
– Passei cerca de três anos e meio me dedicando exclusivamente à banda. Desde produção, gravação, além de tudo que envolvia o nosso trabalho. No entanto, queria compor mais, explorar minha criatividade em novos temas e caminhos sonoros. Quero que este projeto seja mais um instrumento de ação, que abra oportunidades para mais shows. Esse trabalho depende só de mim – explica o cantor.
Recém disponibilizadas em seus dois perfis no Myspace (www.myspace.com/qinhosemu e www.myspace.com/canduras) – que juntos já registram cerca de seis mil acessos –, as dez canções que compõem Canduras são resultado das parcerias tecidas em conjunto com uma nova safra de escritores, poetas e letristas, como Vitor Paiva (filho do cartunista Miguel Paiva), Botika, Miguel Jost, Rodrigo Gameiro, além de Omar Salomão (seu companheiro de banda no Vulgo Qinho & os Cara).
– Dessas dez canções, oito foram escritas em parceria com amigos. Somente uma é apenas de minha autoria e outra é uma regravação de Norte da saudade, do (Gilberto) Gil – conta Qinho, que a partir das próximas semanas comercializa o download das novas canções.
Criadas e captadas a partir do esquema voz e violão, no estúdio, Qinho contou com o acompanhamento de outros músicos, em arranjos intimistas que privilegiam instrumentos de sopro como clarinete e trompete, além de baixo acústico e elementos percussivos. No palco do Cinematèque, porém, somente com um violão acústico a tiracolo, Qinho deita sua voz sob a influência de álbuns como Gil Luminoso (de Gilberto Gil) e outros tantos da bossa nova à Tropicália.
– Gil Luminoso anda nessa mesma freqüência de voz e violão, mas não é exatamente a influência que eu mais ouvi do próprio Gil. Refavela é muito mais presente nesse sentido. Além de Marvin Gaye, João Gilberto e Dorival Caymmi, que ouço sempre, Gil e Gal estão entre as minhas maiores inspirações, mais até do que Caetano – revela Qinho.
À frente da sua banda, Qinho versa sobre temas que passeiam pelo ambiente e comportamento nos grandes centros urbanos. Apesar de a rua continuar sendo o cenário principal para as suas peregrinações e experiências, o universo concreto dos ônibus, prédios, balas perdidas e afins desta vez foi substituído pela subjetividade das relações humanas, agora apresentadas como mote do seu novo trabalho.
– Percebi que a proposta da banda, apesar de também ser muito afetiva, causa estranheza. Temos um poeta e isso já é um elemento diferente, além das próprias letras, onde você percebe pontos de tensão – diz. – Quando comecei a pensar este projeto, entendi que precisava mexer na afetividade. Acho que falta afeto e diálogo entre as pessoas; o ambiente urbano nos torna estranhos uns aos outros. Isso porque a paranóia em volta da violência é ainda maior do que a própria (violência), e, assim, nos afastamos e nos isolamos. A minha proposta é responder a isso com afeto e amor incondicional. É disso que parte toda essa história. Ao invés de tiros e pedras, prefiro jogar flores e atirar afeto!
Com a sua banda, no entanto, Qinho ainda conta com projetos sob a cartola. Entre eles, o lançamento, ainda este ano, de um novo EP com versões para clássicos da MPB, da soul music e do samba. Entre elas, Qualquer coisa (Caetano Veloso), Pusherman (Curtis Mayfield) e Juízo Final (Nelson Cavaquinho).
– Queremos fazer esse EP e lançá-lo exclusivamente na Internet. Faremos versões para quatro canções, mas não queremos lançar algo físico e, sim, ver como funciona a questão da comercialização de música pela rede. Será mais um trabalho, complementar ao disco de estréia da banda, são canções que tocamos há algum tempo em nossos shows .
Representante de uma nova geração de artistas cariocas que busca expandir os limites da música e promover intercâmbios com a literatura e as artes plásticas, Qinho e os integrantes da sua banda caíram nas graças do povo, ou melhor, dos populares que acompanham desde o ano passado suas performances nas calçadas da Zona Sul. A atitude gerou, no início do ano, o evento Dia da Rua, em que as esquinas dos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon serviram de palco para a apresentação de 15 novos grupos. A experiência deverá ser reeditada ainda este ano:
– Ainda não temos data, mas com certeza vai rolar. A rua continua sendo parte central da minha vida. É onde encontro as pessoas, ganho vivência e onde experimento – afirma.
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