
Assediado pela imprensa por conta de seus envolvimentos amorosos com celebridades, Mayer de três em três anos põe na praça um disco de qualidade suficiente para apagar a superficial banalidade de suas inúmeras aparições em tabloides sensacionalistas. Desde que surgiu a bordo de Inside wants out (1999), deixa claro a evolução de seu trabalho como instrumentista – na pesquisa de timbres e construção dos arranjos – cantor e, principalmente, compositor pop e radio friendly, numa época dominada por ícones solo femininos.
Em Battle studies, percorre melodias açucaradas e traça letras que versam sobre o amor, mas sob o viés da perda, da desilusão, através das lembranças que tenta apagar da memória para se recompor, como insinua a balada folk Who says, que brinca com os efeitos chapantes e de amnésia causados pela erva. Em cada uma das 10 faixas que compõem o trabalho, esforça-se para expulsar sentimentos e angústias numa escrita abertamente confessional. Como num diário, expõe lamentos e inseguranças até sentir-se confortável o bastante para cantar que está perfeitamente sozinho, porque não pertence a ninguém, e ninguém pode o pertencer, como assina os versos da certeira Perfectly lonely.
Nunca em trabalhos anteriores Mayer foi tão objetivo e sentimental em seus temas. Mas em hora nenhuma chega à beira do cafona. Muito pelo contrário, assina arranjos tão elegantes e bem cortados, em termos sonoros e estéticos, que empresta ao álbum limpeza excessiva. Uma constrição estilística tão precisa que deixa pouco espaço ao risco e ao destempero que a situação de um término de relacionamento amoroso poderia estimular. Em caminho oposto ao ar mais ensolarado, da musicalidade vibrante e mais variada de Continuum, Battle studies patina numa seleção de canções similares, marcadas por uma temática comum, quentes apenas como ideias, mas frias como resultado final. A impressão é a de que enquanto Mayer ganha novo corpo, forma e vida, no âmbito de sua expressão artística não conduz à frente toda a transformação interna e externa que o fim de seu relacionamento com a atriz Jennifer Aniston catapultou.
A confusão mental, o vazio da perda, o coração despedaçado não resultam em canções mais viscerais em que o músico vocifera ou lança mão de mais peso em sua guitarra. Mayer canta em tom suave e em falsetes canções de dinâmica estéril como War of my life, em que chega a soar como um lado B da banda Snow Patrol. Do início ao fim, muitas baladas recheiam o disco, das quais se destacam All we ever do is say goodbye, liderada por um violão e guiada por piano até a chegada de um refrão interpretado em falsete, ou Half of my heart, que versa sobre um homem completamente dedicado à música até que tem a vida transformada pela chegada de um amor, mas que, mesmo assim, só consegue entregar metade de seu coração. O disco acelera apenas na blueseira Crossroads, de Robert Johnson, mas nunca atinge a potência e o vigor de seu álbum anterior, que trazia uma série de hits e a explosão alucinada de solos na releitura de Bold as love, de Jimi Hendrix, um de seus ídolos.
Crossroads
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