NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sábado, 29 de novembro de 2008

Artista ao léu

É aquele lance... Se tivesse uma porra de um estúdio, grana em mãos e, óbvio, motivos para convencê-lo botava esse cara lá dentro e pronto: tá feito o que há de melhor em termos de jovem cantor da nossa música brasileira. Leo Cavalcanti é o cara a ser ouvido. Mistura de afrobeat, tropicália, soul, funk e música flamenca, assina uma combinação irresistível de ótimas melodias e letras bem acima de qualquer média que vemos por aí. Média, não... Baixa...

Leo gravou uma home session, Ao leo (demo), com apenas quatro faixas. É mais do que o bastante para identificar seu talento como artista e sua profícua imaginação musical, já que sozinho pilota as traquitanas que originam seus beats e grooves eletro-acústicos. Filho do mais constante parceiro de Adriana Calcanhotto, Péricles Cavalcanti, ele tem ótima voz e idéias na cabeça. Sim, é preciso leitura, pensamento, questionamento e IDÉIAS à mulambada que sonha ser artista da noite para o dia, só porque é afinado demais ou domina um instrumento musical. Não. Isso não basta. Afinal, o que significa bastar, fazer o suficiente, segurar a onda legal?

Se fazer arte é se expor e transcender, por que é que essa galera tá se enganado, copiando a torto e a direito tudo que o ídolo X já fez?! Pelo amor de Deus... Dá até pena de ver a quantidade de meninas empacotadas em CDs chegando às redações. Uma mais bonitinha e talentosinha que a outra. Uma mais sem criatividade e coragem que a outra. É tudo plain! Liso, efêmero, não machuca os ouvidos, easy listening que fere a alma. Tô fora. Poucas sobrevivem. Enquanto Leo, de voz ambígua e suave, é o cantor e a cantora, não do momento, mas, sim, de talento.

Ouça: http://www.myspace.com/leocavalcanti

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Radar Pop?

Afinal, o que é ser pop? Profundidade de um radar, hein... O que é ser radar? Existencialismo pop, hã... Mas com tantos por aí, escravizando ignorâncias fugazes full time não há porquê e nem como sê-lo. A incompletude da tarefa porém é a mesma de qualquer outra tentativa. Mas antes de se prestar a ser radar, e sugar e reverberar o externo, é melhor que eu seja um endoscópio. Aí o compromentimento não tem razão, hora ou data marcada com você leitor. Prefiro assim: navegar livre para o que der e vier. E só não mudo o nome disso aqui porque não tenho saco. Mas de pop, por agora, só o que pipoca aqui dentro. Se genial ou imbecil que seja (quase) inteiro.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sou + Nós = Camelo

Pode-se dizer bem e muito mal do existencialismo-relativista ou da persona pseudoeremita que Marcelo Camelo, ao longo dos anos, construiu. Avesso à imprensa (mal) e à exposição de sua vida como celebridade pop (bem), no entanto, quando se trata de seu talento como compositor, restam poucas dúvidas ou aversões à afirmativa de que ele é um dos mais talentosos nomes surgidos no país a partir da década de 90 – na seara do pop-rock, é o melhor. Assim como não é difícil notar e admitir que suas canções navegam fluidas entre melodias e ritmos que partem do rock, cruzam o pop, a MPB, o samba tradicional até atingir as raízes da música popular brasileira, sejam estas as marchinhas carnavalescas ou a tradição do cancioneiro nordestino.

Desde que se lançou como fenômeno pop, com "Anna Julia", Camelo fez de seus dez anos de carreira, ao lado dos Los Hermanos, um passeio arqueológico e imersivo pela nossa música. Desde 1998 para cá, porém, seu outrora pequeno e recôndito séquito de ardorosos fãs tornou-se uma legião, quase seita, assim como seu reconhecimento artístico passou a navegar não apenas à frente das suas criações com o quarteto, como também pelas canções gravadas por Maria Rita, Roberta Sá, Ney Matogrosso, além de seu mais recente parceiro musical, o bossanovista Marcos Valle.

O fruto de todo essa bagagem é explicitado agora em um álbum despojado e sem amarras como esse seu primeiro trabalho solo, “Sou”. Nele, Camelo demonstra que sua trajetória, comprometida com a riqueza de versos e melodias, atinge seu ponto de maturação pessoal, mas não retrata como um todo o apanhado de sua mais inspirada produção autoral – atingida no terceiro álbum dos Hermanos, "Ventura".

É curioso, mas não paradoxal, notar que é justamente na hora de desabrochar que Camelo volta-se para dentro. "Sou" é um álbum feito "de" e "para" Marcelo Camelo. Os registros, intencionais ou não, denunciam uma vontade de cantar canções ao modo como vieram à tona, sem esforço, sem grito, sussurradas e balbuciadas ao ponto do inaudível. Ao mesmo tempo em que decide se expor – é claro, à sua maneira – ele se defende à frente do microfone. "Sou" não apenas ilustra o trabalho mais honesto às suas particularidades como também resguarda uma intenção de se mostrar através do outro.

A proposital feiúra, estranheza e o desmazelo de sua foto de divulgação gritam toda uma forçosa simplicidade: Marcelo é tão normal ou estranho como todos nós. É como se monologasse: "É, sou normal, esquisitão, na minha... Também acordo com a cara inchada, feia e de saco cheio. Coloco minha camisa surrada e vou dando de ombros nos portais da casa até pisar descalço o chão gelado da cozinha". No entanto, como é músico e dono de talento acima da média, além de tirar umas remelas, ele dedilha, sonado, seu violão de nylon como quem não quer nada. E assim, com inabalável e solitária preguiça matinal, que Camelo parece fagulhar versos e extrair as melodias que compõem seu painel primitivo de canções particulares.

Sua emblemática descompostura é trunfo inconscientemente despejado à crítica. Afinal, ao ouvir “Sou” há que se atentar para a produção um tanto quanto descuidada, com maior destaque à colocação da voz. Ao longo do álbum, muitas das suas linhas vocais se embaralham, versos se perdem em meio a nuvens instrumentais carregadas, e seu registro estranhamente enfraquecido, se comparado aos seus trabalhos anteriores, é posto, pela mixagem, muito abaixo do aceitável.

As canções:

“Téo e a gaivota” abre o novo trabalho de Marcelo Camelo com uma linha de guitarra melancólica que se repete por quase um minuto antes que o músico pronuncie seus primeiros versos sobre as bobagens que se passam na TV. A letra anuncia um de seus temas centrais: a solidão. Esta, sentida com mais intensidade pelo autor por conta do formato e do processo criativo do álbum, a princípio pensado como um registro em voz e violão.

A faixa seguinte, “Tudo Passa”, assim como o título sugere, escorre sem deixar saudade. Uma canção-poema de versos e melodias efêmeros e auto-explicativos que aterrisa em “Passeando”, mais uma elucubração instrumental delineada pelas guitarras de Camelo e pelos multi instrumentos da banda paulistana Hurtmold, liderada pelo músico Maurício Takara.

Com “Doce Solidão”, quarta faixa do álbum, Camelo enfim se aproxima daquilo que poderia ser uma faixa dos Los Hermanos. Não pela repetição de métricas ou arranjos, mas, sim, por conta do apelo melódico imediato. Sua musa inspiradora, a "solidão de todos nós" é pano de fundo para delicados assovios e versos bem traçados, como "Posso estar só, mas sou de todo mundo" e "Solidão, foge que eu te encontro, que eu já tenho asas".

A canção é o ponto de partida para o encontro de Camelo com sua doce e ensolarada linhagem. “Janta”, parceria de Camelo com a menina-moça Mallu Magalhães sustenta a boa pegada, com Camelo fazendo sua primeira parte em português, e Mallu a sua, em inglês. É quando se encerra a primeira metade das 10 canções disponibilizadas para audição, marcadamente sedimentada pela temática da transitoriedade e da solidão.

A partir daí, chegamos em “Mais tarde”, possivelmente a canção mais alinhada ao pop-rock que o consagrou como artista. É daí, também, que “Sou” transforma-se em “Nós”, da capa-poema de Rodrigo Linhares, onde Camelo mostra-se menos introspectivo e mais dançante ao som de referências regionais da música popular brasileira. Caso de “Menina Bordada”, com acento rítmico-melódico nordestino, e “Liberdade”, que conta com a participação especial da sanfona de Dominguinhos. Assim como ganha corpo o clima contagiante desvelado na marchinha carnavalesca“Copacabana” e nas nuances praieiras da caymiana “Vida doce”.

"Liberdade":






"Téo e a gaivota":



segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O desafinado












Após assisitr à sessão das 15h50 para "Os desafinados", no último domingo, saí do Unibanco Arteplex, em Botafogo, com um único pensamento afixado na consciência: a mais nova incursão de Walter Lima Jr. no universo dos longas-metragens é, no mínimo, entediante. E as cenas finais... das mais piegas e constrangedoras já vistas.

Planejado para estrear no primeiro semestre de 2006, "Os desafinados" não emperrou à toa. E se a desculpa divulgada à época era a falta de verbas para a finalização da fita, cerca de R$ 7,5 milhões, após o lançamento, a impressão é que "a esfarrapada" oferecida não estava de acordo com o que o filme mais carece: revisão e mudanças drásticas no roteiro, na montagem, nos diálogos, eliminação de planos-clichês e, o principal, reavaliação do conjunto da obra a ser apresentada como um musical.

Impressiona como uma história, mais do que contada, dissecada e recriada milhares de vezes pelo inconsciente coletivo pôde ser encenada em tão baixo nível de sensibilidade. Qualquer brasileiro antenado ao mínimo na história da bossa nova, e sua chegada aos Estados Unidos via João Gilberto e companhia, observa (incrédulo) e questiona-se (inconformado) como tal desenho pôde ser completamente descolorido, desconstruído, destituído de significados e, o pior, desromantizado por um diretor que optou pelo tema justamente pela sua empatia e afetividade em relação ao objeto a ser filmado.

A artificialidade, no entanto, não é concluída apenas ao final da cascata de créditos. Emana desde os primeiros planos e segundos a sensação que algo de muito superficial e nada cativante está para vir. Ao final, o resultado ao qual o espectador assiste é um arremedo desconcertado de uma novela, desejosa de novas possibilidades e pontos de vista, se encerrar no vazio, sem emoção alguma a ser transmitida pelas longas duas horas de duração. E olha que estamos falando daqueles que seriam dois dos mais marcantes acontecimentos sociais e culturais do país: a implantação da ditadura militar e o nascimento da bossa nova no Brasil e no mundo.

Mas Walter Lima Jr. parece esquecer, ou prefere não privilegiar, o valor do contexto e das oportunidades dramáticas que tem em mãos. A partir de suas reminiscências, ele aponta sua câmera em uma busca incessante mas malograda de capturar a construção de afetos e sensibilidades entre um grupo de jovens amigos, apaixonados pela arte e pela vida. O problema da perspectiva escolhida para "Os desafinados", no entanto, é que tudo o que o diretor apresenta como intenção nos remete, imediatamente, ao título da obra. Seja a relação dos tais músicos com a arte que supostamente planejam dedicar à vida – exposta sem qualquer intensidade –, a performance de cada um para com seu instrumento – dubladas de forma grotesca, com exceção do músico Jair de Oliveira –, as questões existenciais e as escolhas que por ventura pudessem confundir e gerar conflitos entre os jovens. Essas, apenas algumas das passagens em que o desafino entre intenção do diretor e resultado emotivo a ser captado berra, grita e se descabela na sala escura.

O desatino de Walter consegue ainda o improvável. É quando ele decide ignorar as melhores possibilidades de conflito que a história naturalmente engendra e empurra para dentro da câmera. Ao invés de engolir e digerir momentos explicitamente propensos à tensão, ele se mantém cristalizado desviando-se das mais claras situações-crise, como a que Davi (Ângelo Paes Leme) deixa de encurralar Joaquim (Rodrigo Santoro), quando este último, em um surto de responsabilidade familiar, decide voltar para casa. Como se os meses de penúria e amargor do grupo, que recebia naquele momento, pela primeira vez, uma proposta de trabalho, não fossem dignos de sofrimento e revolta dos seus parceiros.

Walter também passa – com um beijo na boca – a borracha na decepção de Glória (Cláudia Abreu) quando esta descobre que o seu novo amante, Joaquim, a quem abrigou junto a todos os amigos em casa, tem mulher, Luiza (Alessandra Negrini), e espera filhos no Brasil. O diretor faz vista grossa, ainda, para a possibilidade pungente de ciúmes e disputas femininas entre as duas, Quando, já no Brasil, a intérprete do grupo, Glória, grava em estúdio a canção "Mente" em um tête-à-tête desafiador para esposa traída – sem que a última esboçasse qualquer encrespar de pêlos ou choque de nervos.

O ápice do medo de confrontos assinado por Walter fica evidente quando ele censura o início da desilusão do cineasta Dico (Selton Mello). Único personagem realmente comprometido com alguma forma de arte, a dor do cineasta por ter seu filme totalmente tesourado pelos agentes do Dops é também posta em xeque pelo diretor, que não se faz de rogado em anestesiar o inquieto personagem com um prêmio ganho em Moscou. Enquanto, no Brasil, Dico continua sem dinheiro, aprisionado artisticamente, com a mãe à beira da morte e, além de tudo, sendo caçado pelo regime.

De refugo em refugo, Walter opta por um filmar paranóide em que põe panos quentes assim que faíscas vislumbram tornar-se chama – o que não traz vida e emoção sentida às cenas. O resultado desta sucessão de escolhas desajustadas é uma esquizocinematografia, em que o diretor, por medo da previsibilidade do tema, tenta escapar, aos trancos e barrancos por uma trama rasa e banal, daquilo que o filme, por essência, é ou sugere: o desvelar romântico-poético dos primeiros passos da bossa nova. A bossa, "essa coisinha de inho, barquinho, jeitinho" como escracha Selton Mello, fica realmente diminuída e perdida em meio ao emaranhado de micro-acontecimentos (fugazes) que nunca se completam ou são finalizados coerentemente por Walter.

O filme, porém, tem seus bons momentos. Salvam-se as viscerais intervenções de Selton Mello, que com seu carisma, gestual e tiradas bem-humoradas rouba cenas a cada aparição. Além, é claro, das cenas dramáticas encenadas por Santoro, assim como o clima de excitação dos jovens músicos antes e durante a estadia nos Estados Unidos. O músico Jair de Oliveira, como Gera, também não faz feio. E Cláudia Abreu, enigmática e sedutora, faz das cenas de amor com Santoro, de seu banho de banheira no meio da sala e de seu desespero com a repressão do regime cenas que saltam aos olhos. Enquanto que Ângelo Paes Leme, ganhador do prêmio de ator coadjuvante em Paulínea, e Alessandra Negrini não surpreendem.

No fim das contas, porém, elogiar um filme como "Os desafinados" é talvez impensável não só para os amantes da bossa nova, mas também para qualquer ser humano que dá valor à sutileza, coesão de argumentos e comprometimento artístico. Em recente entrevista ao JB Online, Walter Lima afirmou que a obra é ponto culminante da sua maturidade como homem de cinema. Se a declaração não passa de atitude egóica e defensiva ante o descarrego da crítica para com sua obra, é de se lamentar que o cineasta tencione a acreditar que “Os desafinados” é de algum modo marcante para sua carreira de premiado cineasta, ou superior a outras mais inspiradas contribuições cinematográficas.

Por fim, todas as elucubrações até aqui descritas imbricam em uma única afirmativa: “Os desafinados” é uma obra “musical” das mais burocráticas e anti-emotivas. O paradoxo – um filme seco e retalhado que se propõe a tratar de música e amizade – gera, ao menos, uma fina e cruel ironia. É quando lembramos que a oportuna tirada de Selton Mello: "É na merda que a gente cresce!" – quando os músicos do quarteto lamentam não terem sido escolhidos para a apresentação no Carnegie Hall, em Nova York – pode servir como alento ao diretor. Como diz o pessoal de teatro: "Merda, Walter!"

* Ainda esta semana:
O maravilhoso documentário "O mistério do samba", dirigido por Carol Jabor e Lula Buarque de Holanda.

E mais:
O primeiro vôo solo de Marcelo Camelo (Los Hermanos), "Sou".

sábado, 30 de agosto de 2008

Hermanos, Jô e Caê

* À frente da tela que pouco me encanta, passei uma noite-madrugada musical muito da meia-boca. Até certo ponto curioso, me pus a observar o lançamento do novo DVD do Los Hermanos. Transmitido ontem, em primeira mão pelo Multishow, o aguardado trabalho póstumo dos hermanos não acrescenta muito a memorabilia dos fãs do quarteto. Se comparado ao primeiro registro oficial da banda, em DVD, “Los Hermanos no Cine Iris”, é notável o quanto o primeiro, em múltiplos aspectos, supera este último corte.

Filmado em duas noites de uma Fundição Progresso abarrotada, o
novo trabalho dos barbas apresenta direção de câmeras pra lá de burocrática, preguiçosa e pouco criativa. A monotonia dos planos e dos cortes entra em conflito com a energia que os músicos despejam nas canções mais atiradas do repertório, assim como com a entrega voluptuosa dos fãs, que estrebucham gogós e laringes a pleno vapor na platéia – também, muito pouco explorada.

Se a parte que compete às emoções visuais naufraga expectativas, as canções, o que de melhor os músicos oferecem, soam como versões inescrupulosamente tacanhas. Fruto de uma qualidade de áudio sofrível, em que a voz de Camelo soa como se captada em um corredor opaco e seco, sem brilho. Sopros também explodem como se vazados, por microfones que nãos os direcionais apontados para cada peça do trio que acompanha a banda.

Enfim, o registro é para fiel evangelizador botar defeito. Salva-se, aos olhos e ouvidos destes, a energia emotiva da relação Camelo-Amarante. Efusivos, encontrando a sua gente, seu "restrito" universo de pessoas, que os entendem como ninguém e como só eles sabem.

Conversa de botas batidas:




* Troco de canal e me deparo com Caetano Veloso assentado no sofá quadrado e desconfortável de Jô Soares. Não, nunca estive lá. Mas sei que o desconforto impera naquele estofado endurecido e cafona, em tom bege. Cravei meus olhos, já cansados, na tela, e pude observar, com estranheza, Caetano, com as mãos trêmulas, “impávido que nem Muhamed Ali”, petelecar as cordas de seu violão de nylon, enquanto sua boca, de maxilares cada vez mais frouxos, balbuciava versos perdidos, que sua memória, por desconforto ou nervosismo, esquecera.

