NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sexta-feira, 19 de março de 2010

Franz Ferdinand tonight

A estrutura de madeira e ferro que punha em lados opostos a banda e o público que lotava a Fundição Progresso em setembro de 2006 veio literalmente abaixo. Era o início do show, e o Franz Ferdinand arremessava os seus primeiros hits na plateia, que correspondia à altura. A paralisação aumentava ainda mais a tensão e os decibéis, com urros que se valiam do altíssimo pé direito para preencher o ambiente. Era a segunda vez que o quarteto escocês se apresentava no Rio em menos de um ano. Poucos meses antes, em fevereiro, um Circo Voador lotado estufava sua tenda para receber uma das mais incendiárias apresentações que a Lapa já viu. Não era para menos. O FF estava no auge do hype. Havia dois anos que o o disco homônimo chegara às lojas. Seguido por You could have it so much better (2005), o rock cru, de riffs angulados e melodias pegajosas do grupo garantia espaço de destaque para o FF no cenário mundial.

– O último show que fizemos aí foi realmente incrível – recorda o baterista Paul Thomson. – Ficamos até preocupados de as pessoas não entrarem em surto. Foi algo bastante físico. O lugar estava quase entrando em colapso, e não queríamos causar uma catástrofe. Foi muito bom. No ano passado pudemos tocar em São Paulo, era um lugar menor, mas uma excelente casa, com muitas pessoas. Estamos ansiosos para voltar a tocar no Rio.

Quatro anos depois, o grupo volta a se apresentar hoje na mesma Fundição Progresso. Mas, definitivamente, será uma experiência diferente. Ao lado de hits como Take me out, The dark of the matinée, Michael, This fire, Do you want to, Walk away, The fallen, Eleanor put your boots, entre outros, estarão canções com uma nova roupagem, pinçadas do mais recente álbum do grupo, Tonight (2009).

– Vamos tocar basicamente as canções desta turnê, mas é claro que sempre mudamos alguma coisa de um show para o outro... Acho que desde que começamos a excursão nossa apresentação já evoluiu bastante. Mas tudo depende do clima da noite. Se estamos tocando no frio de Glasgow é uma coisa. Tenho certeza que aí vai ser algo bastante diferente. A única coisa que mantemos é a espontaneidade. O nosso maior trunfo é poder ser livre para mudar as coisas quando bem entendermos.

E foi isso que os músicos tinham em mente quando decidiram entrar em estúdio para gravar Tonight. O Franz Ferdinand já havia se tornado uma das maiores sensações britânicas. Mais que isso, haviam definido uma nova estética para o rock atual. O pós-punk cortado por guitarras secas, rápidas e angulosas havia se tornado modelo para uma infinidade de novas bandas do cenário independente. Na sala de gravação, Kapranos e companhia deveriam inventar um novo molde para que a carreira não desandasse em meio à veloz corrida de novas bandas na ilha. O cantor de pouca extensão, mas dono de métricas um tanto quanto originais, perseguia um novo caminho para as suas letras hedonistas, sobre garotas, relacionamentos amorosos frustrados, comportamento urbano e madrugadas de festa e bebedeira. E encontrou. Saíram da cena dos pubs e moquifos underground e invadiram porta adentro os clubes dançantes, mas dessa vez escoltados por densas camadas de sintetizadores.

– Demos muita atenção a tudo que envolvia o primeiro disco. E só o gravamos depois de tocarmos muito, ou seja, mais de 200 shows – recorda Thomson.

No primeiro álbum, como é de costume em bandas iniciantes, foi reunido o que de melhor foi produzido durante a adolescência e o início da vida adulta. Já o segundo, apressados pela expectativa gerada pelo primeiro álbum, soava próximo do debute.

– Tivemos pouco tempo para fazer o segundo disco... Tínhamos feito uma longa turnê e logo depois fomos para o estúdio. Oito meses depois já tínhamos o disco pronto. E então foi bom que, para este terceiro, pudemos ter mais tempo. Ficamos realmente envolvidos em pesquisar novas sonoridades. Estávamos muito mais focados, e mesmo assim as coisas levaram mais tempo para ficarem prontas. Aproveitamos o máximo que podíamos. Nos divertimos bem mais que o segundo, com certeza. O segundo é um disco muito rápido e direto, já Tonight é mais denso e pesado, mas para dançar também, é claro.

Depois de cruzar a América Latina e retornar à Europa, em abril, o FF deve tirar alguns meses de folga. Mas o quarto álbum já está nos planos.

– Não começamos a gravar, mas já temos umas canções. Não há nada muito definido. Ainda vamos trabalhar bastante nelas, e sem pressa. Agora ainda é hora de tocar.

Ulysses

Um comentário:

marcelo alves disse...

Grande show na Fundição. Simplesmente espetacular.
abs,
marcelo