NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

domingo, 17 de janeiro de 2010

A banda Tono, de Bem Gil, toca no Posto 8 e no Humaitá Pra Peixe

Em 2007, o músico Rafael Rocha havia acumulado uma série de canções inéditas na gaveta. Pegou o telefone e discou para o amigo Bem Gil, filho de Gilberto Gil. Animado com a proposta de testar algumas ideias, o guitarrista reuniu alguns equipamentos, pedais e amplificadores, e abriu as portas do sítio da família, em Araras. Espalhou as tralhas na sala e na varanda para registrar a base de três canções. Empolgados, as três tornaram-se 10, o que era bagunça descompromissada tornou-se banda e o que era demo formou-se álbum, Tono auge, gravado e lançado em produção independente.

– Eu nunca havia tido experiência em bandas, então o pessoal disse que fazer demo não era uma boa. Decidimos fazer o encarte e transformamos aquele material no nosso primeiro CD – conta Gil.

Sem perder o humor e o despojamento, a banda se apresenta hoje no Posto 8 – e nas próximas duas semanas – e, nesta sexta-feira, assume a tenda do Circo Voador como uma das atrações do festival Humaitá Pra Peixe. Tanto no palco como no disco, assinam um cruzamento sonoro rico em texturas e brasilidade, que flerta com o samba, o rap, o funk, o reggae e o dub.

– É bem difícil definir o que tocamos. É música brasileira, com uma série de misturas. No primeiro disco, o Rafa, por exemplo, estava trabalhando com um amigo que tinha um bonde de funk, e a gente acabou gravando Loramorena, que é um funkão.

Outra excêntrica faixa do álbum, Você magoou soa como uma sátira ao rap romântico tecido por grupos como Sampa Crew e outros congêneres. Com uma letra banal ( “Amor, quero te encontrar novamente / Lembra daquela noite? / Foi tudo de repente / Você entrou na minha vida cheia de paixão / E eu abri a porta, claro, do meu coração”) a faixa ganhou um refrão que a fez crescer nas apresentações ao vivo, onde é uma das mais comentadas.

– Eram muitas experiências. Acho que o segundo disco não vai ter essa pegada. A partir dele veremos o quanto estávamos testando as coisas no primeiro – revela Gil.

Gravado em 2008, Tono auge foi o cartão de visitas para a divulgação e realização dos primeiros shows do grupo. Após a estreia nos palcos, no Cine Glória, em menos de um ano fizeram cinco apresentações no Cinemateque – sempre com casa cheia – e mais três aparições no Circo Voador, uma delas como a banda de abertura do novo show de Arnaldo Antunes, Iê iê iê. Para o novo show, o primeiro trabalho responde apenas por menos da metade das canções interpretadas. As outras ficam a cargo das mais recentes composições do grupo, que inclui no repertório uma releitura para Nega música, de Itamar Assumpção.

– É realmente uma apropriação artística, demos uma roupagem nova aos vocais e acho que ficou a nossa cara – diz Gil. – Até as músicas do primeiro disco ganharam um novo formato com os shows. A banda se tornou realidade, então o que tocamos hoje é bastante diferente. Estamos no meio do processo e é bom porque o público pode entender o nosso caminho.

Bem Gil e Rafael Rocha conheceram-se em 2002, em meio às filmagens para o longa 1972, dirigido por José Emílio Rondeau e Ana Maria Bahiana. Em cena, os rapazes interpretavam jovens amigos e músicos. Da ficção para a realidade diferença alguma pode ser notada. À época, Gil, com 17 anos, preparava-se para o vestibular, enquanto Rocha já tocava em bandas cults do cenário carioca, como Brasov e Binario. O primeiro havia despertado seu interesse para a música apenas um ano antes. E diz que o encontro com Rocha e o papel interpretado no longa, um guitarrista, mudaram sua trajetória.

– Eu despertei para a música nessa época. Por causa do personagem que eu comecei a me interessar por guitarra, até então ficava só no violão – conta. – Mas não houve um desejo de montar uma banda. Foi algo natural, porque logo nos tornamos amigos. O Rafa queria montar um projeto e eu estava viajando com o meu pai, já havia tocado com a Preta... As pessoas esperavam um trabalho dele e tinham curiosidade para ouvir o que eu vinha fazendo.

Aos poucos, com a entrada de Bruno di Lullo, baixista do grupo audiovisual Binario, a bailarina multimídia Ana Cláudia Lomelino (voz) e Leandro Floresta (flauta, teclado e violões), além de Jorgito e Garnizé – ambos fora da banda, atualmente – o Tono passou a realizar alguns ensaios abertos. Num deles, a banda, ainda com formação indefinida, chegou a colocar em cena quatro vozes femininas.

– Numas dessas apresentações apenas eu não estava lá. Estava muito cheio e eu não entrei – recorda a vocalista Ana, que interpreta uma das mais doces faixas do álbum, Quando você dança. – A banda já passou por diversas formações. Eu conheci o Rafael em 2004, e numa roda de música entre amigos ele gostou da minha voz. Eu nunca tinha cantado, mas ele começou a insistir naquilo. Até que em 2008 eu comecei a me acostumar com esse negócio de cantar.

Empenhado na fase de pré-produção para a gravação do segundo disco, Tono escuro, com produção de Alberto Continentino, Gil acena com mudanças no panorama autoral do quinteto, que passa a dividir os vocais e a assinatura de quase todas as faixas entre todos os integrantes. O que faz do trabalho um combo autoral de múltiplas e criativas novas vozes.

– Terão faixas minhas e de todos, inclusive da Ana. É algo muito aberto e as pessoas acham estranho até o fato de o Rafael ser baterista e cantar. Mas é assim que nós somos.

O que é Tono?




Quando você dança:


Não consigo viver sem o teu carinho:


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