Durante o emperrado bate-papo, que Jô e Caê esforçaram-se em traçar, sobrou mais desacerto que afinidade entre os interlocutores. Jô parecia emburrecido, em seu mais alto grau, enquanto Caetano, que de burro nada tem, parecia, no mínimo, abobado, talvez entediado pelas colocações fora de contexto do gordo.

Entre uma canja mal-ajambrada e outra, a pedido de Jô, Caetano, visivelmente incomodado com o ar-condicionado do estúdio, ou com o sofá, atacava de falsetes canhestros mas corajosos. Jô, então, resolveu que gostaria de ouvir as histórias sobre a polêmica entrevista, publicada pelo Jornal do Brasil e produzida pelo vizinho ao lado R. Schott, em que Lobão dispara sua língua mole contra o Rio, a bossa nova e etc. E Caetano, mais uma vez, tratou de alimentar a troca de afetos:

– Lobão já falou mal de mim tantas vezes, através das décadas, que depois resolveu fazer uma música para mim. Chama-se "Para o mano Caetano". Uma canção muito emocionante e que me toca profundamente. Aí, então, decidi retribuir e fazer uma canção para ele. Enfim, acho graça no Lobão e todas as vezes que ele falou mal de mim eu gostei – disse Caetano, antes de emendar a tal faixa-tributo ao lobo, "Lobão tem razão". Diga-se de passagem, bem abaixo do petardo talhado por Lobão, em 2001.





Drogas, armas, corrupção na polícia, Rio de Janeiro e São Paulo se estenderam entre os pontos destacados ao longo do papo de gagás proporcionado pelos dois. Uma "rebimboca da parafuseta", como disse Lobão, em referência as elocubrações do ex-ministro Gil, que me fez procurar o vídeo abaixo, em que mestre Chico Anysio dá show:



A cor amarela:

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

CEP 18.000

Celebrados ontem no Espaço Cultural Sérgio Porto, os 18 anos de existência do CEP 20.000, centro de experimentação poética concebido e liderado pelos bravos Chacal e Guilherme Zarvos, foi embalado por boa música e poesia. No entanto, a chegada da maioridade parece ter emprestado melancolia pós-adolescente à festa. A impressão é que falta ânimo aos realizadores, ou fôlego ao evento, ainda hoje um dos principais propulsores de talentos artísticos da cidade.

Não que recaia sobre os ombros de ambos a culpa pela fragilidade ou pelo atrofiar de tal musculatura. De modo algum. Afinal, lutar com uma prefeitura culturalmente acéfala, comandada por um onirólogo que aposta ultrajantes R$ 500 milhões na Cidade da Música, enquanto que o orçamento da pasta não atinge minguados 1%, é tarefa das mais frustrantes, broxantes. Sem contar com as dificuldades atravessadas pelo evento que, por conta das reformas do Sérgio Porto, zarpou para o calabouço, em soturnas mas, mesmo assim, vibrantes noites no Teatro do Jockey.

De fato, o CEP 20.000 precisa de reforço, principalmente dos seus freqüentadores, para que retome o fôlego. Se tomada a noite de ontem como exemplo, a premissa parece palpável, apesar de algumas ressalvas. Composto por cerca de 300 pessoas, o bom público, em sua maioria, preferiu o conforto do foyer regado a cigarros, cerveja e troca de afagos às cadeiras de plástico dedicadas à platéia e a sacação dos versos, poetas e músicos postados no palco. Vale dizer, que a intenção do CEP, desde o início de sua história, não urge o rigor de pestanas paralisadas e íris secas pelos holofotes a iluminar experimentadores. Até porque liberdade é palavra sacra ali. Mas vale o registro de que os papos igualmente saudáveis e frutíferos do lado de fora do teatro despertavam mais excitação do que o que ocorria do lado de dentro.

Escalada para abrir a noite, a banda dos Caetanos, Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), Do amor, soou bacana, mas descompensada. Com canções/versões escrachos, eles deixaram apenas uma sensação embaraçada por rimas e versos baratos, além de melodias esquecíveis. A apresentação é uma jam session de ótimos músicos que poderiam deixar de insistir nas tais músicas que tentam elaborar e partir para a “experimentação poética” livre e nonsense no palco. Afinal, seus emaranhados rítmicos-melódicos, sem eira nem beira, soam como improvisos, e repetí-los ao vivo, em shows, torna-os pra lá de vazios.

Infelizmente, as linhas de guitarras e timbres bem costurados por Benjão e Bubu dão roupagem a faixas que não aderem a memória nem causam cefaléia, não entretém e nem torram os pelos escrotais, não te fazem zunir em disparada sala afora e muito menos visitar o myspace no dia seguinte ao show. Enfim, o quarteto legal mas chato aprontou uma breve masturbação grupal. Bacana(l), mas só para os chegados, o que, perdão, não chega a ser uma despudorada casa de suingue, algo que talvez so(u)aria mais honesto. O show de ontem serviu ao menos para que eu pusesse a desfalecer os parcos sentidos que ainda depositava na banda.

Despudor e honestidade, com seu corpo e versos, no entanto, foram os trunfos apresentados pelo poeta Éber Inácio. Seu número, experimental, repleto de afetação vocal partiu ainda para um streaptease parcial, que ganhou, no mínimo, a atenção do público. Já Pedro Rocha, que dividia o palco com Éber, esforçava-se, sem muito sucesso, para chamar a atenção da mesma platéia para seus bem traçados versos. Chacal também subiu ao palco para lançar os seus beats ao público, e melhor que Pedro na entonação, dividiu com clareza e eficiência - dramaticidade em boa medida - seus poemas.

Aqui vale parênteses: Poema falado é experimento e exposição arriscada, em que a tênue linha que separa o ridículo vazio da própria poesia, abrigada em linhas, se perde com facilidade. O poeta, autor e escrevinhador de versos, geralmente passa apertos e, na maioria das vezes, insucesso ao tentar oralizar seus escritos. O poema, assim, se perde, pois procura as cegas, ou as falas, o único elemento que o sustenta: a poesia propriamente não dita, mas, sim, escrita, lida e sentida.

Enquanto a segunda banda da noite, Vulgo Qinho & os Cara, ladeava o palco, a postos com instrumentos a tiracolo, Chacal pedia para que aguardassem a fala da novata Alice Sant’ Anna e, ao que parece, de Ismar Tirelli Neto. Com versos singelos, a poetisa e blogueira de a dobradura apresentou com firmeza suas linhas. Com respiração e divisão de palavras bem cortadas e emissão bastante clara, Alice emoldurou seus poemas enquanto que seu acompanhante, aparentemente nervoso, desorientava os seus.

Era novamente a hora da música. Qinho e os caras representavam literalmente o CEP, que ali estava para celebrar a união da música com a poesia. Antropofágicos ao inverso arremessaram solos distorcidos pela guitarra de Caio Barreto na bela versão de Juízo Final (Nelson Cavaquinho). Entoaram versos em homenagem ao morro do Galo, pedalaram de bicicleta na mente hipnótica de Guilherme Zarvos, que bengaleava pelo espaço, e navegaram em negras melodias traçadas por Jards Macalé e Wally Salomão, enquanto que o filho deste último, Omar, lascava seu palavrório enlaçado em um microfone pouco afeito a reverberação.

* Sobe ao palco o poeta Chacal. Com uma pequena faixa adesiva e brilhante grudada na testa. Põe-se em frente ao microfone. É interrompido por um insatisfeito. O personagem pede, com secura e razão: “Mais música, Chacal. Agora, não!”

Parti depois do bis de Qinho - que a cada apresentação canta melhor -, já que o também muito bom grupo, Os Outros, liderado por Botika e Vitor Paiva, frutos do CEP, não puderam se apresentar porque um dos guitarristas estava doente. Em papo curto no interessante foyer, Botika falava sobre a sinuca de bico que muitas bandas da cidade se encontram:

– É difícil conseguir espaço para apresentações fora da cidade que valem a pena financeiramente. O mesmo acontece na cidade. Até conseguimos tocar em diversas casas mas parece que é pecado ganhar por isso. Acho que em 2000 a situação estava pior, tanto em relação ao número de boas bandas na cena carioca como em relação a espaços disponíveis para tocar.

Michael Jackson grava poemas de Robert Burns

Enquanto não vem a tona seu novo disco, produzido por Will.i.am, o rei do pop Michael Jackson conta ainda com mais um álbum sob o guarda sol. De acordo com o produtor de TV americano David Guest, Michael finalizou em seu estúdio, na Califórnia, versões musicadas para os poemas do escritor escocês Robert Burns.

Entre os muitos convidados especiais de Jackson para o projeto, Guest disse ao Daily Record que o cantor organizou as sessões depois que os planos de fazer um musical sobre o poeta, que ambos alimentavam, foi por água abaixo.

– A princípio, iríamos filmar um musical sobre a vida de Burns. O filme seria dirigido por Gene Kelly e teria direção executiva de Anthony Perkins, mas os dois morreram. Então, Michael e eu começamos a fazer destes poemas canções contemporâneas.

Poemas como "Ae fond kiss", "Tam O`Shanter", entre outros foram musicados.

– O trabalho ficou muito bonito e tenho estas gravações comigo. Tenho pensado bastante em dar vida a "Red, red, rose". A última vez que estive na Escócia me senti como uma criança, observadno tudo que Burns escreveu. Pude deitar que ele dormia na casa em que morou e foi criado. Foi realmente surreal, porque eu e Michael achamos Burns uma das mentes mais brilhantes de todos os tempos.

