NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Moda e rock'n'roll = Glass and Glue

Antes de qualquer burburinho sonoro cruzar frequências de rádio ou falantes de casas de shows, eles já causavam frisson no mundinho fashion. Também pudera. De seus quatro integrantes, três, de um jeito ou outro, já atravessaram passarelas. Caso da vocalista Mayana Moura e do guitarrista Paulo Ferreira, ambos ex-modelos, e da stylist Marina Franco, que divide a liderança dos vocais. Desde o primeiro show do Glass and Glue, em fevereiro deste ano, no Lounge 69, até hoje, seis meteóricos meses catapultaram o quarteto das festas e eventos ligados a marcas como Adidas, Diesel e Cantão, além de performances nos desfiles do Fashion Rio, para shows concorridos no Studio-SP, na capital paulista, e convites para DJ set na badalada noite do Rockinho, comandado por Rodrigo Penna. O hype em torno do grupo, que toca nesta quinta-feira no Cinematheque, apesar de olhares desconfiados, já desperta a atenção de gravadoras:

– Estamos, sim, conversando e atentas a propostas e a melhor forma de lançarmos o nosso disco. Mas ainda não temos nada concreto – despista Marina. – O elo com a moda pode até ser motivo de preconceito. Mas, no nosso caso, é natural que tenhamos surgido no meio. Trabalhamos com isso. E moda e música sempre andaram juntos.

Estudante de História da Arte, na Uerj, até o ano passado Marina sequer vislumbrava a hipótese de subir ao palco. Aponta a convivência com sua roommate Mayana e com o namorado, o guitarrista Paulo Ferreira, como indício que a levou a assumir o microfone. Ainda tenta se adaptar à nova linguagem e expressão artística, ao processo de composição e à postura a assumir diante da plateia.

– Era a única que nunca havia tocado em bandas. O Paulo e a Mayana já tiveram experiências. O Fabrício é o único que vive de música, e produz nosso som – conta. – É uma descoberta. Sempre estive conectada com o mundo das artes e trabalhar com moda te faz participar de processos criativos. A maneira como produzo um figurino, campanhas, ou um editorial de moda para a Vogue, por exemplo, me faz lidar com a composição de imagens. Agora, componho músicas. É algo novo, mas temos que ser plurais. Além de cantar, ainda posso construir a imagem de uma banda. É muito positivo.

Com letras em inglês e francês, Glass and Glue não vê razão, e nem falta dela, para cantar em português os temas pessoais que evocam as relações amorosas: “Por que não cantar em inglês?”, questiona Mayana. Enquanto Marina revela que uma nova composição, metade em português, já está pronta: “É uma canção sobre o Rio”, adianta.

– Cantar em outra língua é uma questão de se fazer entender pelo maior número de pessoas. Desde pequena decorava as falas dos desenhos animados e filmes sem legenda... É fruto da geração que nasceu nos anos 80.

Se Bipolar atina para a mescla de uma projeção de futuro, bradada em grunhidos como “I have much bigger plans”, com lapsos de fofura romântica, “I`m walking down to the bar, I want to see your face light up in the dark, I want to go to where you are, I want to hold your hands and look at the stars”; Good enough, tratada como um dos hits da banda, versa sobre o amor sob o ponto de vista de uma durona, que não romantiza as relações. E abre com a seguinte fala: “I`m easy, you know? Treat me right, fuck me good. But if you don't... If you don't... I`ll turn you into a bad dream. A fucking bad dream”. Dado o recado, Marina comenta:
– Ainda estou descobrindo como colocar minhas questões. Se eu falo da vida na primeira pessoa, ou sob a pele de uma interlocutora... Não há apenas um compositor, então cantamos fragmentos das nossas visões de mundo – analisa. – Existem situações políticas, no Brasil, que me incomodam, mas ainda tenho que desenvolver uma maneira de transferir isso sem ficar piegas. Por enquanto uso minha bagagem emocional. É uma investigação de como explorar a linguagem.

Aos 14 anos, a persona roqueira invadiu o armário de Mayana que, no palco, usa e abusa do negro. À época, optou pelo baixo como instrumento a extravasar seus ímpetos e, em 1998, viajou para Nova York para estudar música. A experiência, de alguns meses, serviu para montar uma banda e fazer os primeiros shows em pequenos clubes locais. A viagem não durou muito, mas foi seguida por outra. Ao voltar para o Brasil, cruzou os olhos do fotógrafo Mario Testino. Do dia para noite, tornou-se modelo. Desfilou para grifes como Chanel, mas, em menos de um ano, largou as passarelas.

– Acho que só me tornei modelo porque um cara fodaço como o Mario cruzou o caminho. Sempre quis fazer música – garante Mayana. – Em 2003 cheguei a montar uma banda com outras duas meninas, a OMI. Gravamos uma demo em Los Angeles, com o Mark Muir, do Suicidal Tendencies, mas o projeto não vingou. Depois passei anos estudando artes cênicas, trabalhei na Globo, até que a música bateu forte e voltei a compor e gravar em casa um monte de canções.

Colocando-se além de uma mera repaginação do estereótipo riot grrrl, Marina identifica referências que vão do pós-punk, como Joy Division, passam pelo grunge e a cena indie dos anos 90, com Nirvana, Smashing Pumpkins e Pixies, até chegar aos anos 2000, de bandas como Yeah Yeah Yeahs, The Gossip e Franz Ferdinand para definir o som que logo mais apresenta:

– Além das próprias, vamos de Modern love, David Bowie; Tear you apart, do She Wants Revenge, que é muito poderosa, além da música que fecha os nossos shows, Ca plane pour moi, do Plastic Bertrand.

Ouça: www.myspace.com/glassandglue

Nenhum comentário: