NOTAS SOLTAS E RUÍDOS ESCRITOS

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Edu Lobo - Antigas canções por novas marés

Quase 10 anos afastam o último trabalho autoral assinado por Edu Lobo, Cambaio, deeste Tantas marés, editado agora pela Biscoito Fino. Durante esse tempo, severas tormentas chegaram a levar o condutor do barco a quase perder o prumo.

Como se vê, no entanto, Edu recuperou-se bem do aneurisma cerebral que ameaçou a sua vida e a continuação de sua sofisticada obra, há seis anos, e da fratura do cotovelo em setembro último, ao cair de uma escada.

Seguindo o fluxo que escoa do título, pode-se dizer que em Tantas maréso autor navega pelas ondas que o embalaram, ao longo de quase meio século de carreira, por diversas correntes da MPB. Baião, bossa nova e frevo, entre outras toadas transbordam de uma coleção de composições inéditas e algumas releituras.

Uma delas, Perambulando, soa como síntese do que o compositor e cantor apresenta: “Sempre encontro um velho amigo / Para falar sobre paixão / E meu peito nessa andança / Sem querer, resgata uma lembrança de canção”.

Sem poder tocar violão desde o último acidente, Edu, que só compõe com o auxílio do instrumento, deu carga à memória para reencontrar velhos amigos e extrair novas canções.

E é com Chico Buarque, Paulo César Pinheiro e Cacaso que ele constrói este novo repertório – seis faixas instrumentais criadas por ele no passado ganham letras de Pinhei/p>

ro, quatro parcerias antigas com Chico ganham a sua voz, e uma inédita com Cacaso fecha este arco.

Tantas marés é um mar de baladas e os temas dominantes não poderiam deixar de flutuar pela solidão, paixões, temporalidade e, sim, tristeza, por que não? Edu e seus parceiros, porém, não romantizam ou deixam que tal sentimento emoldure o trabalho. E apesar de uma nostalgia dominante, o álbum não se deixa sufocar por lágrimas.

A prova é acenada logo na abertura, com Dança do corrupião, um tortuoso baião, repleto de recortes rítmicos e com uma letra que desafia a dicção e revela o malabarismo vocal de Edu para versos como “Levanta o pé, vem / pula do chão / até pegar a divisão / cumé, hein? / é a pisada do baião”, assinados por Paulo César Pinheiro para a melodia traçada originalmente por Edu no disco Corrupião (1994). Em seguida, a dupla passeia por uma bossa de ar ranjos e desenho melódico jobinianos. Exala os anos 60 em cada esquina harmônica, contornadas sempre por cordas e piano. A embalagem deste arranjo assinado por Cristóvão Bastos serve como vestimenta à Primeira cantiga, também assinada por P.C. Pinheiro e com direito à participação da cantora Mônica Salmaso.

Perambulando, lançada no disco Meia-noite (1995), é um dos pontos altos da recente safra de letras de Pinheiro, enquanto Ode aos ratos vem da lavra mais nova de Chico Buarque, que a gravou em Carioca (2006). Sem o seu violão, mas muito bem acompanhado, Edu sai-se bem como cantor e ainda melhor como pesquisador de sua própria obra.

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