Em maio de 2007, Jackson declarou a imprensa que sentia-se muito ansioso com o futuro. Sobre o novo disco, produzido em parceria com Will.i.am, ele revelou estar surpreso com a qualidade das novas canções:

– Estamos trabalhando em temas maravilhosos. Estou com vários projetos musicais e cinematográficos diferentes. Muitas coisas virão em breve e estou ansioso com isso.

Will.i.am, à época, disse estar honrado em produzir e participar do trabalho que marcará o retorno de Jackson ao mercado da música.

– Esta é uma experiência histórica. O cara ainda canta como um pássaro. Acredito que nós temos uma oportunidade real de fazer algo. Ou retorna para ser realmente grande ou o mundo vai passar por ele. Não haverá meio termo desta vez.

Muse volta ao estúdio

Após um mês das apresentações realizadas no Brasil, o trio inglês Muse anuncia que está em estúdio trabalhando em uma série de novas canções para o quinto álbum da carreira. Em entrevista a BBC, o baterista Dominic Howard disse que as novas músicas começaram a ser escritas antes de julho e que planejam voltar, em breve, ao estúdio em Lake Cuomo, na Itália.

– Já estamos concentrados e pensando nas novas faixas. Teremos algumas semanas de folga e depois em cerca de 15 dias voltaremos a Itália para começar a gravar novamente – contou o músico. – Posso afirmar apenas que o trabalho está soando muito bem. Vamos continuar em direção ao futuro.

Na oportunidade da apresentação carioca, no palco do Vivo Rio, o vocalista e guitarrista Mathew Bellamy revelou que as novas faixas ainda não apontavam qual direção tomaria o sucessor de "Black Holes and Revelations" (2006). Ele se disse impressionado com o público que lotou a casa de espetáculos e cantou do início ao fim todo o repertório.

– Não poderia imaginar que as pessoas cantariam nossa músicas. Sabíamos que existiam fãs da banda no país, mas o calor da receptovidade nos surpreendeu.

Além da resposta dos fãs, o músico também se impressionou com as belezas naturais da cidade e aproveirou ao máximo sua estadia no Copacabana Palace:

– Fizemos todos estes programas que os turistas desejam, como conhecer o Pão de Açúcar, mas não deixou de ser encantador. Percorremos todas as praias da ciddae de helicópetro e posso afirmar que esta é uma das mais belas cidades que conheço. Em Copacabana, me animei com a quantidade de gente praticando esportes na orla e aproveitei para dar minhas corridas e mergulhar no mar – contou o franzino líder do Muse.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Carnaval para inglês ver

Ao invés de disco-house, new-rave ou simplesmente rock, os incensados ingleses do Friendly Fires trouxeram mulatas, confete e serpentina para o show de ontem na tenda Republic do Reading Festival. O clima esquentou e a platéia composta de branquelos caiu literalmente no samba.

Apresentando seu ainda enxuto repertório para uma platéia repleta de curiosos, os donos de um dos singles mais comentados do ano, Paris, esbanjaram confiança ao levar para o palco da festa indie morenas de biquinis de lantejoula, além de seis ritmistas de escola de samba, que emprestaram euforia acima da média à última canção da noite, a nova faixa de trabalho "Jump in the pool".

Antes do início do show, a equipe de apoio do Friendly Fires distribuiu tubos de confete que foram arremessados durante todo o show pelo público. Deixada de lado a atmosfera carnavalesca, as canções foram muito bem recebidas pelo público, e o vocalista Ed Macfarlane não refutou a idéia de se tacar no meio da platéia para cantar, junto aos fãs, os futuros hits do primeiro álbum do FF, a ser lançado até o final do ano pela XL Recordings (Radiohead, White Stripes, entr outros).

Paris:




Jump in the pool:

Whitekeys

Líder dos White Stripes e do The Raconteurs, Jack White arrumou tempo para mais uma parceria musical, desta vez com a cantora de neosoul Alicia Keys. Escolhido para produzir, compor e cantar a faixa-tema do novo filme de James Bond, batizada "Another way to die", o guitarhero fez questão de esclarecer que há tempos sonhava em trabalhar com a cantora de neosoul americana.

– Após alguns anos tentando tocar e gravar alguma coisa com Alicia , tive que apelar ao próprio James Bond para fazer isso finalmente ocorrer – brinca Jack. – Ela coloca uma energia elétrica na sua respiração, o que se concretizou na fita de rolo. Muito inspirador de assistir.

Ele garantiu que a colaboração lhe rendeu uma nova voz e que ao final do processo se sentiu uma outra pessoa:

– Arcava o ritmo para acompanhar sua voz enquanto que ela imitava as notas da minha guitarra. Depois juntamos nossas vozes e gritamos e interpretamos os personagens do filme, sobre a solidão de quem não pode confiar em ninguém e nem em si próprio. Talvez tenhamos nos tornado um pouco personagens por alguns minutos – lembra.

A parceria - o primeiro dueto a ser registrado em uma trilha da série - foi gravada, em estúdio, com o suporte da banda Memphis Horns.

– São alguns dos melhores músicos de Nashville. Acho que este é o primeiro registro analógico feito em mais de 20 anos para uma canção de James Bond. Queríamos imprimir alma nessa fitas – disse o músico.

Antes de Jack e Alicia finalizarem o trabalho, a música-tema de "Quantum of solace" estava a cargo de Amy Winehouse e do produtor britânico Mark Ronson, mas os problemas da cantora com drogas afastaram a dupla do projeto. A trilha sonora do filme será lançada em 28 de outubro, já o longa chegará em novembro às telas de cinema. Enquanto isso, Jack White e seus parceiros do The Raconteurs seguem, a partir de sábado, mais uma turnê pela Europa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

MOMO lança "Buscador" pela Internet












Com roupagem musical que navega entre o folk e a psicodelia das décadas de 60 e 70, o segundo disco de Marcelo Frota, vulgo MOMO, "Buscador", soa como uma viagem, apesar de melancólica, até certo ponto ensolarada por seus tortuosos mas frutíferos conflitos e questionamentos. Uma lavagem de roupa suja interna que ressoa entre a atmosfera zen/rural e o descarrego visceral/urbano. Por meio de sussuros e berros atormentados, o músico extirpa sua tristeza e dela faz brotar versos simples e melodias cruas mas tocantes.

"Buscador" dá continuidade aos tons invernais de "A Estética do Rabisco", CD de estréia de MOMO – ex-integrante do Fino Coletivo. Gravado da mesma forma, em poucos e intensos dias no seu estúdio caseiro Umbilical, localizado no Jardim Botânico, os músicos convidados chegavam sem conhecer ou ensaiar o que iriam gravar e tinham direito a um só take.

Lançado tanto em formato SMD como em digital, numa parceria com a Trama Virtual, as 10 faixas do álbum estarão disponíveis para download gratuito até dia 31 de setembro nos sites www.listentomomo.com e www.tramavirtual.uol.com.br e depois serão comercializadas on line pela Dubas Música.

Em entrevista ao Radar Pop, o músico fala sobre o novo álbum, o segundo volume do que poderia ser chamado de trilogia em carne viva – um terceiro trabalho com o tema ainda está por vir – comenta suas influências musicais, dá seus pitacos sobre os novos rumos para o mercado da música e destaca as diferenças entre as possibilidades profissionais oferecidas pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

RP: Por que "Buscador"? O que esse novo disco busca ou traz entre novidades e diferenças em relação ao "A Estética do rabisco", lançado em 2007?

– O álbum anterior carregava muita tristeza, mas um sentimento mais acomodado. Em nenhuma das canções do "A estética do rabisco" eu luto para reagir. Em "Buscador" apresento um novo momento da minha vida. É reflexo de uma busca espiritual e de paz interna. Uso muitas metáforas e as referências ao nascer do sol justificam isso, pois é um movimento que busca não se acomodar na tristeza.

RP: "Buscador" também traz a palavra dor para perto. O álbum soa melancólico, talvez comntemplativo, mas não tem clima de fossa e não me parece escapista. Quais são os temas que te inspiram ou que norteiam teu universo criativo, seja em melodias ou em letras?

– Soar melancólico faz parte do meu gosto musical, que sempre pendeu para esse lado. Não gosto muito de música cheia de groove ou com levadas muito funkeadas. Sempre gostei mais de baladas e cresci escutando muito country e folk americanos. Era fã de Willie Nelson, amava escutar Charles Aznavour sozinho no meu quarto e sempre adorei os The Carpenters, fruto do gosto familiar difundido, no caso, pelo meu pai que ouvia muito esse tipo de canção. No início da minha formação musical não escutei muita coisa dessa MPB que as pessoas normalmente rotulam. Fui prestar atenção neste tipo de música já mais velho. Aí sim, ouvi muita coisa do Gilberto Gil, todos os discos do Caetano Veloso, Chico Buarque e outros tantos. Coisas que, hoje, eu deixei de ouvir para me agarrar em outras referências, como Clube da Esquina, Belchior, Geraldo Azevedo e Fagner. Gosto muito daquela sonoridade e das texturas captadas entre as décadas de 60 e 70. São discos bastante ousados e que me inspiram demais.

LP: A necessidade de extravasar essas canções fora do Fino Coletivo se dá por quê?

– Queria mais tempo para dedicar à minha carreira solo. A agenda do grupo é bastante agitada e não consegui divulgar o primeiro álbum da maneira que gostaria. Em relação à sonoridade, o Fino Coletivo nasceu com uma pegada de mais groove. Agora estou mais focado e não devo me atropelar.

