
As guitarras de Josh Homme mais econômicas do que nos discos anteriores pontuam as melodias com menos distorção e mais ênfase rítmica. Já as letras de "Era Vulgaris" também apontam um novo ambiente e versam sobre o vazio existencial do mundo hollywoodiano e, muitas vezes, por si só caem no vazio, numa metalinguagem auto imposta criada involuntariamente por Homme.
Como não poderia deixar de ser, “Era Vulgaris” é um ótimo álbum e mais uma vez posiciona a banda em um patamar muito acima da média da produção roqueira atual. O problema é que se "Lullabies to Paralyse" não contetou a maioria dos fãs após o clássico álbum vermelho, o que frustra em Vulgaris é que este também não leva a crer que o fará. Apesar da inteligência e inquietude de Josh Homme, que nunca se repete e procura sempre novos caminhos sonoros a traçar, o novo disco é irregular e faixas como Misfit Love dão vontade de desligar o som no meio do caminho.
Apesar das questões acima, o álbum começa com uma dupla arrasadora. Turning on the Screw e uma jam session atípica abrem os trabalhos, enquanto o espírito ensandecido que leva o ouvinte a queimar combustível em alta velocidade por estradas a fora é alimentado por Sick, Sick, Sick. Esta que conta com a participação especial de Julian Casablancas do Strokes, nos backing vocals.
A esquizo-rítmica I`m a Designer abre com os versos "Minha geração está a venda" e segue a crítica com irônicas passagens, "A coisa que é real para nós é fortuna e fama, Todo o resto é como um trabalho, Isso é como diamantes na merda". A canção prepara o terreno para Into the Holow, quarta faixa do álbum; psicodelia pura pronunciada por doces notas de guitarra. Battery Acid acelera na mesma linha orgânica e enxuta, porém se arrasta em uma pseudo complexidade difícil de aturar.
O QOTSA, porém ainda é uma das maiores, mais originais e menos hypadas bandas da atualidade, os caras de fato não circulam de mãos atadas com tendências pops e nem precisam disso. A sonoridade mais etérea e alternativa aliada à psicodélicas transposições harmônicas e linhas vocais de Josh levam a crer que "Era Vulgaris" é o trabalho em que o QOTSA mais se aproxima das idéias de Chris Goss – líder do Másters of Reality, produtor de "Rated R" e colaborador fulltime na maioria dos álbuns da banda.
O toque de sensualidade que a banda sempre trouxe em álbuns anteriores também está mais leve, mas é garantida por mais uma fuck-rock song, Make It Wit Chu, numa versão menos empolgante do que a já registrada nas Desert Sessions, que contava com voz regada a álccol e cigarro de Mark Lanegan. Este, por sua vez, só aparece timidamente nos coros de River in the Road, faixa que poderia ser inteiramente interpretada por sua voz cavernosa.
O que se percebe é que a maravilhosa capacidade de Homme em organizar partes musicais a principio impossíveis de serem casadas e transformá-las em canções memoráveis se dissipou, ao menos em "Era Vulgaris". O intuito de Homme em colocar todo mundo pra dançar com seu novo trabalho se diluí na medida em que se flagra uma falta de coesão entre as canções. O que falta ao disco não é inventividade rítmica, exploração de geniais sonoridades e timbres, ou dinâmicas surpreendentes, como em 3`s & 7`s, o que deixa a desejar é a formulação final das canções.
"Era Vulgaris" é pesado, escuro e elétrico como mencionou à impressa Homme. E de fato é um álbum mais pesado que os anteriores, não pela força de seus instrumentos, mas sim pela atmosfera mezzo garageira e experimental eletrônica. Boas idéias nunca irão faltar ao líder da mais nova one man band do pedaço, mas é preciso tomar cuidado para que tamanha profusão criativa não atrapalhe a construção de hits poderosos como foram The Lost Art of Keeping a Secret em "Rated R", No One Knows em "Songs for the Deaf" e In My Head em "Lullabies to Paralyse".
Confira: www.myspace.com/queensofthestoneage
Um comentário:
A estrutura das músicas realmente está diferente. O esquema verso refrão que funcionou tão bem nos outros cds não foi tão explorado. A atmosfera está mesmo bem garageira. Não supera o Songs for the Deaf, mas eu gostei do cd.
Um abração,
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