Depois do sucesso de seu disco de estréia, “Funeral” (2004), o Arcade Fire volta a promover suas pregações messiânicas em forma de música. "Neon Bible" é a continuação da saga do septeto canadense, que em seus três anos de peregrinação sonora arrebanhou fãs ilustres, como David Byrne, David Bowie e Bono Vox.
Pianos, violinos, violas, violoncelos, xilofones, acordeões, harpas e caixas continuam sendo elementos essências para a ecumênica simbiose de indie rock, coros gregorianos e gigantismos melódicos. Alguns “novos” e exóticos instrumentos como, órgãos de sopro e um secular hurdy gurdy – não faço a mínima idéia do que seja –, foram algumas das peças executadas por uma orquestra húngara completa, em arranjos teocentricamente orquestrados.
Decididos a dispensar produtores para o novo álbum, Win Butler e companhia registraram os acordes de seus muitos instrumentos sob a iluminação dos vitrais de uma igreja canadense, comprada pela banda e transformada em estúdio. A ambiência da pequena capela emoldura apropriadamente a aura religiosa contida nas letras de Butler e no instrumental de seus asseclas.
Black mirror abre o álbum e, de cara, convida o ouvinte para uma forte experiência sinestésica. Escuridão, clausura, coragem e preces assumem uma atmosfera menos de medo e mais de desbravo. Guerra, religião e família são os pontos culminantes em que as letras de Butler se transformam em interpretações emocionadas e clamam por redenção.
Esta mini-opereta indie repleta de emocionantes transições líricas e melódicas povoa o imaginário do ouvinte de maneira forte, como há muito não se via ou ouvia. Keep the car running é catártica, como só uma canção do Arcade Fire poderia soar. “Neon Bible” nos faz assistir o despertar e afirmação de uma grande banda, e tem na faixa Intervetion o destaque central da obra – a canção lançada via Itunes, em dezembro de 2006, teve sua arrecadação redirecionada a instituição de caridade haitiana Partners from Health.
Nenhuma das múltiplas citações elogiosas, acima, impedem uma realista análise do álbum, que talvez seja menos espetacular que “Funeral”. Com 750.000 cópias vendidas, “Neon Bible”, por sua vez, foi ainda melhor recebido pelas prateleiras físicas e digitais que seu antecessor. Puxado pelo single Black mirror, nos EUA, e Keep the car running, no Reino Unido, o álbum estreou em primeiro lugar nas paradas canadenses e irlandesas e em segundo lugar na parada Billboard Top 200.
Segundo o líder da banda e mais novo poeta da música pop, Win Butler, o novo álbum soa como estar à deriva no oceano à noite. É este o sentimento que depois de dezenas de profundas submersões auditivas pude compreender. Mesmo inebriado pela atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, religiosa de seus arranjos, prossigo, no entanto, como um cético, fiel apenas à arte que esta banda singular produz mais uma vez.
Arcade Fire - "Intervention" ao Vivo
Arcade Fire & David Bowie - Wake Up
Confira: www.myspace.com/arcadefireofficial
NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS
terça-feira, 12 de junho de 2007
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3 comentários:
Finalmente aceitou as energias provenientes do Arcade Fire. Por muito tempo fostes preconceituoso, reacionário e também bundão. Sinal de maturidade? Não sei. De qualquer maneira, apesar da banda ser muito boa, acho que falta um carisma maior. Não consigo mergulhar no som mais do que três vezes. Entiendes?
Não, caro bundinha! Neon Bible apenas precisa de um tempo maior de maturação. E talvez maturidade para mergulhos mais profundos. Carisma maior? Hummm, creio que não é este o problema. Estás muito acostumado a ouvir Fall Out Boy e Panic! at the Disco, precisa melhorar seus hábitos, garoto. Abs!
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