leva o título de Passageiro: “Abro novos caminhos e possibilidades e me sinto um passageiro mesmo, como todos nós”, compara o músico. Nascido e criado entre o caos de Copacabana (“no meio daquela malandragem da Sá Ferreira”) e a calmaria da serra (“todo ano eu passava uns quatro meses por lá”), Maranhão parece ter optado pela serenidade como estilo de vida e pela quietude como concepção artística ideal.
– Moro aqui na roça, saio pouco de casa e alimento essa lenda de que moro na floresta, o que não é mentira – diverte-se o compositor, lançado por vozes femininas como as de Maria Rita, Zélia Duncan e Roberta Sá. – Minha casa é cercada por árvores, fico ouvindo o canto dos passarinhos, tranquilo. Saí da Zona Sul e fiz uma casa no terreno que era do meu avô. Acho que tudo isso interfere na criação, porque me considero uma espécie de cronista, mesmo que seja meio psicodélico ou um cronista da alma... Falo do que eu vivo. E estou curtindo muito estar em casa, os meus filhos, viver da forma mais simples possível.
É o que leva a crer canções como Valsa lisérgica e os versos de Camaleão: “posso dominar o mundo, eu não” e “eu só que o meu lugar, aqui”. Após o lançamento de Bordado (2007) – celebrada estreia solo, carregada de tintura ocre e sonoridade agreste – ele agora cruza marés e se permite navegar por correntes diversas. Descobre fontes, nascentes e desemboca numa musicalidade que presta tributo – mesmo que inconscientemente – a mestres como Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, João Gilberto, Tom Jobim, entre outros.
– É uma bênção ser músico no Brasil e partir de um nível tão evoluído. As influências de Gonzaga, Caymmi, Tom, entre vários outros estão entranhadas – constata o fundador do grupo Bangalafumenga. – Eu percebo essas marcas depois que as canções ficam prontas. Fiz Camaleão e quando terminei vi que Caetano poderia ter feito. Samba quadrado tem a cara do Chico, Samba pra vadiar é o Caymmi carioca, assim como Um samba pra ela é Velha Guarda da Portela. Mas é claro que eles fariam muito melhor.
Mesmo sem data definida para o show de lançamento no Rio, Maranhão já planeja viagem ao exterior. Neto de português, sonha voltar ao país. E não é à toa a participação do fadista António Zambujo em Quase um fado. Depois de conhecer as canções do músico quando percorria de carro a estrada que liga Lisboa ao Porto, Maranhão encontrou-se com Zambujo após um show numa de suas três estadas na terrinha.
– Carrego uma carga lusitana muito forte. Desde pequeno ouvia as histórias do meu avô, que sempre se emocionava ao falar de Portugal, sobre as travessias marítimas... – recorda. – Ficava imaginando visitar o país com ele um dia, o que infelizmente não foi possível. Então, foi um presente duplo ter conseguido apresentar o meu disco lá e depois ter conhecido o Zambujo. Fomos jantar na casa de uns amigos, tomamos vinho e numa hora eu peguei o violão, comecei a mostrar umas canções, e acho que ele gostou. Acabou gravando duas, e o convidei para participar do meu disco.
Em Passageiro não há atropelo de notas, choque de instrumentos ou acidentes de trânsito. Tudo segue um fluxo próprio sem interferir no caminho alheio. Mas isso não impede que se diga que o maior trunfo do álbum é justamente a conversa entre os instrumentos. Em torno das 12 faixas, cada um deles parece aguardar a vez para sentar-se ao redor do violão dedilhado por Maranhão. O instrumento define a base das sinuosas assinaturas do músico.
– Às vezes você abre uma música com mais de 30 instrumentos e não consegue ouvir nada. Quando você coloca uns quatro para conversar e eles se entendem bem, é o ideal.
A conversa entre os instrumentos é fundamental nesse disco. Combinando sofisticação e crueza, Maranhão cerca-se da percussividade ancestral da música afro-brasileira assim como pelos sofisticados arranjos de cordas desenhados por Leandro Braga. De sonoridade cristalina, Passageiro facilita a absorção de cada contorno melódico. Minimalista, Maranhão atua como um artesão cuja matéria-prima é a mais básica possível.
– Acredito na filosofia de que menos é mais em muitos momentos da música. Tudo parte do violão, e quem consegue falar com ele entra na história. Ao optar por arranjos enxutos, valoriza o talento de instrumentistas que “são realmente um dream team”, elogia.
O orgulho responde pela percussão de Marcos Suzano, Marçal e Pretinho da Serrinha, pelos sopros de Zé da Velha, Andrea Ernest Dias e Zé Nogueira (produtor do álbum), as cordas arranjadas por Leandro Braga, além de outros craques como Marcelo Caldi, Ricardo Silveira e Siba.
– Depois que um cara como o Marçal coloca a percussão você tem pouca coisa a acrescentar – enaltece Maranhão. – Toco violão, cavaquinho e percussão, são instrumentos muito íntimos e que já haviam aparecido em primeiro plano em Bordado. Quando me propus a trabalhar com o Zé Nogueira me abri às novidades que ele trouxe. Queria oxigenar, porque o primeiro é centrado no meu universo, atrelado ao Bangalafumenga. Quis separar as coisas. Na música você não precisa ter essa fidelidade, e eu queria trabalhar com alguns dos meus ídolos.
Samba pra vadiar:
Rodrigo Maranhão - Samba pra vadiar by luizfelipereis
– Moro aqui na roça, saio pouco de casa e alimento essa lenda de que moro na floresta, o que não é mentira – diverte-se o compositor, lançado por vozes femininas como as de Maria Rita, Zélia Duncan e Roberta Sá. – Minha casa é cercada por árvores, fico ouvindo o canto dos passarinhos, tranquilo. Saí da Zona Sul e fiz uma casa no terreno que era do meu avô. Acho que tudo isso interfere na criação, porque me considero uma espécie de cronista, mesmo que seja meio psicodélico ou um cronista da alma... Falo do que eu vivo. E estou curtindo muito estar em casa, os meus filhos, viver da forma mais simples possível.
É o que leva a crer canções como Valsa lisérgica e os versos de Camaleão: “posso dominar o mundo, eu não” e “eu só que o meu lugar, aqui”. Após o lançamento de Bordado (2007) – celebrada estreia solo, carregada de tintura ocre e sonoridade agreste – ele agora cruza marés e se permite navegar por correntes diversas. Descobre fontes, nascentes e desemboca numa musicalidade que presta tributo – mesmo que inconscientemente – a mestres como Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, João Gilberto, Tom Jobim, entre outros.
– É uma bênção ser músico no Brasil e partir de um nível tão evoluído. As influências de Gonzaga, Caymmi, Tom, entre vários outros estão entranhadas – constata o fundador do grupo Bangalafumenga. – Eu percebo essas marcas depois que as canções ficam prontas. Fiz Camaleão e quando terminei vi que Caetano poderia ter feito. Samba quadrado tem a cara do Chico, Samba pra vadiar é o Caymmi carioca, assim como Um samba pra ela é Velha Guarda da Portela. Mas é claro que eles fariam muito melhor.
Mesmo sem data definida para o show de lançamento no Rio, Maranhão já planeja viagem ao exterior. Neto de português, sonha voltar ao país. E não é à toa a participação do fadista António Zambujo em Quase um fado. Depois de conhecer as canções do músico quando percorria de carro a estrada que liga Lisboa ao Porto, Maranhão encontrou-se com Zambujo após um show numa de suas três estadas na terrinha.
– Carrego uma carga lusitana muito forte. Desde pequeno ouvia as histórias do meu avô, que sempre se emocionava ao falar de Portugal, sobre as travessias marítimas... – recorda. – Ficava imaginando visitar o país com ele um dia, o que infelizmente não foi possível. Então, foi um presente duplo ter conseguido apresentar o meu disco lá e depois ter conhecido o Zambujo. Fomos jantar na casa de uns amigos, tomamos vinho e numa hora eu peguei o violão, comecei a mostrar umas canções, e acho que ele gostou. Acabou gravando duas, e o convidei para participar do meu disco.
Em Passageiro não há atropelo de notas, choque de instrumentos ou acidentes de trânsito. Tudo segue um fluxo próprio sem interferir no caminho alheio. Mas isso não impede que se diga que o maior trunfo do álbum é justamente a conversa entre os instrumentos. Em torno das 12 faixas, cada um deles parece aguardar a vez para sentar-se ao redor do violão dedilhado por Maranhão. O instrumento define a base das sinuosas assinaturas do músico.
– Às vezes você abre uma música com mais de 30 instrumentos e não consegue ouvir nada. Quando você coloca uns quatro para conversar e eles se entendem bem, é o ideal.