LP: Compor na alegria ou na tristeza, o que rende mais?

– Não me considero um compositor profissional. Faço minhas canções sem tanta freqüência e ao longo de um ano produzo cerca de 10 canções que, geralmente, formam um álbum. Além disso, não reviso muito os textos ou versos impressos em cada letra. Meu trabalho é meio que um vômito, um escarro das emoções que sinto ou das situações que vivencio. É um processo muito pouco racional, e, por isso, essa músicas não constituem histórias com início, meio e fim. São desabafos e lamentos de uma melancolia que eu não sei exatamente da onde vem. Mas creio que são canções bonitas e sentimentais. Gosto de coisas mais lentas, melodiosas e, até certo ponto, românticas.

LP: Suas melodias são ao mesmo tempo ensolaradas e nubladas, parecem feitas durante manhãs em alguma casa de campo bastante afastada do agito das grandes cidades. Afinal, onde foram feitas estas canções, como foi o processo criativo desse disco, desde composição até chegarmos aos arranjos, sonoridade, gravação?

– Assim como no álbum anterior, gravei "Buscador" na sala de casa, ou melhor, no meu estúdio caseiro que fica no Jardim Botânico. Apesar desse clima, sou um cara urbano. Acredito, portanto, que essas referências ao nascer do sol e das nuvens negras que se dissipam são metáforas que traduzem uma possibilidade de virada. A natureza assume lugar como metáfora ou elemento figurativo. Estou no Rio desde 1990, cresci nesse ambiente agitado. Não sou um cara recolhido ou um heremita deslocado, mas no sentido poético eu cabo não tendo uma ligação forte com o urbano.

LP: Do que se trata a tal trilogia em carne viva?

– Carne viva tem a ver com o sentido de muita exposição. "Buscador" é um álbum muito auto-referente. Essa expressão surgiu a partir da idéia de não tampar muito as feridas. Apesar das tais metáforas usdas ao longo do álbum, as músicas são bastante diretas. São como fraturas expostas, uma prposta bem crua onde os sentimentos são pouco camuflados. Minhas letras soam menos elaboradas e tem a ver com um desabafo que se aproxima da Jovem Guarda. São versos simples, mas, não, simplistas.

LP: O seu disco parte de referências internacionais que vão do folk a psicodelia em certos temas mais viajantes, mas também revela-se um apanhado de referências brasileiras, como Clube da Esquina entre outros. Se detalhar referências é complicado, pergunto a que sonoridade "Buscador" te remete?

– Ouço muitas bandas americanas que apostam nessa sonoridade mais contemplativa e ao mesmo tempo ensolarada, como os americanos do Fleet Foxes, de Seattle, o duo Beach House, assim como o Grizzly Bear. São artistas que têm me inspirado. São universos interessantes e inusitados aos dias de hoje, pois remetem a algo medieval e os sons parecem terem sido extraídos do meio de uma floresta. É uma delícia. Recentemente, um amigo que estava pelos EUA entregou o meu álbum para a banda, mas não mantive contato.

LP: Como e por que escolheu esses formatos para o lançamento de "Buscador"?

– O álbum anterior foi lançado pela Dubas. Desta vez, eu não queria estar vinculado a um selo. Preciso ter mais discos a mão para vendê-los em shows, divulgar e etc. O problema dos artistas independentes sempre foi a questão da distribuição, mas com a Internet você chega em tudo o que é lugar. É esse o meu caminho. A Internet, hoje, representa o meu universo musical.

LP: Mas em relação às vendas, como é que fica?

– No último sábado vendi cerca de 100 discos em um único show. O valor do SMD é tabelado a R$ 5 e não sei se o meu disco vale mais ou menos que esse valor. Mas essa resposta é muito mais direta e gostosa. Além disso, queria lançá-lo na Internet e observar a resposta desse público. A maioria das pessoas que conheço não comprou o meu disco anterior, mas, sim, baixou, copiou e encontrou outras formas de ter acesso ao meu trabalho. Por isso, comecei a pensar que que o meu público é basicamente de Internet. Acho que são essas pessoas que ouvem o meu som, o pessoal que curte Myspace, blogs, Youtube e Internet de uma forma geral. Acho que assim ficou mais fácil atingir essas pessoas e, agora, posso acompanhara mais de perto quantas cópias são vendidas do meu SMD, assim como o número de downloadas registrados no meu site. Não acredito mais no CD como suporte físico de música. Não compro CDs há anos e não sinto a mínima falta daquele ritual de abrir o CD e observar a arte gráfica. Não vou a lojas há anos.

LP: Ser ouvido na web se torna cada vez mais fácil. Além disso, sites como Myspace e Youtube, entre outros, se transformam em ótimos e acessíveis meios de comunicação com fãs. Mas ser ouvido nas rádios e ser ouvido em shows também acompanham esta tendência?

– Essa é uma outra questão, realmente. Mas não corri atrás de nenhuma rádio e nem devo fazer isso, apesar de ter canções com apelo pop, com melodia e refrão bem definidos. Mas nunca dei muita atenção para esse sistema de jabá. Em relação aos shows, acredito que o boca-a-boca faz a história crescer e ganhar corpo. Encaro esse trabalho como um desafio a isso tudo. O meu show é reflexo dessa postura, pois é composto por uma série de baladas, bem lentas. É uma proposta de interação diferente do que as pessoas, principalmente no Rio de Janeiro estão acostumadas a curtir ou procurar. Agora, tudo aqui é evento, festa. Fiz show em um teatro em São Paulo e foi uma maravilha. Não tinha garçom, gente querendo pular, esses tipos de coisa.

LP: Iniciar e construir uma carreira artística sólida no Rio é quantas vezes mais difícil que em São Paulo?

– Realmente tenho muito mais resposta do público paulista. Seja em shows, comentários no Myspace, e-mails. Em relação ao profisional, as possibilidades são muito maiores, a vida cultural é mais agitada e a cidade é mais cosmopolita. A Zona Sul do Rio resguarda ares de província, mas traz com isso uma série de aspectos negativos. O carioca acha que está fazendo um enorme favor indo a um show seu. É um mundinho onde as coisas são restritas e você esbarra sempre com as mesmas pessoas. Moro no Rio pois foi aqui que me criei.

domingo, 17 de agosto de 2008

qinhO + Canduras

Para quem perdeu o ótimo show de estréia do cantor e compositor Qinho, em versão solo, no Cinematèque sexta-feira passada, vale lembrar que o músico apresenta as músicas do seu novo trabalho, Canduras, hoje no Clube do Vinil, no Canequinho Café, em Botafogo, a partir das 18h.

O projeto, a princípio experimental, começou de forma despretensiosa, com o músico registrando suas novas composições, talhadas com parceiros diversos, em estado bruto, captadas sob o esquema voz-violão e gravadas em um programa básico de áudio (wavepad).
– A intenção, no início, era de usar a limitação técnica e aceitá-la como linguagem. Gravei as canções com um programa básico de áudio para Windows e queria entender a resposta destas canções no estado delas, respeitando esse limite – explica o músico.

No entanto, mês passado, Qinho entrou em estúdio para registrar em esquema profissional suas composições. Sem deixar de lado o clima instimista e despojado dos seus registros anteriores, as dez novas canções foram disponibilizadas há duas semanas em seus dois perfis no Myspace (http://www.myspace.com/qinhosemu e http://www.myspace.com/canduras) e devem ser lançadas em formato físico em setembro.

– No início, o propósito não era investir em estúdio para gravar, mesmo que um voz-violão que não seria algo dispendioso ou caro. Eram canções que havia feito com alguns parceiros e que gostaria de mostrá-las, mas o negócio acabou ganhando corpo. Para mim, é mais um instrumento de ação e a oportunidade de surgir novas parcerias e shows. No Cinematèque a resposta foi incrível – avalia Qinho.

Quem também dá canja no evento é o tecladista, compositor e fundador do Barão Vermelho, Maurício Barros. O projeto Clube do Vinil reune admiradores, colecionadores, artistas e Dj's para tocar e apreciar o som das melhores músicas gravadas em Long-plays.
Para os que deletaram ou não a Lei Seca, segue um toque pra lá de indecente: rodada dupla de Boêmia a noite toda!

Bom dia (qinhO/Ericson Pires)




Canequinho Café (Anexo ao Canecão)
www.canequinhocafe.com.br
Av. Venceslau Brás, nº215/ Botafogo.
Informações: (21) 2105-2000 (21) 8519-0720 (21) 8131-9387
Entrada Franca

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

"Aconteceu e eu estou muito feliz em anunciar que o vídeo para a música "Anormal" já está disponível para ser assistido!!"

Responsável por boas doses de renovação no cenário pop-rock nacional, com letras e melodias originais e bem acima da triste média, Jonas Sá, o mito, estréia seu primeiro clipe da carreira no Myspace. Para quem ainda acredita que a TV também traz boas novas, vale lembrar que a novidade também rola no programa "Território MTV", ao vivo, na próxima quarta-feira, às 20h.

Em entrevista concedida ao Laboratório Pop no início desse ano, Jonas, que antes de virar músico pensava em ser cineasta, já havia revelado que dirigiria os seus próprios clipes como forma de extravasar seus impulsos fílmicos.

Produzido e dirigido pelo próprio, estão intactas as verdades de Jonas, como suas elétricas e desconcertantes dancinhas de palco, que navegam entre o trapalhão Didi e os passos "moonwalk" à Michael Jackson, os cabos coloridos de instrumentos percorrendo e emarando-se em seu corpo, além, é claro, das famosas "luzinhas vaga-lumes de Natal". Todo o tipo de coisa que nos faz pensar que ele é aNormal.

