NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Louise Brooks, Valentina e Simone Spoladore - Palco de musas

No discurso do diretor teatral Felipe Vidal, “a literatura não é mais a arte-mãe”. Nem o próprio teatro é elemento central. Como acenam suas últimas montagens, Purificado (2002), de Sarah Kane; Rock’n’roll (2009), de Tom Stoppard; O mundo maravilhoso de Dissocia (2007) e Sutura (2009), de Anthony Neilson; Vidal busca construções dramatúrgicas cruzadas por um emaranhado de referência à cultura pop – cinema, quadrinhos, videoclipes e música. Seu mais novo espetáculo não poderia deixar de levar tais ingredientes. Em Louise/Valentina, um dos destaques da grande série de estreias que marca, anualmente, o mês de janeiro, o diretor conduz um monólogo em que Simone Spoladore dá vida ao personagem em quadrinhos Valentina, criado pelo italiano Guido Crepax; e a sua musa inspiradora, a atriz americana do cinema mudo, Louise Brooks – famosa pela célebre Lulu, personagem de A caixa de Pandora (1929), de G.W. Pabst. Em cartaz a partir deste sábado, no Espaço Sesc, em Copacabana, a atriz divide-se entre Lulu, Valentina e Louise Brooks, numa dramaturgia erigida a partir da interlocução entre estes ícones da transgressão do século 20.

– Louise Brooks é uma atriz fantástica, fiquei impressionado com a Lulu, que é um personagem fascinante, assim como a Valentina – diz Vidal. – São histórias que se cruzam ao longo do texto. Crepax usa em seus quadrinhos todo o universo do cinema mudo, por exemplo. Ele criou Valentina a partir de uma imagem da Lulu, sem ao menos assistir ao filme.

Simone e o diretor alimentavam há alguns anos a vontade de trabalhar juntos. Pensavam num monólogo. Mas não tinham texto ou sequer uma ideia do que encenar. Depois de alguns encontros, a atriz revelou o desejo de interpretar algum personagem de história em quadrinhos adulto.

– Quando ela falou na Valentina, eu lembrei da Louise, porque sabia da influência que o personagem tinha causado no trabalho do Crepax. Na verdade, conhecia mais a Lulu do que a Louise, e lendo a biografia dela você entende que sua história é ainda mais interessante. Daria uma peça por si só.

No palco, os dois lançam mão de fragmentos de livros, cartas, entrevistas e tiras de quadrinhos para conduzir a narrativa.

– Assisti e li tudo o que eu podia sobre elas. Foi um trabalho difícil, porque não tínhamos um texto pronto. Pegamos fragmentos de todo esse material e misturamos às nossas impressões e intuições – conta a atriz. – Não existe um desejo de contar uma história objetiva, ou detalhar biograficamente a vida da Louise. É uma aproximação subjetiva entre esses dois universos. Não há nada muito concreto, é um espetáculo fluido. Acho que ele ainda pode mudar muito ao longo da temporada.

Para dar vida a estes símbolos, personagens que transcendem as esferas do cinema e dos quadrinhos, a montagem interage com a dança contemporânea e as artes visuais. No palco, Simone navega por três fases da vida de Louise Brooks, enquanto dialoga com quatro curtas-metragens e evolui sobre a direção de movimentos da bailarina Marcelle Sampaio.

Nascida no Kansas, em 1906, e bailarina de formação, Louise Brroks iniciou a carreira em musicais. Entre 1925 e 1938, estrelou 24 filmes, tornado-se uma das maiores estrelas do mundo com a hipnótica Lulu – cujo corte de cabelo tornou-se um ícone da moda na primeira metade do século 20. Após o sucesso com a personagem, decidiu arriscar-se no mercado europeu, realizando outros dois longas, com Pabst e René Clair. Ao retornar aos EUA, não conseguiria mais se adequar às normas ditadas por Hollywood. Relegada a pequenos e inexpressivos papéis, decidiu encerrar a carreira precocemente, aos 31 anos. Após anos de ostracismo e quase miséria (há rumores de que teve que se prostituir pra sobreviver), a bela e culta Louise tornou-se escritora, publicando artigos nos anos 50, 60 e 70 em várias revistas sobre cinema. Em 1982 lançou o best-seller Lulu em Hollywood pouco antes de sua morte, em 1985, na cidade de Rochester, Nova York.

– Ela se sentia aprisionada pela personagem. E como era uma mulher linda, inteligente e com muita personalidade, seu temperamento impedia que ela se dobrasse aos padrões exigidos pelos chefões de Hollywood. Ela começou a ser boicotada pelos produtores machistas da época.

Após abandonar a carreira, Louise Brooks tornou-se escritora. Em alguns de seus livros e compilações, algumas cartas revelam correspondências entre ela e Crepax.

– Depois que ele enviou alguns desenhos, ela retornou com uma carta, dizendo que havia adorado a Valentina, e que agora ela lhe servia como inspiração e espelho de força.

Culta e sexy, liberta e bem resolvida, a jovem fotógrafa Valentina tornou-se personagem fetiche do universo masculino (e feminino), por sua beleza e independência. É diante dessa exuberância que o diretor enxerga a principal conexão entre os personagens reais e fictícios que envolvem Lousie Brooks, a cinematográfica Lulu e a fantasiosa Valentina.

– O que nos interessa era observar essas similaridades. Todas elas são mulheres incríveis e fortes – compara. – Valentina emprestou atmosfera cinematográfica às histórias em quadrinhos. O trabalho do Crepax, assim como de outros, ganhou status de arte.

Um comentário:

Anônimo disse...

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