A conversa entre os instrumentos é fundamental nesse disco. Combinando sofisticação e crueza, Maranhão cerca-se da percussividade ancestral da música afro-brasileira assim como pelos sofisticados arranjos de cordas desenhados por Leandro Braga. De sonoridade cristalina, Passageiro facilita a absorção de cada contorno melódico. Minimalista, Maranhão atua como um artesão cuja matéria-prima é a mais básica possível.
– Acredito na filosofia de que menos é mais em muitos momentos da música. Tudo parte do violão, e quem consegue falar com ele entra na história. Ao optar por arranjos enxutos, valoriza o talento de instrumentistas que “são realmente um dream team”, elogia.
O orgulho responde pela percussão de Marcos Suzano, Marçal e Pretinho da Serrinha, pelos sopros de Zé da Velha, Andrea Ernest Dias e Zé Nogueira (produtor do álbum), as cordas arranjadas por Leandro Braga, além de outros craques como Marcelo Caldi, Ricardo Silveira e Siba.
– Depois que um cara como o Marçal coloca a percussão você tem pouca coisa a acrescentar – enaltece Maranhão. – Toco violão, cavaquinho e percussão, são instrumentos muito íntimos e que já haviam aparecido em primeiro plano em Bordado. Quando me propus a trabalhar com o Zé Nogueira me abri às novidades que ele trouxe. Queria oxigenar, porque o primeiro é centrado no meu universo, atrelado ao Bangalafumenga. Quis separar as coisas. Na música você não precisa ter essa fidelidade, e eu queria trabalhar com alguns dos meus ídolos.
Samba pra vadiar:
Rodrigo Maranhão - Samba pra vadiar by luizfelipereis
sábado, 8 de maio de 2010
Lissie empresta fôlego renovado à música folk, country e gospel
Empunhando uma inseparável Fender Telecaster como escudo, aos 26 anos Elizabeth Maurus mergulha fundo nas raízes musicais da América e volta à tona para emprestar fôlego renovado à música folk, country e gospel. Melodista aguçada, e dona de timbre ao mesmo tempo áspero e cristalino, extrai peças harmônicas que já fazem a cabeça de gente graúda do mercado fonográfico assim como de músicos destacados do cenário alternativo americano. De apelo pop instantâneo, mas nada superficial em seus versos, leva uma vida tranquila na fazenda de Ojai, no interior da Califórnia. E é de lá que acaba de soltar o EP Why you running e se prepara para lançar em junho seu álbum de estreia, Catching a tiger (Sony), coproduzido por Jacquire King (Kings of Leon) e pelo líder da Band of Horses, Bill Reynolds.
– Gosto das coisas simples da vida. Acabei de voltar de bicicleta do mercado dos fazendeiros aqui perto... Comprei um monte de frutas e verduras. Estou tentando ser saudável essa semana e me afastar dos cheeseburguers. As coisas voltam a ficar malucas daqui a poucos dias. Tenho que aproveitar – brinca a cantora, que embarca no dia 14 para uma turnê europeia. – O disco está saindo e estou vivendo essa espera. Me preparando, promovendo e começando a fazer os primeiros shows. Então, quando não estou ocupada, aproveito para descansar, ficar em casa, cozinhar, sentar no gramado sob o sol...
Nascida em Rock Island, Illinois, às margens do caudaloso Mississipi, Lissie parece ter sido teletransportada de uma comunidade hippie californiana dos anos 60. Dona de longos e desgrenhados cabelos louros, que emolduram sua pele sardenta, se veste com roupas puídas e desbotadas de uma típica colegial do interior. O ar de timidez e certa ingenuidade protege um diamante em fase de lapidação. Movida por ícones folk como Johnny Cash, Stevie Nicks & Chrissie Hynde e comparada a nomes como Cat Power, Feist e Sheryl Crow, não dá muita importância às tentativas de definir seu estilo. Diz que, como muitos adolescentes da sua geração, cresceu “escutando gangsta rap e uma porção de outras coisas” que igualmente serviram como influência.
– Cresci ouvindo musicais, os standards, folk, blues e rock classic, mas sempre mudando, abrindo espaço para outras coisas. Ano passado mergulhei nos discos de Bobbie Gentry e Fleetwood Mac – conta.
A consciência aberta e atenta a diversas vertentes da música pop se revela no canal de YouTube da moça. Lá, se destacam versões brilhantes para canções de Lady Gaga (Bad romance) e Metallica (Nothing else matters), ícones do pop e do metal um tanto quanto afastados do arquétipo bluesy que molda suas canções. De fato, a versatilidade é um dos grandes trunfos da artista, mas foi justamente por sua multifacetada personalidade que ela teve de mergulhar fundo até encontrar o tratamento estilístico adequado às suas canções.
– Passei algum tempo tentando descobrir um caminho para este trabalho solo, fazer com que ele tivesse um estilo. Depois que montei a minha banda no ano passado tudo ficou mais claro – explica a cantora. – Toquei sozinha em bares e na noite por muito tempo e queria que o disco tivesse mais força ao mesmo tempo que fosse versátil. Tive muita sorte de poder contar com músicos incríveis e de ter autonomia para dizer o que eu gostava ou não.
Tintas confessionais Gravado entre Holywood, Nashville, Carolina do Norte e algumas sessões caseiras em Ojai, Catching a tiger mescla canções embaladas por arranjos orgânicos, captadas nas primeiras gravações comandadas por Bill Reynolds, assim como faixas mais condicionadas aos padrões radiofônicos, assinadas por Jacquire. A liberdade em poder trabalhar com dois produtores é destacada pela cantora.
– Acho que o Bill vai se tornar em pouco tempo um daqueles produtores lendários, que ficam marcados na história – aposta Lissie. – Tive sorte em poder contar com músicos incríveis e de ter Jacquire por perto. Ele é um super profissional. Confiei totalmente nele nele para encontrar o que eu precisava, mesmo sem saber muito bem como controlar e planejar as coisas dentro do estúdio. Apenas entrava lá e torcia pelo melhor.
Construído como uma tentativa de se recuperar de um relacionamento amoroso frustrado e em meio a angústia de descobrir seu lugar no mundo, o disco apresenta uma compositora confessional, de veias quentes e abertas para o amor e conflitos internos que rangem a alma.
– Estava tentando me recuperar... Componho instintivamente, apenas quando eu sinto que devo. Já tentei escrever e me guiar por determinados assuntos, mas entendi que as minhas melhores letras surgem quando estou realmente sentindo.
Bad Romance (Lady Gaga):
When I'm alone:
– Gosto das coisas simples da vida. Acabei de voltar de bicicleta do mercado dos fazendeiros aqui perto... Comprei um monte de frutas e verduras. Estou tentando ser saudável essa semana e me afastar dos cheeseburguers. As coisas voltam a ficar malucas daqui a poucos dias. Tenho que aproveitar – brinca a cantora, que embarca no dia 14 para uma turnê europeia. – O disco está saindo e estou vivendo essa espera. Me preparando, promovendo e começando a fazer os primeiros shows. Então, quando não estou ocupada, aproveito para descansar, ficar em casa, cozinhar, sentar no gramado sob o sol...
Nascida em Rock Island, Illinois, às margens do caudaloso Mississipi, Lissie parece ter sido teletransportada de uma comunidade hippie californiana dos anos 60. Dona de longos e desgrenhados cabelos louros, que emolduram sua pele sardenta, se veste com roupas puídas e desbotadas de uma típica colegial do interior. O ar de timidez e certa ingenuidade protege um diamante em fase de lapidação. Movida por ícones folk como Johnny Cash, Stevie Nicks & Chrissie Hynde e comparada a nomes como Cat Power, Feist e Sheryl Crow, não dá muita importância às tentativas de definir seu estilo. Diz que, como muitos adolescentes da sua geração, cresceu “escutando gangsta rap e uma porção de outras coisas” que igualmente serviram como influência.
– Cresci ouvindo musicais, os standards, folk, blues e rock classic, mas sempre mudando, abrindo espaço para outras coisas. Ano passado mergulhei nos discos de Bobbie Gentry e Fleetwood Mac – conta.
A consciência aberta e atenta a diversas vertentes da música pop se revela no canal de YouTube da moça. Lá, se destacam versões brilhantes para canções de Lady Gaga (Bad romance) e Metallica (Nothing else matters), ícones do pop e do metal um tanto quanto afastados do arquétipo bluesy que molda suas canções. De fato, a versatilidade é um dos grandes trunfos da artista, mas foi justamente por sua multifacetada personalidade que ela teve de mergulhar fundo até encontrar o tratamento estilístico adequado às suas canções.
– Passei algum tempo tentando descobrir um caminho para este trabalho solo, fazer com que ele tivesse um estilo. Depois que montei a minha banda no ano passado tudo ficou mais claro – explica a cantora. – Toquei sozinha em bares e na noite por muito tempo e queria que o disco tivesse mais força ao mesmo tempo que fosse versátil. Tive muita sorte de poder contar com músicos incríveis e de ter autonomia para dizer o que eu gostava ou não.