Nesta terça, Jonas apresenta seu show no Projeto Oi Novo Som, na Nuth Lounge, na Barra. Abaixo, o que o próprio escreve sobre o rebento:

"É engraçado pensar na minha história com música e lembrar que, lá atrás, quando ainda era criança, pensava que ia fazer cinema. Tanto era importante o cinema na minha vida, que eu nunca brincava de aventuras com meus amigos, se não de filmes. As aventuras eram sempre focadas nos personagens e em suas sensações e sentimentos ao invés da ação desenfreada das brincadeiras dos meus colegas de escola.
Eu começava pelos créditos iniciais e logo buscava um piano velho que tinha em casa ou o violão de afinação especial do meu pai e improvisava a trilha do filme que estava começando no imaginário coletivo meu e dos meus amigos.
Lembro bem de ter ganhado um concurso de redação do jornal Balcão, aos 9 anos de idade, e, ao participar do programa Sem Sensura, da TVE (Atual TV Brasil), escutar na mesa redonda o cineasta e ex-ministro da cultura do governo Collor, Ipojuca Pontes dizer que tinha dúvidas se eu poderia considerar a idéia de fazer cinema quando eu crescesse.
Ironicamente, talvez, eu acabei deixando as aventuras práticas de lado para compor canções. A brincadeira de fazer música foi mais resistente que a de fazer filmes. Mas nunca pude deixar o cinema; Cinema Paradiso, Noites de Cabíria, Desperate Living, Metropolis, ET, O Feitiço de Áquila, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, Sonhos, Macunaíma... de todos os cantos do planeta as tramas e imagens remontam minha vida tão comum e me fazem compor canções que são um pouco meus filmes.
Agora, a mesma música que o cinema me apresentou, a mesma que roubou-me do cinema, me leva a dirigir o meu primeiro vídeo-clipe".

"Anormal":

ANORMAL!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A guerra

Eu que sou do tempo do velocípede não deixo nunca de me surpreender com a velocidade da ?-modernidade. A última bomba que abala meu fugaz universo Web 2.0 acaba de cair. Afinal, achava que o Myspace era rei e não tinha para ninguém, mas não é bem assim.

Concorrente direto do portal (Myspace) que une blog, fotolog, videolog e webespaço de 10 entre 10 (novos) artistas, o Facebook começa a levar abaixo mais um ícone da geração internética – assim como ocorreu com o pioneiro Napster entre outros. Anunciado hoje, o número de acessos e de inscrições recebidas pelo Facebook já supera os índices registrados pelo Myspace, o que o torna o maior portal de relacionamentos da Internet.

Hoje, cerca de 132 milhões de pessoas contam com um perfil no portal, um crescimento de 153% entre junho de 2007 e o mesmo mês de 2008. Enquanto que no Brasil o Facebook não ganha fama e cresce poucos traços, no Estados Unidos o crescimento registrado no período da pesquisa bateu a casa dos 40%. Já o Myspace obteve crescimento de míseros 3%, mesmo oferecendo mais conteúdo musical e serviços relacionados. O Facebook, no entanto, não perde tempo e já planeja injetar novas funções musicais em seu sistema.

É a guerra das redes sociais de comunicação representada abaixo:


quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Qinho lança primeiro vôo solo: 'Canduras'

Líder da banda Vulgo Qinho & os Cara, modelo da badalada grife Totem e apontado como uma das novas caras do Rio pela revista Domingo, do Jornal do Brasil, Marcus Coutinho, vulgo Qinho, apresenta as canções do seu primeiro vôo solo, Canduras, nesta sexta-feira a partir das 22h, no Cinematèque Jam Club, em Botafogo.

– Passei cerca de três anos e meio me dedicando exclusivamente à banda. Desde produção, gravação, além de tudo que envolvia o nosso trabalho. No entanto, queria compor mais, explorar minha criatividade em novos temas e caminhos sonoros. Quero que este projeto seja mais um instrumento de ação, que abra oportunidades para mais shows. Esse trabalho depende só de mim – explica o cantor.

Recém disponibilizadas em seus dois perfis no Myspace (www.myspace.com/qinhosemu e www.myspace.com/canduras) – que juntos já registram cerca de seis mil acessos –, as dez canções que compõem Canduras são resultado das parcerias tecidas em conjunto com uma nova safra de escritores, poetas e letristas, como Vitor Paiva (filho do cartunista Miguel Paiva), Botika, Miguel Jost, Rodrigo Gameiro, além de Omar Salomão (seu companheiro de banda no Vulgo Qinho & os Cara).

– Dessas dez canções, oito foram escritas em parceria com amigos. Somente uma é apenas de minha autoria e outra é uma regravação de Norte da saudade, do (Gilberto) Gil – conta Qinho, que a partir das próximas semanas comercializa o download das novas canções.

Criadas e captadas a partir do esquema voz e violão, no estúdio, Qinho contou com o acompanhamento de outros músicos, em arranjos intimistas que privilegiam instrumentos de sopro como clarinete e trompete, além de baixo acústico e elementos percussivos. No palco do Cinematèque, porém, somente com um violão acústico a tiracolo, Qinho deita sua voz sob a influência de álbuns como Gil Luminoso (de Gilberto Gil) e outros tantos da bossa nova à Tropicália.

– Gil Luminoso anda nessa mesma freqüência de voz e violão, mas não é exatamente a influência que eu mais ouvi do próprio Gil. Refavela é muito mais presente nesse sentido. Além de Marvin Gaye, João Gilberto e Dorival Caymmi, que ouço sempre, Gil e Gal estão entre as minhas maiores inspirações, mais até do que Caetano – revela Qinho.

À frente da sua banda, Qinho versa sobre temas que passeiam pelo ambiente e comportamento nos grandes centros urbanos. Apesar de a rua continuar sendo o cenário principal para as suas peregrinações e experiências, o universo concreto dos ônibus, prédios, balas perdidas e afins desta vez foi substituído pela subjetividade das relações humanas, agora apresentadas como mote do seu novo trabalho.

– Percebi que a proposta da banda, apesar de também ser muito afetiva, causa estranheza. Temos um poeta e isso já é um elemento diferente, além das próprias letras, onde você percebe pontos de tensão – diz. – Quando comecei a pensar este projeto, entendi que precisava mexer na afetividade. Acho que falta afeto e diálogo entre as pessoas; o ambiente urbano nos torna estranhos uns aos outros. Isso porque a paranóia em volta da violência é ainda maior do que a própria (violência), e, assim, nos afastamos e nos isolamos. A minha proposta é responder a isso com afeto e amor incondicional. É disso que parte toda essa história. Ao invés de tiros e pedras, prefiro jogar flores e atirar afeto!

Com a sua banda, no entanto, Qinho ainda conta com projetos sob a cartola. Entre eles, o lançamento, ainda este ano, de um novo EP com versões para clássicos da MPB, da soul music e do samba. Entre elas, Qualquer coisa (Caetano Veloso), Pusherman (Curtis Mayfield) e Juízo Final (Nelson Cavaquinho).

– Queremos fazer esse EP e lançá-lo exclusivamente na Internet. Faremos versões para quatro canções, mas não queremos lançar algo físico e, sim, ver como funciona a questão da comercialização de música pela rede. Será mais um trabalho, complementar ao disco de estréia da banda, são canções que tocamos há algum tempo em nossos shows .

Representante de uma nova geração de artistas cariocas que busca expandir os limites da música e promover intercâmbios com a literatura e as artes plásticas, Qinho e os integrantes da sua banda caíram nas graças do povo, ou melhor, dos populares que acompanham desde o ano passado suas performances nas calçadas da Zona Sul. A atitude gerou, no início do ano, o evento Dia da Rua, em que as esquinas dos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon serviram de palco para a apresentação de 15 novos grupos. A experiência deverá ser reeditada ainda este ano:

– Ainda não temos data, mas com certeza vai rolar. A rua continua sendo parte central da minha vida. É onde encontro as pessoas, ganho vivência e onde experimento – afirma.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sexo, drogas e Rolling Stones

Com 30 anos dedicados ao jornalismo cultural, escrevendo sobre rock, cinema e cultura pop, o jornalista, roteirista e diretor José Emílio Rondeau é autor, em conjunto com o pesquisador musical Nélio Rodrigues, da primeira biografia sobre os Rolling Stones escrita por brasileiros: Sexo, drogas e Rolling Stones.

Partindo de extensa pesquisa, além de entrevistas exclusivas com Jagger, Richards e cia., os autores emprestam novo olhar ao legado histórico da "maior banda de rock de todos os tempos". Afinal, com 46 anos de carreira e em plena atividade na primeira década do século 21, os Rolling Stones continuam a escrever sua história, iniciada na década de 60.

Nesta entrevista, José Emílio – que hoje acumula função de assessor de imprensa do candidato à prefeitura do Rio Fernando Gabeira – destaca a velha rixa que colocava em lados opostos os Beatles e os Rolling Stones, e, que, segundo ele, foi uma das mais eficazes estratégias já fomentadas pelo interesse da indústria fonográfica. Ele apresenta ainda detalhes sobre a relação dos Stones com o Brasil; as diversas fases e turbulências entre os músicos da banda; além de seus encontros como fã e jornalista e os shows aos quais presenciou.

LFR: Por que fazer um livro sobre os Rolling Stones, além, é óbvio, da questão pessoal e sua posição como fã da banda?

