NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

domingo, 5 de abril de 2009

Tiê - Sweet Jardim

O que falar de Tiê? A cantora-pássaro paulista que, como andam apregoando, soa como uma Mallu Magalhães para adultos (?!). Esqueçamos o parentesco descabido e vamos à música de Tiê. Sim, o caso tem recheio folk, bebe das fontes dylanescas que a jovem conterrânea também saboreia, mas é mais intenso, melancólico e belo, por mais que sejam, todos estes, critérios subjetivos. Tiê não é grande cantora. Calma lá. Sua voz parece necessitar de respiro, de fôlego... Mas entre seu arfar, seus suspiros e doces versos encontra-se o que faz de sua música tão cativante: o silêncio. Sua música é pontuada por vazios, arranjos minimalistas onde piano, violões acústicos e cordas adornam sua voz curta, direta, mas mesmo assim sinuosa e melódica. Sweet Jardim, seu recém-lançado primeiro álbum, lapidado pelas mãos certeiras de Plínio Profeta; pinta um quadro cinza, negro, branco, mas tão diversificado em nuances que as cores não lhe iriam conferir maior graça. Suas frases melódicas e a colocação de sua voz, prodigiosa em sussurros, têm muito a ver com cantoras francesas de safra recente, como Melanie Pain, Camille, entre outras formatadas à Nouvelle Vague – coletivo musical francês produzido com brilhantismo por Marc Collin. A moça, que em estúdio contou com a colaboração de figuras carimbadas da noite paulista como Tatá Aeroplano, Tulipa Ruiz e Nana Rizinni, agora apronta as malas para uma série de oito shows em Nova York, Paris, Londres e Tel Aviv até aportar dia 29 de maio no Rio, em show no Cinematèque.

Mas Tiê não piou da noite para o dia. Já percorre a noite paulistana há algum tempo. Estudou canto em Nova Iorque e teve o talento reconhecido por Toquinho, que a convidou para ingressar em sua banda e rodar Brasil e mundo afora. Sweet jardim desanuvia um repertório de canções pra lá de delicadas, como Quinto andar e Passarinho, cuja introdução entrelaça dedilhados de violão ao cantar de pássaros, até que mãos pesadas cravam o piano e cordas balançam a melodia ao fundo – uma beleza. Empunhando violão de aço, Tiê desvela seu apelo folk em canções que mesclam português com francês (Aula de francês) e inglês (Stranger but mine). Já em Chá verde a cantora descansa suas mãos nas teclas e aposta em sua persona “contadora de histórias”, em letra autobiográfica e reflexiva – detalhe para a progressão do coro que envolve o arranjo, que se descortina e ganha corpo ao passo que a melodia se insinua com mais intensidade. A bailarina e o astronauta carrega o mesmo gene de Chá verde, enquanto que a faixa-título, que conta com um violão cigano executado por Toquinho, fecha o álbum com intenções ensolaradas. Sweet jardim (a faixa e o disco) esculpem um painel de celebração: sofisticação e simplicidade que dialogam em pról de talento e inventividade em ótima medida.

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Passarinho (versão 2007):

3 comentários:

Rodrigo Gameiro disse...

achado.

achado mesmo.


respirando mais devagar.

Helena Fernandes disse...

simplesmente adorei! (:

Rober Kremer disse...

Simplesmente apaixonante. Tiê é um tesouro...