Tintas confessionais Gravado entre Holywood, Nashville, Carolina do Norte e algumas sessões caseiras em Ojai, Catching a tiger mescla canções embaladas por arranjos orgânicos, captadas nas primeiras gravações comandadas por Bill Reynolds, assim como faixas mais condicionadas aos padrões radiofônicos, assinadas por Jacquire. A liberdade em poder trabalhar com dois produtores é destacada pela cantora.
– Acho que o Bill vai se tornar em pouco tempo um daqueles produtores lendários, que ficam marcados na história – aposta Lissie. – Tive sorte em poder contar com músicos incríveis e de ter Jacquire por perto. Ele é um super profissional. Confiei totalmente nele nele para encontrar o que eu precisava, mesmo sem saber muito bem como controlar e planejar as coisas dentro do estúdio. Apenas entrava lá e torcia pelo melhor.
Construído como uma tentativa de se recuperar de um relacionamento amoroso frustrado e em meio a angústia de descobrir seu lugar no mundo, o disco apresenta uma compositora confessional, de veias quentes e abertas para o amor e conflitos internos que rangem a alma.
– Estava tentando me recuperar... Componho instintivamente, apenas quando eu sinto que devo. Já tentei escrever e me guiar por determinados assuntos, mas entendi que as minhas melhores letras surgem quando estou realmente sentindo.
Bad Romance (Lady Gaga):
When I'm alone:
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Usher - Talento moldado sobre clichês
Aos 32 anos, Usher Raymond IV é apontado como o mais bem-sucedido artista do r&b americano dos anos 2000. Pelo menos é o que dizem os números – o bastião referencial a guiar a cultura pop contemporânea. Com mais de 50 milhões de discos vendidos e cinco estatuetas Grammy na bancada de casa, esse americano de Dallas, Texas, se apóia em quatro elementos básicos para atingir os quatro cantos do planeta em larga escala: sexo, amor, trapaças e drama – sempre envolvendo mulheres, é claro. E é assim que ele segue em seu sétimo lançamento, Raymond vs. Raymond: revisando clichês e disparando rumo ao topo. É o terceiro trabalho consecutivo a aportar no primeiro lugar das paradas da Billboard.
Mas seria a compreensão arguta e a utilização despudorada deste quarteto fantástico de tópicos que o diferencia dos demais representantes da música popular americana? Talvez. Usher não tem a voz, a dança, a beleza, o carisma, o comportamento e as ideias ousadas ou impactantes de ícones da sua geração, como Jay-Z, Kanye West, Justin Timberlake, Beyoncé, Alicia Keys e Black Eyed Peas. Mas não é por isso que ele deixa de ser absoluto quando o quesito em questão é o que importa para a debilitada indústria fonográfica: vendas. E se, definitivamente, não é um artista que se destaca pela proeza de um talento específico, é um expert em absorver referências e age como um potente catalisador.
E é por esse caminho que se verifica que, artisticamente, este novo álbum oferece muito pouco ao ouvinte. Usher escreve, acompanhado de uma penca de produtores, compositores, hitmakers e tastemakers – todos com o devido crédito no encarte – mais uma leva de canções que soam como um apanhado genérico do que se produziu na música pop americana nos últimos anos. Sua preocupação em enfileirar hits com beats certeiros para pistas e melodias chiclete para as rádios o impossibilita de criar, e o condiciona a função de emulador; um retransmissor de padrões estéticos e sonoros testados ad nauseam por marketeiros, empresários e produtores do showbiz americano. De braços trançados com o mercado e de olhos e ouvidos atentos, Usher conta com a participação de gente como Will.I.Am, Ludacris, T.I. e a revelação Nicki Minaj para esta saga mercadológica.
Ao lado do líder do Black Eyed Peas, entoa OMG, o maior hit do novo trabalho. Entre arranjos vocais que imitam os coros de torcida de futebol, palmas e batidas pesadas, versa sobre seu tema principal, as mulheres: “Eu me apaixonei por ela quando eu a vi na pista de dança... Nunca uma dama havia me acertado à primeira vista. Foi algo especial, foi como uma dinamite”. Já com o auxílio de Ludacris, Usher não entende porque a musa de seus sonhos mantém certa distância e frieza: “Ela não sabe que está me fazendo desejá-la?”, indaga. E mais à frente dispara: “Ela sabe o que eu sei, mas ela mantém sua boca fechada. Ela é muito sexual, e sabe disso. Ela não sabe que está me matando por dentro por eu desejar o seu corpo”.
Dividido entre faixas para dançar – a (boa) primeira metade do disco – e outras para chorar – da segunda metade em diante – trata-se de um desafio cansativo manter-se atento ao longo de 58 minutos de um jogo desesperado por aceitação estimulado por clichês milimetricamente estudados.
OMG:
Mas seria a compreensão arguta e a utilização despudorada deste quarteto fantástico de tópicos que o diferencia dos demais representantes da música popular americana? Talvez. Usher não tem a voz, a dança, a beleza, o carisma, o comportamento e as ideias ousadas ou impactantes de ícones da sua geração, como Jay-Z, Kanye West, Justin Timberlake, Beyoncé, Alicia Keys e Black Eyed Peas. Mas não é por isso que ele deixa de ser absoluto quando o quesito em questão é o que importa para a debilitada indústria fonográfica: vendas. E se, definitivamente, não é um artista que se destaca pela proeza de um talento específico, é um expert em absorver referências e age como um potente catalisador.
E é por esse caminho que se verifica que, artisticamente, este novo álbum oferece muito pouco ao ouvinte. Usher escreve, acompanhado de uma penca de produtores, compositores, hitmakers e tastemakers – todos com o devido crédito no encarte – mais uma leva de canções que soam como um apanhado genérico do que se produziu na música pop americana nos últimos anos. Sua preocupação em enfileirar hits com beats certeiros para pistas e melodias chiclete para as rádios o impossibilita de criar, e o condiciona a função de emulador; um retransmissor de padrões estéticos e sonoros testados ad nauseam por marketeiros, empresários e produtores do showbiz americano. De braços trançados com o mercado e de olhos e ouvidos atentos, Usher conta com a participação de gente como Will.I.Am, Ludacris, T.I. e a revelação Nicki Minaj para esta saga mercadológica.
Ao lado do líder do Black Eyed Peas, entoa OMG, o maior hit do novo trabalho. Entre arranjos vocais que imitam os coros de torcida de futebol, palmas e batidas pesadas, versa sobre seu tema principal, as mulheres: “Eu me apaixonei por ela quando eu a vi na pista de dança... Nunca uma dama havia me acertado à primeira vista. Foi algo especial, foi como uma dinamite”. Já com o auxílio de Ludacris, Usher não entende porque a musa de seus sonhos mantém certa distância e frieza: “Ela não sabe que está me fazendo desejá-la?”, indaga. E mais à frente dispara: “Ela sabe o que eu sei, mas ela mantém sua boca fechada. Ela é muito sexual, e sabe disso. Ela não sabe que está me matando por dentro por eu desejar o seu corpo”.
Dividido entre faixas para dançar – a (boa) primeira metade do disco – e outras para chorar – da segunda metade em diante – trata-se de um desafio cansativo manter-se atento ao longo de 58 minutos de um jogo desesperado por aceitação estimulado por clichês milimetricamente estudados.
OMG:
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Chapel Club - Tons soturnos: rock noir
– Foi como o George Clooney em Onze homens e um segredo... Mike nos juntou e decidiu que deveríamos fazer alguma coisa, talvez montar uma banda – lembra o vocalista do Chapel Club Lewis Boman.
Até o fim de 2008, Michael Hibbert (guitarra), Liam Arklie (baixo), Alex Parry (guitarra), Rich Mitchell (bateria) e Boman (voz) eram apenas amigos que se encontravam eventualmente nos mesmos bares e festas londrinas, até que as inevitáveis afinidades musicais construíram o elo que levou o poeta, escritor de contos e agora vocalista a se aventurar em sua primeira investida musical. Boman nunca havia tido um banda, escrito canções e muito menos testado seus dotes em cima do palco. Primeiro passo: perder o medo da plateia. Segundo: rumar ao topo até o fim de 2010.
– Lembro que Mike tocou algumas linhas de guitarra e mergulhei naquelas ideias, porque realmente soavam especiais. Começamos a ensaiar num porão minúsculo em Londres – recorda. – No primeiro ano nos focamos em escrever canções e aprendendo a tocar juntos, como uma banda. Tive que aprender a cantar na frente das pessoas pela primeira vez. Então, realmente é uma surpresa que os nossos primeiros shows tenham chamado tanta atenção. É um pouco ridículo até... Lembro que achava tudo muito estranho, mas é engraçado encontrar formas diferentes para se fazer uma mesma coisa. Hoje eu acho até interessante, porque realmente não sou um frontman tão óbvio.
