NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS
segunda-feira, 9 de junho de 2008
disSonantes
O projeto pseudo-sensual, 3 na massa, não conseguira atiçar minha curiosidade para além de cinco audições. Mesmo assim, resolvi experimentar aquilo que pode ser considerada a segunda edição do projeto capitaneado pelos músicos e produtores Dengue, Pupilo (cozinha da Nação Zumbi), Gui e Rica Amabis (Instituto). Segunda etapa, pois, se no primeiro um punhado de interessantes vozes femininas, entre elas Céu e Pitty, servia de molho, mesmo que ralo, à massa de canções desenhada e escrita pela trupe, em Sonantes, o núcleo de produtores radicado em Perdizes, São Paulo, ratifica a cantora Céu como musa única de suas experimentações sonoras.
Assim como no projeto anterior, sobra ao novo trabalho sofisticação estética, sons bem tirados, mescla de gêneros em boa medida – ritmos brasileiros e latinos –, ao mesmo tempo em que falta aquilo que deveria servir como principal ingrediente à bossa que os produtores tentam imprimir: melodias e canções memoráveis. Não que a ausência de hits assobiáveis impeça que o disco seja deglutido com prazer, até porque produzir FMs não parece ser, definitivamente, o intuito do projeto. Porém, a expectativa de que, ao menos, Sonantes traga canções que possam ser registradas em nosso inconsciente para depois serem lembradas e cantaroladas a qualquer hora do dia, infelizmente, não se concretiza.
O mesmo ocorria em 3 na massa, álbum que exercitava e sugeria, mesmo que sem êxito, uma intenção ou provocação sexual à la Nouvelle Vague, o que Sonantes não força ou pretende. Apegando-se ainda às referências eróticas, ambos, no entanto, sofrem de uma infeliz coincidência, falta-lhes o gozo final de uma obra bem-resolvida. Os dois projetos patinam em suas intenções, amarram tão bem seus discursos que acabam por aprisionar e extirpar da música sua principal tarefa, a conexão subjetiva, e não pensada, com o ouvinte. O conjunto de produtores aposta em uma masturbação estética isolada ao invés de buscar um encontro sensorial e, por que não, sensual entre as duas partes envolvidas em qualquer trabalho artístico, a interação entre arte produzida e espectador, no caso, ouvinte.
Difícil afirmar isso frente à verdade onipotente dos números que apontam quase 20 mil visitações no myspace da banda. Mesmo que inconscientemente, no entanto, seus idealizadores pareciam vislumbrar a dificuldade que teriam em prender a atenção dos ouvintes. Ao solicitar, no texto em que apresentam o trabalho, que nós (ouvintes) desbloqueássemos nossas vias auditivas antes de escutarmos o disco, seus produtores já temiam que Sonantes pudesse, assim como muitos outros, ser suprimido pela cera auricular imposta pela overdose de informações musicais da ?-modernidade.
O fato é que em meio a uma era em que "o BPM da vida moderna acelera mais e mais e que nem sempre existe a chance de separar o joio do trigo", Sonantes falha ao tentar cumprir seu papel de cotonete musical e seus idealizadores não conseguem evitar que este bem-estruturado projeto passe batido. Reafirmam, assim, mesmo que a contragosto, que a modernidade, o conceito, a tecnologia, a boa produção, o arsenal estético e as boas referências musicais de nada valem sem aquilo que de mais básico a arte necessita para não esvaziar-se: comunicação, o que poeticamente sugere: interação entre almas.
Premissas, intenções e deslizes à parte, ao menos um êxito perfila seguro ao longo das dez faixas do álbum. Ao aliar regionalismos à uma sonoridade tipo exportação, produzida ao gosto do que o mercado internacional, hoje, delimita como música brasileira contemporânea, Sonantes da conta do recado e, assim como o 3 na massa, tem de tudo para alçar vôos em palcos mundo afora, mesmo que para isso se apoie no enorme carisma e talento de sua, agora, vocalista oficial, Céu.
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