NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

terça-feira, 16 de março de 2010

Jimi Hendrix - Valleys of Neptune

Gravada em 1966 e lançada como lado B do clássico Hey Joe, a furiosa Stone free serve como cartão de visitas mais do que adequado para este álbum póstumo, cercado de expectativas e alguns mistérios. Considerada uma das mais pesadas da carreira de Jimi Hendrix, a faixa é um líbelo contra o comodismo e a caretice que tanto incomodavam o músico. Acelerando numa jam session, assim como boa parte do disco, explode num refrão que urge pela psicodélica e entorpecida liberdade ventilada pelo músico.

Mesclando sete faixas inéditas, dois covers e três previamente lançadas, Valleys of Neptune denota o apuro da musicalidade de Hendrix, mesmo em canções consideradas inacabadas, como a faixa-título. Para ela, Hendrix experimentou toda uma diversidade de músicos e arranjos em mais de 15 diferentes sessões; as gravações seguiram até poucos meses antes de sua morte, em 1970. Se esta não é a versão final idealizada pelo gênio, serve como belo retrato final para as suas obcecadas e constantes variações sobre um mesmo tema.

Produzido em sua maior parte por Hendrix, que é acompanhado quase todo o tempo pela formação básica do The Jimi Hendrix Experience (o baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchell) o disco é um precioso registro do processo criativo do ícone. Em Hear my train a-coming, ele envereda num blues carregado, em que vocifera as dores de um homem solitário que aguarda a chegada do trem na plataforma da estação. Nela, improvisos vocais e solos atiram notas livremente até o fecho dos extensos 7m29s que a conduzem. Já na curta Mr. Bad Luck Hendrix ataca num rock direto, um pouco menos arraigado à verve bluesy que molda suas outras criações. Em seguida, emenda com a versão em estúdio de Lover man, conhecida dos fãs em sua versão ao vivo, executada em performances lendárias (Woodstock, Berkeley, Isle of Wight).

Quanto mais o ouvinte se aproxima do meio de Valleys of Neptune fica claro o caráter laboratorial dos registros, não apenas pela imprecisão dos versos como também pela estrutura ainda pouco coesa dos arranjos, nos quais os solos de Hendrix prevalecem por longos minutos antes ou após versos esparsos de pouco significado. Entre as mais conhecidas pérolas ocultas, destaca-se Fire. A incendiária canção, frequentemente associada à abertura dos shows de Hendrix, recebeu inúmeras releituras até hoje, de Alice Cooper ao Red Hot Chili Peppers, que arremessou a sua versão no caótico Woodstock de 1999, quando um incêndio de grandes proporções se alastrou justamente quando o grupo embalava o cover. Também lançada como bônus, em Are you experienced? (1967), Red house é um blues dramático, arrastado e melodioso; um dos pontos de carga emotiva mais intensa da coletânea. Contando ainda com as instrumentais Lullaby for the summer e Sunshine of your love, do Cream, Valleys of Neptune é uma produção valiosa, mas sem o poder de impacto das jóias raras produzidas pelo músico em sua meteórica carreira.

Assista Bleeding heart:


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