Juntos desde ó começo de 2009, em poucos meses o quinteto passou a ser apontado pela imprensa como uma das mais promissoras do cenário inglês. A engrenagem audiovisual da rede BBC, o apelo instantâneo do semanário NME e a penetração massiva da revista independente The Fly incensaram o grupo até que a Universal se prontificou a apresentar um contrato. Confiante na potência da visceral O maybe I, primeiro single lançado pelo grupo, o Chapel Club inicia a primeira turnê como banda principal, percorrendo datas europeias até o fim de maio.
– Até agora gravamos apenas algumas canções e o nosso single, com o Claudius Mittendorfer, em Nova York. Começamos a trabalhar no álbum em março, e devemos lançá-lo até o fim do ano – planeja. – O que tenho certeza é que vai ser algo estrondoso, limpo e melódico... E espero que possa ser o mais diverso possível em intenções e efeitos.
Num balaio de mais de 20 faixas, os músicos pinçaram as 10 melhores para o repertório. Leitor voraz e ávido por poesias, Boman é o autor das letras sentimentais que versam sobre paixões, perdas, crescimento e fé.
– Boa parte das letras foi retirada de poemas meus. Alguns são muito antigos, outros bem recentes. Uns são absolutamente pessoais, enquanto outros mais universais – explica o compositor. – Eu não tive muito tempo nem chance de planejar ou definir os temas. Geralmente reajo em relação à música, tento expressar o que aquela sonoridade sugere. Parece que Deus continua editando as coisas por aí, apesar de eu não ser muito religioso... Pelo menos eu acho que não sou... Sei lá, está cada vez mais difícil julgar.
Nas canções disparadas no Myspace do grupo, a autodepreciação irônica e o humor negro tipicamente inglês se misturam a uma atmosfera melancólica e noir impulsionada pelas duas guitarras que comandam a banda. Ecoando uma mistura entre a sonoridade alternativa americana (Pixies e Sonic Youth) e o pop rock inglês dos anos 80 (The Smiths, Joy Division e New Order), o Chapel Club busca oferecer mais do que uma releitura do pós-punk, terreno atravessado com assiduidade por nomes como Interpol, The Editors e White Lies.
– Londres é completamente obcecada por modas e tendências, e assim que montamos a banda queríamos que a nossa música existisse de forma separada de toda essa celebração. Algo que pudesse realmente durar, que valesse à pena. Passamos um bom tempo nos sentindo absolutamente isolados do que acontece na cidade, pensando se alguém iria gostar de algumas das nossas músicas. Não tínhamos nenhuma certeza de que haveria algum espaço para nós. Acho que estamos abrindo aos poucos esse caminho.
Ouça aqui: http://www.myspace.com/chapelclub
Até o fim de 2008, Michael Hibbert (guitarra), Liam Arklie (baixo), Alex Parry (guitarra), Rich Mitchell (bateria) e Boman (voz) eram apenas amigos que se encontravam eventualmente nos mesmos bares e festas londrinas, até que as inevitáveis afinidades musicais construíram o elo que levou o poeta, escritor de contos e agora vocalista a se aventurar em sua primeira investida musical. Boman nunca havia tido um banda, escrito canções e muito menos testado seus dotes em cima do palco. Primeiro passo: perder o medo da plateia. Segundo: rumar ao topo até o fim de 2010.
– Lembro que Mike tocou algumas linhas de guitarra e mergulhei naquelas ideias, porque realmente soavam especiais. Começamos a ensaiar num porão minúsculo em Londres – recorda. – No primeiro ano nos focamos em escrever canções e aprendendo a tocar juntos, como uma banda. Tive que aprender a cantar na frente das pessoas pela primeira vez. Então, realmente é uma surpresa que os nossos primeiros shows tenham chamado tanta atenção. É um pouco ridículo até... Lembro que achava tudo muito estranho, mas é engraçado encontrar formas diferentes para se fazer uma mesma coisa. Hoje eu acho até interessante, porque realmente não sou um frontman tão óbvio.
Juntos desde ó começo de 2009, em poucos meses o quinteto passou a ser apontado pela imprensa como uma das mais promissoras do cenário inglês. A engrenagem audiovisual da rede BBC, o apelo instantâneo do semanário NME e a penetração massiva da revista independente The Fly incensaram o grupo até que a Universal se prontificou a apresentar um contrato. Confiante na potência da visceral O maybe I, primeiro single lançado pelo grupo, o Chapel Club inicia a primeira turnê como banda principal, percorrendo datas europeias até o fim de maio.
– Até agora gravamos apenas algumas canções e o nosso single, com o Claudius Mittendorfer, em Nova York. Começamos a trabalhar no álbum em março, e devemos lançá-lo até o fim do ano – planeja. – O que tenho certeza é que vai ser algo estrondoso, limpo e melódico... E espero que possa ser o mais diverso possível em intenções e efeitos.
Num balaio de mais de 20 faixas, os músicos pinçaram as 10 melhores para o repertório. Leitor voraz e ávido por poesias, Boman é o autor das letras sentimentais que versam sobre paixões, perdas, crescimento e fé.
– Boa parte das letras foi retirada de poemas meus. Alguns são muito antigos, outros bem recentes. Uns são absolutamente pessoais, enquanto outros mais universais – explica o compositor. – Eu não tive muito tempo nem chance de planejar ou definir os temas. Geralmente reajo em relação à música, tento expressar o que aquela sonoridade sugere. Parece que Deus continua editando as coisas por aí, apesar de eu não ser muito religioso... Pelo menos eu acho que não sou... Sei lá, está cada vez mais difícil julgar.
Nas canções disparadas no Myspace do grupo, a autodepreciação irônica e o humor negro tipicamente inglês se misturam a uma atmosfera melancólica e noir impulsionada pelas duas guitarras que comandam a banda. Ecoando uma mistura entre a sonoridade alternativa americana (Pixies e Sonic Youth) e o pop rock inglês dos anos 80 (The Smiths, Joy Division e New Order), o Chapel Club busca oferecer mais do que uma releitura do pós-punk, terreno atravessado com assiduidade por nomes como Interpol, The Editors e White Lies.
– Londres é completamente obcecada por modas e tendências, e assim que montamos a banda queríamos que a nossa música existisse de forma separada de toda essa celebração. Algo que pudesse realmente durar, que valesse à pena. Passamos um bom tempo nos sentindo absolutamente isolados do que acontece na cidade, pensando se alguém iria gostar de algumas das nossas músicas. Não tínhamos nenhuma certeza de que haveria algum espaço para nós. Acho que estamos abrindo aos poucos esse caminho.
Ouça aqui: http://www.myspace.com/chapelclub
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Nouvelle Vague - O disfarce bossa nova do punk
A fórmula é infalível: “Meninas bonitas cantando sensualmente um repertório em que não dá para colocar defeito, ainda mais com uma roupagem delicada, com arranjos doces e melódicos”, define Karina Zeviani. Aos 34 anos, ela não é nenhuma menina, mas é uma dessas mulheres bonitas que interpreta, em clima de bossa nova, os maiores clássicos do punk e do pós-punk com voz lasciva e sussurrante. Sobre o palco do Circo Voador, nesta sexta-feira, à frente do Nouvelle Vague, esta paulista de Jaboticabal não é bem a garota de Ipanema que o músico, produtor e idealizador do grupo francês Marc Collin imaginava: “Sou a primeira brasileira... E a ideia inicial era justamente ter brasileiras nos vocais”, explica a moça, que teve seu primeiro contato com Collin “há uns quatro anos, no camarim de um show que dividimos em Nova York”.
Anos após o primeiro contato e a promessa de colaboração oferecida por Collin, Karina aporta no terceiro álbum do grupo, NV3, e desde o ano passado assume um dos concorridos postos de vocalista de turnê – enquanto os álbuns são recheados com oito vozes femininas, o formato ao vivo conta com duas intérpretes. Antes de Karina, uma penca de meninas já desfilou à frente de Collin e seu fiel escudeiro Olivier Libaux; entre elas Camille e Melanie Pain, que fizeram de sua passagem uma plataforma de lançamento para álbuns solo. A ideia não é nada distante do que Karina planeja. Radicada em Nova York desde 2002, a ex-modelo vive dividida entre múltiplas conexões aéreas para dar conta de conciliar as agendas do Nouvelle e do Thievery Corporation, em que roda o mundo há cinco anos. Entre Paris, Nova York e São Francisco, “realmente não sei onde eu moro, tenho algumas bases...”, ela usa o ínfimo tempo livre para burilar os detalhes finais de seu primeiro voo solo, produzido por Collin.
