NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

domingo, 14 de março de 2010

Delphic - O futuro é agora

A cada ano torna-se mais desafiadora – quando não frustrante – a tarefa de acompanhar de perto a enxurrada de canções produzidas e veiculadas por novos artistas todos os dias. Em meio a um cenário pop multifacetado, do indie ao mainstream, cujas barreiras perdem definição gradativamente, se espraiam uma infinidade de nomes que, em questão de dias, horas, minutos e segundos são catapultados ao centro de um furacão midiático. Num tour de force para sacar o que anda rolando, preguei os ouvidos em mais de 50 nomes nas últimas semanas com a missão de separar o que realmente importa. A partir deste domingo, uma série de entrevistas exclusivas se empenha em apresentar e destacar as mais relevantes promessas do ano. Entre elas o trio britânico Delphic, assim como os nove nomes listados abaixo, entre outros que aparecerão por aqui mais tarde.

De volta a Manchester

Enfim uma banda inglesa ultrapassa a velocidade do hype; e sem dar tempo para os semanários musicais deixarem escorrer um novo gênero da ponta da língua. Dando adeus às sirenes ravers, às guitarras angulares, entre outros modismos, o Delphic mescla a house music dos clubes noturnos com a grandiosidade do rock de arena. Enquadram-se num cenário atual de bandas que aposentam a formação instrumental clássica. James Cook (vocal), Matt Cocksedge (guitarra) e Richard Boardman (multiinstrumentista) definem o trabalho como “música eletrônica executada por uma banda de rock”, e dão um tapa na cara do som eufórico e bem-comportado de alguns de seus contemporâneos. Primando pela originalidade, arremessam a sonoridade e a forma convencional de tocar guitarra na lata de lixo e apontam para um revival da Manchester oitentista – época em que os álbuns futuristas do New Order ditavam as ondas de rádio. No fim das contas, não revolucionam a máquina, mas garantem inventividade o bastante para emprestar novo fôlego à saturada cena inglesa.

– O que nos interessa é fazer com que as pessoas se emocionem e, é claro, fiquem estimuladas a dançar. Acho que Manchester precisa aprender a se mexer novamente. Queremos ser os maiores responsáveis por trazer o dance de volta ao mapa – afirma Cook,enquanto descansa após um set de DJ realizado em Newcastle.

A bordo de Acolyte, aclamado álbum de estreia, o grupo desponta como um dos mais energéticos da atualidade. Navegam por referências como Björk, Radiohead, Kraftwerk, Aphex Twin, Sigur Ros e Chemical Brothers para construir uma atmosfera singular, num arco de gêneros que embala o techno minimalista e o pop mais radiofônico.

– Todas as sonoridades que absorvemos estão gravadas no nosso subconsciente, então é difícil entender de onde vêm as conexões. Quando começamos a escrever juntos percebemos o cruzamento de influências comuns – conta o vocalista. – O que faz a nossa cabeça é um tipo de música que leva em conta a noção de pioneirismo. Mas é claro que admiramos e sabemos o quanto é difícil fazer canções que atinjam as massas. É algo tão valioso quanto criar a sonoridade mais original.

A mescla de sonoridades distintas, a quebra de barreiras entre gêneros musicais e o desprendimento quanto à formação sobre o palco não são as únicas facetas que denotam a contemporaneidade do grupo. Dono do próprio selo, Chimeric, o trio elaborou todo o material gráfico do álbum de estreia, assim como os vídeos promocionais. Perfeccionistas, escolheram a dedo o produtor Ewan Pearson, depois que ele fez da faixa Counterpoint o reflexo exato do que os três idealizavam.

– Somos extremamente detalhistas, então gravar e compor se torna um trabalho muito penoso e estressante. Ewan impediu que nos matássemos – brinca. – Ele transformou em realidade tudo o que estava dentro da nossa cabeça. Ele mora em Berlim, que é casa do techno. Foi tudo muito inspirador já que estamos imersos nessa cultura há muitos anos.

Jovem, ambicioso e inventivo, o guitarrista Matt Cocksedge diz estar cansado do rock calcado em riffs de guitarra.

– Passamos muito tempo ouvindo bandas que ditavam “A guitarra está morta, vida longa à guitarra”. Esse tipo de música se tornou cansativa e entediante. Sentimos que deveríamos usar a nossa criatividade para inovar e capturar uma sonoridade única.

Conceitual, a abordagem de Acolyte tem na faixa-título a matriz dos arranjos que moldam as outras nove canções.

– Acho que construímos um álbum fluido e consistente, áspero e bonito – diz Cook. – Acolyte é a peça-chave. Tudo gira em torno e deve caber dentro dessa atmosfera.

A cada uma das questões respondidas, o trio deixa escorrer certezas e um otimismo que vez por outra se confunde com prepotência. Celebrados por resenhas favoráveis e pela instantânea glorificação do jornalismo musical britânico, eles sabem, porém, que ainda lhes resta um longo e instável caminho à frente.

– Fico eletrificado, mas sei que é só o começo. Acabamos de lançar o primeiro disco, mas já estamos profundamente envolvidos com os conceitos do segundo. É claro que é incrível poder rodar o mundo tocando, mas fazer novas músicas é o que nos move. É como uma obsessão. Estamos sempre de olho no futuro.

Veja essa: Halcyon



E mais aqui: http://www.myspace.com/delphic

Nenhum comentário: