NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Stone Temple Pilots - Dever de casa feito, nada mais...

A mais versátil e camaleônica das bandas surgidas no rastro da explosão grunge – na Seattle dos anos 90 – volta à cena com um trabalho que não supera nenhum de seus cinco álbuns precedentes. Apesar da ressalva, Between the lines não deixa de reservar boas surpresas: os vocais granulados de Scott Weiland soam mais à frente na mixagem – um pouco menos comprimidos e escondidos por trás das guitarras distorcidas de Dean De Leo – enquanto seus versos navegam por esferas mais amplas que as temáticas referentes à luta contra o vício das drogas, suas conturbadas relações amorosas com modelos sanguessugas, sua família desestruturada e à onipresente carga autodestrutiva cravada em todas as suas criações.

Inspirado por Bob Dylan e Leonard Cohen, arrisca-se em contar histórias e não apenas baseadas em suas obsessões, seu narcisismo exacerbado, confessional e autorreferente. Se a intenção é boa, algumas das faixas carecem justamente do apelo visceral, tripas abertas, inconsequente e alucinado que consagrou seu estilo dentro e fora dos palcos. Afastado do STP desde 2003, Weiland passou os últimos anos à frente do Velvet Revolver, por onde gravou dois álbuns – o ótimo Contraband o mediano Libertad. Este último, escrito sob a carga pesada da morte do irmão, por overdose, fez com que Weiland se deixasse levar novamente pela espiral decadente do consumo de drogas. Expulso da banda por Slash e Duff Mckagan, gravou seu segundo disco solo, “Happy” in Galoshes até que uma ação movida pela Warner o lembrou de que devia à gravadora um novo disco com sua banda original.

Novamente ao lado de Eric Kratz (bateria), e os irmãos Robert e Dean De Leo – responsáveis por baixo e guitarra, além de todas as composições – reuniu-se apenas virtualmente com os antigos parceiros para registrar estas 12 novas faixas. Gravadas em estúdios separados – Weiland escreveu letras e criou suas linhas melódicas sozinho – as novas canções navegam por estilos diversos, mas em nenhum momento a variedade de gêneros e dinâmicas responde por criações ousadas, imersões psicodélicas e certeiras no universo mais pop, o que sempre emprestou ao grupo um colorido e um frescor que nenhuma das bandas grunge alcançou.

Between the lines flerta com o country, com o folk, com o rock britânico e, sim, com o pop radiofônico, mas sempre impregnado por riffs distorcidos, baixos pulsantes e baterias secas, sem grandes concessões.Configura-se um STP essencialmente rock, mais linear, menos esquizofrênico e, talvez por isso, mais careta e cansativo.

Musicalmente, propõe um retorno às raízes, mas não apenas àquelas que sintetizaram o grunge como a junção da urgência punk e o peso do metal. Riffs à Led Zeppelin, dinâmicas melódicas e vocais que remetem ao Aerosmith, entre outras referências sugerem um mergulho no hard rock que invadiu os EUA nos anos 70. Apesar da inevitável tintura Beatles em alguns trechos, o quarteto deixa de lado um de seus maiores trunfos: a sensibilidade aguçada de Weiland para criar baladas e refrões açucarados, como os assinalados em clássicos como Sour girl, Lady picture show, Creep e Plush. Do balaio, o destaque fica por conta da faixa-título, a entorpecida e inflamável Between the lines.

Veja Between the lines ao vivo:




E mais aqui: http://www.myspace.com/stonetemplepilots

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