– Outro dia me perguntaram se eu me incomodava em ser uma cantora de aluguel... Achei engraçado, porque para quem começou tocando para 100 pessoas no Nublu em Nova York poder cantar para 80 mil pessoas, como já aconteceu com o Thievery, e viajar o mundo todo com o Nouvelle é uma oportunidade gigante – conta Karina. – Antes eu engatinhava, tentava segurar o bambolê. Depois, fui jogada no mercado profissional, cresci como performer, ganhei confiança... São coisas que só acontecem depois que você encara grandes festivais. E é por isso que vou continuar com essas bandas até a hora em que for preciso. Quero conhecer pessoas, aumentar meu público e atrair atenção para o meu disco solo. Até porque daqui a pouco o repertório da Nouvelle acaba...
Produtor do álbum de Karina, Collin concorda que é preciso renovação na abordagem musical que serve como marca registrada do combo. Passados alguns anos desde a explosão mundial que catapultou o grupo como a banda “cover” mais interessante do globo, a bordo de hits como Love will tear us apart (Joy Division), God save the queen (Sex Pistols), Guns of Brixton (The Clash), The killing moon (Echo and the Bunnymen), Dancing with myself (Billy Idol), Heart of glass (Blondie), Too drunk to fuck (Dead Kennedys), entre outros, ele garante já ter formulado novos conceitos.
– É claro que quase tudo já foi dito ao longo desses três álbuns, então chega a hora da cobrança… Tenho que pensar numa ideia nova e forte o bastante. Mas isso às vezes pode levar um pouco de tempo – admite Collin. – Então, para evitar de lançar qualquer novo disco antes de essa ideia surgir, estamos preparando uma edição especial, em francês.
O novo trabalho segue formato similar, mas, em vez de mirar em pérolas punks inglesas e americanas, Collin se debruça sobre os ícones da new wave e do pop francês.
– Serão versões interpretadas por uma nova geração, como o Mika, Vanessa Paradis, Coralie Clement e uma porção de cantores muito interessantes – conta o produtor. – Mas são mudanças que sentimos desde que os dois álbuns foram lançados. Nesse último, por exemplo, evitamos a bossa nova e o reggae, que marcaram os anteriores. Tentamos algo mais intimista, folk, country, algo a ver com trilhas sonoras...
E foi baseado nas principais trilhas sonoras dos anos 80 que Collin arremessou no mercado, em 2008, a coletânea Hollywood mon amour, que recriava ícones do imaginário popular, como as faixas-tema de trilhas de longas como Rocky, Top Gun, Flashdance, entre outras. Como se vê, Collin não é apenas um profícuo arranjador, mas uma usina de ideias inusitadas. E é justamente a sua capacidade de se envolver em inúmeros projetos simultâneos que vem deixando Karina mais do que ansiosa.
– Estamos terminando o disco, não vejo a hora. Ele faz 15 coisas ao mesmo tempo. Começamos a trabalhar há três anos – diz a moça referindo-se ao debute, cantado em português, inglês e francês.
Inspirada em Tom Waits, Karina traz uma pegada creepy e cartoonish acompanhada por uma linguagem onírica e psicodélica (“Eu escrevo a partir dos meus sonhos”). Já Collin garante mais um sucesso na praça.
– Ela abriu um show nosso em 2005, e fiquei encantado com o seu talento e beleza. Mantivemos contato ao longo dos anos. Agora, o disco está quase pronto, e ficamos muito contentes com o resultado.
E mais aqui: http://www.myspace.com/nouvellevague
Anos após o primeiro contato e a promessa de colaboração oferecida por Collin, Karina aporta no terceiro álbum do grupo, NV3, e desde o ano passado assume um dos concorridos postos de vocalista de turnê – enquanto os álbuns são recheados com oito vozes femininas, o formato ao vivo conta com duas intérpretes. Antes de Karina, uma penca de meninas já desfilou à frente de Collin e seu fiel escudeiro Olivier Libaux; entre elas Camille e Melanie Pain, que fizeram de sua passagem uma plataforma de lançamento para álbuns solo. A ideia não é nada distante do que Karina planeja. Radicada em Nova York desde 2002, a ex-modelo vive dividida entre múltiplas conexões aéreas para dar conta de conciliar as agendas do Nouvelle e do Thievery Corporation, em que roda o mundo há cinco anos. Entre Paris, Nova York e São Francisco, “realmente não sei onde eu moro, tenho algumas bases...”, ela usa o ínfimo tempo livre para burilar os detalhes finais de seu primeiro voo solo, produzido por Collin.
– Outro dia me perguntaram se eu me incomodava em ser uma cantora de aluguel... Achei engraçado, porque para quem começou tocando para 100 pessoas no Nublu em Nova York poder cantar para 80 mil pessoas, como já aconteceu com o Thievery, e viajar o mundo todo com o Nouvelle é uma oportunidade gigante – conta Karina. – Antes eu engatinhava, tentava segurar o bambolê. Depois, fui jogada no mercado profissional, cresci como performer, ganhei confiança... São coisas que só acontecem depois que você encara grandes festivais. E é por isso que vou continuar com essas bandas até a hora em que for preciso. Quero conhecer pessoas, aumentar meu público e atrair atenção para o meu disco solo. Até porque daqui a pouco o repertório da Nouvelle acaba...
Produtor do álbum de Karina, Collin concorda que é preciso renovação na abordagem musical que serve como marca registrada do combo. Passados alguns anos desde a explosão mundial que catapultou o grupo como a banda “cover” mais interessante do globo, a bordo de hits como Love will tear us apart (Joy Division), God save the queen (Sex Pistols), Guns of Brixton (The Clash), The killing moon (Echo and the Bunnymen), Dancing with myself (Billy Idol), Heart of glass (Blondie), Too drunk to fuck (Dead Kennedys), entre outros, ele garante já ter formulado novos conceitos.
– É claro que quase tudo já foi dito ao longo desses três álbuns, então chega a hora da cobrança… Tenho que pensar numa ideia nova e forte o bastante. Mas isso às vezes pode levar um pouco de tempo – admite Collin. – Então, para evitar de lançar qualquer novo disco antes de essa ideia surgir, estamos preparando uma edição especial, em francês.
O novo trabalho segue formato similar, mas, em vez de mirar em pérolas punks inglesas e americanas, Collin se debruça sobre os ícones da new wave e do pop francês.
– Serão versões interpretadas por uma nova geração, como o Mika, Vanessa Paradis, Coralie Clement e uma porção de cantores muito interessantes – conta o produtor. – Mas são mudanças que sentimos desde que os dois álbuns foram lançados. Nesse último, por exemplo, evitamos a bossa nova e o reggae, que marcaram os anteriores. Tentamos algo mais intimista, folk, country, algo a ver com trilhas sonoras...
E foi baseado nas principais trilhas sonoras dos anos 80 que Collin arremessou no mercado, em 2008, a coletânea Hollywood mon amour, que recriava ícones do imaginário popular, como as faixas-tema de trilhas de longas como Rocky, Top Gun, Flashdance, entre outras. Como se vê, Collin não é apenas um profícuo arranjador, mas uma usina de ideias inusitadas. E é justamente a sua capacidade de se envolver em inúmeros projetos simultâneos que vem deixando Karina mais do que ansiosa.
– Estamos terminando o disco, não vejo a hora. Ele faz 15 coisas ao mesmo tempo. Começamos a trabalhar há três anos – diz a moça referindo-se ao debute, cantado em português, inglês e francês.
Inspirada em Tom Waits, Karina traz uma pegada creepy e cartoonish acompanhada por uma linguagem onírica e psicodélica (“Eu escrevo a partir dos meus sonhos”). Já Collin garante mais um sucesso na praça.
– Ela abriu um show nosso em 2005, e fiquei encantado com o seu talento e beleza. Mantivemos contato ao longo dos anos. Agora, o disco está quase pronto, e ficamos muito contentes com o resultado.
E mais aqui: http://www.myspace.com/nouvellevague
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Macy Gray - Redenção de uma diva pop
Natalie Renee McIntyre, 42 anos, está em busca de redenção. Incensada após o estouro do single I try, pinçado de seu multiplatinado álbum de estreia, On how life is (1999), a cantora americana mundialmente conhecida como Macy Gray viu sua carreira passar do ápice ao caos de uma hora para outra. Apontada como a sucessora de divas da disco music, Macy caiu em descrédito a partir do lançamento de seus álbuns seguintes, Id (2003) e o sugestivo The trouble of being myself (2005), recebido com frieza por fãs e crítica. Após a resposta morna para um esperado álbum de “retorno”, Big (2008), coproduzido por Will.I.am (Black Eyed Peas) e Justin Timberlake, Gray aposta todas as suas fichas em The sellout, álbum em que diz retornar ao básico, mesmo que isso seja trafegar por gêneros diversos numa produção em que dá liga a suas diversas facetas.
