
– Estamos, sim, conversando e atentas a propostas e a melhor forma de lançarmos o nosso disco. Mas ainda não temos nada concreto – despista Marina. – O elo com a moda pode até ser motivo de preconceito. Mas, no nosso caso, é natural que tenhamos surgido no meio. Trabalhamos com isso. E moda e música sempre andaram juntos.
Estudante de História da Arte, na Uerj, até o ano passado Marina sequer vislumbrava a hipótese de subir ao palco. Aponta a convivência com sua roommate Mayana e com o namorado, o guitarrista Paulo Ferreira, como indício que a levou a assumir o microfone. Ainda tenta se adaptar à nova linguagem e expressão artística, ao processo de composição e à postura a assumir diante da plateia.
– Era a única que nunca havia tocado em bandas. O Paulo e a Mayana já tiveram experiências. O Fabrício é o único que vive de música, e produz nosso som – conta. – É uma descoberta. Sempre estive conectada com o mundo das artes e trabalhar com moda te faz participar de processos criativos. A maneira como produzo um figurino, campanhas, ou um editorial de moda para a Vogue, por exemplo, me faz lidar com a composição de imagens. Agora, componho músicas. É algo novo, mas temos que ser plurais. Além de cantar, ainda posso construir a imagem de uma banda. É muito positivo.
Com letras em inglês e francês, Glass and Glue não vê razão, e nem falta dela, para cantar em português os temas pessoais que evocam as relações amorosas: “Por que não cantar em inglês?”, questiona Mayana. Enquanto Marina revela que uma nova composição, metade em português, já está pronta: “É uma canção sobre o Rio”, adianta.
– Cantar em outra língua é uma questão de se fazer entender pelo maior número de pessoas. Desde pequena decorava as falas dos desenhos animados e filmes sem legenda... É fruto da geração que nasceu nos anos 80.
Se Bipolar atina para a mescla de uma projeção de futuro, bradada em grunhidos como “I have much bigger plans”, com lapsos de fofura romântica, “I`m walking down to the bar, I want to see your face light up in the dark, I want to go to where you are, I want to hold your hands and look at the stars”; Good enough, tratada como um dos hits da banda, versa sobre o amor sob o ponto de vista de uma durona, que não romantiza as relações. E abre com a seguinte fala: “I`m easy, you know? Treat me right, fuck me good. But if you don't... If you don't... I`ll turn you into a bad dream. A fucking bad dream”. Dado o recado, Marina comenta:
– Ainda estou descobrindo como colocar minhas questões. Se eu falo da vida na primeira pessoa, ou sob a pele de uma interlocutora... Não há apenas um compositor, então cantamos fragmentos das nossas visões de mundo – analisa. – Existem situações políticas, no Brasil, que me incomodam, mas ainda tenho que desenvolver uma maneira de transferir isso sem ficar piegas. Por enquanto uso minha bagagem emocional. É uma investigação de como explorar a linguagem.
Aos 14 anos, a persona roqueira invadiu o armário de Mayana que, no palco, usa e abusa do negro. À época, optou pelo baixo como instrumento a extravasar seus ímpetos e, em 1998, viajou para Nova York para estudar música. A experiência, de alguns meses, serviu para montar uma banda e fazer os primeiros shows em pequenos clubes locais. A viagem não durou muito, mas foi seguida por outra. Ao voltar para o Brasil, cruzou os olhos do fotógrafo Mario Testino. Do dia para noite, tornou-se modelo. Desfilou para grifes como Chanel, mas, em menos de um ano, largou as passarelas.
– Acho que só me tornei modelo porque um cara fodaço como o Mario cruzou o caminho. Sempre quis fazer música – garante Mayana. – Em 2003 cheguei a montar uma banda com outras duas meninas, a OMI. Gravamos uma demo em Los Angeles, com o Mark Muir, do Suicidal Tendencies, mas o projeto não vingou. Depois passei anos estudando artes cênicas, trabalhei na Globo, até que a música bateu forte e voltei a compor e gravar em casa um monte de canções.
Colocando-se além de uma mera repaginação do estereótipo riot grrrl, Marina identifica referências que vão do pós-punk, como Joy Division, passam pelo grunge e a cena indie dos anos 90, com Nirvana, Smashing Pumpkins e Pixies, até chegar aos anos 2000, de bandas como Yeah Yeah Yeahs, The Gossip e Franz Ferdinand para definir o som que logo mais apresenta:
– Além das próprias, vamos de Modern love, David Bowie; Tear you apart, do She Wants Revenge, que é muito poderosa, além da música que fecha os nossos shows, Ca plane pour moi, do Plastic Bertrand.
Ouça: www.myspace.com/glassandglue
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