NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vincent Moon, The Take Away Shows - Música para os olhos

Em abril de 2006, o estudante de fotografia Vincent Moon sentava-se num bar ao lado da estação de metrô Porte de Clignancourt, em Paris, para tomar uma cerveja com os músicos da The Spinto Band. Além da sua inseparável mochila, carregava uma câmera na mão e não muita coisa ventilando a mente. Naquela tarde, fundava, sem saber, o primeiro Take Away Show, espécie de videocast produzido artesanalmente para ser postado num site de música criado por um amigo, o La Blogothèque. Além de servir como diferencial ao portal, criado no momento em que o YouTube começava a engatinhar, a ideia se baseava em um interesse simples e particular, o de “dividir um momento íntimo e musical com meus artistas preferidos, fingindo estar fazendo algo profissional e importante" – como resume o próprio Moon. Quatro anos depois, o videomaker conseguiu fazer com que todos levassem sua aventura a sério. E o site já ultrapassa a marca dos 100 pequenos “documentos musicais vivos”.

– Eu trabalhava em algumas ideias bem lo-fi, procurando filmar de um jeito que eu não via por aí, buscando transmitir uma intimidade autêntica com os músicos – conta Moon, durante uma rápida parada em Paris, recém chegado de uma viagem à África. – Assisti ao primeiro show que o Arcade Fire fez na França. Eles terminaram a apresentação tocando no meio da rua, e aí tive a ideia de filmar música ao vivo, mas fora do palco.

Numa época em que supreproduções à Lady Gaga não param de estender sua dominação em massa, valendo-se do poder interativo proporcionado pela internet – primordialmente do YouTube, ferramenta concebida, originalmente, para estimular a produção de vídeos independentes, caseiros e particulares – Moon atira para um caminho oposto. Aposta num retorno da experiência musical à essência. Desnuda os artistas aos quais mira sua câmera, retirando-os de seu contexto habitual, ou seja, os palcos das casas de shows.

Alterando o formato de suas canções, Moon registra takes acústicos ao ar livre. Pode ser em meio ao trânsito caótico de uma grande cidade, ou num vagão lotado de metrô. Pode ser na sala de estar da casa de um amigo, numa praça pública, num parque ou outro descampado qualquer. Tanto faz: o que interessa é encontrar um ambiente inusitado, inexplorado e sujeito a oferecer surpresas e riscos que seriam vetados por qualquer grande produção ou equipe de marketing de uma grande gravadora. Valendo-se da portabilidade da tecnologia digital, resgata o que há de essencial e mais cru no ato de se entoar uma canção: a vontade de encantar o outro.

– Uso minha câmera para expandir os limites criativos desses artistas – enfatiza. – Voltar ao básico. Alguém que pega uma guitarra para tentar tocar uma música. Tentar! Acho que a minha experiência como fotógrafo, de sair pelas ruas sozinho, à noite, tirando fotos sem permissão, influenciou bastante a forma como direciono a câmera.

Pesquisador insaciável
De lá para cá, tanto o La Blogothèque como Vincent Moon tornaram-se referência instantânea entre os caçadores de música alternativa, indie ou experimental. Apaixonados em descobrir novos e desconhecidos nomes, Moon é um pesquisador insaciável, que se deixa levar pelo fascínio do desconhecido, o que está escondido no underground e nos subterrâneos. Isso pode parecer estranho a quem acesse o seu site e veja circular vídeos de nomes já estabelecidos, como Wilco, Mogwai, Grizzly Bear, Animal Collective, Phoenix, Yeasayer e Arcade Fire – para quem produziu um documentário, cujo corte final lhe desagradou e o afastou da banda. Mas um olhar atento às datas mostra que Moon captou as imagens antes ou no começo da explosão desses artistas. O documentário dirigido para o Arcade Fire, Miroir noir, é, ao mesmo tempo, um dos melhores momentos de suas peregrinações e uma de suas maiores frustrações.

– O filme saiu, mas não a minha versão, porque houve um problema terrível no meio do processo. O empresário deles me ameaçou uma porção de vezes. Quis me demitir sem pagar por nada do que eu havia feito. Acabou saindo um filme muito estúpido, e eu me neguei a ser creditado por aquilo. Eu tenho aprendido muito trabalhando com essas grandes bandas, e vendo como eles colocam suas decisões mais importantes na mão de pessoas inescrupulosas.

A qualidade da fotografia e da direção do Moon, porém, não deixou de despertar a atenção de nomes fortes do mainstream – caso do R.E.M., que cresceu com os dois pés fincados na música alternativa, e requisitou o jovem diretor para captar as imagens de clipes e documentários.

– Eu não me interesso por filmes sobre música 99% do meu tempo, assim como também não me interesso por filmes em geral, com a exceção de uma coisa ou outra. Acredito que o sucesso desse projeto aconteceu porque o fizemos num momento em que as pessoas precisam se reconectar com a ideia de intimidade, com o intimismo. Precisamos de uma mudança radical.

“Como permanecer pequeno?”

Assim como para muitas das bandas alternativas retratadas no La Blogothèque, o maior desafio encarado por Vincent Moon é evoluir, ampliar seu poder de influência, mas sem perder a integridade. No seu caso, isso significa o caráter artesanal de seus takes, o frescor e a intimidade de suas abordagens. Uma carga autoral que se apoia na quebra de dois preceitos: o distanciamento e o jogo de poder e dominação travado entre quem filma e quem é enquadrado.

– O grande desafio para muita gente hoje em dia é justamente esse: “Como permanecer pequeno? Como eu posso refutar a ideia de ficar maior?” – acredita o diretor. – Eu não falo aqui em me negar a crescer. Eu quero que o meu trabalho cresça, mas que ele mantenha o processo tão nu e cru quanto é desde o início. Meus filmes foram feitos sem dinheiro algum. E até hoje eu não ganho grana com a maioria deles... Não me interessa ganhar.

Música e imagem
Defendendo sua tese de entrega à pessoalidade, à ideia de proximidade entre espectador e artista, Moon descarrega sua metralhadora teórico-instintiva contra o modelo de negócios das grandes gravadoras, assim como na qualidade e no formato dos vídeoclipes produzidos atualmente. Confessa que já foi fã dos trabalhos de Gondry, Cunningham e Jonze, mas apenas porque “era fascinado pelos truques de câmera”. Influenciado por fotógrafos como Michael Ackerman e Antoine D'Agata, e filmes como Step across the border, de Werner Penzel e Nicolas Humbert, Moon se aferra à tentativa de construir um diálogo equilibrado entre peças de mesmo peso: música e imagem.

– Hoje em dia não suporto assistir a nada disso. Eu realmente não entendo porque as pessoas ainda fazem vídeos tradicionais – critica. – Sim, eu sei que faz parte de um antigo modelo de venda de música, mas me sinto completamente distante desse mundo. A sociedade não precisa de vídeos como esses, não mesmo. Eu não assisto a esses filmes, como não vejo os meus. Eu não entendo porque ainda queremos fazer mais imagens. Acho que atingimos a saturação. Mas ninguém nota, e à medida que fazemos mais imagens, em primeiro lugar, não criamos imagem alguma, e, em segundo, devastamos nossa cultura espiritual. Penso em parar todos os dias, mas o processo é tão bonito que eu continuo.

Em paralelo às filmagens de bandas alternativas para o Take Away Shows, Moon realiza série musicais retratando cenas e manifestações culturais espalhadas por diversas cidades e países do globo. Recentemente, circulou pela Tanzânia, Nova Zelândia, Japão, Chile e Buenos Aires, mas em seu site oficial (www.vincentmoon.com) e em seu blog pessoal (http://fiumenights.com) constam séries, experimentos e documentários que não são veiculados no Take Away Shows. Andarilho, não fixa o ponto em Paris. De cidade em cidade, joga-se na estrada, em aventuras constantes e vivências que, com o passar dos anos, costumam embotar e restringir suas lembranças.

– Tenho viajado pelo mundo, procurando por novos sons. Interesso-me por coisas que eu nunca escutei antes – explica. – Estou há mais de um ano sem casa, com as mesmas mochilas cheias de computadores, câmeras, microfones e algumas roupas. É uma experiência incrível poder experimentar o mundo dessa forma. Fazer filmes é apenas um pretexto para encontrar pessoas e dividir com elas um momento. Eu aprendo tanto vivendo na estrada! Por mais que isso soe banal, é a verdade. Eu construo a minha personalidade como uma tentativa de escape de quem eu sou. Então, todos os dias eu me forço a explorar novas sensações, filmar em novas situações. O único problema é que desse jeito a minha memória se desenvolve de um jeito muito parcial. Acho que é por isso que eu não paro de filmar... Filmo para recordar. É o principal motivo.

Alguns clássicos do Take Away Shows
Arcade Fire, 2007:



Yeasayer, 2008:


Fleet Foxes:


E muito mais aqui:
http://www.vincentmoon.com
http://vimeo.com/temporaryareas
http://www.blogotheque.net/-Concerts-a-emporter-?lang=en
http://www.temporaryareas.com
http://fiumenights.com

2 comentários:

Maddie disse...

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Thanks!

Madison
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