NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

sábado, 24 de outubro de 2009

The Ting Tings: pop sem desperdício

Realmente, eles não começaram nada. Mas, sem dúvida, amplificaram a sonoridade e impulsionaram o conceito estético que funde a música pop e eletrônica ao indie rock. Formado em Londres pela cantora e guitarrista Katie White – mesmo que, até o primeiro disco, ela não soubesse tocar o instrumento – e o baterista Jules de Martino, o The Ting Tings sintetizou nas 10 faixas de seu certeiro debute, We started nothing os caminhos que a cena indie inglesa traçava há alguns anos: pouca instrumentação, letras diretas e dinâmicas simples e dançantes. E foi assim que, em poucos acordes e minutos, chicletes como Shut up and let me go, Great DJ e That's not my name – responsável por desbancar Madonna do topo das paradas britânicas – despertaram a atenção e grudaram na cabeça de gente como Jools Holland e o produtor Rick Rubin. Depois, elas incendiaram clubes londrinos e cruzaram a internet e estações de rádio, através de radialistas badalados como Zane Lowe, até chegar ao Brasil, onde o duo se apresenta no dia 7 de novembro, no festival Planeta Terra, em São Paulo.

– É lógico que foi o máximo todas essas pessoas comentarem o nosso trabalho. Mas para que tudo isso acontecesse passamos cerca de um ano e meio tocando na noite – conta Katie White, que diz estar ansiosa para tocar pela primeira vez no Brasil. – Claro que a internet e o rádio foram importantes, mas é preciso tocar para que as pessoas conheçam o som. E ainda bem que agora poderemos tocar todas as canções do nosso disco aí.

Dois é bom, três é demais

Até que a sonoridade do Ting Tings deixasse sua marca, algumas frustrações com o mercado fonográfico atravessaram notas e chegaram a desafinar a relação musical entre os dois. Amigos desde o início dos anos 2000 e fãs de Portishead, eles montaram o trio Dear Eskimo e assinaram com a Mercury Records. As conversas com diretores de marketing e empresários, mais interessados em associar a imagem da vocalista com revistas masculinas do que suas composições com o meio musical, levaram ao fim da banda e uma experiência traumática com o mercado. Mas não o bastante para uma segunda tentativa, em dupla, sem ninguém para atrapalhar.

– Quando só nós dois criamos a banda, houve uma mudança de atitude. Antes tínhamos que lidar com pessoas que não queríamos, gente que tentava forçar a barra – lembra Katie. – Mas acho realmente que não nos vendemos, muito pelo contrario, ganhamos a nossa identidade e, hoje, podemos tocar nas casas e festivais que sempre sonhamos, no mundo todo. Além de podermos escolher os produtores com quem iremos trabalhar.

Influenciados por Talking Heads e Blondie, mas exalando referências pop e eletrônicas modernas, o Ting Tings seguiu à risca à filosofia do it yourself (faça você mesmo) para delinear seu primeiro disco.

– Não sei de onde vem o nosso som. Acho que posso definir como pop experimental. Afinal, ouvimos muita música pop e seguimos a filosofia DIY. Tentamos sempre fazer as coisas da nossa maneira, escrever sobre o quisermos falar. Algo que vem do punk e do pós-punk. Mas o lado pop alternativo vem do Blondie e dos Talking Heads, que conseguem ser pop, mas extremamente criativos.

Após o sucesso de We started nothing, o duo já finaliza seu próximo álbum, ainda sem título definido. As sessões foram realizadas num antigo clube de jazz, em Berlim, que foi transformado em estúdio. Se as primeiras composições da banda foram talhadas me festas caseiras, para que sentissem no ato a resposta às canções, o duo repetiu a experiência, desta vez, com alguns alemães na plateia. Apesar do clima dançante e as eufóricas palavras de ordem catapultadas em suas canções, Katie conta que precisa de um pouquinho de depressão para acionar seus impulsos e inspiração festeira. E mesmo com o sucesso da banda nos últimos dois anos, ela diz que que tem, sim, o que lamentar.

– Somos sensíveis e românticos, então sempre tem algo no ar. Para compor é bom estar um pouco afastado de toda a euforia – ressalta. – Por isso decidimos gravar nosso novo álbum em Berlim. Nos apaixonamos completamente pela cidade e passamos os últimos meses por aqui. Quase não conhecemos ninguém e a cidade é vazia, fria demais e tem um clima meio depressivo. Poderíamos ter gravado em Los Angeles, mas acho que lá iríamos acabar indo à praia todos os dias. Não ia dar certo. Combinamos mais com a atmosfera dark de Berlim.

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