NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

terça-feira, 8 de maio de 2007

5:55

Filha do poeta e cantor francês Serge Gainsbourg e da atriz britânica Jane Birkin, a londrina Charlotte Gainsbourg foi criada estreitamente ligada aos encantos das artes cênicas e da música. Gravou seu primeiro álbum aos treze anos, “Charlotte Forever” (1986), inteiramente composto por seu pai. Dois anos antes fez o seu primeiro filme, "Paroles et musique" (1984), ganhou o Cesar Award de "Atriz revelação” pela sua participação no filme "L'éffrontée" (1986), e em 2000 voltou a ganhar o prêmio, desta vez de "Melhor atriz coadjuvante" no filme "La Bûche". Charlotte atuou também nos filmes “21 gramas”, “Lemming”, entre outros.

Agora em 2007, vinte anos depois de sua última incursão musical, chega tardiamente ao Brasil seu segundo disco, “5:55” (Warner). Lançado na França em agosto de 2006, este trabalho demorou mais de 6 meses para aportar por estas bandas – fato cada vez mais constante da nossa atrasada indústria, salve o Soulseek! –, assim como ocorreu com o novo trabalho da nova diva londrina Amy Winehouse, “Back to Black”, e com a moscovita, radicada em Nova Iorque, Regina Spektor que terá finalmente seu aclamado álbum “Begin to Hope” lançado por aqui.

“5:55” pode ser apontado sem erros como o disco mais delicado e sensual do ano. Produzido por Nigel Godrich – produtor e quase membro do Radiohead –, e com a colaboração do duo francês Air e de Jarvis Cocker, ex-Pulp, o novo trabalho realça a pequenez da voz de Charlotte. As letras ficaram a cargo dela e Neil Hannon; Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel (Air) escreveram as canções e o compositor canadense e pai do artista Beck, David Campbell, ficou a cargo dos arranjos de cordas. Para completar o time, o percussionista nigeriano Tony Allen – eleito por Brian Eno como o “melhor músico do planeta” –, tratou de comandar a seção rítmica de “5:55”.

O vocal macio de Charlotte é um charme a ser desvendado por ouvidos sedentos e suscetíveis a sussurros europeus ao pé do ouvido. As canções alfas-numéricas que abrem o álbum, “5:55” e “af607105”, apresentam o ouvinte aos deliciosos trejeitos e particularidas vocais de Charlotte, dispostos à medida certa no decorrer de todas as faixas. Charlotte canta em inglês praticamente em todo álbum, no qual se destacam as faixas “Beauty Mark”, “Everything I Cannot See” e “The Operation”. “Tel Que Tu Es” é a única canção interpretada em francês.

Charlotte não é uma grande cantora, no que se refere à extensão vocal, mas sua ousadia se revela na maneira de interpretar as canções. No minimalismo de suas divisões métricas e melódicas. Seus falsetes ressaltam as nuances climáticas das canções, e a mixagem do disco expõe sua voz frontalmente ao nosso primeiro plano auditivo. Podemos escutar o arfar de seus pulmões no preparo para imergir em cada nova frase melódica. A textura e a estrutura de sua doce voz podem ser apreciadas e absorvidas com enorme clareza.

Sem soltar gogós como uma “soul-jazz woman”, seus encantos repousam na intimidade, na maciez e no aconchego melancólico de seus versos e sussurros. “5:55” é um álbum repleto de romantismo, reclusão e sensibilidade, além de contar com as mentes musicais mais modernas e atuantes do cenário.

Confira: www.myspace.com/charlottegainsbourg

CDs da semana:
Air – Pocket Symphony (2007)
James Morrison – Undiscovered (2007)
Jarvis Cocker – Jarvis (2006)

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