NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Festival Indie Rock - Lucas Santtana e Hurtmold

Com um Circo Voador ainda repleto de moscas o baiano Lucas Santtana abriu em alto estilo a primeira noite do Festival Indie Rock. Com o seu dub cafundido com metais e cavaquinhos reverberisados o show abre-alas de Lucas foi realmente um festival de coloridos paetês e serpentinas musicais. Navegando entre a sonoridade jamaicana e os ritmos característicos dos morros cariocas Lucas passeou com fluência entre suas jam sessions espaciais, canções instrumentais e releituras inusitadas.

O bom clima das faixas instrumentais sempre apoiadas na intensidade percussiva do Trio Onilu (Leo Leobons, João Gabriel e Leo Saad), nos metais à cargo da dupla Leandro Joaquim (trompete e fluguelhorn) e Maurício Zacharias (trombone), junto às guitarras carregadas de reverb, wah wah e delay de Bruno Levi davam ao público uma resposta à altura da atmosfera alive captada e registrada no último Cd de Lucas “3 sessions in a greenhouse”.

Os músicos, no início do show, de fato, pareciam se divertir mais do que a platéia, e a instrumental "Awô Dub" foi o cartão de visitas da banda que acompanha o artista, Seleção Natural. Só depois o músico resolveu aparecer na linha de frente empunhando seu cavaquinho. Negro cavaquinho que, diga-se de passagem, soou baixo e foi engolido grande parte do tempo pelos outros instrumentos. Aos poucos Lucas assumiu seu posto de reverberador de ambiências, através de suas originais divisões métricas e melódicas. Acanhado, o músico foi tirando de seu chapéu as particularidades de seu rico universo verde e arrancando de seu franzino e contido gestual canções que definitivamente quebraram o gelo da pequena platéia, que pouco a pouco ganhava corpo no Circo.

“Lycra-Limão” segurou bem o baile recheado de groove proposto por Lucas. Aliás, balanço, groove e movimento eram as palavras de ordem. As tortuosas e bem conduzidas linhas de baixo de Ricardo Dias foram até o final do show os fios condutores que não deixaram em momento algum a platéia parada. Santtana apresentou ao público do Circo Voador uma banda muito bem entrosada, que atacou em diversas frentes musicais, passando pela interessante releitura do partido-alto “Faixa Amarela”, de Zeca Pagodinho, por “Ogodô ano 2000”, de Tom Zé e pelo pancadão funk, cada vez mais na moda entre os indies, da faixa “Pela Orla dos Velhos Tempos”, Nação Zumbi – que toca hoje em substituição ao Mombojó, junto com Móveis Coloniais de Acaju e os pós-Libertines, The Rakes.

Empatia com o público garantida, Lucas tratou de fechar o show com uma das canções mais interessantes de seu repertório “Tijolo a Tijolo, Dinheiro a Dinheiro”, e certamente deixou a platéia com gostinho de quero mais. Aliás o único senão da primeira noite do Festival Indie Rock, foi justamente a escalação do show de Lucas antes do puramente instrumental e quadrado grupo paulista Hurtmold.

Os paulistanos de Pinheiros apresentaram um emaranhado musical até certo ponto inventivo e bem trabalhado, com os músicos se revezando em instrumentos diversos e em total sinergia no palco. O problema é que a falta de traquejo ou balanço de suas execuções foi o que mais chamou atenção. Tal qual uma narcísica masturbação musical o sexteto paulista ao menos atingiu o gozo ao final da festa, achando o groove, a maldade ou malemolência nos últimos instantes de sua fria, mas bem recebida, apresentação.

Escalar uma banda instrumental para segurar a platéia antes dos Magic Numbers foi uma atitude arriscada da produção, mas o público, que a essa altura já enchia boa parte da casa, parecia tão inebriado com a possibilidade de assistir os gordinhos ingleses que nem chiou ao ter que esperar pelo fim do Hurtmold. Saldo positivo do primeiro dia, a seguir resenha do espetacular show dos Magic Numbers.

Para baixar "3 sessions in a greenhouse" acesse:
http://www.diginois.com.br/

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