– Quando comecei a fazer esse disco o que eu mais senti era uma vontade de ter liberdade, não queria saber de escrever sobre um tema determinado, sobre amor ou qualquer coisa do tipo... A ideia toda era apenas me liberar totalmente. Um sentimento parecido ao que tive quando eu fiz o primeiro – revela a cantora, por telefone, ao Jornal do Brasil.
Antes de vender mais de 7 milhões de cópias e colocar na estante um Grammy de Melhor Cantora Pop pelo álbum de estreia, Macy Gray queria apenas ser compositora. E foi carregando algumas demos compostas em parceria com Joe Solo que ela se pôs à frente de um microfone para substituir uma cantora que deu cano no estúdio. Uma década depois, e após ter colaborado com os nomes mais importantes do pop mundial (Justin Timberlake, Common, Outkast, Rick Rubin, Carlos Santana, Erykah Badu, Fergie, Will.I.am, Mos Def, Natalie Cole e John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers), tudo o que Macy Gray queria era se afastar de um batalhão de especialistas em hits a espreitar seus passos dentro do estúdio. Cansada de parcerias estelares, se fechou com músicos de confiança para gravar um álbum mais orgânico, visceral e versátil, apesar de, vez ou outra, soar como algo já experimentado pela artista.
– Nos últimos dois trabalhos eu estava sob a Interscope, envolvida numa máquina gigante, sempre ouvindo muita gente, muitas opiniões chegando de todos os lados... – reconhece Macy. – Agora tenho a certeza de que é um projeto totalmente diferente. Passei mais de um ano fazendo o disco sem qualquer pressão ou influência externas e pude escolher as pessoas que iriam trabalhar comigo.
The sellout é resultado de quase dois anos de trabalho. Ao longo de 12 novas faixas, Gray empresta sua voz rasgada, cheia de nuances e cores para trilhas dançantes guiadas por ondulantes linhas de baixo, sintetizadores e beats verticais sob medida para noites de festa, caso de Lately. Mixado pelo papa-Grammy Manny Marroquin – autor de hits para Lady Gaga, Jay Z, Rihanna, Alicia Keys, Kanye West e John Mayer – o trabalho, apesar de menos inflado por parcerias, não deixa de ser recheado por um punhado de colaboradores, caso do rapper recém-libertado da cadeia T.I., Bobby Brown e Kaz James (The Bodyrockers), além do trio Slash, Duff McKagan e Matt Sorum (ex-Guns N' Roses e Velvet Revolver).
– Conheço Slash há muitos anos e sempre conversamos sobre a possibilidade de trabalharmos juntos. Quando eu estava começando a fazer esse disco, liguei para ele e fiz o convite. Aí os outros caras também se interessaram e gravamos juntos – conta Macy, em referência à faixa Kissed it, um dos destaques do álbum.
Apesar de soar confiante e recuperada dos abismos que a fizeram “perder a essência” em meio aos apelos do showbizz, Gray não soa muito distante do pop de feições radiofônicas, por vezes artificial na composição das linhas vocais e nos backs de apoio, que manteve como linha ao longo da carreira. O que sobressai são os arranjos burilados para algumas faixas, assim como a quantidade de possíveis hits. A contagiante Lately, conduzida por energéticos grooves é seguida pela parceria assinada com os roqueiros, Kissed it, marcada por densas linhas de baixo e bateria, palmas e os solos (em baixo volume) de Slash. É o melhor momento do álbum, que é puxado por um single menos inspirado, Beauty in the world.
– Noto algumas diferenças marcantes entre os discos. Acho que a minha voz está bem diferente. E o que eu realmente busquei foi construir uma sonoridade grandiosa, que pudesse causar impacto. Acho que antes desse disco eu estava muito confusa... – observa. – Fui criada escutando soul music o tempo todo. Stevie Wonder, os discos da Motown... Depois cresci e fui impactada pelo fenômeno da MTV, o hip hop se juntando ao rock. Entrei de cabeça naquilo. Depois aprendi muito de jazz e reggae. Sempre quis ser aberta. E acho que The sellout conta a história de como encontrei minha salvação sendo apenas eu mesma.
Beauty in the world:
* Realmente um erro eleger Beauty in the world como single. Letra banal, melodia previsível e performance vocal abaixo do potencial de Gray. Parece que o clipe acompanha a pobreza. Chama atenção a total falta de ginga e tino da moça em frente à câmara. E olha que ela tem no currículo participação em alguns longas. Desenvoltura lamentável nesse vídeo.
E mais aqui: http://www.myspace.com/macygray
– Quando comecei a fazer esse disco o que eu mais senti era uma vontade de ter liberdade, não queria saber de escrever sobre um tema determinado, sobre amor ou qualquer coisa do tipo... A ideia toda era apenas me liberar totalmente. Um sentimento parecido ao que tive quando eu fiz o primeiro – revela a cantora, por telefone, ao Jornal do Brasil.
Antes de vender mais de 7 milhões de cópias e colocar na estante um Grammy de Melhor Cantora Pop pelo álbum de estreia, Macy Gray queria apenas ser compositora. E foi carregando algumas demos compostas em parceria com Joe Solo que ela se pôs à frente de um microfone para substituir uma cantora que deu cano no estúdio. Uma década depois, e após ter colaborado com os nomes mais importantes do pop mundial (Justin Timberlake, Common, Outkast, Rick Rubin, Carlos Santana, Erykah Badu, Fergie, Will.I.am, Mos Def, Natalie Cole e John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers), tudo o que Macy Gray queria era se afastar de um batalhão de especialistas em hits a espreitar seus passos dentro do estúdio. Cansada de parcerias estelares, se fechou com músicos de confiança para gravar um álbum mais orgânico, visceral e versátil, apesar de, vez ou outra, soar como algo já experimentado pela artista.
– Nos últimos dois trabalhos eu estava sob a Interscope, envolvida numa máquina gigante, sempre ouvindo muita gente, muitas opiniões chegando de todos os lados... – reconhece Macy. – Agora tenho a certeza de que é um projeto totalmente diferente. Passei mais de um ano fazendo o disco sem qualquer pressão ou influência externas e pude escolher as pessoas que iriam trabalhar comigo.
The sellout é resultado de quase dois anos de trabalho. Ao longo de 12 novas faixas, Gray empresta sua voz rasgada, cheia de nuances e cores para trilhas dançantes guiadas por ondulantes linhas de baixo, sintetizadores e beats verticais sob medida para noites de festa, caso de Lately. Mixado pelo papa-Grammy Manny Marroquin – autor de hits para Lady Gaga, Jay Z, Rihanna, Alicia Keys, Kanye West e John Mayer – o trabalho, apesar de menos inflado por parcerias, não deixa de ser recheado por um punhado de colaboradores, caso do rapper recém-libertado da cadeia T.I., Bobby Brown e Kaz James (The Bodyrockers), além do trio Slash, Duff McKagan e Matt Sorum (ex-Guns N' Roses e Velvet Revolver).
– Conheço Slash há muitos anos e sempre conversamos sobre a possibilidade de trabalharmos juntos. Quando eu estava começando a fazer esse disco, liguei para ele e fiz o convite. Aí os outros caras também se interessaram e gravamos juntos – conta Macy, em referência à faixa Kissed it, um dos destaques do álbum.
Apesar de soar confiante e recuperada dos abismos que a fizeram “perder a essência” em meio aos apelos do showbizz, Gray não soa muito distante do pop de feições radiofônicas, por vezes artificial na composição das linhas vocais e nos backs de apoio, que manteve como linha ao longo da carreira. O que sobressai são os arranjos burilados para algumas faixas, assim como a quantidade de possíveis hits. A contagiante Lately, conduzida por energéticos grooves é seguida pela parceria assinada com os roqueiros, Kissed it, marcada por densas linhas de baixo e bateria, palmas e os solos (em baixo volume) de Slash. É o melhor momento do álbum, que é puxado por um single menos inspirado, Beauty in the world.
– Noto algumas diferenças marcantes entre os discos. Acho que a minha voz está bem diferente. E o que eu realmente busquei foi construir uma sonoridade grandiosa, que pudesse causar impacto. Acho que antes desse disco eu estava muito confusa... – observa. – Fui criada escutando soul music o tempo todo. Stevie Wonder, os discos da Motown... Depois cresci e fui impactada pelo fenômeno da MTV, o hip hop se juntando ao rock. Entrei de cabeça naquilo. Depois aprendi muito de jazz e reggae. Sempre quis ser aberta. E acho que The sellout conta a história de como encontrei minha salvação sendo apenas eu mesma.
