
Agora em 2007, vinte anos depois de sua última incursão musical, chega tardiamente ao Brasil seu segundo disco, “5:55” (Warner). Lançado na França em agosto de 2006, este trabalho demorou mais de 6 meses para aportar por estas bandas – fato cada vez mais constante da nossa atrasada indústria, salve o Soulseek! –, assim como ocorreu com o novo trabalho da nova diva londrina Amy Winehouse, “Back to Black”, e com a moscovita, radicada em Nova Iorque, Regina Spektor que terá finalmente seu aclamado álbum “Begin to Hope” lançado por aqui.
“5:55” pode ser apontado sem erros como o disco mais delicado e sensual do ano. Produzido por Nigel Godrich – produtor e quase membro do Radiohead –, e com a colaboração do duo francês Air e de Jarvis Cocker, ex-Pulp, o novo trabalho realça a pequenez da voz de Charlotte. As letras ficaram a cargo dela e Neil Hannon; Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel (Air) escreveram as canções e o compositor canadense e pai do artista Beck, David Campbell, ficou a cargo dos arranjos de cordas. Para completar o time, o percussionista nigeriano Tony Allen – eleito por Brian Eno como o “melhor músico do planeta” –, tratou de comandar a seção rítmica de “5:55”.
O vocal macio de Charlotte é um charme a ser desvendado por ouvidos sedentos e suscetíveis a sussurros europeus ao pé do ouvido. As canções alfas-numéricas que abrem o álbum, “5:55” e “af607105”, apresentam o ouvinte aos deliciosos trejeitos e particularidas vocais de Charlotte, dispostos à medida certa no decorrer de todas as faixas. Charlotte canta em inglês praticamente em todo álbum, no qual se destacam as faixas “Beauty Mark”, “Everything I Cannot See” e “The Operation”. “Tel Que Tu Es” é a única canção interpretada em francês.
Charlotte não é uma grande cantora, no que se refere à extensão vocal, mas sua ousadia se revela na maneira de interpretar as canções. No minimalismo de suas divisões métricas e melódicas. Seus falsetes ressaltam as nuances climáticas das canções, e a mixagem do disco expõe sua voz frontalmente ao nosso primeiro plano auditivo. Podemos escutar o arfar de seus pulmões no preparo para imergir em cada nova frase melódica. A textura e a estrutura de sua doce voz podem ser apreciadas e absorvidas com enorme clareza.
Sem soltar gogós como uma “soul-jazz woman”, seus encantos repousam na intimidade, na maciez e no aconchego melancólico de seus versos e sussurros. “5:55” é um álbum repleto de romantismo, reclusão e sensibilidade, além de contar com as mentes musicais mais modernas e atuantes do cenário.
Confira: www.myspace.com/charlottegainsbourg
CDs da semana:
Air – Pocket Symphony (2007)
James Morrison – Undiscovered (2007)
Jarvis Cocker – Jarvis (2006)
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