NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

domingo, 25 de maio de 2008

Condor - Roberto Mader




Dirigido por Roberto Mader, o documentário joga luz, a partir de registros e depoimentos, sobre a obscura aliança político-militar organizada por diferentes regimes ditatoriais instalados na América do Sul durante os anos 70. Considerada por muitos como um dos piores exemplos de terrorismo de estado da história, a Operação Condor surgiu como pretexto para calar e conter o avanço da esquerda em países como Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. No entanto, utilizando-se de truculentos métodos, a violenta investida militar deixou um rastro indelével de intolerância, além de numerosos casos de seqüestros, assassinatos e exílio.

– Não houve uma conexão histórica pessoal que me levou a escolher este tema. É um assunto, sim, de interesse pessoal, parte de uma consciência política – explica Mader. – Peguei o final da ditadura, enquanto estudante secundarista, em meados da década de 70. Um período em que a rigidez e a violência de todo este processo, de certa forma, já havia sido amansada. Acredito, no entanto, que os jovens precisam entender este período pelo qual o país e a América atravessaram.

Durante os 15 anos em que viveu em Londres produzindo e dirigindo para cinema e TV, Roberto Mader delineava planos para filmar algum tema relacionado à América e já estudava sobre a Escola das Américas – centro de treinamento para latino-americanos fundado pelos EUA, no Panamá, em 1946, e baseado no modelo de serviço secreto da CIA. Mas foi em 1998, quando o general Pinochet foi preso na capital inglesa, que o diretor teve a certeza de que o assunto determinava o mote que o levaria a rodar um documentário de interesse internacional.

– Com a prisão de Pinochet, foi iniciada uma pressão para que os arquivos chilenos fossem abertos. A partir de então, uma série de documentos passou a ser revirado e descoberto – rememora Mader.

Ele conta que durante esta revoada de fatos e acontecimentos sobre o que se passou no cone sul nos anos 70, a palavra Condor começou a ganhar corpo e olhos de pesquisadores e historiadores que, assim como ele, vislumbravam a importância e a força deste momento histórico:
– Tive a certeza de que aquela história era assunto para um documentário internacional, apesar de voltado para a América do Sul.
De acordo com o diretor, Condor contextualiza a América Latina dentro de um mundo dividido pela Guerra Fria. De um lado, países que estavam sob a influência marxista da antiga União Soviética, e de outro, aqueles que contavam com o apoio dos Estados Unidos na defesa do livre mercado. No caso da América do Sul, quase todos os países estavam comandados por ditaduras militares fiéis ao modelo americano. Entre aqueles que apoiavam a ditadura e os que se opunham – taxados de subversivos – a população sofria o rescaldo da truculenta ação militar, que não distinguia revolucionários armados de esquerda e líderes e intelectuais que criticavam o regime.

– Queria, sim, contextualizar a situação da América Latina no desenrolar de uma Guerra Fria. Entender como este período afetou a vida e a população destes países e não apenas contar a história da Operação Condor em si – completa o diretor.

Na busca de uma perspectiva atual dos acontecimentos que abalaram os alicerces da América do Sul durante os anos 70 e 80, Roberto Mader percorreu cinco países da América Latina e três países da Europa, entre setembro de 2005 e agosto de 2006. O resultado da dedicada e cuidadosa pesquisa revela a conexão entre as ditaduras do Cone Sul. Narradas através de diferente e distintas versões, reunidas a partir de extensa pesquisa e colhidas através de entrevistas com vítimas e personagens, o diretor aprofunda a noção e o conhecimento sobre um dos mais marcantes períodos de violência e desrespeito aos direitos humanos da história latino-americana.

– Na verdade não quis fazer um filme com grandes revelações sobre o funcionamento da Operação Condor, ou jogar uma nova luz sobre a ação da ditadura nestes quatro países. Não me apego a números, dados, fatos e coisas do gênero – esclarece o diretor.


Condor se concentra nos depoimentos de generais e ex-ativistas políticos, torturadores e suas vítimas, além de pessoas que foram seqüestradas pela ditadura na época e seus parentes. Entre eles, Jarbas Passarinho (ex-ministro em três governos militares), o General Manoel Contreras (braço direito do General Pinochet), Augusto Pinochet Hiriart (filho de Pinochet), Hebe de Bonafini (a líder das Madres de Maio), e o escritor e jornalista John Dinges, que escreveu o livro Os anos condor.

Ao longo da pesquisa, Roberto buscou contato com grupos de solidariedade, principalmente do Chile, através dos quais pôde ter acesso a casos, além de conhecer e conversar com familiares e pessoas diretamente afetadas por todos os anos de Operação Condor.

– O mais importante do filme, e meu principal objetivo desde que comecei a pensá-lo, era contar as histórias de vida destas pessoas e famílias que tiveram suas vidas alteradas pelos anos de chumbo. Será que as conseqüências são apenas o números de mortos? Acho que há uma herança cultural e filosófica delineada ao longo de todo este período. Fiz o filme para fazer circular esta história. Acredito que os espectadores e as pessoas como um todo não gravam dados, mas sim, fixam suas memórias em histórias – analisa.

Instigado pelas histórias que desvendava mais do que pelas descobertas e novas revelações sobre o caso, Mader se sensibilizou com inúmeras histórias humanas, guiadas ao longo do filme por sentimentos de tragédia, esperança, desespero e solidariedade:

– Um dos casos mais marcante foi o da uruguaia Victoria Larraberti. Ela e seu irmão, Anatole, quando pequenos, foram separados de seus pais, que foram seqüestrados e torturados em seu país. Hoje em dia, no entanto, ela divide sua vida entre sua família de origem e a que a adotou.
Voltadas suas câmeras para o Brasil, o diretor documenta também um caso de grande repercussão envolvendo a jornalista uruguaia Lilian Celiberti, que, em 1978, foi seqüestrada com sua família em Porto Alegre pelo braço da repressão de Montevidéu, com a cumplicidade do DOPS gaúcho. Fato este que sintetiza e revela a cooperação entre os governos militares do Cone Sul que caracterizava, alimentava e servia de alicerce para o prosseguimento da Operação Condor.

Personagem diretamente afetado pela truculência dos serviços secretos de polícia, Victor Biglione espera que o filme, assim como sua trilha musical possam tocar e emocionar ouvintes, estejam estes postados à frente de aparelhos de som ou em platéias de cinema, palestras e mesas de discussões:

– O documentário será lançado em uma semana de direitos humanos na Argentina esta semana. Queremos que o filme não fique abafado e consiga dar luz aos acontecimentos políticos ocorridos na época. Vivemos uma ditadura econômica neoliberal em que as pessoas procuram sobreviver e, involuntariamente, se apegam aos assuntos, cujo o enfoque é mais atual e afeta de imediato o cotidiano das pessoas, caso de Tropa de elite. – Ele continua - Acredito que seja uma obrigação fazer com que este filme seja discutido, passar para a população a importância humanitária contida nesta história – espera Biglione, que garante não ter medido esforços para emprestar à trilha densidade emocional à contento de sua relação pessoal.

4 comentários:

O Olho Que Tudo Vê disse...

COMO FAÇO PARA TER ACESSO A ESSE DOCUMENTARIO ??

H.JAVIER@IG.COM.BR

Sandra disse...

Estou precisando com urgência desse documentário para trabalhar com alunos do ensino médio. Ficaria grata se pudesse me ajudar.
Meu e-mail: cabral.sandra3@gmail.com
Grande Abraço.

Unknown disse...

amigo, queria mt este documentário, gostaria de saber se vc tem como me passar

abraços e ótimo trabalho com o site

xanatus_correa@hotmail.com

Anônimo disse...

Baixar o Documentário - Condor - A conexão entre governos militares sul-americanos, com o apoio da CIA, que culminou com a morte de cerca de 30 mil pessoas nos anos 70 - http://mcaf.ee/cs125