Beauty in the world:
* Realmente um erro eleger Beauty in the world como single. Letra banal, melodia previsível e performance vocal abaixo do potencial de Gray. Parece que o clipe acompanha a pobreza. Chama atenção a total falta de ginga e tino da moça em frente à câmara. E olha que ela tem no currículo participação em alguns longas. Desenvoltura lamentável nesse vídeo.
E mais aqui: http://www.myspace.com/macygray
terça-feira, 27 de abril de 2010
Keane - Viagens de uma locomotiva pop
O instrumental à Gotham City que introduz Night train, numa embalagem sonora de clima caótico, soturno e industrial, anuncia a chegada de um álbum sofisticado, pretensioso e, até certo ponto, megalômano. Depois que Hopes and fears (2004) e Under the iron sea (2006) se incrustarem nas paradas mainstream a bordo de baladas pegajosas ao piano, o trio inglês tencionou mudanças estéticas para o álbum seguinte, Perfect simmetry (2008), que contava com guitarras e uma carga excessiva de sintetizadores. Dois anos depois, o novo EP amplia ainda mais os horizontes perscrutados pelo grupo. Com arranjos de cordas, metais, guitarras e sintetizadores conduzindo boa parte das canções, o álbum segue a linha dançante do anterior, mas indica uma guinada assertiva em direção ao mais (im)puro pop.
Em Night train, o apelo para pistas ganha força, a intervenção de instrumentos diversos tem dosagem em boa medida e o talento para cravar melodias instigantes ao primeiro sopro reverbera intacto por cada contorno harmônico. É o que se percebe em faixas como Back in time, entre outras. Exalando desprendimento, urgência em quebrar estigmas e ânsia por novas viagens sonoras, as oito faixas inéditas foram escritas ao longo da última turnê mundial realizada pelo grupo. A sensação de movimento é o que fica na dica deixada pelo título, escolhido não apenas porque o trem era o transporte favorito da banda na tal turnê, mas porque de faixa a faixa o trio parece aterrissar numa nova atmosfera sonora.
Se o passeio pelo brit pop, pelo dance e o flerte com a eletrônica sempre deram o tom, o Keane agora vai além, em faixas que contam, por exemplo, com a participação do rapper somalicanadense K’naan, caso do épico single Stop for a minute e Looking back. A participação da “MC de baile funk” japonea Tigarah para Ishin denshin (You’ve got to help yourself) garante um clima ainda mais multifacetado ao trabalho. A faixa, na verdade um cover do Yellow Magic Orchestra, exemplifica a geografia musical desterritorializada que a banda aposta como caminho: “Trabalhei em cima da ideia original no avião, Richard gravou a bateria em Londres, Tom fez os vocais em Copenhagen, Tigarah registrou os dela em LA e finalizamos a música no ônibus da turnê”, diz o tecladista, baixista e principal compositor da banda Tim Rice-Oxley. A faixa é seguida por Your love, cuja linha melódica entoada por RiceOxley remete imediatamente ao terreno sonoro traçado pelo The Killers. A comparação com o quinteto americano não é de hoje. Se Perfect simmetry afastava o trio das baladas ao piano que os conduziam até então, o último lançamento colocou os ingleses na mesma sintonia dançante que os músicos de Las Vegas.
Mais que um punhado de hits, Night train revela uma pungente necessidade de avanço. E se a banda realmente se deixa levar por estações desconhecidas o resultado dá a impressão de que nem sempre linhas e vagões se conectam ou levam o ouvinte a um destino musical certeiro. Como uma locomotiva solta, o trio opta por uma viagem sem roteiro ou destinos traçados. Ao jogar com o imprevisível, surpreendem positivamente ao mesmo tempo em que, vez por outra, deixam o trem escapar dos trilhos.
Stop for a minute feat. K'naan
Em Night train, o apelo para pistas ganha força, a intervenção de instrumentos diversos tem dosagem em boa medida e o talento para cravar melodias instigantes ao primeiro sopro reverbera intacto por cada contorno harmônico. É o que se percebe em faixas como Back in time, entre outras. Exalando desprendimento, urgência em quebrar estigmas e ânsia por novas viagens sonoras, as oito faixas inéditas foram escritas ao longo da última turnê mundial realizada pelo grupo. A sensação de movimento é o que fica na dica deixada pelo título, escolhido não apenas porque o trem era o transporte favorito da banda na tal turnê, mas porque de faixa a faixa o trio parece aterrissar numa nova atmosfera sonora.
Se o passeio pelo brit pop, pelo dance e o flerte com a eletrônica sempre deram o tom, o Keane agora vai além, em faixas que contam, por exemplo, com a participação do rapper somalicanadense K’naan, caso do épico single Stop for a minute e Looking back. A participação da “MC de baile funk” japonea Tigarah para Ishin denshin (You’ve got to help yourself) garante um clima ainda mais multifacetado ao trabalho. A faixa, na verdade um cover do Yellow Magic Orchestra, exemplifica a geografia musical desterritorializada que a banda aposta como caminho: “Trabalhei em cima da ideia original no avião, Richard gravou a bateria em Londres, Tom fez os vocais em Copenhagen, Tigarah registrou os dela em LA e finalizamos a música no ônibus da turnê”, diz o tecladista, baixista e principal compositor da banda Tim Rice-Oxley. A faixa é seguida por Your love, cuja linha melódica entoada por RiceOxley remete imediatamente ao terreno sonoro traçado pelo The Killers. A comparação com o quinteto americano não é de hoje. Se Perfect simmetry afastava o trio das baladas ao piano que os conduziam até então, o último lançamento colocou os ingleses na mesma sintonia dançante que os músicos de Las Vegas.
Mais que um punhado de hits, Night train revela uma pungente necessidade de avanço. E se a banda realmente se deixa levar por estações desconhecidas o resultado dá a impressão de que nem sempre linhas e vagões se conectam ou levam o ouvinte a um destino musical certeiro. Como uma locomotiva solta, o trio opta por uma viagem sem roteiro ou destinos traçados. Ao jogar com o imprevisível, surpreendem positivamente ao mesmo tempo em que, vez por outra, deixam o trem escapar dos trilhos.
Stop for a minute feat. K'naan
K'naan - Troubadour
K'naan - ABCs
Em seu segundo CD, Troubadour, o rapper mezzosomali mezzo canadense aposta numa produção acelerada e urgente, que se afasta dos batidões óbvios para colorir versos de métricas originais. Adornado por metais, elementos percussivos e camadas de sintetizadores, K’naan conta com a participação de Kirk Hammett (Metallica), Mos Def, Damian Marley, entre outros para misturar rap, funk, soul e rock num álbum de impacto, mas um pouco desgastante.
Em seu segundo CD, Troubadour, o rapper mezzosomali mezzo canadense aposta numa produção acelerada e urgente, que se afasta dos batidões óbvios para colorir versos de métricas originais. Adornado por metais, elementos percussivos e camadas de sintetizadores, K’naan conta com a participação de Kirk Hammett (Metallica), Mos Def, Damian Marley, entre outros para misturar rap, funk, soul e rock num álbum de impacto, mas um pouco desgastante.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Theophilus London - A charmosa arte das mixtapes
O sujeito acima mastigando um biscoito e usando óculos de grau não pode ser considerado um rapper comum. De fato, Theophilus London foge ao comportamento, à tradição e à estética visual e sonora associada aos guetos mais populosos e pobres de Nova York. Longe da persona gangsta e machista que corrompe o rap americano, London é um dos pioneiros de uma nova cena de eletro pop e rap urbano. Assim como Kid Cudi, faz parte de uma geração de jovens negros criada, apesar do preconceito, com melhores condições, longe dos becos e mais integrada ao centro; no caso de London, pelo menos, ao epicentro criativo do cenário musical americano, o Brooklyn.
Incensado pelo universo da moda, London não ostenta cordões, brincos, piercings entre outros adereços de prata, ouro e diamante. Quando não está sob jaquetas de couro, surge em combinações coloridas, de blazer, camisa pólo, calças sociais e seu indefectível boné de aba reta. Veste-se como um integrante de banda indie da Inglaterra. E talvez por isso seja natural que entre um beat e outro surjam ecos melancólicos do pós-punk britânico nos arranjos de suas canções. A contextualização social e estética acima, no entanto, serve apenas como tentativa de entender um pouco do universo por trás do cara que arremessou nas esquinas virtuais as mixtapes mais criativas e comentadas – por gente como Mark Ronson e Marc Ecko – dos últimos tempos, Jam! (2008) e This charming mixtape (2009). Sim, London ganhou respeito, ou credibilidade de rua, justamente pela expertise em fazer daquela coleção casual de músicas prediletas um trabalho autoral. E é sob a expectativa do lançamento de sua nova fornada, I want you, que ele fala ao RP.
– Acredito que as mixtapes são muito mais do que um amontoado com as minhas canções preferidas. Acho que elas podem contar ou narrar histórias pessoais, e foi isso que me estimulou quando comecei a gravá-las.
