NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tropa de elite 2 - Operação secreta

A claridade que devassa as janelas na deslumbrante panorâmica do 26º andar do Marina Palace Hotel, no Leblon, é o oposto da perspectiva adotada pela produção de Tropa de elite 2. As palavras de ordem e o “conceito de estratégia” adotado por todos é um tanto quanto obscuro. Sai a ação, entra o suspense: “Ninguém irá falar ou responder perguntas sobre a história da trama ou sobre os personagens”, alerta, prontamente, a assessoria, antes de iniciar a entrevista. Enfileirados, o diretor José Padilha, o produtor Marcos Prado e parte do elenco, incluindo Wagner Moura, André Ramiro e Maria Ribeiro, conduzem uma sessão misteriosa de perguntas e respostas, boa parte das vezes, evasivas. Clima de segurança máxima e informações confidenciais servem como tentativa de blindagem. O rito não é à toa. Vale lembrar que, em 2007, antes mesmo da estreia de Tropa de elite, estimava-se que cerca de 11 milhões de brasileiros haviam assistido à versão inacabada do longa, furtada durante o processo de legendagem e distribuída indiscriminadamente em DVDs piratas e via internet.

– Agora vamos montar o filme dentro do caveirão – brinca Padilha.

– Teremos um bunker, com chaves próprias – diz Marcos Prado.

E o diretor arremata:

– Tudo que acontecer com o filme na pós-produção será realizado internamente, sem terceirização. Temos até um orçamento para a segurança, dentro e fora do set de filmagem. Agora, depois da exibição, o que eu posso fazer?

Ganhador do Urso de Ouro do Festival de Berlim, em 2008, e um dos maiores sucessos de público do cinema nacional, a mais nova franquia do mercado ainda não tem suas contas fechadas para a segunda versão. Entre as três possibilidades de financiamento a partir de leis de incentivo, o produtor Marcos Prado se esforça para captar os R$ 3 milhões possíveis dentro da Lei do Audiovisual, a partir da injeção de recursos privados; e mais R$ 1 milhão pela Lei Rouanet. Responsável pela distribuição do longa, através da Zazen, o produtor não poderá contar com a cota de até R$ 3 milhões vertida para a distribuição estrangeira. Padilha diz que “é sempre uma luta”. Já Prado, perguntado sobre um suposto aporte financeiro injetado pela Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), fabricante de fuzis usados pela polícia, nega e diz que a companhia é apenas uma parceira.

– A Imbel nos apoia com os produtos, as armas, os fuzis que eles produzem para a polícia. Imagina você alugar esse equipamento para um filme... Seria caríssimo. Poupamos dinheiro, mas eles não são nossos patrocinadores. É uma troca, porque as armas da Imbel serão mostradas na tela.

Mesmo com a pirataria, 2,4 milhões de espectadores assistiram à primeira saga do capitão Nascimento: o dilema de levar adiante suas responsabilidades à frente do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) e o desejo de ficar mais próximo da mulher grávida. Rodado a partir da próxima segunda-feira, em locações no Rio, entre favelas ocupadas pelas UPPs do governo do estado e em estúdio, o novo roteiro apresenta ao capitão um novo inimigo: as milícias. Taxado de fascista, acusado de glamourizar a violência e de tratar o truculento capitão do Bope como um herói, o longa de 2007 colheu polêmicas impressões, surgidas nas ruas e nos corredores da imprensa. Nenhuma delas, porém, foi o bastante para preocupar o diretor enquanto construía o roteiro da sequência.

– “Faz o seu que eu faço o meu” é uma expressão usada pelos policiais do Rio. Eu vou fazer o meu filme – diz o diretor. – Não tenho controle sobre como as pessoas irão reagir e não me preocupo com isso. Contarei a história sem me autopoliciar, imaginando o que as pessoas vão achar. Eu deixo nas mãos do público.

Entre o crime e a família

Ao bater de frente com o poder paralelo dos milicianos, Nascimento administra o desafio de pacificar uma cidade ocupada pelo crime e as constantes preocupações com o filho adolescente. São as transformações pessoais e os conflitos internos vividos pelo personagem de Wagner Moura as maiores mudanças do novo roteiro, elaborado por Padilha ao lado de Bráulio Mantovani.

– A grande diferença é que agora existe um arco dramático para contar a história do personagem. No primeiro, ele permanecia, do início ao fim, como o capitão do Bope. O nosso desafio era criar uma dramaturgia que acompanhasse as mudanças de comportamento. Como aconteceu com o Matias... No primeiro, ele começa cursando direito numa faculdade e termina como integrante do Bope. Agora a história é pessoal e não sei que tipo de polêmica pode gerar.
Rumores indicam que o capitão Nascimento deixa o Bope para trabalhar na Secretaria de Segurança Pública...

– É tão difícil para mim quanto para vocês (jornalistas), que estão aqui para perguntar, e a gente para não dizer. O personagem passa por uma grande mudança, a qual eu não posso falar... Isso faz com que eu me sinta omisso, até – comenta Wagner Moura. – Posso dizer que no primeiro ele era muito pouco consciente do que fazia. Agora ele toma noção do que faz. Ele está mais velho. E policiais assim começam a refletir se o que eles fazem é útil e eficaz para a sociedade. Pensam na família, em como explicar aos filhos a profissão. É uma realidade dura, que será mais abordadas. Agora eu também sou pai e tenho munição emocional adequada para isso.

2 comentários:

Papo Prazer disse...

mto bom! bjs, Lu

marcelo alves disse...

O filme tem tudo para ser ótimo como foi o primeiro, mas o que eu acho mais bizarro disso tudo é convocarem uma coletiva sobre o filme para não falarem nada sobre o filme como o Padilha anunciou. Coletiva para ficar apenas em tergiversações não dá.