
– Quando eu era mais novo adorava Lou Reed. Devia ter uns 8 anos e ficava imaginando como seria viver naquele mundo louco que ele descrevia nas músicas. Era legal, mas já passei da adolescência e acho que estamos a milhões de milhas de distância desse tipo de música – dispara Jack.
Percussividade tribal
Entre o pop e referências clássicas, entre a eletrônica e a percussividade tribal, ao lado de Thomas Hein (baixo, bateria e samplers) e Sophie Sleigh-Johnson (teclados e samplers), a dupla de irmãos cria em Hidden uma narrativa musical de estrutura inusitada, mas ainda assim instigante e imediata.
– Tenho escutado tudo de Benjamin Britten. Ele é incrível, ao mesmo tempo estranho e completamente direto. São qualidades musicais que eu realmente admiro – comenta Jack, a respeito do compositor, maestro e pianista inglês – Gosto de escrever sobre acontecimentos ou situações não muito claras, escondidas, inexprimíveis, sem a preocupação de fazer com que as pessoas assimilem instantaneamente uma ideia ou outra. Quero estabelecer uma narrativa entre as canções.
Afastados do hype e indiferentes à lógica radiofônica de hits e à corrida industrial e pelas paradas de sucesso, tratam este segundo trabalho como peça de uma engrenagem maior.
– Ainda enfrentamos muita resistência, conseguir sobreviver nesse cenário é o nosso maior desafio. Já houve épocas melhores para se fazer música – afirma o vocalista. – Bandas novas, especialmente aquelas que não se encaixam no pop têm sofrido bastante. Mas tivemos sorte de assinar com a Domino e, principalmente, de eu ter tido coragem de pegar o telefone e ligar para marcar o nosso primeiro show. É muito importante começar fazer as coisas se tornarem reais.
Coproduzido por Graham Sutton (Bark Psychosis e Boymerang) e mixado em Los Angeles por Dave Cooley (Madvillain e J Dilla) Jack compara o processo de gravação de Hidden a uma operação militar. Metódico, escreveu todas as seções de sopro, percussão e arranjos vocais antes de entrar em estúdio. Apesar do pragmatismo autocentrado, o que se ouve é uma miríade de possibilidades sonoras, e não um trabalho hermético.
– Foi complicado gravar o disco, precisamos nos organizar muito. Fazer música não é algo difícil. Ao contrário, é sempre muito divertido, mas gravar é diferente – observa Jack. – É muito estressante tentar fazer justiça às ideias.
Antes de acionar o rec, Jack e o produtor realizaram um tour de force de experiências numa loja de ferramentas. Nas potentes Attack music e Fire-power, ouvem-se a estridência de facas sendo afiadas, correntes de ferro chacoalhadas, e o corte seco de um machado atravessando um melão recheado com biscoitos.
– Queríamos simular as técnicas usadas em trilhas sonoras de cinema. Sempre achei que os discos não têm o mesmo crispado, o relevo das músicas dos filmes.
Fascinados pelas possibilidades rítmicas, alugaram um imenso galpão para captar o rufar estrondoso dos grandes tambores taiko, normalmente usados em cerimônias japonesas. No disco, o grave imponente das peças se mistura a sopros de madeira e metais um tanto quanto exóticos, gravados durante uma viagem a Praga, na Polônia.
– Os tambores eram gigantescos, e tivemos que transportá-los num caminhão. O problema é que eles cabiam no estúdio, então precisamos alugar um galpão. E foi sorte, porque a acústica era maravilhosa e eles soaram ainda mais grandiosos.
Após toda milimétrica logística, o grupo levou ínfimas seis horas para registrar a outra metade do álbum dentro do estúdio.
– Foi muito interessante trabalhar sob essa perspectiva de que tempo é dinheiro – reconhece Jack. – Sem aquela autoindulgência de ficar seis meses em gravações intermináveis.
Misturando partes desconexas com a ajuda de um sequenciador, ou rabiscando diagramas para combinações improváveis, Barnett lançou mão de uma série de técnicas próprias para mesclar a sonoridade fake do universo dancehall e do pop americano com a organicidade de gravações orquestrais. Entre o barroco e o futurismo, os puritanos do novo milênio assinam uma libertinagem sonora altamente moralizante.
– Tinha ideias absolutamente contraditórias para ligar. Escrevi músicas para instrumentos de sopro de madeira, assim como trechos super agressivos e hiperrealistas. Decidi que deveria quebrar todas as barreiras e fazer com que essas referências coexistissem. Quero unir o ancestral à última novidade.
Veja: Attack music
Veja: We want war
E mais aqui: http://www.myspace.com/thesenewpuritans
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