NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Susan Boyle, Otto e Cauby

Em poucos minutos de audição decifra-se sem esforço, mas com muitos percalços, os erros (em maior número) e acertos (escassos) da cantora Susan Boyle em seu álbum de estreia, I dreamed a dream. Com um timbre pouco elegante, afinação imprecisa e interpretação exagerada, a anti-heroina do programa televisivo Britain’s got talent arrasa uma bela canção como cartão de visitas. Estridente, demole a crueza e a simplicidade da versão assinada por Mick Jagger para o clássico Wild horses, dos Rolling Stones. Na faixa-título, I dreamed a dream, a interpretação megalômana e os arranjos orquestrais seguem impulsos desmesurados, guiados pelo descontrole de Boyle – condutora de uma carruagem que acelera desenfreada pelo galgar de seus cavalos de potência vocal. Em Cry me a river, Boyle termina a trilogia que a anuncia e a destrói num só arfar de pulmões. Num exibicionismo de pretensas qualidades, aniquila a paciência e os tímpanos do ouvinte com o mesmo ímpeto que arrasa as nuances melódicas, a cadência e a dinâmica dos originais que tenta, sem sucesso, recriar. Seu estado constante de grandiloquência e desequilíbrio ganha sintonia apenas em How great thou art, cântico religioso que marca sua infância.

Mas logo em seguida, põe tudo a perder. Ataca You’ll see, de Madonna. Sem o menor tino, ou sex appeal, tenta fazer da faixa o retrato cantado de suas aspirações como ser humano. No encarte, trata o hit como um hino sobre “determinação, independência e a habilidade de mostrar a todos do que você é feito... Minha maneira de me livrar de todos os rótulos que são injustos”. Boyle é uma mulher atormentada, mas não faz do seu sofrer alimento para uma criação artística ousada. Perdida em meio a fama, deixa seu próprio dom depor contra si. E exagera. Nada disso, porém, impede que este début tenha se tornado um fenômeno de vendas mundo afora. Mas muito menos as cifras e o volume de cópias faz desta obra algo de valor.

Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos - Em seu novo álbum, Otto exorciza, em oito faixas próprias, os demônios internos e externos que o lançaram ao limbo da MPB nos últimos anos. Revigorado, se inspira em Metamorfose, de Kafka, e na lírica de Ben Jor para assinar um repertório de mais altos que baixos. Arquitetado pelos criativos Dengue e Pupilo (Nação Zumbi) e aclimatado pelas guitarras de Catatau, o disco acerta em Crua, Meu mundo dança, Seis minutos e na catártica Filha, mas escorrega em Janaína e em Lágrimas negras, com participação de Julieta Venegas.

Cauby Peixoto - Cauby canta Roberto - Ao contrário do que sugere o título do álbum, Cauby Peixoto empresta toda a sua "elegância" a peças icônicas criadas em dupla pela parceria entre Roberto e Erasmo Carlos. No repertório, belas e tristes canções ganham verve dramática sob o impacto da voz encorpada e profunda de Cauby - em excelente forma, por sinal.Sentado à beira do caminho, Proposta e A volta, entre outras recheiam um trabalho bem cortado, com arranjos de cordas e instrumentação acústica dando espaço de sobra para Cauby deitar sua bela voz.

Um comentário:

marcelo alves disse...

Isso é que é ecletismo. Abaixo o luxo, a beleza e a inegável qualidade de Joss Stone. Acima o lixo, a feiúra e a ruindade de Susan Boyle. rsrs
abs