Desde que Jam! e This charming mixtape ganharam a web, London coleciona admiradores na mesma proporção em que embaralha as referências e associações musicais dos ouvintes e críticos. Ao mesmo tempo em que metralha versos inteligentes, e não apenas espertinhos, conta com mais um diferencial, entoa alguns de seus melodiosos refrãos. Guiadas por dançantes linhas de baixo, as faixas de suas mixtapes destilam poesia urbana e contemporânea por entre batidas cruas, camadas de sintetizadores e samplers de ícones do soul, do r&b, jazz e do pós-punk – não é à toa que The Smiths, Ian Curtis e David Byrne são listadas como influências ao lado de medalhões como Michael Jackson, Marvin Gaye e Quincy Jones.
– Eu me enxergo como uma mistura. É claro que faço rap, mas tenho trabalhado bastante a minha voz, a minha forma de cantar e fazer melodias – explica London. – Acho que tenho que estar preparado para dar conta. Na frente do microfone tenho que ser o cara que pode dominar a situação. Sinto que preciso ter o controle do palco e da plateia, e quero exercitar cada vez mais esse poder de liberdade.
Se nos dois últimos trabalhos o rapper se aproveitou de trechos de peças de nomes como Kraftwerk, Amadou & Mariam, Whitney Houston, entre outros, em I want you (2010), mixtape que ele lança no dia 28, London conta com colaboradores de peso, como o produtor Mark Ronson e o cantor Sam Sparro, com quem forma o grupo Chauffeur, além do inglês Dev Hynes (Lightspeed Champion), para canções próprias, alguns covers e remix de gente como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Missy Elliott, Vampire Weekend e a nova sensação indie The XX.
– Acho que neste trabalho estou fazendo mais rap e cantando mais também. Trabalhei bastante nisso – diz. – Dentro do estúdio foi realmente uma experiência marcante poder conhecer e criar com o Mark Ronson. Ele é o cara, trabalhou com o Gorillaz e fez uma porção de coisas interessantes. Queria ver como ele atuava, o que ele fazia no estúdio, e acho que o resultado ficou especial.
Apesar da vasta gama de referências, as primeiras faixas que vazam na rede apontam um caminho menos acelerado. London está mais cool e relaxado, sua música mais soul que rap e seu espírito com mais alma que pompa.
– Falo sobre as minhas emoções... Sobre os acontecimentos bons e ruins que me levam a responder. Passei por alguns momentos difíceis, onde estive mais fraco, alguns relacionamentos frustrados... Mas eu sei que posso criar a partir desse terreno.
A influência que a obra de Gaye tem lhe causado nos últimos tempos dá o tom.
– Passei muito tempo trabalhando nessas faixas e só agora começo a observar quais são as influências mais marcantes. Marvin Gaye está muito presente no que eu faço. Acho que criei um conjunto mais melancólico e reflexivo do que os trabalhos anteriores – constata London. – Eu tenho assuntos rodando na minha cabeça o tempo todo, e acho que posso realmente fazer as pessoas pensarem sobre certos temas. Então continuo produzindo, inventando, conhecendo pessoas e realizando parcerias.
Se 2009 foi um ano de turnês ininterruptas, 2010 insurge com mais intensidade e expectativa. Incensado por publicações como The Fader, NME e até pelo New York Times, London tem agenda cheia até o fim de maio e um futuro mais que promissor.
– O que me deixa excitado é poder deixar as pessoas elétricas, soltas, fazer todo mundo delirar. Desde o começo, meu único objetivo é o de atingir as pessoas. E é isso que me estimula a continuar a fazer essas mixtapes. Apesar de as pessoas já gostarem, eu sei que ainda posso fazer melhor.
Ouça essa: http://www.myspace.com/theophiluslondon
Baixe a incrível I want you mixtape here: http://theophiluslondon.net/
Incensado pelo universo da moda, London não ostenta cordões, brincos, piercings entre outros adereços de prata, ouro e diamante. Quando não está sob jaquetas de couro, surge em combinações coloridas, de blazer, camisa pólo, calças sociais e seu indefectível boné de aba reta. Veste-se como um integrante de banda indie da Inglaterra. E talvez por isso seja natural que entre um beat e outro surjam ecos melancólicos do pós-punk britânico nos arranjos de suas canções. A contextualização social e estética acima, no entanto, serve apenas como tentativa de entender um pouco do universo por trás do cara que arremessou nas esquinas virtuais as mixtapes mais criativas e comentadas – por gente como Mark Ronson e Marc Ecko – dos últimos tempos, Jam! (2008) e This charming mixtape (2009). Sim, London ganhou respeito, ou credibilidade de rua, justamente pela expertise em fazer daquela coleção casual de músicas prediletas um trabalho autoral. E é sob a expectativa do lançamento de sua nova fornada, I want you, que ele fala ao RP.
– Acredito que as mixtapes são muito mais do que um amontoado com as minhas canções preferidas. Acho que elas podem contar ou narrar histórias pessoais, e foi isso que me estimulou quando comecei a gravá-las.
Desde que Jam! e This charming mixtape ganharam a web, London coleciona admiradores na mesma proporção em que embaralha as referências e associações musicais dos ouvintes e críticos. Ao mesmo tempo em que metralha versos inteligentes, e não apenas espertinhos, conta com mais um diferencial, entoa alguns de seus melodiosos refrãos. Guiadas por dançantes linhas de baixo, as faixas de suas mixtapes destilam poesia urbana e contemporânea por entre batidas cruas, camadas de sintetizadores e samplers de ícones do soul, do r&b, jazz e do pós-punk – não é à toa que The Smiths, Ian Curtis e David Byrne são listadas como influências ao lado de medalhões como Michael Jackson, Marvin Gaye e Quincy Jones.
– Eu me enxergo como uma mistura. É claro que faço rap, mas tenho trabalhado bastante a minha voz, a minha forma de cantar e fazer melodias – explica London. – Acho que tenho que estar preparado para dar conta. Na frente do microfone tenho que ser o cara que pode dominar a situação. Sinto que preciso ter o controle do palco e da plateia, e quero exercitar cada vez mais esse poder de liberdade.
Se nos dois últimos trabalhos o rapper se aproveitou de trechos de peças de nomes como Kraftwerk, Amadou & Mariam, Whitney Houston, entre outros, em I want you (2010), mixtape que ele lança no dia 28, London conta com colaboradores de peso, como o produtor Mark Ronson e o cantor Sam Sparro, com quem forma o grupo Chauffeur, além do inglês Dev Hynes (Lightspeed Champion), para canções próprias, alguns covers e remix de gente como Marvin Gaye, Stevie Wonder, Missy Elliott, Vampire Weekend e a nova sensação indie The XX.
– Acho que neste trabalho estou fazendo mais rap e cantando mais também. Trabalhei bastante nisso – diz. – Dentro do estúdio foi realmente uma experiência marcante poder conhecer e criar com o Mark Ronson. Ele é o cara, trabalhou com o Gorillaz e fez uma porção de coisas interessantes. Queria ver como ele atuava, o que ele fazia no estúdio, e acho que o resultado ficou especial.
Apesar da vasta gama de referências, as primeiras faixas que vazam na rede apontam um caminho menos acelerado. London está mais cool e relaxado, sua música mais soul que rap e seu espírito com mais alma que pompa.
– Falo sobre as minhas emoções... Sobre os acontecimentos bons e ruins que me levam a responder. Passei por alguns momentos difíceis, onde estive mais fraco, alguns relacionamentos frustrados... Mas eu sei que posso criar a partir desse terreno.
A influência que a obra de Gaye tem lhe causado nos últimos tempos dá o tom.
– Passei muito tempo trabalhando nessas faixas e só agora começo a observar quais são as influências mais marcantes. Marvin Gaye está muito presente no que eu faço. Acho que criei um conjunto mais melancólico e reflexivo do que os trabalhos anteriores – constata London. – Eu tenho assuntos rodando na minha cabeça o tempo todo, e acho que posso realmente fazer as pessoas pensarem sobre certos temas. Então continuo produzindo, inventando, conhecendo pessoas e realizando parcerias.
Se 2009 foi um ano de turnês ininterruptas, 2010 insurge com mais intensidade e expectativa. Incensado por publicações como The Fader, NME e até pelo New York Times, London tem agenda cheia até o fim de maio e um futuro mais que promissor.
– O que me deixa excitado é poder deixar as pessoas elétricas, soltas, fazer todo mundo delirar. Desde o começo, meu único objetivo é o de atingir as pessoas. E é isso que me estimula a continuar a fazer essas mixtapes. Apesar de as pessoas já gostarem, eu sei que ainda posso fazer melhor.
Ouça essa: http://www.myspace.com/theophiluslondon
Baixe a incrível I want you mixtape here: http://theophiluslondon.net/
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