– Sabia que o filme do Scorcese estava para sair e percebi que era uma boa hora para escrever um livro que, no país, jamais havia sido feito. Registramos a história da banda pelo olhar de dois brasileiros. A história ainda não havia sido escrita desta forma, além de não haver um lançamento do gênero, sobre a banda, disponível nas prateleiras das livrarias.

LFR: Como e quando teve inicio sua relação com os Stones? Por que é sua banda predileta?

– Acompanhei com o mesmo entusiasmo os Beatles e os Rolling Stones na minha adolescência. Naturalmente, quando os Beatles encerraram a carreira, em 1970, passei a me dedicar e acompanhar os Rolling Stones, pois eles continuavam a escrever sua história. Não é apenas a maior banda de todos os tempos, mas são os únicos remanescentes de uma era tão rica como aquela. Por isso mesmo, compõem um painel dos mais interessantes para se pesquisar e escrever. Eles são a história viva do rock e continuam a construí-la com ótimos discos. Isso é muito bonito.

LFR: Como fã e, mais tarde, jornalista e escritor, você dedicou boa parte de suas audições aos discos dos Beatles e dos Rolling Stones. Como vê a contraposição entre as duas bandas ao longo da década de 60 e, depois, a "disputa" sobre qual das duas seria a maior banda de rock de todos os tempos?

– Na verdade, os Beatles começaram um pouco antes do que os Stones. O sucesso dos Beatles abriu as portas para as experimentações que todas as bandas, até hoje em dia, continuam a fazer. Realmente eram duas bandas bastante diferentes. Os Beatles vinhas do norte da Inglaterra, da cidade de Liverpool, enquanto que os Stones eram londrinos e estavam no centro de tudo o que acontecia no país. Fora a questão cultural, estas diferenças também eram bastante claras em relação à música que faziam. Enquanto os Beatles faziam pop, os Stones bebiam direto da fonte do blues americano.

LFR: Era consciente essa intenção de se diferenciar e representar talvez o oposto do que o estilo cool, mas certinho, dos Beatles vendia? Fruto exclusivo das intenções e interesses financeiros da indústria fonográfica ou realmente uma completa polarização dos modos de agir e pensar dos integrantes da banda?

– Os Stones tiveram o cuidado e a sabedoria de se distingüir. Não adiantava ser uma cópia,ou um novo Beatles. Queriam representar algo distante daquilo. Esta noção os definiu e criou esta tensão na diferença entre as duas bandas. A postura ameaçadora e agressiva dos Stones vinha em contraposição ao bom mocismo preservado pelos Beatles. Naturalmente, fora dos olhares do público, os Beatles eram tão bandidos quanto os Stones. No entanto, Mick Jagger abraçou a causa e percebeu que a controvérsia poderia gerar um interesse ainda maior nas duas bandas. Isso estimulava os fãs, os críticos e as duas bandas. Com o tempo, os Stones acabaram por viver com todo esplendor este lado sombrio que tanto alimentavam.

LFR: Por incrível que pareça aos olhos de hoje, Mick Jagger demorou um pouco para se afirmar como a figura central e líder da banda. A postura e a figura extravagante de Brian Jones ofuscava os outros integrantes? A partir de que ponto Jagger tomou as rédeas do grupo para si?

– Brian Jones era um camarada que sabia tudo sobre blues. Tinha inúmeros e os melhores contatos no showbiss. Os outros músicos dos Rolling Stones, de certa forma, idolatravam Brian Jones. Depois, com o convívio, perceberam que ele era uma pessoa frágil, extremamente insegura e cheia de turbulências. Aproveitando esses momentos de crise e inconstâncias psicológicas de Brian, Jagger começou a o engolir. A partir disso, a ruptura se naturalizou.

LFR: Qual a fase criativa dos Stones que mais o agrada ou a mais importante musicalmente? Com Brian Jones, Mick Taylor ou com o Ron Wood, que é a mais duradoura?

– As fases com Brian Jones e com Mick Taylor foram as mais valiosas. Com Brian, os Rolling Stones começaram a se descobrir e trataram de construir sua identidade sonora e comportamental. Na época do Brian, ele era o líder, dava as cartas e era o mais querido entre as mulheres. No entanto, ele não era capaz de compor. Jagger e Richards, com o consentimento de Bill Wyman e Charlie Watts assumiram esse papel. Foi a fase mais criativa da banda e que revolucionou e marcou os alicerces da sonoridade dos Stones.

E Mick?

– Com a morte de Brian Jones, entra o Mick Taylor. Ele era um super músico, já famoso e renomado. Mick adicionou um lirismo e uma profundidade musical que os Rolling Stones, até então, não tinham. A partir dessa fase, eles mergulharam em um lado mais sofisticado em termos de arranjos e composições. Mick também compunha e criou muita coisa sem jamais ganhar crédito. Fato, entre outros, que o levou a sair da banda.

LFR: O livro parte de um ponto central, talvez, que é a relação da banda com o Brasil. Até que ponto essa relação resultou em elementos musicais incorporados às suas criações?

– Existem dois exemplos marcantes ligados à vinda deles ao Brasil. Uma substrutura importantíssima que ilustra a relação dos Stones com o Brasil. Eles estiveram aqui pela primeira vez em 1968 e se hospedaram no Copacana Palace, onde conheceram um fotógrafo americano, que os convidou para ir à Bahia. Lá tiveram contato com a música e os ritmos africanos. Ficaram hospedados em uma casa em Itapoã, e no livro usei estas fotos que nunca haviam sido publicadas no mundo todo. Eles ficaram fascinados com o som da Bahia e com a dança que presenciaram no dia da cerimônia da lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim. Esse contato com os sons de batuque originarou os arranjos para Simpathy for the devil. Até hoje, eles garantem que essa faixa é um samba. Neste mesmo ano, em 1968, eles foram convidados a passar a virada do ano na fazenda do Walter Moreira Salles, no interior de São Paulo. Contaram depois que se sentiram no estado americano do Arizona, em um legítimo filme de cowboy. Inspiração que fez nascer Honky Tonk Woman. Em uma entrevista, concedida em 1988, Keith Richards me disse que comprou um violão de um cantador de rua que foi usado em diversas apresentações. Em 1975, Jagger esteve no Brasil e gravou algumas canções em estúdio com músicos brasileiros, como Dadi e o Antônio Adolfo. Mas nunca foram lançadas.

LFR: Vocês lançaram o livro que abarca pontos e temas vivenciados ao longo dos últimos 46 anos de banda... No entanto, eles não param de produzir... Como lidar com a questão da finitude, de fechar um livro e colocar um ponto final na história de uma banda que até agora ainda navega em reticências?

– Complicado. A história da banda ainda está sendo escrita. Eles planejam uma nova turnê para 2009, ainda tem muito chão pela frente. Acho que a banda só acaba quando Mick Jagger ou Keith Richards morrerem. Ou Charlie Watt. Se Ron Wood morrer não acredito que a banda termine. O relacionamento entre Jagger e Richards é muito volátil e especial. É um longo casamento, se conhecem desde os primeiros anos de vida, estudaram juntos na mesma escola. É uma relação complexa e profunda que não se desfaz tão facilmente.

LFR: Quantas vezes já presenciou um show dos Stones? Quais deles foram os mais marcantes e por quê?

– Assisti aos Stones umas 12 vezes. A mais marcante foi em 1975, na Flórida, justamente por ver ao vivo aqueles que eu apenas imaginava como seriam. Conhecia os Stones das fotos e dos artigos impressos em folhas de papel. Vê-los em carne e osso, ali, à minha frente, foi uma experiência inesquecível. Esta última apresentação na Praia de Copacabana também foi das mais marcantes, assim como uma outra, em 1994, em um pequeno clube em Toronto, no Canadá. Era um evento promocional, então pude acompanhar as brincadeiras, os trejeitos, suas feições da primeira fila, algo super intimista. Pude ouvir o som que saía direto dos amplificadores, sem PA nem nada. Era realmente o som dos Stones.

LFR: Algum projeto em pauta para o próximo ano?

– Tenho outro projeto que já começa a se desenvolver. Quero remontar a história do rock brasileiro que, apesar da terminologia criada nos anos 80, BRock, começou muito antes, nos anos 60. Quero resgatar toda a história dos Mutantes, Os Incríveis, entre outros. Uma porção de gente que ajudou a fundar as bases do rock nacional e que muita gente não conhece ou dá valor. Será um trabalho mais demorado, pois demanda mais apuração e cuidado na pesquisa. Quando fizemos o trabalho dos Stones foi mais rápido, pois sabíamos a história quase completa de cor.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Ed Motta - Chapter 9


* Previsto para sair daqui a um mês pela gravadora Trama, o novo disco de Ed Motta, Chapter 9, vazou na internet no final da semana passada. O link, descoberto pelo JB, possibilitou uma série de críticas estampadas na capa do Caderno B desta segunda-feira. Resultado: desesperada por ter sua estratégia de marketing furada – a gravadora planejava que a revista Rolling Stone "Brasil" produzisse a primeira resenha sobre Chapter 9 – a gravadora desativou o link para audição do álbum do Trama Virtual. Abaixo, crítica na íntegra:

Em seu nono álbum de estúdio, Chapter 9, Ed Motta se distancia do Rio antigo de gafieira interpretado em formato samba-jazz em Aystelum (2005) – registrado entre o instrumental jazzístico e o pop. Agora, de seu rico acervo discográfico, Ed pinça da prateleira vinis que marcam as principais referências de sua formação musical, regada a soul music setentista, disco-funk e blues-rock.

