NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quarta-feira, 25 de março de 2009

Rumo a Curitiba

Amanhã arrumo malas para cobrir os últimos dias do Festival de Curitiba. Animado para conferir a versão de Felipe Vidal para o texto de Tom Sttopard, Rock'n'roll, assim como para sacar a única montagem internacional do evento, a chilena Sin sangre. Aproveito para tirar o atraso e conferir Maria Stuart, que está atualmente em cartaz no CCBB, e Medida por medida, texto de Shakespeare montado por Gilberto Gawronski, mas que já saiu de cartaz por aqui. Abaixo, capa do Caderno B do último dia 17, a peça Por um fio, dirigida por Moacir Chaves, que estreiou nessa segunda em Curitiba e, infelizmente, perdi.














Lágrimas maduras

Assim que grudou seus olhos no livro Por um fio, lançado em 2002 pelo médico e escritor Drauzio Varella, lágrimas de amadurecimento brotaram dos olhos do diretor Moacir Chaves. Encantado com o que lia, não tardou a comprar os direitos para a encenação da história, que narra a convivência diária de um oncologista com seus pacientes acometidos de câncer e tem o tempo como protagonista. Com estreia no Festival de Curitiba, que celebra sua 18ª edição, ele espera que a apresentação sirva como teste para o objetivo de estabelecer com o público uma reflexão instantânea sobre o tema.

– É um espetáculo comunicativo e emocionante – define Chaves, que planeja trazer a peça ao Rio no segundo semestre. – Mas os sentimentos transbordados são instrumentos de prazer, não de sofrimento. As pessoas riem e choram muito. E posso assegurar que não são lágrimas de tristeza, mas, sim, de amadurecimento.

Construída a partir de depoimentos colhidos durante cerca de 20 anos, a montagem de Chaves incumbe ao tempo a tarefa de fio condutor entre o texto e o seu tema central: a discussão da mortalidade.

– Assim que terminei o livro, fiquei remoendo a questão do tempo – diz. – Fiquei tocado porque o Drauzio relata com sensibilidade e rigor literário trajetórias de vida que se transformaram radicalmente a partir dessa reavaliação temporal frente à morte. O aspecto central do texto, e o que proponho para minha montagem, é discutir a relação do tempo com o nosso viver.

Como aproveitamos o tempo e a nossa vida? Como viver e desfrutá-la durante esse prazo, incógnito, que nos é concedido? Com esses questionamentos, autor e diretor tencionam despertar, no leitor ou espectador, um olhar diferenciado acerca da temporalidade.

– Nosso olhar se modifica quando tomamos ciência de que somos mortais, que iremos todos morrer e pode ser que seja cedo, ou que estejamos à beira da morte – acredita Chaves. – Estimulamos a percepção e a reflexão sobre como estamos lidando com a nossa existência. Como as pessoas escamoteiam e se enganam para não pensar sobre esse ponto. Afinal, vivemos como se fôssemos imortais, como se nossa passagem não fosse transitória. Acumulamos riquezas e não aproveitamos o tempo da melhor maneira possível, justamente porque não levamos em consideração que o tempo passa. A vida continua, somos nós que não prosseguimos. Só passamos uma única vez. E quando somos vitimados por uma doença grave é que percebemos isso com mais nitidez.

Chaves conta que Drauzio Varella teve participação fundamental para a elaboração da trama baseada em 11 histórias de pessoas surpreendidas pela notícia de que suas vidas podem chegar ao fim.

– Ele não participou da construção. Seu papel foi de total apoio, confiança, liberdade e autonomia – conta o diretor. – Quando apresentamos o espetáculo praticamente pronto ele ficou muito contente e deu alguns bons palpites. Estruturamos a peça ao longo dos ensaios. O livro não apresenta uma história com início, meio e fim. Organizamos, usando a narrativa original, a melhor formatação possível.

Corte de custos

Driblando a crise econômica, a perda de patrocinadores e a redução do orçamento para garantir uma programação recheada com 30 espetáculos (no ano passado foram 24 montagens), o diretor do festival, Leandro Knopfholz, destaca como ponto alto da mostra a reafirmação do evento como referência para a produção teatral brasileira, além, é claro, a qualidade das cinco montagens inéditas que farão a cabeça dos amantes das artes cênicas até o dia 29 de março. Entre elas, a adaptação do texto do dramaturgo inglês Tom Stoppard, Rock n' roll, dirigida por Felipe Vidal e Tato Consorti (28 e 29); além da única montagem internacional, Sin sangre, do chileno Alessandro Baricco (27, 28 e 29).

– Perdemos o apoio da Petrobras e reduzimos o orçamento de R$ 2,9 mi para R$ 2,4 mi. Mas não mexemos no essencial, que é a qualidade da programação. Nos orgulhamos de sermos o principal pólo irradiador de espetáculos do país.

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