NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sábado, 27 de março de 2010

Laura Marling - Uma voz que (en)canta e tem algo a dizer

Cerca de dois anos atrás Laura Marling era, aos olhos de cá, uma espécie de Mallu Magalhães à inglesa; ou talvez a nossa Mallu fosse uma resposta tupiniquim, uma Marling para inglês ver. Não importa... Aos 17 anos, tímida, franzina e delicada, a menina chegava a ser barrada na porta de alguns clubes em que ela própria era a atração da noite. A bordo de Alas I cannot swim, seu álbum de estreia, Marling fugia à onda soul e enveredava num caminho próprio, navegando fundo pelo folk, sempre acompanhada, no estúdio ou em shows, pelos músicos do Noah and the Whale. Chamava a atenção não apenas pelas melodias bem tramadas ou pela pouca idade, até porque ícones precoces de talento não faltam no cenário pop. Mas Marling não era exatamente pop, e o que surpreendia ia além de suas delicadas e sinuosas canções, ou de sua voz doce, plácida e envolvente. Era a densidade de suas letras que pregara a atenção; o caráter até certo ponto soturno de sua sensibilidade poética havia fisgado a todos.

Era claro que a menina era diferente, tinha algo além da superfície; e em vez de apenas romantizar à frente da TV, embebida por seriados teen, filmes pipoca ou revistas/sites de fofoca – algo comum na sua idade –, naturalmente ela se deixava guiar e passar o tempo imersa em romances e poemas. Não que seus versos refletissem uma intelectualóide esnobe em formação. Apenas denotavam uma carga de entrega admirável, passavam longe do risível, do lugar-comum e da banalidade. Se falava de amor, surpreendia pela maturidade com que abordava o tema, se lançava os olhos para solidão, era nítida a sinceridade como encarava o que dizia...

O fato é que Marling cresceu, bateu a casa dos 20, rompeu com o primeiro grande amor, tingiu o cabelo louro branco de castanho, modelou a voz antes falseada em tom mais grave e encorpado, e rascunhou versos mais melancólicos para ressurgir com o segundo disco de carreira. O título, I speak because I can. Pretensão e empáfia inglesa? Nada disso. Apenas, se permite a falar sobre perda, culpa, medo, morte e solidão sem tanta timidez. Pena que a aura ainda mais densa deste novo trabalho tenha retirado de sua poesia um pouco de cor, de frescor pop, e de uma saudável ingenuidade, notada desde a arte gráfica até os videoclipes que envolviam o début. I speak because I can é um disco para ser absorvido aos poucos, esmiuçado em suas quebras melódicas e sentido em seus baques percussivos. Uma jornada intensa.

Veja essa: Devil's spoke



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