Produtor, compositor e responsável por cada instrumento incluído nos arranjos que compõem estas onze novas faixas, Ed Motta se atém com intensidade à faceta de cantor. Dessa vez, no entanto, seus graves cavernosos, assim como agudos límpidos ecoam fundo pelo idioma de Shakeaspeare em material assinado pelo inglês Rob Gallagher e por Cláudio Botelho.

É Botelho o responsável pelo lirismo incutido em blues soturnos, como The man from the oldest building – faixa que abre o disco –, enquanto o primeiro se mostra em Twisted Blue, ambas lapidadas pelo estilo à Broadway das frases melódicas criadas por Ed. Guitarras distorcidas e com efeito tremolo desconcertam o blues-rock envenenado Tommy`s boy big mistake, que, precedida por St. Cristopher`s last stand, emaranha-se a hits mais dançantes e de levada disco, como You`re supposed to...

A soul music à Stevie Wonder também dá as cartas e se descortina na faixa Runaways, em levada pra frente guiada por bateria e linhas de baixo e piano pulsantes. O ápice, no entanto, chega em Sky is falling. É quando a cozinha manejada por Ed traça a conexão entre os grooves do reggae-dub jamaicano e a sonoridade Stax/Motown. Ao refrão, Ed presta tributo a alma do soulman americano Donny Hathaway em uivos melódicos lancinantes, dos melhores já registrados em sua carreira.

Ao podar as invencionices de seus improvisos vocais egóicos, que mais afastam que instigam seus ouvintes, Ed Motta reencontra-se com o formato canção e, diga-se de passagem, em ótima forma. A esperança é que uma bolacha competente como esta nos seja apresentada sorvendo o que há de melhor da música brasileira. O capítulo 10 está na manga.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Príncipe dos clubs


Assumindo-se um artista prestigiado pelo universo gay, o cantor e compositor Sam Sparro une soul 70 com experimentações eletrônicas e abre uma nova janela para o pop: “Sabia que seria algo grande”

Desde que a psicodelia pop e a soul music setentista explodiram unidas pela voz potente do cantor Cee-lo Green, a bordo do hit Crazy – talhado há dois anos pela outra metade do Gnarls Barkley, o produtor Danger Mouse – FMs mundo afora definham sedentas à procura de uma canção que a pudesse substituir à altura e com impacto semelhante.

Ao apostar em estética musical similar, coube à imprensa inglesa destacar o poderio vocal do cantor australiano Sam Sparro e lhe determinar a incumbência de trazer de volta às pistas de dança e às paradas de sucesso boas referências musicais em formato pop.
– Ouço de tudo, de jazz à new wave, passando por disco, electro, R&B, além de bandas punk. Aliás, cheguei a tocar em algumas antes de me tornar um adepto dos clubes – revela Sam.

Sorvendo influências de fontes musicais variadas mas consistentes, que unem as levadas funk e disco da década de 70 às vertentes eletrônicas house e electro, Sam Sparro, sem falsa modéstia, toma para si o posto de intérprete oficial de um dos maiores hits do ano, Black and gold. Descartando, portanto, fórmulas vazias e requentadas, o cantor caiu nas graças de produtores renomados como Mark Ronson (Amy Winehouse), do radialista Zane Lowe (Radio 1) e da imprensa especializada que, generosamente, lhe reserva a alcunha de Prince século 21.

– Assim que comecei a escrever a canção sabia que seria algo grande e que representaria muita coisa para mim. Talvez isso soe arrogante, mas meu instinto sempre foi dos melhores. Sou um cara teimoso e obstinado, então normalmente uso minhas armas muito bem – garante.

Carro-chefe de seu álbum de estréia, batizado com seu nome e lançado em abril (sai no Brasil 19 de agosto), a faixa chegou ao topo dos charts oficiais da BBC e impulsionou, também no Brasil, o então fenômeno do Myspace.

Branquelo de traços firmes e ornamentado, invariavelmente, por roupas coloridas oitentistas ou modelitos de corte refinado, Sam Sparro sustenta o ar blasé indie-fashion que o transformou em ícone do universo gay, ao qual assumidamente se insere. Comparado ao escalafobético cantor franco-argelino Mika, ícone do mundinho em 2007, Sam felizmente mais se assemelha, física e musicalmente, ao cantor inglês Jamie Lidell.

– Sempre acreditei que muita coisa iria acontecer na minha vida, mas obviamente passei por um período de incertezas. Quando compus Black and gold, por exemplo, não cheguei a estar deprimido, mas, sim, confuso, pois servia cappuccinos ao invés de cantar sobre palcos. Parecia que minha vida não iria dar em lugar algum – lembra.

Fruto da quinta geração de músicos de sua família, Sam é neto de um trompetista de jazz – que, entre outros, acompanhou Frank Sinatra – enquanto seu pai, o compositor e guitarrista de blues Chris Falson, prestou-lhe o favor de encharcá-lo, desde os 10 anos, na tradição gospel dos corais americanos. Foi em uma dessas reuniões que seu talento vocal de graves arredondados e agudos precisos foi descoberto pela diva soul Chaka Khan, que, surpreendida, disparou: "Damn, that white boy can sing!"

– Sempre estive rodeado de boa música. Fui moldado pelos caminhos do jazz e da soul music, já que em Los Angeles meu pai me levava para as igrejas. Mais tarde fiz a conexão destas linhagens com o hip hop e o dance – conta.

Hype, rádio e web
Produto de uma era em que a velocidade da informação ignora e descarta artistas com a mesma rapidez em que cria mitos de última hora, Sam afirma não se incomodar com a deglutição voraz da geração Web 2.0. e muito menos com todo o hype dispensado à sua meteórica carreira.

– Como artista, penso que é importante para a minha música estar disponível para todos, então é importante que isso seja possível nos dias de hoje.

No entanto, perguntado sobre as perspectivas de um mercado fonográfico cada vez mais esvaziado, ele é taxativo e da ponta de sua língua deixa escorregar uma solução palpável:

– Acho que tanto o Myspace quanto o Youtube e sites do gênero deveriam pagar royalties aos artistas. Isso é mais que justo, já que minha música serve como isca para que as pessoas sejam expostas aos produtos anunciados.

Cria da internet, mas, rapidamente, cooptado e catapultado às principais ondas digitais ou não de rádio, Sam não esconde seu desapego em relação às FMs, onde, mesmo assim, bomba internacionalmente.

– Apenas há poucos meses passei a ouvir rádio novamente – diz o músico. – Sinto-me um tanto quanto desprendido e distante da música considerada comercial. Mas, por curiosidade, fui checar e procurar saber o porquê e junto a quem minha música estava acontecendo e dando as cartas nas rádios.

Perguntado sobre jabá, ele desvia o foco sem fugir do assunto e prefere decretar a irrelevância dos programadores de rádio que, hoje, o põem no topo das paradas.

– Hoje em dia, os verdadeiros fãs de música procuram outras e melhores fontes para conhecer novos artistas e canções – afirma.

Debut

Gravado em Los Angeles entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008 pelos produtores Paul Epworth, Richard X e Jess Rogg, seu álbum de estréia é ponto culminante de mais de cinco anos de experimentações e muito material pré-gravado e testado.

– Comecei compondo e pré produzindo no estúdio que tenho em meu quarto. Depois levei o material para o estúdio do Jesse Rogg e aí cerca de quatro ou cinco canções acabaram sendo formatadas em parcerias com alguns dos melhores produtores ingleses. Acabou que no final tivemos que nos arrastar para terminar o álbum. Gostaria de passar muito mais tempo em estúdio para produzir meu próximo álbum. Gosto de trabalhar devagar.

Explorando climas até certo ponto soturnos em meio à sonoridade dançante guiada por camadas de sintetizadores cheios de groove, Sam não perde tempo em definir a atmosfera sonora impressa em seu debute e muito menos em listar possíveis intenções.

– Minha cabeça não funciona como a de um executivo de gravadora. Não é o tipo de coisa que tive que pensar muito antes de começar a fazer ou cantar. Apenas canto da maneira que sinto que a música é para ser interpretada. Apenas fiz o que estava sentido no momento da criação.

Inspirado por artes visuais, o que inclui cinema, design gráfico e moda, ele faz questão, sim, de enumerar os estilistas que determinam seu estilo cool, entre eles fashionistas pop como Jeremy Scott, Ksubi e Henrik Vibskov.

– Amo a conexão que podemos estabelecer entre música e cinema. Acho que, por isso, me envolvo tanto no aspecto visual da minha arte, seja quando eu resolvo me vestir, fazer o design de algo, ou quando contrato alguém para fazer um trabalho. Tive algumas pequenas batalhas para garantir que minhas idéias fossem postas em prática no aspecto visual da coisa, mas ao final do processo tudo se acertou.

Mais interessado em falar sobre design, moda e artes visuais do que sobre os temas e as questões que influenciam sua produção musical, o cantor deixa para os fãs e a crírica especializada a tarefa de lidar e interpretar as circunstâncias do existencialismo pop contido em suas letras.

– Escrevo apenas quando sinto que tenho algo a dizer. Pode ser qualquer coisa, algo que esteja nos comentários da sociedade de forma geral, questões internas que tocam minha alma e essência, até sobre coisas ridículas e triviais, como ficar doidão.

Black and gold:

21st Century life: