NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Usher - Talento moldado sobre clichês

Aos 32 anos, Usher Raymond IV é apontado como o mais bem-sucedido artista do r&b americano dos anos 2000. Pelo menos é o que dizem os números – o bastião referencial a guiar a cultura pop contemporânea. Com mais de 50 milhões de discos vendidos e cinco estatuetas Grammy na bancada de casa, esse americano de Dallas, Texas, se apóia em quatro elementos básicos para atingir os quatro cantos do planeta em larga escala: sexo, amor, trapaças e drama – sempre envolvendo mulheres, é claro. E é assim que ele segue em seu sétimo lançamento, Raymond vs. Raymond: revisando clichês e disparando rumo ao topo. É o terceiro trabalho consecutivo a aportar no primeiro lugar das paradas da Billboard.

Mas seria a compreensão arguta e a utilização despudorada deste quarteto fantástico de tópicos que o diferencia dos demais representantes da música popular americana? Talvez. Usher não tem a voz, a dança, a beleza, o carisma, o comportamento e as ideias ousadas ou impactantes de ícones da sua geração, como Jay-Z, Kanye West, Justin Timberlake, Beyoncé, Alicia Keys e Black Eyed Peas. Mas não é por isso que ele deixa de ser absoluto quando o quesito em questão é o que importa para a debilitada indústria fonográfica: vendas. E se, definitivamente, não é um artista que se destaca pela proeza de um talento específico, é um expert em absorver referências e age como um potente catalisador.

E é por esse caminho que se verifica que, artisticamente, este novo álbum oferece muito pouco ao ouvinte. Usher escreve, acompanhado de uma penca de produtores, compositores, hitmakers e tastemakers – todos com o devido crédito no encarte – mais uma leva de canções que soam como um apanhado genérico do que se produziu na música pop americana nos últimos anos. Sua preocupação em enfileirar hits com beats certeiros para pistas e melodias chiclete para as rádios o impossibilita de criar, e o condiciona a função de emulador; um retransmissor de padrões estéticos e sonoros testados ad nauseam por marketeiros, empresários e produtores do showbiz americano. De braços trançados com o mercado e de olhos e ouvidos atentos, Usher conta com a participação de gente como Will.I.Am, Ludacris, T.I. e a revelação Nicki Minaj para esta saga mercadológica.

Ao lado do líder do Black Eyed Peas, entoa OMG, o maior hit do novo trabalho. Entre arranjos vocais que imitam os coros de torcida de futebol, palmas e batidas pesadas, versa sobre seu tema principal, as mulheres: “Eu me apaixonei por ela quando eu a vi na pista de dança... Nunca uma dama havia me acertado à primeira vista. Foi algo especial, foi como uma dinamite”. Já com o auxílio de Ludacris, Usher não entende porque a musa de seus sonhos mantém certa distância e frieza: “Ela não sabe que está me fazendo desejá-la?”, indaga. E mais à frente dispara: “Ela sabe o que eu sei, mas ela mantém sua boca fechada. Ela é muito sexual, e sabe disso. Ela não sabe que está me matando por dentro por eu desejar o seu corpo”.

Dividido entre faixas para dançar – a (boa) primeira metade do disco – e outras para chorar – da segunda metade em diante – trata-se de um desafio cansativo manter-se atento ao longo de 58 minutos de um jogo desesperado por aceitação estimulado por clichês milimetricamente estudados.

OMG:

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